Há quem diga que foi um erro insistir na quarta candidatura de Evo Morales à presidência do País e o certo é que, mal a vitória foi confirmada, logo começaram os distúrbios e as violências contra os adeptos da continuação da mesma presidência, embora os antecedentes actos de vandalismo gratuito fossem o precursor de que algo mais grave estaria para acontecer.
Com efeito, a situação tornou-se tão complicada e séria que, para evitar mais derramamento de sangue nos confrontos e uma possível guerra civil, Evo Morales decidiu renunciar ao cargo e exilar-se, também pressionado pelos chefes das Forças Armadas.
Desde a efectivação do golpe de Estado contra Evo e ao longo do passado dia 10 do corrente mês de Novembro, ganhou força internacionalmente a denúncia de que as vidas do líder indígena, seus familiares e membros do governo corriam risco, o que foi confirmado por ele mesmo e por diversos apoiantes, no entanto e apesar dessa realidade afirmou «Em breve, voltarei com mais força e energia».
A chegada de Evo à Cidade do México só foi possível porque o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, ajudou a coordenar o processo com outros presidentes sul-americanos, em especial o paraguaio, Mario Abdo Benítez, e porque a chancelaria mexicana fez um notável trabalho durante a madrugada para apoiar todos os detalhes de asilo.
O presidente argentino confirmou que na Bolívia se tinha consumado um «golpe de Estado» e expressou a sua «eterna gratidão» ao chefe de Estado mexicano, Andrés Manuel López Obrador, por ter concedido asilo político a Evo Morales, abrindo mesmo a sua embaixada para auxiliar os perseguidos políticos.
«Existe um golpe de Estado, para que ninguém se confunda, para que falemos claro e sem mentiras. E para que depois cada um se responsabilize pelo que diz», sustentou também esta noite no lançamento de um livro no Centro Cultural de Cooperação, ao destacar que a América Latina vive «um dia aziago» porque «na Bolívia se interrompeu a democracia».
Entretanto e já em território mexicano, Evo Morales afirmou «Que o mundo saiba que nosso pecado foi ser anti-imperialista, meu delito, meu pecado é que ideologicamente somos anti-imperialistas. Que o mundo inteiro saiba».
«Se cometi algum delito foi ser indígena. Se cometi algum pecado foi implementar programas sociais para os mais humildes, buscando igualdade e justiça. Estou convencido de que só haverá paz quando for garantida a segurança social».
O ex-presidente também defendeu os ministros e responsáveis do seu partido, que renunciaram aos seus mandatos nos últimos dias. «Eles não renunciaram porque são covardes, mas porque sequestraram seus filhos, seus familiares», acrescentando que «desde a vitória eleitoral de 20 de outubro teve início o processo de golpe. Queimaram tribunais eleitorais, actas das eleições, sedes de casas de autoridades do país».
Cabe aqui referir que a pata imperialista esteve bem activa neste processo, o que não surpreende, tendo em conta os antecedentes por esse mundo fora e na Bolívia crescem as denúncias de que os Estados Unidos não pararam de tentar mudar a opinião pública com propaganda falsa e fazendo promessas incrivelmente ridículas para a população, como, por exemplo, pessoal da Embaixada prometer à população da região pobre de Yungas estradas novas e asfaltadas, se não apoiassem Evo Morales nas eleições.
Houve também mentiras flagrantes a circular, tais como, que Evo Morales e seus familiares tinham roubado centenas de milhões de dólares depositados depois numa conta secreta do Banco do Vaticano, aliás, mentiras semelhantes às propagadas sobre Nicolas Maduro, a família Castro, Coreia do Norte, Kim Jong Un, os líderes do Irão e da Síria e todos quantos se opõem aos ditames de Washington, para domínio geoestratégico do planeta, nem que para tal seja preciso invadir, matar e saquear recursos naturais de países soberanos.
O ex-ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintara, referindo-se às tentativas dos EUA para sabotar as eleições, afirmou, alguns dias antes das eleições, num canal da TV pública boliviana, que «Não há um dia em que os EUA não interfiram nos assuntos políticos da Bolívia», alertando os compatriotas: «Nos últimos 50 anos, os Estados Unidos colocaram a sua mão suja no processo eleitoral boliviano. Hoje a interferência está pior do que nunca. Por esse motivo, irmãos bolivianos, estejam atentos e não permitam que o vosso voto seja influenciado por interferência estrangeira».
O golpe na Bolívia é mais um capitulo de um processo em que a sarna imperialista pretende tomar conta da região latino americana, impondo de novo o poder das velhas oligarquias contra as tendências profundas do século 21 de justiça social, igualdade e fraternidade entre os povos.