A apresentação do livro “Este mar que nos une”, da autoria de Manuela Bulcão e de Manuel da Rosa Gomes, realizou-se no passado dia 16 de fevereiro, no Centro de Atividades Associativas de Malta, em Vila do Conde.
O evento contou com a presença de Elisa Ferraz, presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, Nelson Lopes, presidente da Junta de Freguesia de Malta e Canidelo, Alexandra Amaro, membro do executivo da Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso, em representação de João Paulo Correia, presidente da Junta de Freguesia, e de entidades civis e militares.
Manuela Bulcão, “Filha de Ninguém”, e Manuel da Rosa Gomes, “Filho da Guerra”, são faialenses, primos e apaixonados pelo mar que respeitam, que os une e que os separa. Unidos pelo sangue, pelos Açores e pela insularidade, eles escreveram um livro, no qual contam histórias através da poesia.
A escritora e poetisa contou ao AUDIÊNCIA que a obra “Este mar que nos une” partiu “de uma ideia antiga” e “já estava em embrião há muito tempo”.
“Este livro é muito especial por uma razão muito simples, nós somos primos, o meu pai é irmão da mãe dele, e o que nos une é a insularidade, é este mar que nos une, daí a razão do título do livro, porque mesmo estando ele a viver em Manaus, nós estamos unidos sempre pelo mesmo mar, que é a insularidade que nos corre nas veias. Este livro representa o realizar de um sonho com o meu primo, principalmente para ele”, afirmou Manuela Bulcão, sublinhando que os leitores “vão encontrar suspiros da alma, pelo menos da minha parte. Agora da parte dele, talvez um pouco de vivências, um pouco da história da vida dele, uma vez que é a primeira publicação que ele faz” e que “vão precisamente encontrar um misto de alegria, de tristeza, de insularidade e, acima de tudo, dois seres humanos que vivem em pleno a palavra”.
Manuel da Rosa Gomes revelou ao AUDIÊNCIA que vive há 22 anos na Amazónia e que escreve na área da filosofia e da psicanálise e salientou que “a importância do livro é realmente aquilo que me une à Manuela Bulcão. Tivemos uma infância bastante semelhante, somos do mesmo sangue, somos primos direitos, nascemos na mesma ilha, no Faial, eu nasci no Capelo, onde rebentou o Vulcão dos Capelinhos, e nós os dois apaixonamo-nos pela poesia. Eu escrevo desde os 12 anos, viajei pelo mundo e encontrei no papel o meu confidente extraordinário. O mar é uma paixão contínua, porque acho que não há nenhuma ilha que não seja apaixonada pelo mar e por aquele oceano que nos assusta, mas que nos apaixona, por aquele oceano cheio de mistérios, mas que é fonte de vida”.
“Eu sonhei ser escritor quando menino ainda, quando escrevi o meu primeiro poema, ali em Caniços, em Vila Nova de Famalicão. Não me esqueço desse dia em que eu pescava um peixe para comer, porque não tinha comida em casa e foi naquele papel de embrulho, onde eu tinha levado o isco com as minhocas, que eu escrevi o meu primeiro poema e a partir daí nunca mais parei de escrever. Os gritos de alma, a voz de raiva, a revolta, que mais tarde foram de exaltação à vida, quando o conhecimento me mostrou que aquele estado de espírito não era a verdade, que era a minha verdade de então e não a verdade de todos os momentos e eu procurei fazer isso em todos os momentos no papel. Então, eu descrevo momentos, vivências e emoções que escrevi em guardanapos de papel e tenho os originais até hoje. Eu escrevo poesia em qualquer lugar, escrevo num guardanapo de papel, escrevo na casa de banho, escrevo onde quer que esteja e quando não tenho mais nada, escrevo na agenda do trabalho. E quando a Manuela me falou sobre escrevermos um livro em conjunto eu estava aqui em tratamento e naqueles três meses passei, simplesmente, a limpo o número de poemas que ela me pediu e tirei ao acaso do meio dos milhares de poemas que eu já escrevi. Falo de momentos do mar, falo das minhas saudades da ilha, falo de amizades vividas e falo de momentos vividos em várias alturas da minha vida. Eu vivo na Amazónia e escrevo também sobre os animais da Amazónia, sobre as suas vidas, o seu habitat, a sua forma de viver, sobre os rios, as plantas e a fitoterapia da Amazónia e estou a elaborar isso para um livro, que não sei se vou editar, mas que será ‘Amazónia minha Musa’”, enalteceu o autor, que escreve “para partilhar os meus estados de espírito porque mesmo que os outros não entendam o papel vai entender”.
O livro “Este mar que nos une” foi apresentado por Alexandra Amaro, em representação de João Paulo Correia, presidente da Junta de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso, perante uma sala cheia de vila-condenses e gaienses curiosos. O empresário Manuel Guedes Martins e a esposa, Marcelina Martins, o Chanceler presidente da Confraria da Pedra da Madalena, José Carlos Leitão, e o confrade Abel Guedes, foram alguns dos gaienses presentes neste evento.
“Este livro assinala a importância da cultura e a importância da literatura portuguesa, na nossa comunidade, seja ela em prosa ou em poesia e, portanto, aqui temos uma gaiense adotada, que realmente tem as suas valências transmitidas neste livro e em todos os outros que já foram publicados e nos quais nós podemos, efetivamente, encontrar os vários estádios da alma, nomeadamente as emoções, os sentimentos, as vivências e as experiências. Portanto, isso tudo são mais-valias que nós temos quando lemos um livro destes”, realçou Alexandra Amaro.
A sessão contou ainda com as intervenções de Elisa Ferraz, presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, de Nelson Lopes, presidente da Junta de Freguesia de Malta e Canidelo, de Lurdes Maia, presidente da SANCRIS – Associação de Solidariedade Social Santa Cristina de Malta, e de José Castelo Branco, editor da Seda Publicações.
Elisa Ferraz referiu que “é com muita satisfação que eu estou aqui neste momento do lançamento do livro da minha amiga Manuela Bulcão” e que “quando venho a um lançamento de um livro, realço sempre que ele espelha um pouco um estado de alma, uma vivência, seja a que nível for, do autor que dá a estampa à sua produção e, portanto, para nós, em Vila do Conde, estando a autora residente no nosso concelho, é um momento importante a nível cultural e, por isso, nesta nossa freguesia de Malta, aqui estamos com esta casa cheia dizendo presente e dizendo o quão importante é para nós, efetivamente, este momento do lançamento de mais um livro”.
Neste seguimento, Nelson Lopes revelou que “o facto de a Dra. Manuela ter escolhido esta freguesia para realizar a apresentação do livro é muito importante. Já não é a primeira vez que o faz e, a nível cultural, é muito importante para nós, porque Malta e Canidelo é uma freguesia relativamente pequena e não é fácil conseguirmos cativar pessoas desta natureza, nomeadamente escritores, tal como não é fácil cativarmos este tipo de eventos para as nossas freguesias e é para nós muito importante abrirmos um bocadinho os nossos horizontes e recebermos estas pessoas e a apresentação deste livro”.
Lurdes Maia aproveitou a ocasião para agradecer a Manuela Bulcão pelo facto de a ter incluído no projeto e para dar os parabéns aos escritores.
Por seu turno, o editor José Castelo Branco esclareceu que “a Manuela Bulcão é um conhecimento já antigo, já havia obra prévia publicada com a Seda Publicações, e o Manuel da Rosa Gomes é um indivíduo com uma reflexão filosófica profunda, é um homem que já tem trabalhos publicados na área da psicologia, mas em termos poéticos este é o seu primeiro livro e traz um conjunto de mensagens. Este livro acaba por encerrar um lado mais afetivo, mais emocional da poesia de Manuela Bulcão, com uma reflexão mais filosófica do Manuel da Rosa Gomes”.
Como declarou Manuel da Rosa Gomes, a “poesia é um estado de espírito” e “um poema é sempre um momento de exaltação”.
Durante o evento, o público foi presenteado com um momento musical que foi proporcionado por Afonso Maia, na guitarra clássica.
No final da apresentação decorreu a sessão de autógrafos e, posteriormente, os presentes foram agraciados com a degustação de iguarias açorianas.