O antigo líder do PSD Rui Rio, no seu perfil no X-Twitter, criticou recentemente o funcionamento do INEM, que deixou mais de 1000 chamadas por atender, falhas que estarão ligadas à morte de pelo menos 10 pessoas por falta de socorro e também referiu na sua publicação, que «as queixas sobre o funcionamento do INEM não são de agora», considerando ainda que o estado em que os serviços de emergência pré-hospitalar se encontram «passa o inadmissível e é revoltante».
«Nos países civilizados, isto não existe, porque aí há consequências, logo que acontece uma falha», afirmou Rui Rio, numa aparente referência à Ministra da Saúde, Ana Paula Martins. «É este o resultado da nossa falta de rigor», conclui o antigo presidente do PSD. No início da semana, a Ministra da Saúde mostrou-se surpreendida com a greve dos técnicos do INEM, na sequência da qual há 10 mortes em investigação pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.
«Não estávamos de facto à espera que neste momento os Técnicos de Emergência Pré- Hospitalar se recusassem a fazer horas extraordinárias», disse a ministra, que poderá estar a prazo no atual governo.
Ana Paula Martins foi, porém, desmentida pela Secretária de Estado da Saúde, Cristina Vaz Tomé, que reconheceu que o Ministério estava a par das greves dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, mas não esperava o impacto que as paralisações tiveram na resposta do INEM.
Por outro lado, também o Secretário-Geral do PS, Pedro Nuno Santos, reiterou numa publicação no seu perfil no X-Twitter, que o Governo «foi devidamente informado sobre a greve e teve 20 dias para negociar com o sindicato». «Ao dia de hoje, são 10 as mortes que estão a ser investigadas. A desculpa dos problemas estruturais herdados do passado não pode justificar a negligência e a irresponsabilidade do governo, faltou competência e responsabilidade ao executivo», concluiu o líder do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos.
Segundo afirma o presidente do Sindicato dos Técicos de Emergência Pré-Hospitalar , Rui Lázaro, chegaram a estar menos de 10 técnicos a atender chamadas de emergência em todo o País e durante um dia foram atendidos apenas 2510 pedidos de socorro, o número mais baixo em mais de uma década.
Durante o período de greve, o INEM deixou mais de mil chamadas por atender, as ambulâncias de emergência médica saíram 111 vezes, quando o normal é fazerem 180 a 220 serviços por dia.
«Os problemas do INEM não são da semana nem de há dois/três anos, são de há muito tempo», considerou por sua vez Adalberto Campos Fernandes, antigo Ministro da Saúde, num comentário na CNN Portugal. «São problemas de governação, problemas de estrutura, problemas de recursos, provavelmente de composição profissional». Não se pode no entanto «culpar o anterior governo, que já foi julgado em eleições, e que talvez as tenha perdido em parte porque em matéria de saúde não respondeu como devia ter respondido», considerou ainda Adalberto Campos Fernandes.
Pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar-STEPH saiu a comunicação de que o INEM já registava constrangimentos antes da greve às horas extraordinárias e alertou que algumas das medidas já anunciadas apenas vão permitir mitigar essas dificuldades. «Os constrangimentos já se verificavam mesmo antes da greve. Aliás, o maior pico de
chamadas que se verificou na semana passada foi na segunda-feira e nós ainda não estávamos em greve», adiantou à Lusa o presidente do STEPH, no dia em que o INEM anunciou várias medidas para melhorar a sua resposta.
Relativamente à integração de enfermeiros nos CODU, Rui Lázaro afirmou que a medida parece «de todo excessiva, parece-nos estranho que o Governo não tenha verba para valorizar os salários dos profissionais que é de 920 euros, mas tenha verba para colocar lá profissionais a ganhar 1.600 euros».
O presidente do STEPH referiu ainda que «a falta de técnicos é um problema que persiste há vários anos e que se tem agravado nos últimos tempos com uma taxa de abandono da profissão elevadíssima», superior aos 40%.
Por outro lado, a Ministra da Saúde reconheceu a «enorme falta de recursos no INEM» e que as medidas de contingência anunciadas surgem devido à indisponibilidade dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar para fazerem horas extraordinárias. Por seu lado, o líder do PS afirmou que a «resposta de emergência médica em Portugal é uma área muito sensível e considerou muito, muito preocupante o que se tem assistido nos últimos dias», ou seja, perante o panorama existente, quem nos tem sempre governado reconhece as falhas, reconhece as carências, reconhece os problemas estruturais do SNS e no entanto não reconhece que falhou estrondosamente nas medidas para sanar a situação, as quais estão directamente ligadas ao abandono das características que deram origem à criação do SNS, como serviço de qualidade, universal, geral e gratuito.
Entretanto, recentemente e no Dia Mundial da Saúde, uma delegação do PCP, integrada por Jorge Pires membro da Comissão Política, Bernardino Soares do Comité Central, João Dias Deputado na AR e Leonor Barão da DORL, esteve presente numa concentração convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, para comemorar a
referida data inserida também na luta pela valorização dos profissionais de saúde e do SNS, mostrando que quando o acesso aos cuidados de saúde está posto em causa devido às políticas de sucessivos governos, de desvalorização do SNS e dos seus profissionais, o PCP não podia deixar de estar presente e assim manifestar todo o apoio e solidariedade à luta que os trabalhadores do SNS travam. Uma luta não apenas pela valorização salarial, por carreiras justas e melhores condições de trabalho, mas simultaneamente pela defesa do SNS, instrumento de garantia do acesso à saúde a todos os portugueses.