A acção de Influenciar outras pessoas não é magia, é ciência e tanto pode beneficiar como prejudicar, se for manipulação. A persuasão nada mais é do que uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógicos e racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude ou realizar uma ação.
E não pensemos que a persuasão é somente utilizada na hora de fazer uma venda ou por alguns políticos ou peritos de «marketing» ou ainda que é um método desenvolvido para forçar outras pessoas a tomar atitudes que não gostam, pois, na verdade, é a arte de fazer com que as pessoas as tomem e são de seu próprio interesse.
Assim sendo, constatamos que da banca à política, passando pelas empresas e fundações, nunca faltaram madrinhas e padrinhos à presidente da instituição «Raríssimas», agora investigada pela PJ, mas faltaram a regulação, a fiscalização e comportamento ético.
Esta Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, pelo que tem vindo a lume, estava bem integrada e interligada nas políticas do regime vigentes há anos, se olharmos para o Conselho Consultivo de Reflexão Estratégica da instituição sem fins lucrativos que era presidido por Leonor Beleza, antiga ministra da Saúde e presidente da Fundação Champalimaud, bem acompanhada pelo consultor de comunicação António Cunha Vaz e ainda por Fernando Ulrich, presidente não executivo do BPI, Isabel Mota, antiga deputada do PSD, antiga secretária de Estado e actual presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Graça Carvalho antiga Ministra da Ciência e do Ensino Superior nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes, Roberto Carneiro, antigo ministro dos governos de Cavaco Silva e também Rui Santos Ivo, actual vice-presidente do Infarmed e antigo director executivo da Apifarma.
Este Conselho Consultivo foi criado «com a finalidade de agilizar acções que movimentem, de forma expressiva, toda a sociedade portuguesa, em prol daqueles que sofrem de doenças raras», estando aí representadas as áreas que interessam à associação Raríssimas: finanças, política da saúde, medicamentos, educação e comunicação, sendo ainda de referir que da assembleia-geral fizeram parte o agora ministro Vieira da Silva e a antiga deputada do CDS, Teresa Caeiro e até Maria Cavaco Silva foi madrinha da Raríssimas nos anos em que a Presidência da República esteve na posse do marido, Aníbal Cavaco Silva, sendo por influência de ambos que a rainha espanhola Letizia foi apresentada à presidente da instituição, Paula Brito e Costa, e visitou as instalações da Casa dos Marcos, um centro de acolhimento na Moita para pessoas com doenças raras, criado à sombra da Raríssimas.
Entretanto, por denúncia, aconteceu uma excelente investigação da TVI a relatar que a presidente da Instituição, Paula Brito e Costa, terá utilizado a instituição em seu benefício e de familiares, usufruindo de quase seis mil euros de rendimentos mensais, de um BMW alta cilindrada, de «fardamento» de custo avultado, aquisições em super mercados e lojas de luxo, cujos pagamentos são suportados pela Raríssimas, além dos apoios do Estado, pois o Ministério do Trabalho, da Solidariedade e Segurança Social ofereceu este ano 875 mil euros à associação que se encontra com graves problemas financeiros há vários anos, sendo mesmo alvo de acções judiciais que ascendem a mais de 152 mil euros, estando em causa os crimes de burla, falsificação de documentos, peculato e administração danosa e na reportagem da jornalista, foi ainda revelado um contrato com Manuel Delgado, actual secretário de Estado da Saúde, que, enquanto consultor, terá recebido cerca de 3 mil euros mensais da instituição entre 2013 e 2014.
Curiosamente, Paula Brito e Costa, critica os poderes públicos e considera que a maioria dos políticos «olha para os representantes das associações como uma ameaça» e também há comentadores televisivos encartados a criticar as denúncias e aqueles que advogam ser obrigação do Estado a Solidariedade Social.
A realidade, porém, demonstra estarmos perante mais um caso de nepotismo e corrupção que evidencia laxismo, falta de fiscalização, regulação e irresponsabilidade perante utentes da Saúde em situação de grande fragilidade, facto que desprestigia o País e o poder constituído e nenhuma tentativa de persuasão ou manipulação altera esta realidade.