A Quinta Espírito Santo situa-se em Arcozelo, em Vila Nova de Gaia, e dispõe de um salão com capacidade para 200 pessoas, para a celebração de vários eventos, como casamentos, bodas de ouro e prata, batizados, aniversários, conferências, entre outros. Pedro Torres e Filomena Gouveia são diretores deste espaço e sublinharam, em entrevista ao AUDIÊNCIA, que são movidos pelo lema “existimos a pensar em si” e pela preocupação de garantir a satisfação dos clientes.
Qual é a história da Quinta Espírito Santo?
Pedro Torres (PT): A Quinta Espírito Santo tem 12 hectares e era uma quinta agrícola, que abastecia a cidade do Porto, fundamentalmente o Mercado do Bolhão, em gado, frutas e legumes e era muito forte. Entretanto, ali pela altura dos anos 80, houve um défice de pessoas para trabalhar na terra e a quinta parou, porque esta é uma quinta de família. É obvio que, nessa altura, com a especulação imobiliária apareceram muitas propostas para que a quinta fosse transformada num empreendimento, só que o dono da quinta gostava de manter as raízes e de manter a própria quinta, então, começou a definir, um pouco, uma estratégia, que passou, efetivamente, por transformar, eu diria, que, quase metade da quinta, para uma quinta de eventos. Isto começou há 16 anos, a reconstrução e construção do edifício aqui, porque o edifício tem partes antigas que já existiam e partes novas, apesar de estarem todas com o enquadramento de pedra e madeira e, a partir daí, começou-se a trabalhar. Eu estou aqui há 14 anos com a Quinta Espírito Santo, portanto, quase que a fundei também. A Filomena chegou um pouco mais tarde, há quase 6 anos. Nós estávamos noutra atividade, mais concretamente, na indústria farmacêutica e isto foi uma mudança bastante radical, porque nós deixámos a indústria farmacêutica e decidimos dedicar-nos à hotelaria. Os primeiros anos na Quinta Espírito Santo passaram por começar a criar a Quinta, a fazê-la nascer e a dá-la a conhecer. Nós trabalhámos durante 8 anos com caterings, portanto alugávamos, no fundo, o espaço, mas essa nunca foi a ideia. A ideia era termos um serviço próprio, termos os nossos funcionários, termos a nossa cozinha e termos os nossos produtos, claro que isso tinha de ser em devido tempo e aconteceu há quase 6 anos, com a entrada da Filomena, que foi quando fizemos, de facto, essa grande mudança e nessa grande mudança passamos a criar a nossa cozinha, a ter uma estrutura muito própria e a criar, também, os nossos pratos. Nós fomos um bocadinho além disso e criámos, também, uma francesinha com um cariz um pouco diferente, porque é uma francesinha de porco preto e é uma francesinha trabalhada com um molho com ervas aromáticas. Portanto, tem um toque completamente diferente e nós já ganhámos dois prémios com esta francesinha.
Filomena Gouveia (FG): Nós ganhámos três prémios. Ganhámos dois primeiros prémios com a francesinha de porto preto, considerada a melhor do distrito do porto por dois anos consecutivos. Depois, não nos deixaram concorrer mais com a francesinha e desafiaram-nos para fazermos outro prato típico do Porto, nós concorremos com o bacalhau à Gomes de Sá e também conquistámos o primeiro lugar.
Que tipo de eventos são realizados neste local?
FG: Posso dizer-lhe que os fins de semana estão sempre ocupados. Os eventos são muitos, desde congressos, reuniões científicas, aniversários, casamentos, batizados, comunhões e bodas. Há um crescimento cada vez maior, principalmente neste tipo de festas, não só nos casamentos, que eram as festividades que conduziam à procura das quintas, mas também de festas e as festas de 18 anos começam a ser cada vez mais comuns e começa a haver uma procura maior e é nisso que nos temos estado a especializar, porque nós queremos concretizar o que as pessoas pretendem e aquilo que querem e a festa do sonho e do desejo delas, porque cada festa é uma festa, cada evento é um evento e o facto estarmos cá permanentemente ou quase 24 horas por dia é nesse sentido, no sentido de podermos ir ao encontro das necessidades de cada cliente, sem sermos completamente fixos, muito rígidos e de termos essa flexibilidade de fazer o evento à medida de cada um. Quando temos tempo e a nossa agenda assim o permite, as empresas que trabalham connosco a nível de vinhos convidam-nos ou desafiam-nos sempre para fazemos um jantar de degustação quando há um lançamento de um novo vinho, em que criámos uma ementa específica para essa degustação de vinhos e isso dá-nos imenso gozo, porque é criar uma ementa de raiz só para aquele evento.
PT: Para além disso, também temos as chamadas festas temáticas, o Carnaval, o Halloween, a passagem de ano, temos o mês de dezembro com festas de Natal completamente diferentes, porque cada empresa adapta a festa à sua maneira. Nos jantares de degustação de vinhos nós trabalhamos, no fundo, os pratos tipicamente portugueses, com o cruzamento dos tais vinhos e trabalhamos isso de uma forma muito específica, muito pormenorizada. Acaba por ser muito interessante nós irmos buscar sabores do passado e estou-me a recordar, por exemplo, de uma situação em que criamos uma caldeirada de bacalhau, que não passava daquilo que nós tínhamos antigamente, que era o bacalhau à espanhola. As pessoas hoje em dia já não têm a oportunidade de a comer e já não a fazem tantas vezes e isso foi para as pessoas que nos pediram que esse prato fizesse parte da ementa do Carnaval do ano seguinte, o que para nós foi muito agradável podermos ter ido buscar esses sabores e irmos buscar também muitos produtos à origem e eu recordo-me das cascas, do feijão em casca, seco, que é algo a que as pessoas já não têm acesso hoje em dia.
Quais são as especialidades da Quinta Espírito Santo?
FG: Falei no bacalhau à Gomes de Sá, que acabou por ser vencedor e ao qual demos um cunho próprio a nível de apresentação e em tudo, mas na nossa ementa também temos o típico lombo de bacalhau com broa e temos o bacalhau lascado com alheira, grelos e broa, que é acompanhado por umas batatas a murro aromatizadas com orégãos que é qualquer coisa de delicioso. Nós trabalhamos muito a vitela de Arouca, que vem mesmo de Alvarenga, que é um prato que, apesar de não ser típico aqui do Porto, também tem muito a ver com os sabores tradicionais. Estes são alguns dos pratos com muita tradição. Depois, nós damos a outros produtos que nós temos, um cunho muito português, porque nós só cozinhamos com azeite, trabalhamos muito com lombelos, com coração de alcatra, desde os nossos medalhões regados com uma redução de vinho do porto e aí vem o cruzamento com uma cozinha um pouco mais evoluída, mais moderna com o sabor tradicional, e os nossos tronedós. Temos depois, claro, os pratos mais típicos que são os assados, o assado de porco com castanhas, ou então se puxarmos ao agridoce, um porco preto assado com molho de ameixa. Nós tentamos fazer sempre um cruzamento, porque as pessoas querem sabores típicos portugueses, é certo, mas com alguma elegância e querem o que agora também se pode cozinhar com sabores mais modernos. Não é uma nouvelle cuisine, não é um gourmet, que agora está muito em voga, porque somos típicos portugueses e gostamos de fartura no prato. Aqui servimos tudo à travessa, em que o cliente repete uma, duas, três vezes até ficar completamente satisfeito e saciado, que é isso o que nós procuramos cada vez mais na nossa cozinha, não passar fome e isso podemos dizer, de peito cheio, que os nossos clientes saem daqui super satisfeitos, porque como temos cozinha própria, fazemos os nossos rojões, as nossas moelas, a nossa bola de carne e até mesmo as sobremesas. Nós vamos buscar sobremesas às receitas das nossas avós ou das nossas mães e temo-las aqui também, o que é ótimo, como uma tigelada, que é da zona de Castelo Branco, o nosso leite-creme, que toda a gente o gaba, o cheesecake que toda a gente diz que é um dos melhores cheesecakes que provaram, uma delícia de coco fantástica, a torta de laranja, a mousse também caseira e muitas outras coisas. O mais engraçado e o que nos dá mais liberdade é termos, muitas das vezes, sugestões da parte das pessoas que nos procuram, temos um prato na nossa ementa que é o cherne gratinado, que surgiu porque uns noivos um dia olharam para a nossa ementa e questionaram-nos o porquê de nós não fazermos um prato de cherne e então demos-lhes a degustar um cherne gratinado, que depois ficou a fazer parte da nossa ementa. Sempre que nos dão ideias nós acolhemos essas ideias. Nós temos também um folhado de salmão que foi algo que nos foi pedido e nós criámos o folhado de salmão, demos a provar e também integrou na nossa ementa. É giro criar e ir buscar também as receitas antigas. Sempre que pudermos, nós vamos integrar sabores tradicionais, com pratos mais cuidados.
Quais são as vossas ambições e perspetivas para o futuro deste espaço?
PT: Continuar dar a Quinta Espírito Santo a conhecer, com a mesma qualidade e apresentação. Nós pretendemos continuar a pensar que cada cliente que vem é um cliente, não é mais um cliente e isso é muito importante para que as pessoas sintam essa própria diferenciação e se sintam acarinhadas no acompanhamento que nós damos até ao dia do evento. Depois, obviamente, nós temos aqui alguns projetos futuros, eu diria que sobre alguns deles ainda não poderemos falar, porque estão um bocadinho no segredo dos deuses, mas passarão, de facto, por mexer um pouco mais aqui com a Quinta, por dinamizá-la mais de uma forma um bocadinho diferente, mas isso tudo também passa por trabalhos que estão a ser feitos em termos de arquitetura, etc., e de licenças futuras, para podermos fazer este tipo de trabalho. O outro está relacionado com a nossa vontade de passar a ter, a muito curto prazo, a abertura do restaurante diariamente e esse diariamente poderá a vir a ter à hora do almoço pratos do dia cuidados, obviamente, e à noite ter outro tipo de pratos e de apresentação, porque a área do restaurante, que é a chamada sala-bar, é uma área que à noite tem uma envolvência, um charme, um toque de diferente, porque o cliente vem jantar e fica, não janta e sai rapidamente. O cliente gosta de estar porque a envolvência das luzes, da pedra, da madeira e o toque de uma música suave, proporcionam-lhe uma sensação de relaxamento e, por isso, vamos, a muito curto prazo, trabalhar muito essa área. Nós queremos também explorar a nossa área exterior, porque acaba por ser uma excelente esplanada, onde as pessoas se sentem bem, porque estão na cidade e estão no campo, ao mesmo tempo. Nós também temos a vantagem de termos um parque de estacionamento privado e tudo isto acaba por ser agradável e convida as pessoas a desfrutarem deste espaço exterior.
FG: O nosso lema é: “existimos a pensar em si”, porque cada evento é um evento e nós existimos para que esse evento seja único e, por isso, nós existimos a pensar em si. Nós pretendemos estar sempre abertos, porque, neste preciso momento, quem vem cá jantar, vem jantar por marcação, o que não significa que quando abrirmos que não exista essa necessidade, porque o risco de os clientes chegarem cá e não terem mesa é elevado, mas haverá essa abertura de, pelo menos, terem a certeza de que à hora do almoço e à hora do jantar estamos sempre abertos, exceto sextas, sábados e domingos, porque nesses dias os eventos são a nossa prioridade. A Quinta tem uma área exterior que poucas quintas de eventos conseguem ter e, no inverno, nós também temos o que poucas quintas podem proporcionar que é um plano B, que passa por termos um espaço que nos permite fazer no interior aquilo que se faz a nível de exterior e nós temos um salão inferior exatamente para essas ocasiões, é um salão com a mesma dimensão do nosso salão superior, que nos permite servir os aperitivos iniciais tanto nos casamentos, como no caso do Carnaval, da passagem de ano e dos jantares empresariais, porque as pessoas são recebidas no nosso salão inferior e posteriormente passam para o nosso salão nobre, para o nosso salão principal e este espaço é uma vantagem que nós temos em relação a outras quintas.
BI:
Pedro Torres e Filomena Gouveia abandonaram a indústria farmacêutica e abraçaram, há 14 e há 5 anos respetivamente, o projeto da Quinta Espírito Santo como um desafio, transformando-a num espaço elegante e acolhedor, que está envolto numa paisagem verdejante e singular.