“ESTOU AQUI PARA SERVIR E NÃO PARA ME SERVIR”

Natural da Maia, desde jovem que luta pelos interesses da sua freguesia quer na Casa do Povo quer na assembleia quer até na presidência. Terminando o terceiro mandato consecutivo, Jaime Rita, em conversa com o AUDIÊNCIA, falou sobre as dificuldades da freguesia, a relação com a Câmara, as lutas ainda a travar e o futuro.

 

 

Além de ser presidente de Junta é também uma referência na freguesia da Maia.

Desde jovem, sempre me preocupei com a minha freguesia mesmo quando fui estudar para Ponta Delgada. Muitas vezes juntamo-nos por grupos de várias freguesias e havia sempre discussões, “a minha freguesia é melhor do que a tua”, e aquilo foi um bichinho que cresceu. Procurei sempre contribuir com o que podia, mas a minha interferência é maior a partir depois do 25 de Abril. Foi nessa altura que apareci, pela primeira vez, como cabeça de lista de independente dos Açores e perdemos as eleições a favor do PS. Daí para cá tenho vindo a fazer parte das Assembleias da Freguesia, da Assembleia Municipal. Tudo o que faço, procuro fazer bem feito. Fui secretário da Junta em 1994/97, depois fui candidato a presidente e perdi mas não nunca deixei a Assembleia. Mesmo perdendo, todos devem estar presentes a representar os que votaram por nós. Em 2001/2005, fui presidente da Junta de freguesia mas em 2005/2009 estive com o pelouro das águas e saneamento na Câmara Municipal.

 

Mas, não gostou muito de estar por lá…

Foi uma experiência muito positiva mas não era um trabalho em que me sentisse realizado nem de perto nem de longe.

 

Então, em 2009, voltou a candidatar-se à Junta de Freguesia.

O colega que estava aqui não se quis recandidatar e estamos aqui num impasse sobre quem seria o candidato, até que tive a informação de que ia reformar-me e acabei por aceitar em ser candidato aqui à Junta.

 

Esta disponibilidade, em 2009, para ser presidente foi aprovada pela população com larga maioria, renovou em 2012 e prepara-se para renovar, em 2017, levando a cabo o seu terceiro mandato consecutivo à frente desta autarquia. Sente-se orgulhoso por servir a sua freguesia?

Muito. Eu faço um agradecimento às pessoas que votaram e apostaram em mim e nas equipas que têm estado comigo. Os grandes líderes são líderes mas não são sozinhos, há sempre os outros a trabalhar para ele. Neste caso, aqui na Maia, embora sendo o presidente também há toda uma equipa que muitas vezes não tem visibilidade e muitas vezes não se valoriza, sem eles nós não conseguimos atingir o objetivos. Para além de outros que não estão diretamente envolvidos nesse processo e pessoalmente nunca os deixo de contactar e de pedir opinião, por exemplo, pessoas que já foram autarcas, deputados, presidentes, e sempre que tenho alguma dificuldade não tenho receio nenhum em pedir a opinião deles e a partir daí é mais fácil tomar decisões agradáveis e desagradáveis.

 

O percurso político que fez é o contrário da maioria dos políticos, ou seja, a procura de um lugar mais alto, mas chegou mais alto e viu que afinal tinha nascido para servir os seus conterrâneos diretamente.

Não me arrependo das decisões que tomei. Se fosse para voltar atrás faria igual. Ser presidente de Junta é um trabalho de base, trabalhar diretamente com as pessoas, ouvi-las, passar pela rua e ouvir comentários e críticas. É olhar um bocadinho para trás e ver que se fez algo, as coisas estão à vista e as gerações vindouras dirão da sua justiça.

 

Falando com alguns conterrâneos, notei que quando se fala na Maia, implicitamente, fala-se em Jaime Rita. É este seu amor à sua terra que fez com que o seu nome se mistura-se com o nome da sua terra?

É muito capaz. Uma coisa posso-lhe dizer há valores que nunca pude deixar há educação que temos de berço que não podemos esquecer, e a educação que eu tive foi “se fizeres alguma coisa faz para os outros, faz para a comunidade onde tiveres inserido”, eu estou aqui para servir e não para me servir, não querendo a dizer que alguns estão para se servir.

 

Um presidente de Junta de Freguesia é quase sempre, para não dizer sempre, a primeira a porta aberta que o munícipe encontra a qualquer hora do dia para socorrer as suas principais necessidades mas um presidente, normalmente, encontra por sua vez as portas fechadas dos poderes hierarquicamente superiores, Câmara e Governo, como é que tem conseguido driblar esta situação?

Quando estive na Junta pela primeira vez, o governo era PSD e, agora, PS, não só temos tido a compreensão das Câmaras como do Governo regional, no sentido, de que a Maia esteve muitos anos completamente abandonada. Há uma coisa que vou ter que dizer e quero que as pessoas entendam, nós não nos sentimos inferiorizados mas sentimo-nos marginalizados em relação ao poder central da Ribeira Grande e isto já vai muito antes do 25 de Abril e, infelizmente, ainda continua. Enquanto as freguesias não perceberem o peso que têm na sociedade de hoje isto vai funcionar sempre assim, na hora que as Junta de Freguesia se juntarem fortemente… Tenham muito cuidado! Nós vamos ser muito reivindicativos porque há coisas que são inconcebíveis, não se pode fazer atribuições de competências das freguesias. As coisas têm funcionar de acordo com a lei.

 

 

 

Como é a relação entre a freguesia e a Câmara da Ribeira Grande?

Tem sido um relacionamento cordial. A nível pessoal, já conhecia o vereador, que é com quem mais trabalhamos. No outro dia vi uma entrevista do Sr. presidente a dizer que o governo regional tem dualidade de critérios que não é positiva… Acho que o presidente, moralmente, deve pedir desculpa publicamente pelo que disse. Se ele assume o que diz, ele deve olhar interiormente e ver como tem sido a relação com as Juntas do PS e as do PSD. Ai sim, é mais do que evidente! Devo dizer que tenho muito gosto que a Câmara os ajude muito, mas não posso, nem aceito que isso seja feito dessa maneira em detrimento de outras freguesias. Recebíamos 27 mil e tal e viemos para 22 mil euros, sem qualquer tipo de critério. Não houve justificação possível. O presidente não é exemplo para ninguém para vir dizer que o governo é isso ou aquilo. Não tem moral para falar assim!

 

Espera que no próximo mandato, quer seja com ele ou com outro, que o relacionamento se desenvolva para ser mais equitativo a atenção dada às freguesias?

Tem que ser. Tem que haver equidade na distribuição. Não é por ser amigo ou deixar de ser amigo. Há uma coisa que a Câmara também tem que perceber, nós não estamos a falar de pessoas de nível intelectual ou de experiência abaixo das pessoas da Câmara, estamos a lidar com pessoas com o mesmo nível, não é fácil convencer. Nós sabemos o que queremos. A maia tem um objetivo e é para esse objetivo que vai bater de todas as maneiras, nem que seja necessário sair do concelho da Ribeira Grande, algo que tem sido pensado há muito tempo atrás.

 

Equaciona essa opção?

Nós sabemos que agora com a lei e com os condicionalismos é quase impossível mas isso está nos sentimentos das pessoas, mas são sonhos passados. Cuidado! Façam as coisas com algum acerto, dialogando com as Juntas.

 

Ao longo destes anos na autarquia da Maia, qual foi a obra que o marcou mais ou que foi importante para o desenvolvimento da freguesia?

A começar pela primeira, que ainda apanhei o início da aquisição, a escola da Maia veio dar um grande desenvolvimento à nossa freguesia e não só porque em vez das nossas crianças saírem muito cedo da Maia para irem para a Ribeira Grande, mas também, as pessoas que vieram trabalhar para aqui pois trazem sempre algo de novo. Faço um agradecimento ao governo PS e também ao governo PSD, que na altura comprou os terrenos. Outra grande obra, que ninguém acreditava, foi um aldeamento com 52 habitações e conseguimos que fossem lá colocadas cerca de 90% da população da Maia, ao contrário do aldeamentos que se têm feito. A Maia tem uma identidade própria que não está ligada com as Juntas de Freguesia vizinhas que também não têm nenhuma relação connosco. As acessibilidades é que têm sido um problema.

 

A sua luta tem esbarrado com a oposição para que essas acessibilidades na Maia sejam modernizadas e adequadas à importância desta freguesia?

Nós temos aqui duas estradas de poente para a Maia e temos a entrada/saída da Maia para nascente. Isso é uma luta que já vem de muitos anos, uma grande intervenção que já foi feita neste caminho foi em 1960. Temos relatórios de instituições especializadas sobre possíveis derrocadas,e temos vindo a avisar a câmara para a necessidade de haver uma intervenção, estamos a aguardar que a situação seja resolvida. Num dia normal de trânsito passam aqui 1200 viaturas. Não vou descansar nem baixar os braços enquanto essa obra não for realizada. Há uma coisa que eu gosto de evidenciar que é o empenho de muitas pessoas, que mesmo não residindo na Maia, contribuíram de alguma forma como, por exemplo, Sr. Francisco Sousa.

 

No campo social, há muitos pobres na Maia?

Há na Maia como há em todo o lado e agora mais ainda com a crise que se passou nos últimos anos.

 

E há desemprego então…

Menos porque parece que a economia está a dar uns sinais positivos, procurando mão-de-obra. A nossa nossa aposta neste mandato foi primeiro a parte social e sentimos dever cumprido por aquilo que fizemos perante as pessoas, chegamos até aqui ter 90 trabalhadores, 90 famílias dependentes da freguesia, para isso aproveitamos a ajuda do governo.

 

Evita que exista caso de miséria extrema?

Isto é uma cadeia, em que se eu não trabalhar e não ganhar dinheiro não posso pagar. Há um ciclo aqui. Eu penso que ao darmos trabalho às pessoas dinamiza a economia local e sentimos orgulho do que fizemos.

 

No campo cultura, a freguesia da Maia também é muito rica com a existência de muitas instituições. Qual é que tem sido o papel de parceria da Junta com essas instituições?

Nós ajudamos dentro do que é possível. Temos neste momento 7 instituições. Os meus recursos também não são muito,e vamos apoiando dentro das nossas possibilidades, quer com recursos financeiros quer com recursos humanos. Procuramos que as nossas instituições se desenvolvam e não morram.

 

Sabemos que há uma empresa tradicional relevante no panorama europeu, chá Gorreana. Em termos empresariais, como é que se encontra a freguesia.

É com orgulho enorme que o chá Gorreana é o maior ex-libris da nossa freguesia. Se tivéssemos o cuidado de fazer uma contagem das pessoas que nos visitam diariamente se calhar dava-nos um valor que não sei se algumas fundações do continente não teriam tanta afluência como nós temos aqui. São excelentes parceiros que têm muito orgulho em ser da Maia.

 

Será este orgulho que faz com que esta freguesia seja tão bela?

Basta ouvir os jovens da escola, o sentimento que eles têm por esta freguesia e olhar para os olhos deles e ver o brio com que se fala. Nós temos gente aqui que vai dar continuidade ao trabalho que temos feito ao longo destes anos. Devo dizer que a Maia sempre se diferenciou dos outras, não estou a dizer que é melhor do que as outras… Nada disso! Cada uma tem a sua especificidade. Nós não tínhamos autocarros que vinham à Maia, a não ser os que partiam daqui. As scuts não afetaram comercialmente a freguesia pois já estamos adaptados ao nosso isolamento. Não precisamos de ir a lado nenhum porque temos tudo aqui, o mercado, a farmácia, os postos de saúde, os bancos. Para além do facto de que as pessoas com um elevado grau académico que passaram por aqui, deixaram um marco. Apesar de neste momento não termos nenhum, a Maia foi o terra de padres e muitos deixaram uma marca importante na freguesia.

 

Nestas freguesias, e, nomeadamente, na freguesia da Maia, onde tem 2 instituições com um papel significativo na área social, a Misericórdia e a Casa do Povo. Qual tem sido a interação entre a autarquia e essas instituições.

Tem havido interação com as duas instituições. Nós vemos a Santa Casa não como uma adversária mas como uma parceira. O objetivo é melhorar as condições de vida da população da Maia. Nós fomos uns grandes defensores e insistimos como autarquia junto do poder para que se avançasse com uma obra que a Santa Casa está a fazer que é o centro de apoio. Tudo o que vier para aqui de investimento é bem-vindo.

 

 

 

Quais têm sido os feitos da Casa do Povo?

Muitos. Quem esteve à frente da Casa do povo durante anos, não soube aproveitar os recursos que havia à disposição. A caso do povo tem 40 anos e teve um papel extremamente importante antes do 25 de Abril. Os trabalhadores agrícolas, os independentes começaram a beneficiar da segurança social, chegaram a ajudar cerca de 2 mil e tal pessoas, mas depois morreu. A Santa Casa apareceu, comprou alguns terrenos, e tornou-se centro de acolhimento para jovens e crianças. A Santa Casa ficou com este papel e a casa do povo hibernou. Começamos a movimentar para reativar a Casa do Povo e conseguimos em 2006.Em 2007, abrimos o primeiro centro de convívio e a partir daí foi um tal andar, arranjamos um espaço para termos a nossa sede. Neste momento, nós temos dois atls, dois atls juvenis, centro de convívio com 41 utentes, centro de informática e multimédia monitorizado com formações que se dão lá,e uma biblioteca infanto-juvenil. Agora vamos esperar para inaugurar a sede da Casa do Povo, em julho, onde todos os espaços vão passar para esse edifício.

 

Aqui fica a faltar no campo social,que normalmente é importante, a paróquia..

Eu penso que a Igreja pode fazer mais do que aquilo que faz…olhar para as coisas de uma forma diferente e não serem tão materialistas.

 

Relativamente ao campo desportivo, a freguesia da Maia como é que está?

A Maia é sempre uma freguesia com alguns desportos público como o andebol, o voleibol, o atletismo. Fomos campeões durante muito tempo a nível de ténis de mesa, fomos campeões regionais na década de 60/70. Agora temos aqui um clube que tem feito um trabalho na área do futsal que eu acho que é meritório. Dou os parabéns aos dirigentes, aos praticantes e à famílias. Temos um problema aqui que depois da formação não há seniores, mas isso aí é uma opção do clube. Também tivemos sempre uma tradição do futebol e há 4 anos para cá reativamos o desportivo da Casa do Povo.

 

Isto quer dizer que a Maia tem minimamente condições para a prática dos desportos…

Temos. A escola tem boas condições e está aberta à comunidade e não o contrário. De qualquer maneira, também temo o campo de futebol de 11 que foi todo melhorado em 2006, com relvado sintético, casa de banho, mas, não está a ser utilizado a 100%.. é pena ter um espaço daqueles e não estar a ser aproveitado. Vai ser aberto à comunidade para ser mais revitalizado.

 

No final de um mandato há sempre aquilo que se projetou e se cumpriu ou pode-se cumprir e aquilo que ficou atravessado na garganta que apesar de ter vontade não conseguiu. Tem algum desses casos?

Nós temos uma grande necessidade de abrir mais uma envolvente à freguesia da Maia, em vez das viaturas entrarem pelo centro da freguesia diretamente. Criar uma via com 1 100 metros que nos iria ajudar no trânsito. Estatisticamente as viaturas vindas de Ponta Delgada para a Maia são quase 3 000 por dia… Parece impossível. Outra que precisamos é a requalificação do centro histórico da Maia. Nós temos um projeto que já está em andamento e já foi apresentado. As pessoas mostraram-se receptivas. Temos um jardim público que não conseguimos mexer, há quem defenda que deve ser um espaço aberto, outros que o gradeamento deve ficar. Vamos também ter uma 2º fase com a construção de mais 20 aldeamentos. Há uma petição a circular, que eu também assinei enquanto cidadão, que vai ser entregue a toda a comunicação social para que as coisas avancem.

 

Uma das teclas que tem sido batida pelo município da Ribeira Grande é de virar o concelho para o mar, mas a Maia já está virada para o mar. Acha que apesar disso pode vir a beneficiar deste virar para o mar?

Andamos muitos anos de costas para o mar. Temos feito esse trabalho, aproveitamos a parte nova da freguesia e apostamos também nos novos trilhos. Queremos fazer um grande trilho de costa virado para o mar. Temos trilhos circulares em que a pessoa para aqui, faz o trilho todo, e volta ao ponto de partida. Há ainda muito a fazer. O turista chega à Ribeira Grande, para na Gorreana e siga para as furnas,não descendo até à Maia. A nossa grande luta é que as pessoas ligada ao turismo também façam com que as pessoas venham até aqui. Nós temos um museu de tabaco, património edificado, património cultural, muitas coisas. Se uma família quiser passar 4 dias aqui, fazer trilhos ou ir até à caça e que não possa levar os pais ou os filhos, tem onde deixá-los, nos centros de convívios, atls. Falta-nos melhorar a restaurante com pratos típicos daqui e ter um espaço para as pessoas dormirem. Tudo isto envolve o Governo, a Câmara e os privados.

 

No futuro quer seja o próximo presidente de Junta no próximo mandato quer não seja vai continuar com sangue na guelra a lutar pela expansão e pela consolidação das condições de vida da Maia?

Sempre!

 

Quais as lutas que quer travar no próximo ano?

Turismo, a luta social,a parte económica para que alguma empresa se venha instalar aqui. As nossas acessibilidades são péssimas. Alguém vai ter que ter o bom senso e capacidade com a nossa pressão, quer através da Junta ou da Casa do Povo que isso se realize. Nós temos direito a ter bons acessos. As acessibilidades agrícolas são de longe melhores do que a acessibilidades à freguesia. Temos 2 100 pessoas a viver aqui há que ter isso em atenção. Se essa obra não for feita, nós bloqueamos a entrada à Maia, comigo a liderar. Temos as zonas balneares também em que a Câmara tem que ter mais atenção. É da sua responsabilidade as acessibilidades,as análises periódicas das águas, colocar os esgotos em condições, criar uma ETAR. Também é necessário dar atenção às piscinas naturais embora fizemos uma obra de excelência com a criação dos balneários de apoio e uma esplanada.