Considerada já como o maior acontecimento artístico de Vila Nova de Gaia, com ramificação a outros municípios de norte a sul do país, a Bienal Internacional de Arte de Gaia, iniciativa organizada pela Cooperativa Artistas de Gaia em colaboração do município gaiense, afirmou-se desde a primeira edição, em 2015, graças à excelência da programação, da cuidada curadoria e do talento dos artistas expostos, consolidando na segunda edição a sua importância no contexto das manifestações culturais em Portugal ao assumir-se também como um lugar de reflexão sobre a sociedade e os problemas atuais, figurino a que se tem mantido fiel até aos dias de hoje, a par das suas preocupações com a criação de públicos e formação de artistas nas áreas da pintura, desenho, escultura, cerâmica, vídeo e performance.
Apresentando-se como um evento de causas, a Bienal de Gaia voltou este ano a ganhar vida, com a sua sexta edição, ocupando seis mil metros quadrados de três pavilhões da antiga Companhia de Fiação de Crestuma, em Lever, com mais de 3200 obras de 450 artistas, agrupadas no total de 55 exposições, onde a arte e as preocupações sociais estão lado a lado. Entre as mostras individuais (26), destaca-se um número alargado de obras de Mestre Lagoa Henriques, o artista homenageado nesta edição da Bienal, não só algumas das esculturas que mais o notabilizaram, como a que dedicou a Fernando Pessoa, mas também dezenas de desenhos de diferentes etapas do seu exemplar percurso artístico. Nas mostras individuais destacam-se também os trabalhos de artistas como Alexandre Rola, Cipriano Oquiniame, Constança Lucas (brasileiro), Domingos Loureiro e Emerenciano, entre outros.
No que respeita às exposições coletivas (25), merece um sublinhado especial a mostra do concurso “Porto Cartoon”, cujo regresso se saúda, que reúne meia centena de obras concorrentes, de um lote de milhares, todas elas imersas num forte cunho reivindicativo, como as dos portugueses Augusto Cid, Vasco ou André Carrilho ou dos estrangeiros Angel Boligán e Luc Vernimmen. No mesmo pavilhão, um dos três que estão ao serviço desta sexta edição Bienal, encontram-se também os 80 selecionados do concurso internacional, cujo vencedor será divulgado durante o decorrer do certame, sendo ainda de destacar a mostra “Bandeiras pela Paz”, feita em colaboração com o Conselho Português para a Paz e Cooperação, onde sobressaem os apelos ao fim da intervenção militar israelita em Gaza, que são uma constante neste que é um dos núcleos expositivos mais intensos de toda a Bienal.
Merecem ainda destaque a exposição coletiva “A Comemoração dos 50 anos de Abril de 1974 vai às Escolas”, composta por trabalhos de vários alunos de Gaia produzidos em contexto escolar, realizada em colaboração com o Plano Nacional das Artes, e a exposição de livros de artistas, composta por onze mostras individuais e uma coletiva de escritores como Valter Hugo Mãe, Rui da Graça, Nazaré Álvares, Celeste Ferreira ou Miguel Carvalho, que ajudam a consagrar esta edição da Bienal Internacional de Gaia como uma das mais bem conseguidas desde a sua criação, que volta a apostar num programa diversificado, que tem integrado maratonas de pintura, oficinas e conversas com artistas, com natural relevo para a conferência “Ciência, Cancro e Arte”, proferida pelo médico e investigador português Manuel Sobrinho Simões, diretor do IPATIMUP – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, que teve lugar na abertura do certame, e para a exposição coletiva “Gabinete de Curiosidades/Museu de Causas”, que estará patente na Reitoria da Universidade do Porto no dia 12 de julho, data de encerramento desta VI Bienal.
Note-se que, além das exposições patentes nos pavilhões da antiga Fábrica de Lever, a sexta edição da Bienal de Gaia prolonga-se por mais 14 paragens, apresentando mostras coletivas em Baião, Esposende, Ferrol (Galiza), Funchal, Lisboa (Faculdade de Belas Artes), Macedo de Cavaleiros, Oliveira do Hospital, Paços de Ferreira, Paredes, Peso da Régua, Póvoa de Varzim, Sertã, Viana do Castelo e Viseu, havendo neste momento, segundo o seu diretor, Agostinho Santos, “um interesse crescente de Norte a Sul e nas ilhas em acolher e em propagar esta corrente artística que assume diversas expressões e que mostra tão distintas perspetivas da arte e até do mundo”. Sendo pena, porém, que os módulos de desdobramento da Bienal não se estendam também às 24 freguesias de Gaia, dando assim um inestimável contributo a uma desejável implementação real da cultura na globalidade do nosso concelho.
Mas o mais importante é que a Bienal Internacional de Arte de Gaia não venha a confrontar-se no futuro, em resultado das próximas autárquicas, com o decréscimo de apoio da autarquia. Na verdade, não ignorando que o apoio concedido pela Câmara de Gaia se situa num plano nunca antes atingido no concelho, no que às artes plásticas diz respeito, há que sublinhar que este ainda está longe dos apoios municipais concedidos a eventos congéneres realizados no nosso país, pelo que se justifica um aumento que acompanhe o nível de crescimento que a Bienal tem atingido desde a primeira edição. E é essa a medida que se espera do próximo “inquilino” da Casa da Presidência, por ser da mais elementar justiça. Ou será que questões relacionadas com diferenças de cor política serão para aqui chamadas?!…