A VANDALIZAÇÃO DE ESTÁTUAS

Um pouco por todo o mundo, a onda de protesto contra o racismo ganhou nos últimos dias novos contornos, em que os alvos são agora estátuas e esculturas de figuras do passado que os manifestantes consideram racistas, ligados ao imperialismo ou à época colonial.

Começou nos EUA, durante os protestos contra a morte de George Floyd, mas já ultrapassou fronteiras e a forma de actuar de quem contesta é semelhante, passando pela pichagem, destruição ou remoção de estátuas.

Em algumas cidades dos Estados Unidos, várias estátuas de figuras históricas, incluindo a de Cristóvão Colombo foram vandalizadas, pois o navegador genovês, registado como o descobridor da América, é uma figura polémica, sendo frequentemente considerado também um dos responsáveis pelo genocídio das populações nativas do continente e por essa razão criticado na mesma linha dos esclavagistas e generais confederados durante a Guerra Civil.

Este movimento rapidamente chegou à Europa e no sul da Grã-Bretanha as próprias autoridades chegaram mesmo a remover preventivamente a estátua de Robert Baden-Powell, o fundador dos escuteiros, acusado de ser simpatizante do regime nazi, após a estátua do comerciante de escravos do século XVII Edward Colston ter sido derrubada em Bristol, arrastada pelas ruas e lançada para as águas do porto da cidade por manifestantes anti-racismo.

Em Antuérpia, a estátua do Rei Leopoldo II, figura controversa do passado colonial da Bélgica, por acarinhar o colonialismo, foi pintada de vermelho, sendo depois removida do local e transportada para um museu da cidade.

Na cidade de Hamilton, Nova Zelândia, foi retirada de uma praça a estátua do capitão britânico John Hamilton, figura polémica na luta da posse de terras com o povo nativo Maori, no século XIX e a remoção do monumento ocorreu depois de um residente maori ter declarado publicamente que planeava derrubá-la.

Em Portugal, também a estátua do Padre António Vieira, em Lisboa, foi vandalizada com a palavra «descoloniza» pintada a vermelho e não foi a primeira vez, pois já em 2017 a mesma escultura já tinha sido alvo de protestos, no mesmo ano em que se abriu o debate sobre o nome e a construção de um Museu das Descobertas.

Este tema do questionamento da representação do nosso passado no espaço público está longe de ser um tema recente ou de reunir consensos, no entanto a História não deve, não pode ser esquecida nem tão pouco reescrita, pelo que há quem apele para não se menosprezar esta importante disciplina dos programas escolares e refira, como exemplo, os campos de concentração nazis que foram conservados não pelos alemães nutrirem orgulho neles, mas sim como forma de lembrar ao mundo o que lá aconteceu e não deve voltar a acontecer.

Assim e pelo atrás descrito, devem ser condenados estes actos em si mesmos, assim como a sua utilização para exacerbar sentimentos e conflitos que só servem objectivos marginais e importa não permitir que eles sirvam para animar e inculcar na sociedade portuguesa um clima de conflitualidade racial sem sentido, iludindo o que o colonialismo representou do ponto de vista económico e de classe em toda a sua dimensão.

Impõe-se hoje como no passado, combater os fenómenos racistas e xenófobos e não alimentar atitudes que invocando combatê-los só contribuem para os promover, impõe-se na sociedade portuguesa garantir os direitos económicos e sociais para todos, independentemente da sua etnia ou nacionalidade e esta é uma luta que exige unidade e convergência de objectivos  e não elementos de divisão e conflitualidade que só contribuem para a enfraquecer.