Em entrevista ao AUDIÊNCIA, Marília Pimentel, chefe de Divisão da Ação Social de São Miguel Norte, que compreende, nomeadamente, o Núcleo de Ação Social da Ribeira Grande, sublinhou as principais carências e dificuldades que a população tem vivenciado em tempo de pandemia, e evocou as ações desenvolvidas juntamente com inúmeras entidades e instituições tendo em vista colmatar as necessidades sentidas pelos ribeiragrandenses. Confinante de que vai chegar a bom porto, a chefe de Divisão da Ação Social de São Miguel Norte, ressaltou que “nós estamos com a porta aberta, como sempre estivemos, para respondermos a todas as solicitações”.
Relativamente ao trabalho que é desenvolvido pela Segurança Social no concelho da Ribeira Grande, quais têm sido as principais carências e dificuldades que têm tentado ultrapassar?
Nesta altura, que tem sido muito crítica, nós temos tido algumas solicitações de situações de insuficiência de rendimentos, devido à situação que estamos a passar, nomeadamente, há pessoas que estão em lay-off e há pessoas que ficaram desempregadas devido à questão da pandemia, que têm procurado os nossos serviços para, de alguma forma, nós tentarmos, aqui, apoiá-las quer a nível económico, quer a nível de alguma orientação que seja necessária dar, quer a nível de alimentação e de medicação. Portanto, depois recebemos solicitações económicas para a rendas, pois nós temos algumas situações que nos têm aparecido, de pessoas que estão em lay-off e que, neste momento, não têm condições para poderem avançar no pagamento das rendas. Portanto, tem sido um pouco de tudo o que nos tem aparecido, aliás, nós temo-nos deparado com situações de pessoas que não recorriam aos nossos serviços e que, neste momento, vêm-se obrigadas, aqui, a pedir apoio aos serviços da Segurança Social.
Ontem, em conversa, o senhor Provedor da Casa da Misericórdia da Ribeira Grande referenciou que 550 famílias recebem o cabaz mensal da instituição, embora ele renha afirmado que ainda tem bagagem para mais, se for necessário. No entanto, uma das questões que ele levantou, e penso que é adequada para si, foi a falta de técnicos para que as famílias comecem a ter consciência de como se devem organizar para evitarem determinadas situações. Neste contexto, há ou não falta de técnicos?
Neste momento, nós trabalhamos com os técnicos que nós temos e, tento em conta o trabalho que nós temos tido, se houver algum reforço de técnicos, posso dizer-lhe que será bem-vindo, considerando o panorama que nós estamos a viver, neste momento. Portanto, nós temos os processos de Rendimento Social de Inserção, que estão a ser acompanhados pelos técnicos, tanto do ISSA, isto é, do Instituto de Segurança Social dos Açores, como dos técnicos da Santa Casa da Misericórdia, que trabalham em parceria connosco e, obviamente, que o volume de trabalho é grande e se houvesse possibilidade de haver mais técnicos, para apoiarem as famílias no terreno, seria uma mais-valia.
Uma das queixas que chegou até mim, foi o facto de as famílias receberem, por exemplo, um cabaz e depois não saberem como rendê-lo durante o mês inteiro, porque não têm essa aprendizagem de raiz e não existem técnicos disponíveis para fazerem workshops, digamos assim, com cada família.
Certo, é assim, esta iniciativa tem sido já feita e, neste momento, portanto, isto está parado, tendo em conta, aqui, a questão, também, da pandemia, porque nós temos ajudantes sociofamiliares, que portanto, são funcionários da Santa Casa da Misericórdia que, em conjunto com os técnicos de serviço social, estão a fazer, também, esse tipo de sessões para a população, inclusivamente, na organização da gestão doméstica, no acompanhamento, portanto, a nível, também, de alguma situação que seja necessária, em termos de alimentação, ou alguma questão burocrática que surja. Portanto, esses técnicos estão habilitados para poderem dar apoio a estas famílias e, inclusivamente, aquelas que recebem apoios como o Banco Alimentar, o Fundo de Emergência Alimentar, que é distribuído através da Santa Casa da Misericórdia, é um fundo europeu, que se destina, portanto, a providenciar às famílias mais carenciadas este apoio, e os ajudantes sociofamiliares são peças fundamentais, porque trabalham estas famílias no sentido de educá-las e de orientá-las para essa gestão, que deverão fazer desses produtos. Posso dizer-lhe que esta é uma situação que, neste momento, não tem sido tão trabalhada devido às questões do confinamento e da pandemia, mas é uma das ações que nós estamos a desenvolver.
Mas, ser a cara da Segurança Social, aqui, neste concelho e, nomeadamente, na Freguesia de Rabo de Peixe, é sempre um correar de surpresas todos os dias, algumas agradáveis e outras mais desagradáveis. Como é que se multiplica, para tentar amenizar, digamos assim, a dor, a raiva ou a impotência da população? Como é que faz isso?
Não é fácil. A população, aqui, de Rabo de Peixe é uma população que, realmente, necessita, aqui, de uma intervenção no terreno e de uma intervenção bastante musculada, porque tem de haver, aqui, uma intervenção de perto e é por isso que nós temos as nossas equipas multidisciplinares e temos equipas constituídas por assistentes sociais, por psicólogos e por ajudantes sociofamiliares, precisamente, para darmos resposta a este tipo de solicitações, que nos pedem. Estas equipas, como já lhe disse anteriormente, portanto, são, para além dos técnicos do ISSA, reforçadas por técnicos da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande e, portanto, cada técnico tem uma zona, na qual acompanha um determinado número de famílias e, automaticamente, quando é necessário, também, vai fazer visitas domiciliárias, em conjunto com outro técnico, seja da psicologia, seja mesmo a nível do ajudante sociofamiliar, que está de perto com as famílias e isto tem sido, portanto, o recorrente. Nós não paramos, agora, na pandemia, aliás, nós continuamos a fazer o trabalho que estávamos a fazer. Relativamente aos apoios que são atribuídos, nós, também, realizamos um trabalho relevante, uma vez que os processos têm de ser analisados, porque, por vezes, para não haver, aqui, uma duplicação de apoios, porque podem pedir à Junta de Freguesia o cabaz do Banco Alimentar, como podem também pedir à Cáritas, ou podem pedir no Serviço de Ação Social e, aí, cabe-nos fazer, aqui, um trabalho de parceria e de alguma triagem, que tem de ser feita, para evitarmos, aqui, essa duplicação. Por isso, os circuitos já estão montados e nós, Junta de Freguesia, Câmara Municipal e Cáritas, trocamos, portanto, informações, para evitarmos, aqui, as duplicações.
A vossa equipa tem estado “imune” à Covid-19. Está preparada para uma situação de emergência, no caso de serem atingidos pelo novo coronavírus? O que é que aconteceria a estas pessoas? Ficariam sem apoio?
Não, neste momento, as nossas equipas estão a trabalhar em espelho e nós temos técnicos que estão, portanto, a trabalhar no terreno e outros que estão na retaguarda, precisamente para isso, para caso haja alguma situação.
Portanto, todas as equipas são multidisciplinares?
Sim, exato. Nós, neste momento, temos os técnicos que estão no terreno e que estão a trabalhar aqui e temos outros em casa, na retaguarda, a trabalhar. Agora, como sabe, nós fazemos, todos, parte das equipas multidisciplinares que estão, aqui, no terreno, juntamente com a Câmara, com a Junta de Freguesia e os técnicos da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande e, quando é necessário algum tipo de apoio, nós, automaticamente, reportamo-nos a quem está em casa e pode, de alguma forma, aqui, avaliar as situações que nos são solicitadas, precisamente, para isso, para termos técnicos do terreno e outros que podem, perfeitamente, também, fazer outro tipo de abordagem.
Está confiante de que vai chegar a bom porto?
Neste momento, nós tivemos, aqui, informações, de que os números tinham baixado e nós esperamos bem que sim e que o trabalho, também, que estamos a fazer ajude, efetivamente, as pessoas.
Eu estive em Rabo de Peixe e, não sei se esta é a sua opinião, mas eu vi que ainda há pessoas que não estão muito convencidas de que depende delas a solução do problema, porque eu passei pelo centro e vi pessoas sem máscara e vi pessoas juntas a conversar, o que quer dizer que algumas ainda resistem às recomendações. Como é que resolvem ou tentam resolver este problema?
É precisamente por isso, que nós temos tido as equipas no terreno, cuja criação foi decretada pelo senhor Secretário e temos, neste momento, portanto, elementos da saúde, elementos do serviço social e psicologia ou sociologia. Nós temos quatro equipas, neste momento, que estão no terreno, precisamente, a tentar evitar que estas situações surjam e as situações nas quais nós realmente notamos algum incumprimento, são reportadas, aqui, ao delegado de saúde e o delegado de saúde, por sua vez, faz, digamos, o encaminhamento e as sinalizações das situações para quem de direito, nomeadamente a PSP. Portanto, se nós encontrarmos alguma situação de algum caso positivo, ou algum isolamento profilático, que não esteja a ser cumprido, estas situações são devidamente reportadas.
Relativamente à vossa intervenção, durante a pandemia, houve algum recuo ou um reforço das operações?
É assim, eu gostaria de deixar bem claro que, portanto, o trabalho que estamos a fazer quer nós, quer a Câmara Municipal, quer a Junta de Freguesia, tem sido um trabalho diário, não tem sido só por esta questão, aqui, de Rabo de Peixe ter aparecido com mais casos. Como tal, o nosso trabalho tem sido um trabalho de continuidade. Os técnicos não se negam a ir a casa das famílias, vão devidamente equipados, com os seus equipamentos de proteção individual e continuam a fazer o que sempre fizeram. Portanto, é uma intervenção que está a ser feita e obviamente que é uma intervenção que agora é muito mais cuidadosa, mas tem sido sempre feita. Eu quero, aqui, deixar bem claro que não houve, aqui, de alguma forma, algum recuar na nossa intervenção, até pelo contrário, nós temos tido até mais situações, mas essa intervenção tem sido uma intervenção mais reforçada, digamos assim, no terreno.
Dá para perceber que, pelo menos, a população da Ribeira Grande, tem o conforto de saber que não está só e que não há nenhuma porta fechada.
Nós estamos com a porta aberta, como sempre estivemos, para respondermos a todas as solicitações e, inclusivamente, temos uma psicóloga, como lhe disse há pouco, que está, também, atenta às questões relacionadas com situações de pessoas que estão em isolamento e que, de alguma forma, tenham alguma ansiedade, devido à situação que estão a passar e esta psicóloga está a fazer contactos telefónicos, diários, para aquelas situações mais complicadas, digamos assim, de algum isolamento, de alguma falta orientação, de algum desespero que tenham e nós temos, aqui, neste momento, técnicos habilitados para poderem, aqui, fazer esse acompanhamento.
Não tem a ver com Covid-19, mas também é um problema que deve preocupar, provavelmente, a Segurança Social, que é o aumento do número de pedintes na rua. Essas equipas, quando se virem um pouco mais libertas da Covid-19, não poderiam ser encaminhadas para uma situação deste tipo?
Nós temos situações que, obviamente, se nos são reportadas, nomeadamente através do contacto próximo até com elementos da comunidade, muitas delas, nós até conseguimos tentar, de alguma forma, resolver, através de alguma instituição, para qual possamos encaminhá-los. Acontece que, muitos deles não querem e, portanto, preferem, infelizmente, estar na situação em que estão, porque quando nos é sinalizada uma situação dessas, nós atuamos, obviamente, através das equipas que temos do ISSA.
Então, eu posso depreender que recomenda que própria população da Ribeira Grande, tendo conhecimento, sinalize estes mesmos casos?
A própria sinalização da comunidade, também, é muito importante. Apelamos, aqui, também à população, que nos sinalize e pode fazê-lo, nomeadamente, no Núcleo da Ação Social da Ribeira Grande, que está sediado na Casa do Povo da Ribeira Grande.
Quer deixar mais alguma mensagem?
Quero dizer que nós estamos aqui, que estamos no terreno, para também tentarmos resolver esta situação, que tanto nos aflige a todos.