O Clube Desportivo Trofense disputa, atualmente, o Campeonato de Portugal, no entanto, no passado, chegou a pisar os grandes palcos do futebol português, aos quais, Franco Couto, atual presidente da instituição, admitiu, em entrevista ao Jornal AUDIÊNCIA, que anseia regressar. O presidente do Trofense lamenta a atual situação do futebol português, frisando que a falta de público nos jogos tem prejudicado, não só o estado de espírito dos atletas, como as contas do clube. Contudo, o balanço do seu percurso na liderança do Trofense, é positivo e Franco Couto fala em obras no estádio, a terem arranque em breve.
Franco Couto, qual é a história da sua envolvência no Clube Desportivo Trofense? Como descreve estes últimos anos como presidente desta instituição?
Eu fui convidado, pelo antigo presidente, para ajudar o clube, depois acabei por ficar. Comecei por ajudar o clube, porém viram que sem uma injeção de capital, não havia muita viabilidade e foi aí que eu entrei. O clube devia nove milhões de euros. A gestão que eu fiz passou por negociar bem, e eu negociei, tanto que de nove passou para sete milhões muito rápido. Isto aconteceu porque algumas pessoas perdoaram dívidas e, depois, automaticamente, fui pondo aqui, também, algum dinheiro. Dívidas que eram de cinquenta mil euros, desciam para 50 por cento e eu pagava logo. Portanto, foi uma gestão que eu fiz assim um bocado ao marceneiro, mas que acabou por correr bem. Hoje, estamos com o clube completamente controlado. É óbvio que ainda há muito trabalho e muito esforço pela frente, para que isto continue a correr bem. Não podemos parar, não podemos desistir e tem sido essa base do meu percurso até aqui. As pessoas também viram a minha boa-fé e eu, como presidente do clube, agarrei o projeto com muita garra para levá-lo para a frente. Tive sempre o apoio da Câmara Municipal da Trofa, o que foi muito importante para nós, porque sem a autarquia, embora houvesse situações nas quais ela não pudesse ajudar, mesmo assim, deu-nos um apoio excecional. Temos de ser corretos, a Câmara Municipal da Trofa, neste momento, tem muito a ver com o sucesso do clube.
O balanço destes quatro anos é positivo?
Sim, extremamente positivo. Então, se a dívida de nove milhões passou para dois milhões de euros, em quatro anos, está tudo dito. Isto só demonstra o bom trabalho, excelente mesmo. Eu gosto muito deste clube, se não gostasse não estava cá. Claro que eu quero que as empresas ajudem mais, e enquanto clube achamos sempre que é pouco, mas elas também aderiram bem a este projeto e é uma coisa que eu deixo bem saliente. Contudo, aproveito e peço para que continuem a ajudar, porque isso é o mais importante. No meu primeiro ano enquanto presidente, passamos dificuldades tremendas. No segundo já foi melhor. O terceiro foi o que foi, apareceu a pandemia e agora estamos a iniciar o quarto ano. Para já, estamos em primeiro lugar e estamos a fazer um trabalho que eu acho que é notável, considerando a situação que vivemos, porque não temos salários em atraso, não temos nada em atraso. Não estou a dizer que os outros têm, nem me incomodo com os outros. Eu incomodo-me com a minha casa, não com a casa dos outros. Acho que isso é um passo importante para o nosso sucesso, preocupar-nos connosco e não com os outros. Se estivermos focados nos nossos problemas, vencemos, se estivermos preocupados com o nosso e o dos outros, é muito difícil vencermos.
O Trofense passou por uma fase muito complicada entre 2016 e 2018. Em 2018 recuperou da situação de insolvência, mas, recentemente sentiu a necessidade de outro apoio, que levou, em janeiro de 2020, à criação da SAD. Porque é que optou por esta solução?
Eu cheguei a tirar o clube da insolvência. Em 2018 ele chegou a sair. Além das dificuldades e as dívidas que foram pagas, a gestão que eu paguei ao fisco descontrolou a situação. Contudo, o clube não podia cair. Eu meti na cabeça, quando entrei para aqui, há quatro anos, que este clube não podia cair. A Trofa merece, a Trofa é uma grande cidade, tem um passado muito bonito no futebol e a criação da SAD foi uma solução, porque nós não podíamos deixar cair este clube, de maneira alguma.
Quase um ano volvido desta opção, continua a acreditar que foi a decisão mais correta?
Sim. Erros cometemos sempre. No mundo do futebol, ou no mundo empresarial, nós cometemos sempre erros. Ninguém é perfeito, mas aqui foi a melhor opção, sem dúvida nenhuma. Eu fiz as coisas muito bem-feitas. Noutros clubes, se a SAD acabar, acaba o clube, aqui não. Nós temos um protocolo que prevê que, qualquer coisa que aconteça à SAD, o clube retoma tudo outra vez, logo, não ficamos na mão da SAD. Isto está feito, como se costuma dizer, com medida, não está feito à sorte. Como disse, erros existem sempre, mas não estamos aqui para errar, estamos aqui, sempre, para acertar e vai ser esse o caminho do Trofense, enquanto eu cá estiver, sempre a ganhar, sempre a ter ambição. Nunca vou desistir e o sinal está à vista.
Foi, na altura, uma decisão arriscada?
Foi arriscada? Claro que foi. Houve muita gente que disse que eu era louco. Quando eu fui eleito presidente, havia quem dissesse que, seis meses depois, eu ia embora e eu estou cá há quatro anos. Muitos dizem-me hoje isso, que não acreditavam e eu digo que é preciso ver o que as pessoas querem do clube e o que querem na sua vida particular e profissional. O que eu quero é um Trofense à frente e foi esta a decisão que eu tomei para este caminho.
Falando agora um pouco mais sobre o clube. O Trofense é atualmente composto por quantos escalões e modalidades?
No que respeita ao futebol, nós temos vários escalões, desde os sub10 até aos sub19. A nível do futsal, nós só temos um escalão, que é o sénior. Mas isto agora está tudo muito parado, porque foi tudo suspenso, até novas ordens da DGS. Temos de esperar para dar continuidade a esse trabalho, que nos faz falta. Há aqui um problema muito grande, que a Direção-Geral da Saúde não está a ver, porque se nós não tivermos, urgentemente, a ordem para começarmos a treinar, estes jogadores novos, que são futuros sucessos, não só do Trofense, como de outros clubes, no futuro temos um problema muito grande. Eu tenho, aqui um jogador que eu trouxe do Brasil e estou morto por o ver jogar. É um excelente jogador, mas se não jogar, não consegue mostrar e começa a ir abaixo também. Tem de vir rápido a ordem para eles treinarem e jogarem, porque eu acho que não começa pelo futebol. Isto é muito mau para o futuro do desporto. Nós temos outras atividades, que juntam muita gente, e são bem piores. No futebol as pessoas estão sossegadas, se não puderem entrar mil, entram quinhentas.
Agora que falou desta impossibilidade de jogar, acha que o facto de não haver competição, a nível de escalões de formação, vai levar à desistência de muitas crianças e jovens do desporto?
Claro que sim, isso está à vista. É essa a minha preocupação e a preocupação de quem gosta de futebol. Não há dúvidas nenhumas de que isso vai acontecer. Os jovens começam a desistir e a procurar outras atividades e o futebol só fica a perder com isto. O futebol já vai ficar a perder muito com a situação da pandemia, mas perde mais pelas decisões da DGS, na minha opinião.
Mas veria aqui outra solução para este tipo de situação, nomeadamente para os escalões de formação e para a competição nesse nível?
A solução é eles deixarem-nos realizar os treinos e darem ordens para começarmos a competição. Por exemplo, houve um fim de semana no qual jogou toda a gente, menos o Campeonato de Portugal. Porquê? Porque é que a um domingo, nós não podíamos jogar, mas podíamos a uma terça-feira? São perguntas que eu faço à DGS. Porque é que a um domingo era mau e a uma terça já não era? Há uma diferença, transtornou muita coisa no futebol, principalmente a cabeça dos jogadores. Isto destabilizou. Eles estão a contar jogar ao domingo, estão focados nisso, a cabeça deles está preparada para jogar ao domingo, não é à terça. Se acontecesse alguma coisa urgente e se o jogo fosse adiado, uma vez, por uma situação que o justificasse, agora, desta maneira não. Eu não vejo diferenças, a não ser o tempo, terça estava sol e domingo estava a chover, pode ser por isso, à chuva podíamos gripar, só mesmo assim uma justificação dessas, que não tem cabimento. Isto é fazer uma crítica válida. Eu recebi vários telefonemas, de diversos presidentes, a dizerem que isto não tem jeito nenhum. É como acabei de dizer há pouco, amanhã vai ser um problema, porque muitos miúdos com capacidades vão desistir. Nós temos jogadores muito bons, acredite que temos jogadores a um nível muito alto. Isto vê-se quando há jogos da Taça, vê-se quando vêm as equipas grandes jogar com o Campeonato de Portugal, porque não é muito fácil. Já vi os clubes grandes a jogarem connosco e a terem dificuldades, quem diz connosco, diz também com outros clubes como o nosso. Isso quer dizer que temos bons jogadores no Campeonato de Portugal e, aliás, todos os que estão na Primeira Liga passaram por aqui.
Esta situação que vivemos, relacionada com a Covid-19, acabou por interromper a época passada. De que forma é que afetou o clube e acha que, se não existisse a paragem, o Trofense podia ter chegado mais longe a nível competitivo?
Sim, mas também não entro muito por aí, porque nós também não estávamos, não quer dizer nada porque ainda era muito cedo, mas não estávamos bem classificados. O futebol perdeu muito com esta paragem. Se outras atividades podem realizar-se, como as touradas, os concertos, etc., porque é que o futebol, não pode ter 100 ou 200 pessoas? Por exemplo, só podem ir duas pessoas a um jogo, isso não faz sentido nenhum, até porque vamos a um restaurante e estão dez ou vinte pessoas, ou cinquenta, ou até mesmo cem, e assim podem estar, apesar de ser dentro de um local fechado. Como é que é possível, num estádio aberto, não poderem estar 100 ou 150 pessoas? É isto o que a DGS tem de ver. Até na Assembleia da República está muita gente junta, eles deviam reunir-se num campo de futebol, ou numa arena de touros, para estarem ao ar livre, porque ali fechados é um problema. Num campo de futebol as pessoas estão ao ar livre. E mesmo a nível físico notou-se muito o tempo de paragem que os jogadores tiveram porque regressaram com outros ritmos e começaram a ter logo lesões.
Quais são as maiores dificuldades que se sente na gestão de um clube que está neste patamar?
A nossa sorte é que entrou um fundo de investimento, caso contrário, teria sido bem pior. Eu nem sei como é que os outros clubes conseguem sobreviver. Estão a fazer muitos sacrifícios, certamente, e os jogadores também. Isto é muito mau. Basicamente, o que nós temos de fazer é pedir à DGS que se ponha no nosso lugar, para que as coisas mudem para melhor. Permitirem a presença de adeptos nos jogos é essencial e uma vez que já o fazem, parcialmente, na Primeira Liga, façam-no, também, no Campeonato de Portugal. Usarem os festejos como justificação para a falta de público, não é válido. Os adeptos já têm cuidado, aliás, até estou admirado pelo facto das pessoas andarem todas de máscara e não se cumprimentarem como antes. As pessoas estão a ter os cuidados todos, logo, não é por aí. Há sempre um caso ou outro, mas não é por aí que os números aumentam, não é pelo futebol. Como eu lhe disse, é um circuito aberto, não é um espaço fechado.
De que forma é que atual situação pandémica que vivemos afetou a nova época, a nível de reforços e de orçamento?
Afetou muito. Todavia, vem tudo dar à mesma situação, uma vez que não angariamos as receitas oriundas da venda de bilhetes dos jogos. Não há aquela força que havia e que eu via na época passada, e desde que eu estou aqui, por isso, afeta sempre e muito. Afetou a nível de reforços e de tudo, até a saúde, organização e a competitividade do clube. Neste momento, no Trofense, temos tudo muito organizado, inclusive temos os jogadores todos testados à Covid-19. Eu acho que todos os clubes deveriam ser assim e julgo que estão todos a preocupar-se, embora existam sempre aqueles casos que não ligam e jogam contaminados. Na minha opinião, deveria existir um maior controlo nisso e não o travar das competições, como está a acontecer. Posso adiantar-lhe que, o orçamento para esta época ronda os 500 e os 600 mil euros, o que representa uma diferença de cerca de 20 por cento, face à época anterior. Contudo, nós temos uma equipa para brilhar nesta época e temos tudo o que preciso. Até agora, está a correr tudo bem, a equipa é muito forte e coesa.
Geralmente, os patrocínios representam uma grande fatia do orçamento de um clube. O facto de não haver público nos estádios afetou este segmento?
Sim, afetou. Notou-se uma diferença muito grande, na ordem dos 90 por cento. Cerca de 90 por cento dos patrocinadores desistiram e estão à espera que haja público para reativarem o seu apoio ao clube. Há, aqui, uma promessa de regresso, quando os jogos forem abertos ao público e, quando isso acontecer, vamos ao encontro dos patrocinadores e vamos fazer o nosso trabalho. Eles são uma fonte muito boa de rendimento para o clube. Sem patrocínios, sem público, é para esquecer, é o caminho para o abismo.
Já falou um pouco do apoio do município, mas queria regressar a esse assunto. De que forma é que o Trofense sente esse apoio autárquico?
Como disse no início, sinto-me muito apoiado. A Câmara e o senhor vereador do Desporto tiveram sempre uma preocupação com o clube, estiveram sempre atentos, presentes e prontos para ajudarem e colaborarem com algumas ideias.
Como referiu no início desta entrevista, também o apoio autárquico é de extrema importância para um clube como o Trofense. Enquanto presidente, o que gostaria de pedir à Câmara Municipal da Trofa?
O apoio da Câmara Municipal da Trofa tem sido fundamental para nós. O município e o senhor vereador do Desporto tiveram sempre uma preocupação com o clube e estiverem sempre atentos, presentes e prontos para ajudarem e colaborarem. Neste momento, não podemos pedir demasiado à Câmara, porque sabemos que a pandemia veio para toda a gente, tanto para a autarquia, como para os clubes e para as empresas. Nós temos de ter essa consciência. Claro que é ótimo pedirmos mais ajuda e recebermos, mas também não é fácil. A Câmara Municipal tem mostrado um trabalho exemplar e sério e tem ajudado consoante as suas possibilidades. É assim que a autarquia trabalha e que eu os vi sempre a trabalhar, ao longo destes quatro anos. Claro que me apetecia dizer pedir mais, mas isso seria olhar só pelos meus interesses.
Quantos sócios tem o clube neste momento?
O clube tem entre quatro a cinco mil sócios.
Relativamente à época atual, quais são os grandes objetivos?
Os objetivos são ganhar, ganhar, ganhar. O objetivo é sempre subir de divisão, mas isto é um jogo de cada vez e sempre respeitando o adversário. O adversário é sempre importante nos nossos jogos, nem que seja o que está na última posição da tabela e o nosso objetivo é chegar, novamente, à Primeira Liga.
Uma Taça de Portugal também poderá estar nos planos?
É possível, até porque o Trofense já ganhou ao Braga, ao Benfica, ao Porto, por isso, tudo é possível. Estamos no Campeonato de Portugal, mas não há grandes diferenças. É uma divisão muito competitiva. Aliás, viu-se, o ano passado, na Taça, o Campeonato de Portugal andou até ao fim.
Relativamente ao futuro, quais são os projetos que se vão desenvolver, a longo prazo, no Clube Desportivo Trofense?
Vamos fazer obras aqui no estádio. Estamos a tentar ver um terreno nas proximidades, para fazermos um parque de estacionamento e um campo de sete. Também queremos fazer obras no edifício onde se encontram, atualmente, os escritórios para transformá-lo em habitação para os jogadores. Deste modo, os escritórios vão ser transferidos para a parte inferior de uma das bancadas.
De que forma é que estas obras vão beneficiar o clube?
Beneficiarão muito, porque o clube tem, neste momento, quatro ou cinco casas alugadas e está a pagar rendas, quando temos, aqui, uma casa, com dois andares, que dá para vários jogadores. O que significaria a diminuição da despesa do clube, com a suspensão do pagamento das rendas em questão, que são elevadas. Claro que o custo da habitação em causa, também, será suportado pelo clube, mas a Câmara Municipal tem ajudado, dentro das suas possibilidades e nos assuntos mais burocráticos.
Em que fase está este projeto?
Está para começar. Não temos data, mas está para começar e, se Deus quiser, será ainda este ano.
Para finalizar, qual é a mensagem que gostaria de transmitir aos trofenses?
A mensagem que deixo aos trofenses é para se unirem e acreditarem no projeto, porque eu estou aqui para vencer e levar o clube ao lugar que ele, a população e os adeptos, merecem.