A esmagadora maioria da população portuguesa respirou de alívio quando o cidadão, de seu nome Passos Coelho, deixou de constituir um pesadelo ao ser afastado da liderança da governação direitista de quatro longos e nefastos anos.
Acontece, porém, que o próprio ainda não se deu conta de que já deixou de ser primeiro-ministro de Portugal, pois não perde oportunidade, sempre que ela lhe é concedida, para entrar nos labirintos escusos do autoelogio bacoco da sua governança opressiva e agressora.
Sendo certo que a reparação dos estragos causados ao País e aos portugueses, nomeadamente os mais fragilizados social e economicamente, ainda vai no começo e o caminho é penoso e longo até entrarmos em velocidade de cruzeiro, podemos bem afirmar que a etapa inicial e imprescindível foi cumprida, permitindo respirar melhor, mas com a consciência plena do muito que ainda falta fazer.
Nunca é demais recordar, embora alguns possam pensar o contrário por excesso, algumas das malfeitorias causadas a muitos portugueses os quais em pouco tempo se viram sem trabalho, sem habitação, sem esperança no futuro e olhando os seus filhos forçados a uma emigração que ninguém queria, tudo isto em obediência cega às ordens impostas de fora, as quais o anterior governo até pretendeu reforçar indo além da troika, submetendo o País a uma enorme regressão de direitos sociais e laborais, aplicando um brutal aumento de impostos sobre o mundo do trabalho, efectuando um corte profundo de salários e pensões, causando a degradação generalizada na Saúde, no Ensino, na Segurança Social, na Justiça e na Função Pública, enfim uma ofensiva generalizada contra o Portugal de Abril.
No entanto, para o antigo governante, este panorama não parece merecer-lhe qualquer vislumbre de pejo ou até mea culpa a julgar pelo espectáculo ridiculamente apresentado pelas suas intervenções públicas, devidamente molduradas pela bandeirinha na lapela, sabendo que foi publicamente provada a falta de razão para a prática duma política sem escrúpulos por si dirigida contra direitos básicos dos cidadãos e o desenvolvimento económico do País.
Ainda há poucos dias «nesse engano de alma ledo e cego» exclamou despudoradamente: «E acham estas pessoas no Governo que podem estar a governar como se fossem impunes, sem darem uma explicação ao País, sem se retratarem, acusam os outros sem fundamento», ou seja, com um saber de experiência feito, acusa os outros daquilo que fez, pensando assim fazer prova de vida, fingindo esquecer os próprios passos e tentando ludibriar os incautos, sendo esta atitude insensata em termos pessoais e mesmo políticos.
O sentimento que sobressai da maioria dos portugueses, decorrido quase um ano e meio da actual governação, é uma clara aprovação da solução governativa encontrada, que a direita rotulou depreciativamente como geringonça, mas que já recuperou direitos e rendimentos, situação insuportável para os apologistas do neoliberalismo e do pensamento populista arcaico, que já deram suficientes provas daquilo que podem e valem.
Sem noção do ridículo e denunciando alguma paranoia, o anterior primeiro-ministro, após o seu afastamento da cadeira do poder, mas subjectivamente ainda nela sentado, face à nova solução governativa encontrada, não tendo conseguido conter-se, foi deixando pelo seu caminho discursivo algumas diatribes, tais como a «vinda do diabo» e a reivindicação dos «sucessos por aí propalados em relação a dados económicos no País», correndo assim sérios riscos de se tornar num maníaco da perseguição.