Há já 16 anos que a Associação Nossa Senhora da Esperança (ANSE) contempla um Centro de Atividades para as crianças e jovens de Sandim e regiões circunvizinhas. Inicialmente a funcionar nas instalações do Centro de Dia da associação, o Centro de Atividades mudou-se à quatro anos para a parte inferior da Capela de Gestosa, o que veio dar uma maior dinamização àquela parte mais interior da freguesia, bem como dar a possibilidade das atividades se expandirem e dar lugar a novas. O ballet e o inglês foram as pioneiras, a elas já se juntaram a contemporânea, o hip-hop e o yoga.
Com a situação pandémica do país, a associação viu-se obrigada a uma pausa de mais de meio ano, mas regressou com todas as medidas de segurança e com muitos sonhos. A realização de um concurso anual,encontros e workshops de dança estão nos planos futuros da associação.
A Associação Nossa Senhora da Esperança (ANSE) é uma mutualidade com 114 anos de existência. Quando esta modalidade nasceu, era sobretudo para ser uma garantia e apoio à população no que dizia respeito à fase final da sua vida, nomeadamente nos funerais. Com o passar dos anos, as associações mutualistas tornaram-se muito mais do que isto, apesar de manterem ainda esta vertente de apoio no que diz respeito ao enterro das pessoas, mas têm agora muitos outros serviços e ofertas para a população. A ANSE, em Sandim, tem uma forte aposta na ajuda médica à população, algo visível pelas três clínicas médicas (uma em Sandim, uma em Seixezelo e uma em Canedo) e pela sua farmácia social. A isto junta-se o Centro de Dia, o apoio domiciliário e o protocolo que a associação tem para o acompanhamento aos beneficiários do rendimento social de inserção. A ANSE conta ainda com um gabinete de inserção profissional e é parceira num programa alimentar (APNC).
Era na franja mais jovem da população que a associação sentia que estava menos ativa, por isso, em 2004, a ANSE criou um Centro de Atividades que contava com aulas de ballet e inglês para crianças e jovens. Sem local próprio, foi nas instalações do Centro de Dia, e após o seu horário de funcionamento, que tiveram início as aulas, mas o crescimento do número de alunos a procurar as atividades tornou necessária a procura de um novo, e mais amplo, espaço.
Foi em 2016 que as atividades da associação sandinense se mudaram para um novo espaço, o andar de baixo da Capela de Gestosa. Luísa Batista, a advogada da ANSE explicou que aquando do aumento da procura e afluência de jovens, a maioria deles filhos de associados, começou a busca por o novo local. A parte inferior da Capela de Gestosa surgiu, uma vez que se tratava de um local bastante amplo e que se encontrava sem qualquer utilização. “Foi feito um protocolo e começamos a ocupar este espaço, graças a isso, esta zona da freguesia começou a ser mais movimentada, pelos alunos, pelos pais, e as pessoas começaram a conhecer. Veio dinamizar esta parte da freguesia e cativar miúdos da zona”, disse Luísa Batista. No entanto, esta transição, apesar de benéfica, não foi muito bem aceite pelos sócios/pais, uma vez que se tratava da deslocação de uma zona mais central da freguesia para uma mais interior. “Não foi fácil trazê-los para aqui, mas este espaço é nosso 24h por dia. Quando é necessário aulas extras durante o dia, ou até ao domingo, o espaço é nosso”, explicou Isabel Oliveira, funcionária da associação que acompanha o centro de atividades desde o príncipio. Isabel explicou ainda as condicionantes que o espaço do Centro de Dia tinha, como o facto de terem de arrumar os sofás e montar o material das aulas antes destas começarem, e repetir o processo no final das mesmas. “Aqui temos as salas do inglês, as salas do ballet, os nossos balneários, a nossa sala de espera e um espaço enorme de estacionamento, praticamente reservado, o que no antigo local era uma situação complicada”, acrescentou Isabel.
Muitos dos jovens que ainda hoje frequentam as atividades, cresceram na associação, começaram aos três e quatro anos e ficaram até hoje, agora que já estão perto dos vinte. Tudo começou como uma forma de ocupar os tempos livres dos mais novos de maneira lúdica, mas Luísa Batista destaca a seriedade com que os professores levaram o projeto e que fizeram com que este crescesse da forma como cresceu e da forma rigorosa que aconteceu. Os professores de inglês são do Instituto Lancaster e os exames de inglês são reconhecidos por Cambridge. Já no que diz respeito ao ballet, os exames são feitos nas novas instalações da Associação, em Gestosa, por examinadores da Royal Academy of Dance, que anualmente avaliam os alunos. O espaço é tão bom, que a Associação Nossa Senhora da Esperança chega mesmo a emprestar o local para que outras escolas de dança possam fazer os seus exames.
O que começou apenas com inglês e ballet e apenas quatro ou cinco alunos evoluiu…hoje o Centro de Atividades conta com cerca de cem alunos e além do inglês e do ballet que se mantêm, também há dança contemporânea, hip-hop e yoga para adultos. Mas os sonhos não acabam por aqui.
As mudanças que a pandemia trouxe
A pandemia mundial da Covid19 também afetou a ANSE. Em março a associação viu as suas atividades interrompidas e apenas regressaram no primeiro dia do mês de outubro, uma interrupção de mais de meio ano. Mas o facto das aulas presenciais terem terminado, isso não implicou o fim da atividade, as professoras de ballet continuaram a dar aulas online. “Quando tivemos de encerrar por causa do Covid, ficamos ali num impasse sobre o que seria melhor fazer e então decidimos tentar uma nova abordagem, que nunca tínhamos experimentado”, contou a professora de ballet, Ana Catarina Martins. A fase inicial foi a mais complicada, acabou por confessar, até porque nas primeiras semanas foi preciso explicar a pais e alunas como funcionava a plataforma e a troca de emails. Depois disso, a professora descreve que as coisas começaram a “fluir naturalmente” e acrescenta que “por incrível que pareça, houve turmas que funcionaram melhor com aulas online”. A professora Eduarda Cruz explicou porquê: “elas, em casa, foram mais autónomas no projeto, havia mais motivação e elas sentiram que o trabalho tinha mesmo de partir delas”. O feedback dos pais também foi muito positivo, segundo as professoras, que dizem que recebiam mensagens diárias a dizer o quão entusiasmadas estavam as crianças com a chegada da próxima aula. Apesar de não conseguirem corrigir virtualmente da mesma forma que fariam pessoalmente, as professoras consideraram as aulas online importantes e uma forma das alunas não perderem o contacto com a dança por completo.
Ainda assim, com um exame à porta em dezembro, as professoras estão preocupadas com questões que são avaliadas no exame, por exemplo, a utilização do espaço. “A utilização do espaço é avaliado no exame e é completamente diferente elas fazerem em casa, o virar para um lado ou para o outro, pode confundir”, comentou a professora Ana Catarina Martins.
Já o regresso às aulas presenciais foi muito bem pensado e planeado, ainda assim, tanto a Isabel como as professoras de ballet admitiam preocupações por parte dos pais, superadas, no entanto, pelo entusiasmo. O espaço é muito amplo, o que dá algum espaço de manobra no que diz respeito a distanciamentos. As marcas no chão da sala de ballet contam com três metros entre si. O plano é simples: medir a febre à entrada, todos entram de máscara e há dispensadores de gel em todas as entradas e noutros pontos estratégicos; o calçado que vem da rua fica na entrada e é calçado outro para estar no espaço interior do Centro de Atividades, as mochilas e outros pertences também ficam à entrada, nummóvel próprio para isso; os balneários não vão ser usados e apesar da troca de calçado, na entrada estará um tapete com desinfetante. Tanto as professoras como Isabel têm um objetivo máximo:cumprir todas as regras para que nada pare de novo.
Isabel Oliveira é uma autêntica pedinchona, quem o diz é a advogada da associação, Luísa Batista, mas a própria admite que o é. Todos os dispensadores de gel e o termómetro necessário para o regresso dos alunos foram angariados sem apresentar custos extras à associação. “Não queria que fosse um custo acrescido para a associação, nem para os pais e para não mexermos em mensalidade, pronto, fomos tocando no coração daqueles fornecedores que já vão trabalhando connosco”, contou Isabel.
Sonhos que nem a Covid conseguiu destruir
A Covid19 veio alterar em muito o ano programado, ainda assim, não destruiu os sonhos e objetivos da e para a Associação Nossa Senhora da Esperança, veio apenas atrasá-los um pouco. O espetáculo anual não se realizou, mas esse é para ser ainda maior e melhor no próximo ano, mas os sonhos vão mais além, desde de ver nascer novas modalidades, a ver a associação crescer enquanto Academia de Dança, até à realização de concursos e encontros. O espetáculo anual não é apenas uma demonstração de técnicas, quem o diz são as professoras, que garantem que é um momento de diversão, onde os alunos exploram movimentos, expressões faciais e temáticas que gostam. Normalmente tem lugar no Centro Social de Olival e Eduarda Cruz diz que tem tido temáticas de êxito, recordou um exemplo, “alma lusitana”, que fez todos os pais cantarem e chorarem na plateia. Apesar de Luísa Batista ser mais contida e dizer que “o grande desafio é manter a atividade neste momento”, as professoras de ballet sonham um pouco mais alto. Há dois anos ajudaram uma aluna a organizar um concurso de dança para um trabalho da escola, a ideia é manter e melhorar esse evento. “Desde aí, ficou a ideia de,não só manter o concurso anualmente, como organizar um encontro de dança, porque há sempre a partilha de conhecimento e experiências, logo, seria o ideal. Talvez com um ciclo de workshops, com professores de outros sítios a virem até cá. Infelizmente com isto do Covid não foi possível, mas a ideia é que a academia cresça e tenha mais eventos”, referiu a professora Ana Catarina Martins.