Com 83 anos de vida, 60 deles como homem do teatro e quase 50 como empresário nesta área, Hélder Freire Costa assegurou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, que vai continuar a lutar em prol do futuro do Parque Mayer e do Maria Vitória, que lidera. Enaltecendo o longo percurso de luta e resiliência, o produtor recordou o passado, lembrando aqueles que, como Giuseppe Bastos e Vasco Morgado, transformaram o acaso, numa paixão pelo teatro. Firme no comando da “catedral da revista”, que já resistiu a guerras, incêndios, crises e pandemias, Hélder Freire Costa sublinhou, ainda, a importância da comemoração dos seus 60 anos no mundo do teatro, assim como o sucesso da revista celebrativa, intitulada “E Ninguém Vai Preso?!”.
É produtor, empresário e um homem do teatro, mas quem é o cidadão Hélder Freire Costa?
Sou uma pessoa que trabalha no teatro, desde há 60 anos, no Parque Mayer e que dirige o Teatro Maria Vitória há quase 50 anos, porque antes eu era o secretário da empresa e a partir de 1975 passei a ser o empresário, por virtude da morte do meu anterior empresário.
Este ano assinalou 60 anos de teatro. Como descreve o percurso até aqui?
O meu primeiro contacto com o teatro foi no Capitólio, depois vim para o Maria Vitória e para o Variedades, porque, entretanto, o meu empresário associou-se com o Vasco Morgado e fizeram umas obras no Teatro Variedades e passaram a produzir no Variedades. Depois, o meu empresário conseguiu a exploração do Maria Vitória, que era o sonho dele, e claro eu como secretário lá fui com ele para o Maria Vitória. Nos escritórios eu só estive no Capitólio e no Maria Vitória, porque quando estávamos com a exploração do Variedades, em sociedade com o Vasco Morgado, o escritório continuou a ser no Capitólio. Depois, em 1986, houve um incêndio muito grande no Teatro Maria Vitória, aí eu já era o empresário, e com o apoio do então presidente da Câmara, engenheiro Cruz Abecassis, fomos para o Teatro Maria Matos, que tinha iniciado há pouco tempo como Teatro Municipal, porque até então ele era num prédio que tinha um hotel e era propriedade privada. Ele foi explorado durante algum tempo pelo saudoso Igrejas Caeiro e, depois, eu fui para lá, porque era um Teatro Municipal, enquanto se resolvia a situação do Maria Vitória, que tinha ardido. Regresso ao Parque Mayer dois anos depois e recebo o teatro nas condições em que ele se encontrava, já com o início de obras de recuperação, com a condição de eu acabar as obras e, então, ficar com o teatro e foi o que aconteceu até hoje.
Qual foi o sentimento ao comemorar toda uma vida dedicada a um grande amor?
Exato, é verdade, mas quando eu vim para o teatro não pensava que iria ficar. Naquela altura, eu trabalhava num banco e fui despedido porque chegava sempre tarde. Nós tínhamos de picar sempre o ponto e eu era jovem e gostava dos bailaricos, também os realizava, e vivia num mundo à parte em que me deitava tarde e tinha de acordar cedo para ir para o banco, pelo que, geralmente, chegava sempre atrasado e já toda a gente lá estava a trabalhar. Até que um dia acabou e rescindiram o contrato comigo. Na ocasião, eu ainda vivia com os meus pais e não estava muito preocupado, porque não tinha responsabilidades na vida, mas ia respondendo a anúncios, até que, um dia, a minha mãe disse-me: “ligou aqui para casa o senhor Vasco a dizer para ires ter com ele ao Capitólio para falar contigo, por causa do anúncio que respondeste”. Quando ela me falou do Capitólio eu pensei logo que ia ter cinema à borla, porque no Capitólio também havia cinema, enquanto decorriam os ensaios para as peças de teatro e no verão dava cinema no terraço. Portanto, era um edifício muito bonito. Eu fiquei muito inchado, fui lá e tive a sorte de quando toquei à campainha o famoso fotógrafo os artistas, o Apollo, ia a sair e abriu-me a porta, tanto que, mais tarde, ele disse-me: “fui eu que te abri a porta para tu trabalhares com o senhor Vasco”. E foi verdade. De modo que eu tive a sorte de ter um empresário que era um homem muito honrado. Ainda por cima ele e a mulher nunca tinham tido filhos e como eu era um jovem, o Giuseppe Bastos quase que me perfilhou como se eu fosse um filho, ao ponto de eu muitas vezes lhe dizer: “o senhor Bastos trata-me como se eu fosse seu filho, mas eu não sou seu filho, eu tenho pai e mãe e vivo com eles. Portanto, tem de meter isso na cabeça, que eu não sou seu filho, eu sou seu empregado, sou seu secretário e faço-o com muito orgulho. Eu gosto muito de si, porque o senhor é uma pessoa séria, competente e tem-me ensinado muita coisa, que para o meu futuro é bom, é excelente, mas eu não venho para ficar no teatro, eu estou de passagem”. E a passagem foi que deu 60 anos. Foi uma grande passagem. Este ano, no dia 8 de setembro, fiz 60 anos de teatro e em abril do próximo ano faço 50 anos de empresário do Teatro Maria Vitória.
Para assinalar a efeméride, o Teatro Maria Vitória apresentou mais uma revista à portuguesa. Fale-me sobre “E Ninguém Vai Preso?!” que vai estar em cena até ao último domingo de maio?
Esta revista está a ter um êxito enorme, felizmente. Mas, para mim, é extremamente importante, aliás é mais importante do que todas as outras que eu fiz e já lá vão 60 revistas, para além daquelas que secretariei com o Giuseppe Bastos. Portanto, de certeza que mais de cem revistas me passaram pelas mãos. Agora, o que acontece é que esta revista é muito especial, porque na mesma revista eu comemoro dois importantes acontecimentos, primeiro, 60 anos de teatro, que não é muito, apesar de nunca nenhum empresário ter assinalado 60 anos de atividade, eu sou o primeiro, depois, assinalo 50 anos como empresário de um teatro, o que também não é muito comum, porque os atores são muitos, os empresários são sempre poucos. Este espetáculo é realmente um sucesso, porque também fizemos o possível para o ser, tanto eu, como os meus autores e coordenadores inerentes, ou seja, todos deram o seu melhor para isto ser um grande espetáculo comemorativo dos meus 60 anos de teatro. Curiosamente, os autores prepararam um número de homenagem aos meus 60 anos, o que me surpreendeu, fui apanhado de surpresa e chorei nesse dia. Eu não vou ver os ensaios todos no início, porque é mais para os artistas aprenderem os papéis, depois quando se começam a juntar no palco é que me interessa ver os ensaios, para analisar, como empresário, se a revista tem pernas para andar, se o elenco está certo e tem talento e aí é que eu vejo. Eu estava a achar a peça curta, porque havia um número importante que eles não apresentaram, que era o tal segredo, até que um dia eu assisti ao ensaio todo até ao fim e os atores tiveram de fazer o número, que eu não sabia que existia, e eu fui apanhado de surpresa e chorei. Eu não gosto nada de estar a fazer números a festejar, porque eu sou o produtor do espetáculo, o dinheiro é meu e não sou desse estilo. Então, os autores acharam que a melhor forma de eu aceitar era se homenageassem as pessoas que eu gostava, como o Enrique Santana, a Maria João Abreu, o Salvador, o José Viana, até chegarem a mim, descrevendo-me como “uma pessoa que ainda hoje está presente, que é o empresário, que nunca abandonou apesar das vicissitudes que têm ocorrido no Parque Mayer e nos teatro, o senhor Hélder Freire Costa conseguiu ultrapassar isso tudo e chegar aos 60 anos de trabalhador de teatro”. Pronto, e foi o que aconteceu e eu fui apanhado de surpresa, de modo que chorei naquele dia, tal como nos ensaios seguintes e no dia da estreia. Depois, acalmei e já me entreguei ao assunto, percebendo que tinha de ser mesmo assim. Mas, esta revista é muitíssimo boa e aborda profundamente, nomeadamente, o facto de não termos justiça em Portugal e de estar tudo uma bandalheira. Tudo isto é criticado, mas utilizando termos, palavras e formas que de facto estão a acontecer no país, como aspetos de investigações que duram 10 e 15 anos, julgamentos que se fazem ao fim de 20 anos, e tudo isso é debatido ali, mas uma forma alegre, uma forma descomprometida, sem ofender, sem haver um palavrão, sem ofender as pessoas, sem se ofender quem se critica, utilizando muitas vezes até termos dessas mesmas pessoas. De modo que a revista alcançou um grande sucesso, o que tem muito a ver também com o regresso do Flávio como ator. Ele é autor, é encenador, ensaiador e ator, mas durante dois anos apesar de não ter sido ator, exerceu todos os outros cargos. No final do ano, sairá como ator e será substituído, mas o trabalho está lá.
Relativamente às vicissitudes que teve de ultrapassar ao longo destes 60 anos, qual diria que foi a mais marcante, para si?
O mais marcante foi, exatamente o grande incêndio, porque eu tive dois incêndios no Teatro Maria Vitória, um que destruiu uma parte do arquivo e da oficina onde estavam arrumados livros e cenários de grandes mestres de pintura e tudo isso desapareceu. Era um espólio muitíssimo importante para mim, mas desapareceu. Mas, no primeiro incêndio, foi o teatro todo que ardeu, aliás, o miolo do teatro foi todo à vida, ardeu tudo, inclusive até o teto foi abatendo. Portanto, aquando do incêndio do engenheiro Cruz Abecassis chamou médicos para me assistirem, porque eu sentia-me muito mal, com o intuito de me acalmarem e levaram-me para casa, para eu descansar. Contudo, eu estava desconfiado de que o teatro tinha ardido todo, apesar de me dizerem que não. Como foi à noite, não se via e como a eletricidade tinha sido cortada por motivos de segurança, eu peguei numa lanterna grande e fui ao Parque Mayer e percebi que o teatro estava todo ardido. No dia seguinte, fomos falar com o presidente da Câmara, porque o teatro era municipal. Nós estávamos a 15 dias da estreia, estávamos nos últimos ensaios, de modo que a peça estava pronta a estrear, mas ardeu tudo, ardeu uma boa parte do guarda-roupa, a outra parte arranjava-se com remendos, etc. e tivemos de fazer tudo. Entretanto, o engenheiro Cruz Abecassis fez a entrega do teatro, até com uma cerimónia muito bonita, no salão principal da Câmara Municipal, mas claro, o mal é que estávamos sem teatro. Depois acabou por haver uma decisão na empresa, eu regressei ao Parque Mayer, associei-me com o Vasco Morgado e fizemos um grande espetáculo no Teatro Variedades, que lançou toda esta gente que anda aí, o José Raposo, o Fernando Mendes, a Maria João Abreu, a Marina Mota, o Carlos Cunha, toda essa peleia de gente apareceu como primeira figura na revista “A Prova dos Nove”, que foi o meu regresso ao Parque Mayer, associado com o Vasco Morgado, porque ele é que era o explorador do Teatro Variedades. Eu, naquela altura, não tinha teatro nenhum, o único que tinha ardeu, portanto não tinha nada. Associei-me com o Vasco e fizemos dois espetáculos de grande sucesso, mais uma comédia e, depois, eu regressei ao Teatro Maria Vitória e fomos reconstruindo devagarinho, porque a empresa proprietária já tinha começado a sua reconstrução, pois recebeu o dinheiro do seguro para isso. mas, depois entregou-me o teatro, com a condição de eu acabar as obras e foi o que eu fiz e assim cá estou até hoje.
Por outro lado, quais foram os momentos mais importantes e mais especiais para si?
Eu diria que foram os prémios que eu fui recebendo durante toda a minha vida, por via do teatro, inclusive a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa, porque são coisas gratificantes que nunca mais esqueceremos.
O que é que o Parque Mayer representa para si e o que é que tem de tão especial que o fez ficar durante estes quase 50 anos?
Exatamente por ser teatro. O teatro é uma vida diferente e eu fiz uma vida boémia. Eu era jovem, mas realizava bailes e andava nos bailaricos todos. Depois fizemos a recuperação de uma coletividade, que geralmente era, à semelhança das restantes, frequentada por pessoas idosas que dançavam, mas eu rodeei-me de um grupo de gente jovem, todos eles depois passaram a ser famosos, aliás, um foi diretor do Rádio Clube Português e mais tarde administrador, outro foi administrador da televisão, quer dizer, eu tive mais ou menos gente muito boa que me fez acompanhar. Portanto, com esta coisa dos bailaricos, eu perdia os empregos, mas ganhava amigos e ganhava namoradas. De modo que, chegando ao teatro, já não tinha de ir para os bailes, porque eu já tinha lá bailarico, já lá tinha as raparigas, já tinha tudo como eu gostava, pronto então fui ficando e esqueci-me do meu futuro. Eu acredito que nós temos uma idade para procurar o nosso futuro e depois temos outra idade para continuar a ter uma vida boa, porque à medida que avançamos na idade, preocupamo-nos connosco, com o futuro e a família. Portanto, eu no teatro tinha isso tudo, eu tenho filhos em teatro, os meus três filhos são filhos de pessoas de teatro também, como tal, o teatro passou a ser a minha vida. Depois, a partir do momento em que passei a ser o empresário, há 50 anos atrás, as responsabilidades duplicaram-se e eu tive de viver para as pessoas também, porque a família delas dependia de mim e atravessei períodos, como sabe, que este país teve. Eu fui para o teatro em plena guerra colonial, a seguir tive um grande incêndio no teatro, depois tive um incêndio nos bastidores, mais tarde a crise do Passos Coelho, em que a juventude foi toda para fora do país, porque Portugal estava de rastos e entrou numa crise tremenda, perdendo o crédito na Europa e no mundo. O Governo do Passos Coelho não teve mão para pegar e para aguentar isto, mas quando fomos para eleições ele ganhou na mesma. Contudo, depois, apareceu o Costa que, com aquela coligação da esquerda que ele fez, devagarinho recuperou o país. Agora estes também vieram dizer que o Costa não deixou um tostão nos cofres, mas têm estado a esbanjar o dinheiro. Portanto, como não o trouxeram de casa é porque os cofres estavam cheios. Toda a gente sabe e tem vindo dinheiro para tudo, até para obras e até já vai haver aeroporto. Portanto, como ninguém deste governo trouxe dinheiro de casa para entrar, foi o governo que saiu que deixou os cofres atulhados.
O Teatro Maria Vitória acolhe verdadeiras revistas à portuguesa. O que é que este palco tem de tão especial?
O palco do Teatro Maria Vitória tem a virtude de ali terem estrado e trabalhado as grandes figuras que passaram pelo teatro em Portugal. Raul Solnado, algumas das histórias que ele contava aconteceram ali. A Amália Rodrigues, a primeira vez que foi ao teatro foi ali. O Salvador chegou a ser empresário naquele teatro. Portanto, é um teatro cheio de história. O palco não é o mesmo, aliás, eu próprio construi um palco novo a determinada altura e felizmente que o fiz, porque se não o tivesse feito, teria acontecido uma catástrofe, porque quando o foram substituir, perceberam que estava cheio de caruncho e à beira de ruir. Eu tive uma sorte tremenda e não tinha culpa nenhuma, pois estava lá a trabalhar há pouco tempo. Na altura, uma pessoa política queria tomar conta do teatro e pediu-o emprestado para ensaiar uma peça, mas depois nunca mais saía de lá e eu detetei isso, até que me confirmaram que era a intenção. Então, como para eles fazerem teatro tinham de ter um palco, eu deitei o palco abaixo e foi a minha sorte dupla, primeiro porque eles foram-se embora, depois porque se eu não o tivesse feito, provavelmente eu teria sido responsável por uma grande catástrofe, caso o palco ruísse com a companhia lá em cima.
Qual é, a seu ver, o segredo de tantos êxitos?
As revistas do Maria Vitória têm uma coisa que, por ser tão banal, ninguém já dá por isso, é que fazem-se as críticas às pessoas brincando, nunca ofendendo e, em certos casos, utilizando as próprias frases que as pessoas dizem. porque muitas vezes as pessoas que são criticadas, esquecem-se que em determinada altura da sua vida disseram para os jornais uma determinada coisa, que depois fazem o contrário, dizem o contrário, fazem o contrário, são contra e não sei o quê e como nós temos os elementos de que é mentira, confrontamo-los com a realidade e brinca-se com isso. No Maria Vitória não se ofende, critica-se, nunca ofendendo a pessoa que é criticada. Não há palavrões, pelo que podem ir crianças, podem ir adultos, pode ir quem quiser, porque ali não há asneiras, aliás, nunca houve, porque para o comum habitante deste planeta, o teatro de revista é muito ordinário, mas no Maria Vitória a gente nunca diz asneiras, diz as coisas certas, a brincas. Portanto, o teatro de revista é um teatro de crítica social e política e nós respeitamos isso integralmente. Respeitamos o roteiro da revista, como é costume ser e, portanto, é o teatro que produz revista. Por isso, foi um jornalista que intitulou que o Maria Vitória é a “catedral da revista”.
Como vê o panorama cultural no nosso país, neste momento?
Muito mal, porque geralmente para a cultura são escolhidos amigos, mas não são escolhidas pessoas cultas e para dirigirem a cultura têm de ser pessoas com uma grande cultura. Portanto, em Portugal isto não acontece só na cultura, mas de um modo geral, porque o nosso povo continua a ser estúpido e continua a votar no André Ventura. Mas, o que é que estão à espera que ele faça ao país? Nenhum país será nunca imune a uma crítica e ele descobriu isso, mas em todo o sítio. Se eu quiser tornar-me famoso, ao dizer mal das pessoas é num instante, é preciso é ter feitio para o fazer e ele tem esse feitio. Ofende toda a gente, diz o que lhe apetece, agora repare se este homem um dia dirige o país. O país somos todos nós, mas tem gente que vota nele e que o acha muito engraçado e muito bonitinho e como é bonitinho, leva o país à destruição. O país tem uma população enorme, que precisa de viver segundo as condições que o país oferece, agora com propósitos destes nós não vamos a lado nenhum, porque só dizem mal e todos nós sabemos que não há nada que não mereça dizer mal, agora há formas de expressarmos o nosso protesto, não de forma malcriada como ele faz, que ofende tudo, ofende as pessoas, ofende o Presidente da República, ofende o presidente da Assembleia da República e qualquer pessoa superior a ele, porque ele acha que é muito bonito, mas é um garoto malcriado que se meteu na política. Andou a defender o meu clube, mas defendia muito mal porque o tipo que defendia o Futebol Clube do Porto metia-o no chinelo. Contudo, como viu que não ganhava nada, criou um partido político, estilo Hitler. As ordens são dadas por ele e se ele não estiver, nada se faz. Ora, um país que tem gente que vota neste senhor, neste partido, tem gente que não tem cultura, não é? Agora, o nosso país tem grandes potencialidades, precisamos é de ter os políticos certos, que pensem em auxiliar a população e não a si próprios, nem à sua família, administrando bem os bens públicos. Eu sei que é muito difícil, mas temos é de ter as pessoas que pelo menos combatam o difícil. Eu, no teatro, tenho feito isso toda a minha vida. Nós temos de trabalhar, nós não nos podemos dar por vencidos.
Quais são as suas maiores inspirações e motivações?
Fazer tudo o que é possível dentro do bom gosto e que as coisas sejam boas, fiquem bem e dignifiquem a iniciativa. Eu, por exemplo, no teatro, tenho sempre o hábito de dar o meu melhor para fazer bem. A minha inspiração é procurar fazer aquilo que devo fazer, mas fazer como deve ser, tentar fazer bem. Claro que, como eu costumo dizer, depois às vezes há coisas que falham, mas até Deus falha, quanto mais nós. Contudo, muitas vezes, eu bato-me por uma coisa, que depois não resulta e reconheço que falhei, que não consegui, mas tentei. Nós temos de ser honestos perante as pessoas, perante os nossos semelhantes, porque a gente muitas vezes bate-se por uma coisa, às vezes até malcriadamente, e depois eles estão-nos a dar os conselhos e não os queremos ouvir, porque ficamos convencidos que nós é que sabemos e depois espalhamo-nos e temos de pedir desculpa. Porém, graças a Deus, não tive muitos falhanços na minha vida. Geralmente tenho tido muitos sucessos. Esta revista está a ter um êxito fora do lugar, felizmente, porque há muito tempo que já não esgotava muitas casas seguidas e isso tem acontecido. Bem sei que tem vários atrativos para isso, como o regresso do ator e as novas cadeiras no Teatro Maria Vitória. Portanto, o público que, durante anos, foi sacrificado, agora consegue estar à vontade, tem espaço, aliás, pode estar sentado, porque o restante público consegue passar para se sentar nas outras cadeiras sem incomodar ninguém, quando antigamente tinha de sair a fila toda, o que também é uma virtude. Portanto, o espetáculo é muito bonito, tem um elenco muito bom e foi muito bem conseguido por parte dos autores. Estavam inspirados quando fizeram este espetáculo.
Quais são os seus maiores sonhos e perspetivas para o futuro do Maria Vitória?
O Teatro Maria Vitória está no Parque Mayer e está a começar a ser recuperado. Já reabriu o Capitólio, que embora não seja bem um teatro, é mais parecido com um quartel de bombeiros. Também agora reapareceu o Variedade, que tinha mais de mil lugares e agora tem cerca de 300 e, portanto, andamos de cavalo para burro. Contudo, eu estou a tentar atualizar aquilo. É claro que o Maria Vitória vai a caminho dos 103 anos e é um edifício envelhecido. Já houve tantos projetos para o Parque Mayer como para o Maria Vitória, mas pelo menos comigo ainda vida, espero continuar a ter o Maria Vitória, porque não vejo a possibilidade, tão depressa, de fazerem obras. Houve uma altura em que cada revista que eu estreava eu costumava anunciar ao público, isso aliás toda a gente em teatro sabe, que “esta é a primeira última revista do Maria Vitória”, até que já íamos em 15 ou 16, o que representava 15 ou 16 anos e não acontecia nada, então deixei que contar. Esta última revista representa, na verdade, uma nova vida, porque é muito bonita, houve várias coisas que foram recuperadas, como foi o caso das cadeiras, os cenários que são muito bonitos, porque conseguimos uma cenógrafa que foi um belíssimo trabalho, e um guarda-roupa fabuloso. Também temos um artista fabuloso que trabalha comigo pela primeira vez, mas já era famoso e já trabalhou com vários empresários, incluindo o La Féria, que é o Luís Stoffel, que fez as cabeças e valorizou muito o guarda-roupa, que para além de ser faustoso, as cabeças das artistas femininas são lindíssimas, de modo que esta revista representa tudo e mais alguma coisa, isto é, festeja dois aniversários do empresário, extremamente importantes para a sua vida, que é o caso dos 60 anos de teatro e, depois, dos 50 anos de empresário do Teatro Maria Vitória.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir aos nossos leitores?
As pessoas devem cultivar-se e uma das formas de cultura, para além de leitura, é irem ao teatro, ao cinema e a tudo o que representa a cultura no mundo. Portanto, quem puder que venha ao Maria Vitória, que é a “catedral da revista”, ver uma revista de grande qualidade, mas nunca deixem de ir ao teatro, porque trabalham milhares de pessoas nos teatros, que estudaram e investiram na sua educação, na sua cultura, em prol do teatro e que merecem que sejam apoiados pelo público.