UMA RÉSTIA DE ESPERANÇA NO HORIZONTE

Sem dúvida que um dos acontecimentos mais importantes para a humanidade nos últimos tempos foi a cimeira realizada há poucos dias entre os líderes da República Democrática Popular da Coreia e da República da Coreia, Kim Jung-un e Moon Jae-in, cujos resultados ultrapassaram as expectativas dos observadores internacionais.

E torna-se curioso observar que foi exactamente do País sempre estigmatizado, pressionado, ameaçado e rotulado pelo imperialismo como o eixo do mal que saiu a primeira proposta de encontro, depois de 65 anos de hostilidades militares que terminaram apenas com um armistício, ou seja, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul continuavam tecnicamente em guerra até à realização desta cimeira.

O ano de 2017 ficou marcado pelo cerco dos Estado Unidos à República Popular Democrática da Coreia e ao discurso hostil sobre o arsenal nuclear norte-coreano, que se estima ser de dez ogivas, situação a que os Estados Unidos juntaram a aplicação de múltiplas sanções contra a RPDC, ameaças de invasão do país asiático e um cerco militar que se concretizou em diversos exercícios militares conjuntos nas imediações da Península da Coreia.

Aliás, após o anúncio desta cimeira, Donald Trump veio a público classificar a decisão como um «grande avanço» e afirmar que está com vontade de se encontrar com Kim Jung-un, mas, entretanto, a política belicista norte-americana prossegue intocável e nesta conformidade a sua Força Aérea escolheu esta altura para testar o primeiro míssil balístico intercontinental do ano, a partir da base de Vandenberg, na Califórnia, segundo refere a agência noticiosa RT.

No terreno, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul concordaram em procurar o apoio e cooperação da comunidade internacional na desnuclearização da região, sabendo-se que esta acção tem significados diferentes para a Coreia do Norte e para os Estados Unidos, cujos líderes estarão reunidos no próximo mês, pois, se para Washington a desnuclearização significa a entrega das armas nucleares e dos sistemas de mísseis, para Pyongyang significa que ambos os lados darão passos para acabar com as armas nucleares.

Em 1953, o armistício colocou um fim às hostilidades entre as duas Coreias, mas não foi seguido de qualquer tratado de paz, agora tanto o Norte como o Sul comprometem-se a fazer «um esforço conjunto para aliviar a grave tensão militar e eliminar o perigo de guerra na Península Coreana».

O mundo está a viver um momento histórico, pois há mais de dez anos que não havia um encontro entre os líderes das duas Coreias e o grande tema desta cimeira é a desnuclearização da Península Coreana, omnipresente em praticamente todas as declarações diplomáticas. Trata-se de um processo que não é novo e que acompanha desde o início o desenvolvimento do programa nuclear norte-coreano, a partir das constantes ameaças dos Estados Unidos e as negociações foram sempre efectuadas com avanços e recuos, seguidas de trocas de acusações sobre os culpados dos falhanços.

Depois da tensão provocada pelo lançamento de mísseis e pelo sexto ensaio nuclear norte-coreano em 2017 e pelos constantes exercícios militares conjuntos entre Estados Unidos e Coreia do Sul, simulando até a invasão da Coreia do Norte, poucos previam uma aproximação tão rápida entre as duas Coreias, mas depois de um discurso de ano novo mais conciliatório por parte de Kim Jung-un, o ponto de viragem foram os Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, em Fevereiro deste ano, onde na cerimónia de abertura, os dois países desfilaram juntos sob a mesma bandeira.

Após as discussões na cimeira da semana passada, Kim Jung-un afirmou que ambos os líderes haviam concordado em coordenar de perto o processo de paz para garantir que não ocorra uma repetição da «história infeliz» da região, na qual os progressos anteriores «fracassaram».

Ao dar o nome à declaração conjunta produzida no final da cimeira, a pequena aldeia de Panmunjom, próxima da Linha de Demarcação Militar entre os dois estados, ficará na história como o local onde se começou a resolver aquele que tem sido, simultaneamente, um dos mais longos conflitos da história contemporânea e um dos mais perigosos focos de tensão nuclear no globo.