“HÁ DOZE ANOS COLOCARAM-NOS UNS CONTENTORES METÁLICOS PARA SERVIREM DE BALNEÁRIOS NO COMPLEXO E MENTIRAM-NOS”

O Valadares Gaia Futebol Clube, que hoje honra o nome da sua freguesia e município, nasceu em 2011. Até então, era conhecido por Futebol Clube de Valadares e apesar de ter sofrido esta mudança de nome, José Manuel Soares, presidente do Valadares, admite que o clube e o sentimento são os mesmos.

Logo após a sua nova fundação, o Valadares Gaia apostou no futebol feminino e a equipa sénior começou a ser pequena demais para atender a todas as solicitações que recebia. Nasceu, assim, a necessidade de ter formação no clube e, hoje, é com orgulho que o presidente afirma que são dos poucos clubes no país a ter formação em todos os escalões do futebol feminino. A este projeto de luta pela igualdade social junta-se outro, mais recente, ligado ao desporto adaptado, mais precisamente ao futebol de sete adaptado a atletas com paralisia cerebral. Este é um projeto recente para o clube e que está um pouco pausado devido à proliferação da pandemia da Covid-19.

Aos projetos, juntam-se os sonhos. José Manuel Soares confessa-se ansioso pela concretização de um dos maiores sonhos do clube: as obras no complexo, que permitirão ao Valadares ter uma bancada coberta e balneários condignos, uma vez que há já doze anos que os balneários são provisórios e em contentores metálicos. Quanto ao futuro do presidente no clube, é ainda cedo para prognósticos, diz o próprio, que completa dizendo que só pensará nisso mais para o final do mandato em vigor, que só completa um ano no final da atual época.

 

 

 

Como começou a sua ligação do Valadares Gaia Futebol Clube?

Eu fui atleta durante muitos anos do Clube Futebol de Valadares, o clube antigo. O Clube Futebol de Valadares teve de terminar devido a outras vicissitudes. A antiga direção terminou com o clube porque o mesmo não tinha condições para continuar, e o que nós tivemos de fazer foi refundar para poder continuar com a prática do futebol em termos de formação, na freguesia. A direção pegou num clube de raiz, com muita experiência em termos de diretores que quiseram continuar ligados ao novo projeto e que são uma autêntica mais valia para o clube em termos de know how, experiência, dedicação e ao tempo que dedicam ao clube. Nós refundamos e fundamos o Valadares Gaia Futebol Clube em 17 de junho de 2011 e começamos a nossa caminhada. Descemos em todos os escalões, começamos da segunda divisão distrital e foi assim que nasceu o Valadares Gaia. Temos um slogan na sede que diz “Honrando o Passado contruindo o Futuro”, que tem a ver com isso, honrar o passado é honrar as memórias do Clube Futebol de Valadares porque era um clube que tinha a sua fundação em 1930 e com muita pena nossa, não pudemos, na altura, porque era impensável do ponto de vista fiscal e financeiro, pegar no outro e este novo clube tem o condão de ter o nome da freguesia e do nosso concelho, daí se chamar Valadares Gaia, foi uma questão estratégica do ponto de vista do marketing, fazermos a fundação com os dois nomes associados, e assim nasceu o Valadares Gaia Futebol Clube.

Eu tive ligado ao anterior clube em anteriores mandatos, não no último. Mas o presidente da altura, o Sr. José Cunha, que foi o último presidente do Clube Futebol de Valadares, teve um trabalho incalculável, resistiu até onde pôde, no sentido de dar continuidade, mas era impensável. O Sr. José Cunha passou para Presidente da Assembleia Geral do novo clube, ele sim transitou, foi uma das pessoas que transitou da anterior direção.

 

Algum dia imaginou estar à frente do clube, no cargo que hoje ocupa?

Repare, nem todos os atletas podem ficar com uma carreira ligada ao futebol. Nem todos os atletas viram treinadores, nem tudo o que é treinador era atleta. É um bocado a paixão ao clube e à freguesia. Eu sou natural da freguesia de Valadares, a freguesia diz-me muito do ponto de vista sentimental, e o que fizemos para o clube não cair num vazio, para não deixar a freguesia sem clube, foi juntarmos uma data de pessoas para colocarmos em prática esta paixão que tínhamos ao futebol e ao clube. Eu costumo dizer que o Valadares é um só. Juridicamente são duas entidades distintas, mas o Valadares é um só e eu continuo a dizer “o Valadares”. Para mim, o importante é o clube, em si, o emblema é exatamente o mesmo, só levou o nome Gaia inserido no mesmo, as caras são as mesmas, as instalações são as mesmas, por isso, o clube para mim é um só. Juridicamente não tínhamos era outra forma de o fazer. Nós somos diretores, temos uma direção muito extensa porque também temos 600 atletas, somos o maior clube de Vila Nova de Gaia em termos de número de atletas no futebol, e esses desdobram-se, porque destes 600 atletas, 150 são mulheres, os outros 450 são homens e temos necessidade de ser muitos porque são muitos atletas. Temos uma equipa muito homogénea, conseguimos diluir tarefas por todos.

 

O Valadares, no que que diz respeito ao futebol feminino, está em grandes palcos e, além disso, é o único clube em Gaia que tem formação contínua no feminino. É um motivo de orgulho?

O Valadares Gaia foi fundado em 2011 e o futebol feminino nasceu em 2012, logo no ano seguinte. Porquê? Porque nós entendemos que tínhamos de inovar e nos diferenciar dos outros clubes em Gaia. Nós não tínhamos pavilhão, não tínhamos pista de tartan à volta do complexo, então tínhamos de fazer algo, mas sempre relacionado com o futebol, e então em 2012 críamos o futebol feminino. O futebol feminino foi um projeto que nos surpreendeu pela positiva, ganhou espaço dentro do clube por mérito próprio. Inicialmente só queríamos fazer uma equipa sénior feminina, mas, de repente, começaram a aparecer meninas de todas as idades que queriam jogar a bola e nós percebemos que tínhamos ali uma oportunidade, de responsabilidade social também, uma oportunidade de privilegiar a mesma igualdade de direitos sem discriminações, e foi isso que fizemos. Críamos condições para que as mulheres e as meninas pudessem jogar futebol, tal e qual como os rapazes e homens que temos dentro de portas, e assim nasceu o futebol feminino. Obviamente que agora, decorridos oito anos deste projeto, é um projeto que não está consolidado, porque os projetos no futebol nunca estão consolidados, porque o que estamos a viver, fruto desta pandemia, derrete qualquer projeto mais estável ou mais enraizado, por isso, há fenómenos exteriores que nós não controlamos e que nos colocam em constantes desafios. O futebol feminino nasceu, como disse, em 2012, com uma equipa e neste momento temos sete equipas de futebol feminino dentro de portas e temos os escalões, nós a par do Sporting Clube de Portugal e do Sport Lisboa e Benfica, somos os únicos três clubes com os escalões todos, em termos de formação de futebol feminino, isto para nós é uma honra tremenda.

 

Existindo, cada vez mais, clubes com equipas de futebol feminino, no entanto, tão poucos com formação, sentem que depois perdem as vossas melhores jogadoras para equipas com mais poder económico?

Se tiram no masculino, porque não haviam de tirar no feminino? Porque decidimos ter formação? Nós temos muitas dificuldades em reforçar a equipa sénior que está na Primeira Liga, na Liga BPI, por isso é que nós temos a equipa B na segunda divisão Nacional, para formar dentro de portas. Hoje em dia, a nossa equipa na Liga BPI é composta, metade do plantel, por miúdas que estavam, há dois anos atrás, a jogar na segunda divisão. Isto é um exemplo da formação que o clube tem dentro de portas. Nós estamos a dar, a essas miúdas, a oportunidade de evoluírem num contexto muito mais competitivo do que é a Liga BPI, porque lá há um fosso muito grande entre as equipas. Obviamente que um Braga, um Sporting, um Benfica tem vindo buscar, constantemente, jogadoras. O Braga foi campeão nacional, há dois ou três anos atrás, com sete jogadoras provenientes do Valadares. Juntou as melhores jogadoras do Valadares com mais algumas jogadoras estrangeiras que foi buscar, com muita qualidade, fez uma mistura explosiva e foi campeão nacional, mas o Braga tem uma capacidade financeira que nós não temos. Claro que se aproveitam da formação que temos e do facto de termos atletas muito talentosas. O Valadares chegou a conseguir mandar três ou quatro jogadoras para a Seleção Nacional, claro que agora, com as equipas grandes, tudo isto é muito mais difícil, porque nós não temos o poderio financeiro e não conseguimos reter dentro de portas as jogadoras mais talentosas. E ainda bem. Para além delas merecerem e de fazerem sacrifícios muito grandes para jogarem à bola, é um prémio que elas têm pelo reconhecimento da competência e da dedicação delas ao futebol feminino, e isto faz parte do futebol. É assim no masculino, é assim no feminino também.

 

Apesar do Valadares ser vanguardista nesta luta pela igualdade de género no futebol, acredita que já foi alcançada, ou ainda não foi conquistada na totalidade?

Nunca está conquistada na totalidade. Nós vivemos numa sociedade muito injusta em relação às oportunidades. É uma sociedade discriminatória. Nós, em 2019, criamos um projeto, onde mais uma vez fomos inovadores. Nós temos um escalão de desporto adaptado no clube, onde temos cerca de 20 e tal atletas com paralisia cerebral a jogar futebol de sete no clube. Até aqui se notam as injustiças. Nós estamos a fomentar o desporto para este tipo de pessoas, mas estamos a promover enquanto benefício até de inclusão social, de motivar essas pessoas para que se sintam integradas em sociedade, mas quando nós tentamos buscar apoios para o futebol feminino ou para o desporto adaptado, temos muita dificuldade. Obviamente que temos, felizmente, uma Câmara Municipal de Gaia, e uma junta de freguesia, muito mais atenta e muito mais sensível a este tipo de fenómenos do que há uns anos atrás. Aqui sim, temos dois verdadeiros parceiros: a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a junta de freguesia. Também temos algumas empresas, poucas, ou pelo menos não no número que gostaríamos de ter, que nos ajudam. Vou dar-lhe um exemplo do que está a acontecer neste momento: o Valadares tinha vinte e dois patrocinadores o ano passado, neste momento tem três. Perdermos dezanove patrocinadores com a pandemia. Eu compreendo a posição das empresas, se as empresas viram os seus negócios paralisarem, ou a diminuírem consideravelmente, têm de fazer cortes, naturalmente que fazem os cortes em termos de publicidade e ajudas que davam ao clube, e é isso que está a acontecer, é contra isso que estamos a lutar neste momento e que está a ser muito complicado, porque se há altura em que precisávamos de apoios, era agora.

 

Este problema de falta de patrocinadores poderá também estar relacionado, de alguma forma, com a falta de público nos jogos?

Também. Dou-lhe um exemplo: nós temos um patrocinador que respondeu exatamente isso, usou esse argumento para não continuar com a publicidade, porque diz que não havendo público nos jogos, a empresa não tem a visibilidade e a notoriedade que deveria ter, e pura e simplesmente congelou o apoio. Agora, quando o público for autorizado, quando a nossa formação for também autorizada a regressar, naturalmente que vamos bater à porta, outra vez, dos nossos parceiros, dos nossos patrocinadores, para lhes pedir ajuda.

 

A falta de público nos jogos é complicada pela questão financeira, mas também afeta as equipas em si?

Afeta tudo. Não é igual, há um vazio. Uma peça de teatro sem público na plateia não faz sentido, obviamente que o futebol acaba por ser televisionado, ou visionado atrás do Facebook e por aí fora, e minimiza um bocadinho a situação, mas não é igual, há um vazio enorme. É um pouco como comer uma comida sem tempero. É uma situação muito estranha. Quando chega aos dias dos jogos, a direção está sempre, internamente, a comunicar, e a trocar impressões, de que efetivamente o futebol sem público não faz qualquer sentido.

 

É, no entanto, uma situação compreensível?

Eu tenho o máximo de respeito pelos profissionais de saúde que têm feito um trabalho notável em termos de proteção da sociedade são eles que estão na linha da frente e a tentar estancar o que se está a passar em termos de pandemia. Eu acho é que temos sido um bocado infelizes nas diretrizes, em termos de Ministério de Saúde, porque há algumas incongruências na nossa sociedade que não podem existir, mas também não somos portadores da informação toda e então é injusto comentarmos tudo, isto faz-me lembrar os treinadores de bancada. Por isso, pelos profissionais de saúde, todo o respeito e uma palavra de agradecimento pelo trabalho que têm feito; quanto ao Ministério da Saúde, eu acho que devia haver uma comunicação mais uniforme, homogénea, e não pode haver as discriminações que tem havido. Eu acho que já se podia ter libertado as lotações de um estádio, consoante a lotação total, e permitir um número mínimo de pessoas, afastadas e com máscara. Porque não? Eu acho que isso já poderia ter acontecido. Isto acaba por, indiretamente, estar a destruir o futebol. Está a destruir uma coisa que tem a ver com a formação desportiva, mesmo em termos familiares está a causar alguns problemas também.

 

O facto da formação não estar a competir neste momento, vai afastar muitas crianças e jovens do desporto, e do futebol especificamente?

Vai acabar sempre por afastar alguém. Queimou um ano na formação desportiva deles, porque vai avançar. Vai criar vários problemas. Um miúdo de catorze anos, parou de jogar, no ano seguinte tem quinze, passa para outro patamar, mas esteve um ano sem jogar a bola, e no novo patamar a exigência é maior. Os iniciados são diferentes dos juvenis e também é diferente dos juvenis para os juniores. Eu acho que, pela mesma razão que existem jogos dos seniores, podia haver determinados jogos na formação, devia permitir-se o regresso à competição, sob determinados tipos de condições. O facto de não se estar a permitir isso, está a levar muitos clubes, muitos mesmo, a ter ainda mais dificuldade. Se já tinham no passado, agora muito mais. A maior parte dos apoios que nós recebemos vêm da formação, de pessoas que se identificam com a formação juvenil, que querem estar ligados. Nós temos diferentes tipos de público: podemos ter um público mais sensível ao futebol feminino, mas não quer ter nada a ver com o masculino, como o contrário também é válido, identificam-se e revêm-se mais com o masculino por ter mais visibilidade, isto varia. Na formação é igual, nós temos muitas empresas que preferem apoiar o futebol juvenil e a formação, alguns dos pais também têm empresas e por aí fora, mas neste momento temos tudo parado. Isto está a criar-nos muitas dificuldades a esse nível.

 

Uma das justificações para a não presença de público nas bancadas está relacionado com os festejos. É válido, ou as pessoas já estão suficientemente educadas para esta pandemia e isso não seria uma realidade?

Obviamente que o futebol é um jogo de emoções e é impossível controlar a questão da emotividade, das pessoas e dos festejos, mas as pessoas estão muito conscienciosas com este tipo de coisas. Eu não sei qual é a diferença entre um festejo de um golo ou assistirmos a um festival de música, onde as pessoas estão a dançar, não estão paradas ali sentadas numa cadeira, estão ao lado umas das outras, por isso, tudo isto é um bocado relativo. Se as pessoas estiverem distanciadas festejam sozinhas e podem saltar sozinhos na cadeira que não contaminam ninguém. Eu acho é que as pessoas deviam ser afastadas e devia ser permitido um regresso, com certas condições pré-estabelecidas, quem prevaricar, tinha de se sujeitar a determinados tipos de sanções, porque isto minimizava o impacto financeiro que tem havido. Nós não pudemos parar. As receitas diminuíram, mas as despesas continuaram, como água, luz, despesas com os jogadores, tudo. O que é que acontece? Nós passamos por um período difícil, nós paralisamos este país durante um determinado período de tempo. Eu como empresário, senti isso. O que vai acontecer é que, se o paralisarem outra vez, isto vai ser muito mais complicado, porque moratórias e tudo, muita gente esquece-se que as moratórias são um adiamento, as pessoas estão a empurrar para a frente, mas as moratórias vão ter de ser pagas na mesma. Quando vier esse tipo de coisas, vai criar mais dificuldades às famílias. Obviamente que não é fácil estar na posição de quem toma decisões, é sempre difícil, é mais fácil estar de fora e julgar. Eu não estou a julgar ninguém, o que eu estou a dizer, enquanto empresário, é que nós não podemos parar, temos de ter cuidados, temos. Nós, aqui no escritório, temos as proteções, respeitamos a questão do distanciamento, do uso da máscara, do uso do álcool gel e essas coisas todas, mas não podemos parar, porque se pararmos isto vai ser o fim, o fim das empresas e um bocado o fim da sociedade em que vivemos, por isso é que nós, dos vinte e dois patrocinadores, perdemos dezanove, porque esta paralisação obrigou a cortes profundos nas empresas, que tiveram de fazer opções.

Eu acho que estes próximos meses são muito cruciais. De janeiro a junho, vão ser meses muito cruciais e onde vai ficar muita coisa por pagar.

 

Esta pandemia trouxe uma pausa, na época passada, mais ao menos a meio do campeonato. A situação afetou o nível competitivo da equipa?

Afetou tudo. Afeta a competitividade, afeta a regularidade. E não só na época passada, nesta época também. Nós começamos, no arranque desta época, mas depois tivemos não sei quantos jogadores com o vírus, infelizmente apanharam a doença, e não foi dentro do clube, porque no feminino não tivemos nenhum caso, mas no masculino tivemos dez casos. O que aconteceu? Estes dez casos, fizeram com que ficássemos com cinco ou seis jornadas em atraso, porque depois de sairmos do confinamento, e fomos os primeiros da nossa série no masculino, estávamos nós a sair do confinamento, e outras equipas a entrar. Isto é uma pescadinha de rabo na boca, uma roda, uns em cima, outros em baixo, outros no meio, mas isto vai rodar por todos. Mas não havia outra forma de o fazer. Nós estamos a jogar alguns jogos a meio da semana e outros ao sábado, porque temos de corrigir, acertar calendário e não temos outra forma. Agora, isto é impensável porque o plantel do clube não tem condições para andar a jogar de três em três dias. Isto não é um plantel profissional como o Porto, Sporting ou Benfica, que têm dois jogadores por posição e que, se calhar, podem andar a jogar de três em três dias, nós não temos esse tipo de condições e isso está a trazer-nos muitos problemas, como lesões, situações para gerir que não são fáceis, mas as pessoas não percebem, quem está de fora não consegue perceber o que está a acontecer. A pausa agravou o início dos trabalhos, tivemos de fazer as coisas de forma muito lenta para recuperar seis meses que estavam para trás. Tivemos alguns problemas musculares de pessoas que tiveram dificuldade em regressar após seis meses de paragem, mas como fomos aumentando progressivamente em termos de carga, e aí estou a entrar num campo que não é meu, mas um campo técnico, isso tudo foi preparado e combinado com as pessoas, mas depois vieram os confinamentos e, já não chegava os seis meses de paragem, estivemos mais 14 dias e depois mais semanas sem jogar e continuamos com acertos de calendário por fazer, é o que é.

 

Falávamos da redução do número de patrocinadores e da redução de receitas devido à formação. Essas questões afetaram o orçamento para o plantel da nova época?

Em termos de orçamento financeiros, como é óbvio, tivemos de fazer determinadas opções e essas opções condicionam-nos nas escolhas dos jogadores. Nós, se não temos acesso a determinado tipo de receitas, não podemos ter determinado tipo de despesas, acho que isso se passa com todos os clubes. O maior prolema é manter, porque o facto de estarmos a ter várias paragens, isto acaba por afastar determinadas pessoas e empresas, mesmo no futebol sénior masculino, devido à questão do público, as paragens, porque é um vazio que está criado. Depois, em termos de meios de comunicação, como é óbvio, não têm condições, mesmo vocês, de fazer o trabalho que estavam a fazer anteriormente, porque estão impedidos de estar no local respetivo. É uma altura muito triste, complicada e é uma desilusão tremenda tudo o que está a acontecer ligado ao futebol. É rezar para que isto passe o mais rapidamente possível e para que a vacina seja, efetivamente, a solução que todos esperamos.

 

Quanto ao projeto de desporto adaptado, tem nível competitivo neste momento?

Não há competição no desporto adaptado. Os atletas estavam só a treinar, mas neste momento estão mais resguardados e como são pessoas mais sensíveis e do grupo de risco, nós optamos por os proteger e suspender os treinos. Este é um projeto que queremos desenvolver e que tem muito a ver com o Valadares, tem muito a ver com a parte social do clube, não só com a parte desportiva. É um projeto que queremos desenvolver, dar a conhecer à comunidade, ao concelho de Gaia e estamos a preparar-nos para isto com pessoas ligadas a este desporto, ao desporto adaptado, para promover a tal inclusão social, o bem-estar destas pessoas que, apesar das limitações, têm todo o direito de praticar desporto. Queríamos fazer alguns encontros com outras equipas, nomeadamente para o Algarve, mas teve de ser adiado. Estávamos a preparar um convívio entre eles, porque havia uma associação que também tinha futebol de sete adaptado, para podermos fazer, mas não conseguimos.

 

Quais são os objetivos, projetos e sonhos, para esta época e a longo prazo?

Os objetivos são fáceis. Na Taça de Portugal, no futebol feminino, é chegar o mais longe possível. O Valadares é um clube com alguma tradição no futebol feminino na Taça da Portugal. No entanto, o nosso principal objetivo no feminino era passar à fase seguinte na Liga BPI, um objetivo falhamos, e temos de o assumir, porque era esse o objetivo, passar à fase seguinte. Depois temos a questão do masculino, cujo objetivo era passar para a terceira liga, gostávamos de passar para a futura liga, a que vai ser criada. Não é impossível, mas neste momento está um bocado aquém das nossas expetativas, por força das lesões e de alguns azares que temos tido no plantel, fruto da nossa conversa anterior, mas passa, forçosamente, pela manutenção nesta divisão, no mínimo. Nós temos sempre um objetivo máximo e um objetivo mínimo, regendo-nos sempre pelo objetivo superior, que tem muito a ver com a ambição do clube. Depois, em termos de futuro, passa por estabilizar o clube, de novo, do ponto de vista financeiro e estabilizando-o nesse campo, para permanecer na primeira divisão nacional do futebol feminino e para permanecer nos nacionais no masculino. Um objetivo que temos a curto prazo é que a equipa de juniores, os sub-19, subam ao nacional, no masculino. É algo de que vamos atrás e que estava pensado para este ano e o objetivo é ter uma equipa forte no nacional dos sub-19, que seja alimentadora, digamos, da equipa sénior. Até porque depois os sub-19 trazem outro tipo de visibilidade, os sub-17, o escalão abaixo, acaba por ganhar qualidade também, indiretamente, mas dentro de portas sabendo que temos o clube noutra divisão, e essa é uma coisa pela qual estamos a lutar.

 

E a nível material, existe algum sonho por cumprir?

Tenho. Como presidente, é a conclusão das obras no estádio. Há doze anos colocaram-nos uns contentores metálicos para servirem de balneários no complexo e mentiram-nos. Disseram-nos que era uma situação provisória de dois ou três anos, vai para doze. Temos os contentores metálicos balneários que não são dignos, não são dignos nem para o masculino, nem para o feminino, como é óbvio. Em doze anos, nós já fizemos quatro reparações nos contentores, ou seja, de três em três anos, em média, nós temos feito manutenção nos contentores, nomeadamente a substituição do chão dos contentores porque com a água apodrece e outras coisas mais. Aquilo é um material frágil, não há como inventar. Nós estamos à espera e o Valadares lançou um concurso numa plataforma pública, na acinGov, já sabemos quem foi a empresa que ganhou o concurso e a obra de beneficiação no complexo onde vai ser contruída uma bancada coberta e, por baixo, os balneários. Vamos ficar, finalmente, com umas instalações condignas para recebermos, não só os nossos atletas, como também todas as equipas visitantes, instalações mais dignas, mais higiénicas, mais confortáveis. Vai também haver uma maior comodidade para os sócios com a cobertura da bancada. Estamos à espera que aquilo vá para o Tribunal de Contas, para ter o visto do mesmo, e teremos de esperar, provavelmente, mais três, quatro ou cinco meses, para que a obra avance. Esta pandemia também não ajudou nisso, uma vez que fez atrasar este tipo de processos, mas esse é o grande sonho, essa é a cereja no topo do bolo. Com outro tipo de condições, o Valadares Gaia pode aspirar a outro tipo de objetivos e ambições.

 

Os clubes, no geral, têm vindo a queixar-se de que, ano após ano, são cada vez menos as pessoas que vão ao futebol. Esta nova bancada é uma tentativa de lutar contra isso?

Sim, sem dúvida. Nós, por exemplo, não conseguimos crescer em número de sócios, numa freguesia que tem onze mil habitantes, a freguesia de Valadares, porque as pessoas dizem que não têm condições para ir ver os jogos, porque nós não temos nenhuma bancada coberta. Depois o facto do nosso complexo desportivo estar sediado muito próximo do mar, numa zona litoral, faz com que o clima e a temperatura sejam mais agrestes, quando toca a vento e a chuva é muito complicado estar no complexo. Obviamente que uma bancada coberta vem criar toda uma situação, não só de comodidade e conforto, mas também de segurança para que as pessoas possam estar num sítio minimamente aconchegante e seguro, e é por isso que andamos a lutar com este executivo da Câmara de Gaia, para corrigir o problema que outros senhores nos causaram com estas instalações provisórias que nos criaram.

 

O Valadares Gaia tem também um canal online onde passa os jogos em direto. Notaram carinho por parte da população quando criaram esse canal?

As pessoas ligadas ao futebol e mais próximas do clube, sim, entenderam-no como uma mais valia, entenderam que era algo inovador que estava ali a ser criado também, os próprios pais valorizaram aquilo. O Valadares vive muito à base do associativismo, do voluntarismo, nós e qualquer organização desportiva, vive muito à base desta carolice, mas este é um tipo de carolice mais especializado, têm de ser pessoas ligadas aos meios audiovisuais e digitais, e não é fácil encontrar pessoas com este perfil, porque nós até gostávamos de fazer um trabalho diferente com o canal e dar mais visibilidade em termos de formação, o problema é que só temos duas ou três pessoas afetas a isso e as pessoas não se conseguem desdobrar, até porque as pessoas têm os seus empregos, as suas vidas profissionais e pessoais, e é impensável, a nível desportivo, de conceder e dar mais tempo ao clube, por isso, o foco vai para os dois escalões que têm mais visibilidade em termos do clube, que são as equipas seniores, tanto masculina como feminina.

 

O Valadares Gaia Futebol Clube pertence ao concelho de Vila Nova de Gaia e apesar de, ao longo da entrevista, ter referido alguns aspetos da autarquia e do seu apoio, gostaria de focar um pouco mais nesse tema. Trata-se de um município com muitas equipas. Sentem que recebem o apoio necessário da câmara?

A Câmara, como eu disse há pouco, tem feito um trabalho notável de apoio, de presença, de dedicação e de proximidade junto dos clubes. Não só os clubes desportivos. Eu disse, e volto a dizer, este executivo é muito mais sensível que o anterior nessa matéria, está mais próximo, muito mais próximo dos clubes. Obviamente que eu só posso falar pelo Valadares, mas pelo que eu noto, muito mais próximo dos clubes. A câmara ajuda os clubes todos, independentemente das modalidades, na questão das inscrições e dos seguros desportivos, em termos de formação, e é das poucas câmaras do país a fazê-lo, outras estão a replicar este modelo. É uma câmara ouvinte, uma câmara que se cada clube tiver um problema, sei que tem uma porta aberta para tentar ajudar, e sei de várias realidades, apesar de só poder responder pelo Valadares, e sempre que temos precisado, a câmara não nos tem virado as costas e tem estado ao nosso lado, assim como a União de Freguesias de Gulpilhares e Valadares. Dar mais é complicado em tempo de pandemia. Quando a câmara, supostamente, ou na realidade pelo que eu vejo e leio, o esforço que fez, e foi das poucas câmaras no país que fez um investimento enorme para estar próximo dos cidadãos e da comunidade gaiense em termos de material para ajudar a combater a pandemia, foi um despender de recursos económicos para uma situação que era imprevisível e que surgiu do nada, por isso acho que a câmara tem feito muito com o pouco que tem, ou o pouco que tinha. Ajudar mais os clubes? Nesta altura era muito bem-vindo, mas como? Por isso, temos de ser realistas a esse ponto e perceber, como é que a câmara podia, numa altura de crise e em que estamos a falar da saúde pública das pessoas, ajudar as associações desportivas, culturais, recreativas? É complicado e tem de haver aqui um bocado de bom senso, mas eu acho que estamos perante uma câmara muito equilibrada e ponderada, por isso, é confiar no trabalho que está a ser feito pelos mesmos.

 

São já nove anos à frente do clube, esta é uma relação para continuar Presidente?

Ainda tenho mais dois anos de mandato pela frente. Os mandatos são de três anos, nós tomamos posse em 2020, por isso, quando chegar ao final desta época desportiva faz o primeiro de três anos. Eu gostava muito, porque foi com esta direção que fizemos todo o projeto, por isso, gostava muito que fosse esta direção a inaugurar o futuro Complexo Desportivo do Valadares. Obviamente que esta é uma situação cansativa, que desgasta e satura. Há uma paixão muito grande ao clube, mas rouba muito tempo, a tudo, tanto a nível pessoal como profissional. Porquê? Porque o clube cresceu muito. Neste momento, as dores que o clube tem, são as dores de crescimento. A exigência é cada vez maior, o facto de estarmos inseridos na Federação Portuguesa de Futebol obriga-nos a coisas, do ponto de vista burocrático, administrativo e financeiro, que as pessoas não imaginam. Eu posso-lhe dizer que o ano passado, quando subimos à Federação, nós não fazíamos ideia do que nos esperava e nós não estávamos preparados. Eu, humildemente, reconheço que nós não estávamos preparados. Nós tivemos que dar um salto qualitativo muito grande do ponto de vista administrativo e financeiro para nos adaptarmos a uma nova realidade competitiva, diferente daquela onde estávamos. Hoje o clube está mais preparado, não está ainda naquilo que é o ideal, mas vive muito do tal associativismo, da disponibilidade dos diretores que lhe falava, porque os meus restantes colegas é que são os verdadeiros esteios de sustentação do clube, porque, é a direção e os seus membros que sustentam tudo o que dá suporte e apoio para que depois as equipas e os escalões possam continuar a jogar futebol. É ainda prematuro saber, primeiro vamos acabar este mandato, não vale a pena fazer prognósticos quanto ao futuro. Vamos concluir este mandato de três anos e depois, mais para a frente, tomaremos uma decisão.