Há quem trabalhe muitas horas de pé, enquanto outros trabalham maioritariamente sentados, mas em ambos os casos, são os pés que suportam o nosso peso e os esforços a que estamos sujeitos no dia a dia, ajudando ao equilíbrio do corpo e permitindo a deslocação. Submetidos a uma grande tensão e desgaste, os pés são ainda assim frequentemente negligenciados.
Dado que estes são o alicerce da nossa postura e a nossa plataforma de movimento, os cuidados a ter com os pés devem ser prioritários. Quer devido ao aumento da pressão, a alterações dos ossos, articulações ou ligamentos, ao stress físico e a possíveis traumatismos, como também à ação de bactérias, vírus ou fungos, entre outras causas, são muitas as patologias que podem afetar os pés.
Contudo, o uso de calçado inapropriado surge como uma das principais razões para o aparecimento de problemas podológicos, podendo levar ao desenvolvimento de lesões e deformidades nos pés. Assim, se pensarmos que, em Portugal, se trabalha em média 45 horas por semana, podemos facilmente perceber a importância de escolher um calçado adequado para levar para o trabalho.
Em primeiro lugar, o sapato deverá ser adaptado à morfologia e tamanho do pé, uma vez que o uso de sapatos demasiado apertados poderá causar, a curto prazo, o aparecimento de calosidades, bem como problemas mais graves a longo prazo. Enquanto que os sapatos excessivamente largos são um fator de risco para alterações ao nível da musculatura do pé.
Que características deverá ter o calçado de trabalho?
O calçado tem como principal missão proteger os nossos pés, fornecendo-lhes estabilidade, com a capacidade de amortecer o impacto dos pés com o solo. Porém, quando o calçado é inadequado ao tipo de pé e apoio plantar, bem como à atividade do utilizador, poderá funcionar como um agente agressor, contribuindo, por exemplo, para o surgimento de dor, bolhas, calos e edema, ou para o desenvolvimento do joanete e de deformações nos dedos e unhas.
Desta forma, existem alguns tipos de calçado que deverá evitar, como os sapatos de saltos altos e finos. Além da sua utilização aumentar o risco de quedas e entorses no tornozelo, este tipo de calçado leva a um aumento da pressão na parte da frente do pé, que passa a suportar todo o peso do corpo, podendo causar inflamação dos ossos e nervos. A sua utilização regular é ainda um fator de risco para o desenvolvimento do joanete e poderá ser também causa de problemas nos joelhos e pernas. Ao alterar a postura do corpo, este sapato pode comprometer a saúde da sua coluna vertebral.
No entanto, os saltos completamente rasos, como chinelos e sabrinas, são também uma opção a evitar, dado que não são adaptados à anatomia do pé, podendo provocar alterações à nossa forma de caminhar. Como não oferecem um bom suporte ao arco do pé, obrigam a um maior esforço por parte da planta do pé e do calcanhar, pelo que a sua utilização regular está associada ao desenvolvimento de fasceíte plantar. A sola dos chinelos e sabrinas é também demasiado fraca para amortecer o impacto do pé nas superfícies duras.
Com o objetivo de proteger o pé de acidentes de trabalho e lesões em determinados setores, como na indústria metalomecânica, existem normas que definem as especificações para calçado de segurança (Equipamento de Proteção Individual), sendo o seu uso obrigatório.
É importante salientar que deverá procurar que o calçado se adapte ao pé e aos seus movimentos, tal como à sua atividade, e não o oposto. Ainda assim, regra geral, existem algumas indicações e recomendações na hora de escolher os sapatos para o trabalho:
- O calçado deve ser comprado ao final da tarde, altura em que os pés estão inchados;
- Tendo em conta que o volume do pé se altera ao longo do dia e que este não permanece imóvel, deverá ter uma margem de aproximadamente 1 cm entre o seu dedo grande e a ponta do sapato;
- Para uma melhor estabilidade do pé, opte por calçado com atacadores e com um bom contraforte na zona do calcanhar;
- A biqueira do sapato deverá adaptar-se aos dedos do pé, de modo a evitar dores nos nervos e o surgimento do joanete e de unhas encravadas, bem como o agravamento de deformações nos dedos, como os “dedos em garra”;
- Escolha um calçado que permita a ventilação do pé, de preferência em pele, de forma a prevenir a concentração de humidade e, assim, o surgimento de micoses;
- A pensar nas suas atividades do dia a dia, a sola dos sapatos deverá ser antiderrapante e com maior resistência ao desgaste;
- O salto deverá ser largo e com uma altura até 4 cm;
- Prefira um calçado leve e maleável, para evitar bolhas e calosidades.