UM APRENDIZ DE CHANTAGISTA EM VILA NOVA DE GAIA

Um homem estreante na “arte” de chantagear gente folgada de dinheiro aportou em Gaia já com a sua vítima em “carteira”. Havia dado antes alguns golpes semelhantes e não se tinha saído mal, pelo que investia mais uma vez naquele tipo de “negócio”. É este, em suma, o ponto de partida para mais um original participante no nosso concurso de contos policiais, assinado por um concorrente que se estreia nas iniciativas da nossa secção. Isto, claro, se o seu pseudónimo não “esconder” o nome de um qualquer dos nossos participantes habituais… Vejamos o estado da arte:

 

CONCURSO “UM CASO POLICIAL EM GAIA”       

Conto nº. 9    

“O Caso do Cangalheiro da Treta”, de Comissário Lanterna

T., lamuriador cortês e vigarista recém-chegado, pensava na melhor maneira de extorquir algum dinheiro de um comerciante rico, uma vez que conseguira fotografá-lo com a amante, ao saírem abraçados do hotel. O sol e o ar atlântico do estuário do Douro abriam-lhe o apetite. Fez-lhe bem mudar a residência para Gaia. Lembrou-se do que lhe dizia a avó: “estomago vazio é mau conselheiro”. Foi ao restaurante mais próximo e, contagiado pelo aroma no seu interior, decidiu-se a comer uma “Francesinha”, gostosa, regada com umas taças de verde.

Para um estreante no ramo da chantagem, tinha já alguns casos bem-sucedidos, cobrando uma “avença” ao pessoal apanhado a pular a cerca. Ainda não se encontrava referenciado pela polícia, pelo que tinha espaço para atuar. Chegara a altura de contrabalançar de costa direita os ásperos tempos passados na limpeza dos esgotos de Paris. Por mais francos que recebesse, não chegariam em caso algum para remunerar a impolidez do labor.

A esposa fugira com um milionário e deveria estar algures, talvez em Las Vegas, desfrutando do está-se bem, das grandes vidas “à Lagardère”.

  1. não obteria uma vitória sólida sobre a dor e o sofrimento, a que fora entregue, se não transformasse o suplício no motor de busca de algo lucrativo.

A atroz solidão que confortava, de vez em quando, com uns cálices de Porto, apetrechara-o de uma determinação prática e avessa a qualquer doutrina. Não conseguia, entretanto, através da rede privada de informadores, obter o número do telemóvel desse personagem da alta sociedade, de forma que a abordagem teria de ser um tudo-nada vulgar. Uma mensagem com a foto anexada, seria bem convincente, mas, uma vez que tinha de caçar com gato, comprou revistas e jornais que chegassem para recortar as letras necessárias à colagem a fazer na carta anónima.

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Don R. reagiu mal quando o empregado lhe trouxe a carta sem remetente, sem selo e sem impressões digitais.

(T. tivera o cuidado de usar luvas, desde a elaboração da missiva até à sua entrega. Movimentara-se como sombra de respeito pela calada da noite, contornou os sistemas de alarme e pôs a carta na caixa do correio).

Leu o texto, uma, duas vezes. Ficou pior que estragado quando começou a perceber a abrangência da mensagem se a sua consorte viesse a saber.

No meio dos seus problemas profissionais (porque a fama de rico não era equivalente ao proveito) surge esta chantagem! A ira apareceu espicaçada pelo montante da quantia exigida.

─ Caramba! Tem de se tratar da “saúde” a este chantagista.

Moía a sua cabeça, quem se atrevia a tal proeza? Recorreu à sua rede local de “Irregulares de Baker Street”.

Os informadores identificaram o fulano. Seguiram-no e esperaram que saísse do carro. De posse da matrícula ─ fotografada com telemóvel ─, obtiveram-se os dados precisos para a falsificação.

Don R. cedeu às exigências. O local e horas de encontro escolhidas favoreciam-no, porque ele pretendia usar uma pistola com silenciador e matá-lo à queima-roupa logo que chegasse, de maneira a que o outro nem se desse conta do que estava a acontecer.

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  1. foi o primeiro a chegar, previdente para a troca. Colocou-se no sítio combinado. Encostou-se à duna ─ na zona oposta ao mar da praia da Madalena, àquela hora sem ninguém ─ de modo que não o surpreendessem pelas costas. Trazia um revólver no coldre sob o sovaco.

Don R. parou o carro com o guarda-costas dentro. Olhou à volta e ao avistar T. acenou-lhe. Este, por instinto, pôs-se em guarda.

─ Traz o dinheiro? ─ Perguntou ao vê-lo aproximar.

─ Está no carro. E, vamos lá a ver! Como é que sei que não há mais cópias da fotografia, que não volto a estar sob esta ameaça?

─ Tem a minha palavra. A emergência que deu origem a isto não voltará a repetir-se.

Neste  instante  T.  levou distraído a  mão  ao  bolso  e  Don R.,  desconfiado  da finalidade  do  gesto,  sacou  da  pistola  já  apetrechada  com  o  silenciador e desfechou-lhe um tiro “sem fala”.

Tinha  uma  certidão  de  óbito  falsa,  um  cartão  do  cidadão  falso,  e  toda  a documentação necessária para requerer o subsídio de funeral… falsificada.

Pelo smart ligou aos seus gatos-pingados para avançarem com o carro funerário e o caixão.

Foi  quando  o  guarda-costas,  que  tinha  procedido  à contrafação dos documentos, se  aproximou  do  corpo, retirou  a carteira  do bolso  interior  do  casaco,  e ao verificar  a identidade, disse para o patrão:

─ O carro não é dele.

 

CONVITE AO LEITOR

E pronto, caro leitor. Agora o passo seguinte é seu. Para tal, repetimos o nosso convite à sua participação na escolha dos melhores contos. O processo é simples. A partir de hoje, tem trinta (30) dias para fazer a avaliação, em função da sua qualidade e originalidade, do nono conto do nosso concurso, da autoria de Comissário Lanterna, e enviar a respetiva pontuação, numa escala de 5 a 10 pontos, para o email do orientador da secção (salvadorpereirasantos@hotmail.com).