CENTENÁRIO BERNARDO SANTARENO

 “(Bernarda) (…) Sim, pra que serve isso?!…” (Amália metendo a cabeça pelo nó aberto da corda: ironia triste) Olhe, não vê? Pra me enforcar (…)” e do que já aconteceu num passado longínquo “(Amália após queimar as mãos de Aninhas num acidente) Eu ando a cumprir um fadário, mãe: isto é castigo, é castigo! As minhas mãos não merecem tocar numa criancinha…Deus não esquece, não…nunca se esquece! (Ansiosa, terna e assustada) Guarda bem os teus filhinhos, Rosa! Não os largues, não os percas de vista…”.  As palavras inicias pertencem ao primeiro acto da peça de Bernardo Santareno, António Marinheiro, o Édipo de Alfama. O autor português revisita nesta sua peça, o antigo e mais clássico de todos os temas da antiguidade, o mito de Édipo, e que mais tarde como consequentemente se verá com Freud está no nascimento do Complexo de Édipo. Iniciativa da atriz e encenadora Fernanda Lapa e da sua Escola de Mulheres, o programa de comemorações começou no dia 18 de janeiro de 2020 com um colóquio e uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, organizados pela fundação em parceria com a Associação Portuguesa de Escritores e pela Escola de Mulheres – Oficina de Teatro.

“Partindo do mote “É no homem, nas suas urgentes e sangrentas ansiedades, que está a raiz da atual criação dramática”, o evento com curadoria de Fernanda Lapa, diretora da Escola de Mulheres — Oficina de Teatro, irá reunir personalidades do mundo académico e teatral que abordarão vários aspetos da personalidade e obra de Santareno.” https://www.publico.pt/2019/10/28/culturaipsilon/noticia/pais-resgatar-santareno-ano-centenario-1891542

Bernardo Santareno, pseudónimo literário de António Martinho do Rosário, nasceu a 19 de Novembro de 1920, em Santarém, no Ribatejo. A pretexto  do seu centenário de nascimento em 2020,  num processo em  crescendo e aberto,  foi criada uma Rede Nacional de Parceiros, informal, entre Câmaras Municipais, Museus, Universidades,  Teatros Profissionais e Amadores, e outras organizações, e também de pessoas individuais, tendo em vista produzir obras de criação e ações de divulgação centradas na obra de Santareno. ( https://sites.google.com/site/centenariosantareno/)

No norte, A Seiva Trupe, em Matosinhos, programou para o passado mês Março a estreia de O Crime de Aldeia Velha, com encenação de Júlio Cardoso, agora reagendada, por motivos que todos conhecemos, para Dezembro deste ano, o espetáculo poderá ser ainda apresentado na Assembleia da República mais tarde. A licenciatura em Teatro da ESAP/ Escola Superior Artística do Porto associou-se a estas comemorações tendo realizado já leituras comparadas a partir do texto de António Marinheiro e o clássico de Sófocles, está ainda prevista uma leitura dramatizada do Édipo de Alfama para o mês de Outubro em colaboração com o Ensemble Orff no Auditório da ESAP. Também o teatro A Barraca, em Lisboa, vai abrir portas para a leitura encenada de O Lugre, pela voz da atriz Maria do Céu Guerra, e o Centro Dramático de Viana – Teatro de Noroeste apresenta em Junho O Lugre, com encenação de João Mota. As comemorações serão também motivo para revisitar a obra de Santareno no cinema com novas exibições de duas peças do dramaturgo adaptadas para o ecrã,  A Promessa  (1973) e O Crime da Aldeia Velha (1964), com realização de António Macedo e Manuel Guimarães, respetivamente. Lauro António lembra (2012) que “A obra de Santareno continua na televisão, com a adaptação de Português, Escritor, 45 Anos de Idade, numa realização de Artur Ramos, em 1975, numa recriação de O Crime de Aldeia Velha, partindo de uma encenação de Carlos Avilez, em 1997, e, finalmente, em 1999, com a versão televisiva de Vida Breve em Três Fotografias, dirigida por Fátima Ribeiro.” Um vasto programa de Comemorações do Centenário decorrerão ao longo de todo o ano de 2020. Uma triste nota final; quando envio esta mensagem para a sua edição nos informam de Lisboa do falecimento de Fernanda Lapa (6/08/20), a quem deixamos nesta página a nossa mais humilde e sincera homenagem e a quem recordaremos sempre como um grande valor feminino do teatro português. À família enlutada os nossos mais sentidos sentimentos de pêsame.