Recordo-me de ir ao cinema ver o filme A Praia no ano 2000. Por algum motivo, ao ler alguns cronistas dos órgãos de comunicação regional, verifico algum paralelismo entre esta obra de ficção e a realidade açoriana.

Não querendo fazer spoiler para os que ainda não viram este clássico dos tempos modernos, podemos dizer que o filme segue a jornada de um jovem Leonardo DiCaprio na procura de uma experiência única e autêntica, longe daquilo que é proporcionado pelo chamado turismo convencional. Num mero acaso ele toma conhecimento de uma ilha paradisíaca secreta na qual um grupo de pessoas vive em comunidade, isolados do mundo exterior e em suposta harmonia absoluta.

Após algumas peripécias na sua jornada ele descobre que a vida comunitária da ilha se encontra muito longe do ideal que pretendia. Ao invés de viverem uma existência pura e despreocupada, o grupo vive uma pequena ditadura, encapotada pelas suas próprias regras e hierarquias, passando por uma quase constante luta pela sobrevivência e pela manutenção da ordem. O filme termina com esta pequena comunidade a enfrentar conflitos e dilemas morais, que terminam com consequências trágicas para todos. Em jeito de resumo, podemos dizer que o filme A Praia é uma reflexão sobre os desafios em criar uma utopia isolada neste mundo moderno, global e cada vez mais interligado.

Façamos, pois, o paralelismo entre esta obra e o que aparentemente alguns potenciais decisores políticos ambicionam para os Açores. Aqui, tal como na obra de ficção, pequenos ditadores querem criar paraísos sem turistas e com reduzidas ligações ao exterior, para poderem impor as suas regras numa visão pequena, mesquinha e sem noção da realidade do que se passa no resto do mundo.

Os puristas do turismo e da ultraconservação são os mais perigosos, não se importando em colocar o resto da comunidade em eventual risco financeiro ou sob condições deploráveis, tudo para que o seu cantinho de paraíso se mantenha intocável.

Só com ligações constantes com comunidades exteriores, seja por deslocação das suas populações seja pela interação com pessoas que têm outras experiências, é que a sociedade açoriana evolui e consegue acompanhar um mundo em constante evolução.

Nunca a economia dos Açores esteve tão pujante, com praticamente emprego pleno e com melhoria substancial das condições económicas da sua população! O turismo tem a capacidade de transformar o cidadão comum num potencial empresário e dono do seu destino.

Saibamos, pois, aproveitar o turismo para ser um dos pilares da economia açoriana, diversificando a nossa economia e a riqueza da nossa região!

 

Carlos Caetano Martins – Vice-Coordenador da Iniciativa Liberal S. Miguel