A paixão pela música nasceu com ele, mas só anos mais tarde Pedro Bargado abraçaria, finalmente, a área da sua vida. Entre passagens por um curso de desporto e pelo teatro, onde está atualmente ainda a representar no musical “Fátima- Opera Rock”, de Filipe Lá Féria, e depois de algumas composições para novelas e séries, Pedro Bargado lança agora o seu primeiro álbum a solo, que considera ser uma “janela aberta” para a sua própria alma e que evoca o amor aos pais.
Lançou recentemente o seu álbum “Janelas Abertas”. Fale-nos um pouco sobre este CD, a inspiração e como surgiu.
Este álbum nasceu de uma vontade muito antiga. Carregava comigo o desejo de fazer este álbum há muitos anos. Ganhei essa coragem depois do meu pai ter morrido com Covid19 durante a pandemia. Foi como se ouvisse o meu pai dizer “é agora vai, não percas tempo”. Porque até aqui tinha tanto para dizer que não sabia por onde começar. Até que percebi que se tinha de começar por algum lado, tinha de agradecer ao meu passado. Se sou o que sou tenho de agradecer de onde venho. Daí este álbum ser uma homenagem à minha infância, ao meu bairro onde cresci, à minha família, ao amor e à liberdade, e à minha preocupação com o futuro. Juntar estes conceitos todos num álbum não é fácil, e pode até não ser coerente, mas precisava de um ponto de partida que me deixasse orgulhoso, e o produtor Theo Pascal foi fulcral para que isto acontecesse. É um álbum que contém em cada música uma história muito profunda, como se cada música fosse de facto uma janela aberta da minha alma.
Já lançou várias músicas ao longo da sua carreira, mas este é o seu primeiro álbum a solo?
Sim, lancei muitas músicas para novelas, e séries, mas que acabavam por ser uma “encomenda”. Não que não me identificasse, até porque só canto aquilo que acredito. Cheguei a dizer várias vezes “isto não é pra mim, não me levem a mal, mas acho que fica bem na voz de …” Mas, de facto, não eram músicas que falassem de mim, ou que contassem o que a minha visão interior avista, ou que fossem verdadeiramente vindas de mim, do meu eu, do meu centro de verdade. Não tinham a profundidade que atingi, entretanto, com o passar do tempo. Sim este é o meu primeiro álbum a solo, que transmite quem eu sou. E que me deixou muito feliz por o realizar.
Qual tem sido o feedback do público?
Até hoje tem sido muito, muito positivo. Até porque quem me conhece só me viu a cantar coisas de outros. A dar voz às músicas de outros. A interpretar o ponto de vista de outros, como, por exemplo, no Jesus Cristo Supertar. E meio que se espantaram porque estavam á espera algo igual. Mas este sou eu, e de repente, foi uma coisa nova, uma nova perspetiva, e “ouvirem-me dum novo prisma”.
Tem alguma música preferida?
Todas… (risos). Mas tenho duas que são muito especiais. Primeiro a “Hey Fina”, que é sobre o que teria o meu pai pensado ou dito no momento em que conheceu a minha mãe. Desse ponto parti para as palavras como se fosse ele a dizer o que sentia ao vê-la. É uma homenagem/tributo aos meus pais que os amo muito. Lá está, queria ter uma música que mostrasse como os amo e consegui, pena o meu pai não ter ouvido. E depois “A Voz do Vento”, uma música que fecha um ciclo muito importante e foi a minha primeira música. Fi-la quando estava em tournée com a Sara Tavares, fui backing vocal dela no álbum Mi Ma Bô. Nessa altura, também foi quando conheci o Theo Pascal que era o diretor musical da Sara, e que, anos mais tarde, iria fazer este álbum “Janelas Abertas” comigo. Tínhamos acabado de chegar à Namíbia, a Windoek, que quer dizer o “canto do vento”. Assim que me disseram a tradução e o que significava o nome, foi como se uma voz de facto na minha cabeça começasse a cantar. Cheguei ao hotel, e como levava comigo um gravador, cantei toda a melodia e de como eu queria que esta canção se tornasse. Marinou durante anos. E esta música ficou comigo durante este tempo todo, e chamava-se o canto do vento, numa versão só guitarra, que irei lançar em breve só pra perceberem a evolução. Hoje chama-se “A voz do vento”, e como disse fecha um ciclo muito importante para mim. Saravá Sara.
Como surgiu a paixão pela música na sua vida? Tem algum curso?
Desde miúdo. Desde muito pequeno que me punha a ouvir os discos que o meu pai tinha trazido de África, Angola. Punha os headphones gigantes e lá ficava eu deitado a ouvir música durante horas, ou punha sozinho o gira-discos a funcionar e ia pulando de disco em disco. Acho que já nasceu comigo. A quantidade de música que consumia em casa foi o meu curso superior. Lógico que conforme ia crescendo, a vontade foi desaparecendo, porque o que importava na altura era ter um curso. Liguei mais à escola e estava a estudar desporto. Na altura, ainda morei em Braga durante 2 anos e lá corri pelo Sporting de Braga, mais tarde, quando voltei pra Moita, no Benfica, com o treinador da Lucrecia Jardim, até ao dia em que deitado na minha cama a ver numa televisão a preto e branco, O 1º Chuva de Estrelas, aparece uma miúda de olhar curioso a dizer que ia cantar Whitney Houston. Comecei a rir e disse vamos lá ver se consegues (eu tinha 16 anos e cantar Whitney não é fácil de todo). Assim que ela abriu a boca a cantar, engoli os meus próprios dentes, e sequei como um bacalhau. Cantava nas horas, levantei-me a correr e disse “mãe tens de ouvir, tens de ouvir”. Era a Sara Tavares. Anos depois quem diria, estávamos juntos a trabalhar. Mas também passei pelo “Chuva de Estrelas”, que me abriu muitas portas no mundo tão difícil da música em Portugal. Depois da tournée com a Sara, comecei a fazer teatro, que era uma área que queria explorar, mas sem nunca desistir da música.
Tem concertos agendados já, ou como alguém o pode fazer?
Neste momento, não tenho nenhum concerto agendado, até porque estou muito ocupado a preparar o próximo álbum, e estou a fazer o musical Fátima- Opera Rock do Filipe La Féria. Mas podem fazê-lo através de mim, pelo email pedrobargadooficial@gmail.com.
De facto, o teatro também faz parte da sua vida. Como está a correr a participação no musical Fátima Opera-Rock no Teatro Politeama.
Está a correr maravilhosamente bem. É uma história nossa e intemporal, recheada de interrogações, segredos, mistérios. Acho que quem vai ver o Fátima, fica a perceber melhor o que facto se passou em 1917 na Cova da Iria. E é exatamente como o Filipe La Féria disse, não é só para católicos. É para todos. Porque é uma história nossa, acreditemos ou não. É para crentes e não crentes, e está contada com seriedade, integridade e muito, muito, muito trabalho de pesquisa. As pessoas saem maravilhadas de lá. O meu papel de Administrador, Artur de Oliveira Santos, foi quem interrogou os pastorinhos, sobre as supostas aparições da Nossa Senhora de Fátima. Aconselho todos a irem ver, pois o trabalho desta equipa é ímpar. O meu grande destaque vai para a Teresa Zenaida, que faz de Lúcia, ela está excecional neste musical. Durante 2 horas está em cima do palco sem ceder ao cansaço, super agarrada à personagem. Não é um papel fácil e adoro o trabalho dela.
Como vê o estado da cultura em Portugal? Sendo que já anda nisto há alguns anos, tem sentido alguma diferença?
Sendo o teatro o parente pobre das artes, vejo que a vontade de fazer teatro suplanta qualquer derrota que queiram anunciar. O teatro está vivo e bem vivo em Portugal. Os apoios é que são poucos. O dinheiro para a cultura escorre para outras áreas também importantes. Mas a torneira é descontrolada para uns lados, e pinga noutros. Sinto honestamente que é como um carrossel, cheio de altos e baixos e quem controla, é quem está no governo na época. De forma geral, a cultura é ignorada pelos governantes. Só lhes dá jeito aquando eleições e afins. Do resto, são os mesmos amiguinhos a terem acesso a grandes palcos. E mesmo dentro das instituições culturais, os colegas mais chegados e íntimos a esses chega-lhes os apoios. Se eu for pedir, oferecem-me uma caixa de sabão para lamber. Assim como temos 4 estações – com o aquecimento global já não sei bem – durante o ano, assim se comportam quem manda perante a cultura. Ora há diferenças, ora não há. É-me difícil ter uma opinião mais clara neste momento.
Sendo alguém que já pisou palcos tanto em Lisboa como no Porto, sente alguma diferença entre os dois? O público é igual? E a nível de incentivos ou eventos, como vê a diferença entre a capital e a Invicta?
Há diferenças sim. No Porto as pessoas são mais diretas, afáveis, prontas para ajudar, gentis e acolhedoras. No fundo sem merdas. Em Lisboa ainda se convive com o nariz empinado e de olhar sobranceiro, e as pessoas são mais desligadas. Acho que tem a ver com o facto de em Lisboa se centrar muitas coisas, jornais, televisões, e o mérito pouco conta, mas sim os amigos. Enfim….Não sei dizer bem mas é a minha ótica. Agora o público quando quer vibrar tem a mesma energia tanto no Porto como em Lisboa. Quanto a eventos, o Porto faz muitos, com nomes importantes da música, do cinema, que, por vezes, nem vêm a Lisboa. Há um gosto enorme em fazer diferente e melhor. Lisboa sai a perder um pouco pois o Porto mantém uma magia intemporal e mística única no ar. Há paixão por ser-se do Porto. A Invicta não se deixa perder pelo avançar do tempo.
Quais os próximos projetos profissionais? Já há algo que possa adiantar?
Embora ainda esteja a promover este álbum “Janelas Abertas”, neste momento, estou a preparar lentamente o próximo álbum. Há um projeto de teatro e outro de cinema, mas que ainda não posso adiantar coisas, lamento.
Pode ouvir o CD aqui