Nas imediações da linha férrea, perto do apeadeiro de Coimbrões, em local vizinho do aquartelamento do Bombeiros Voluntários de Coimbrões, existe um terreno que integrou até há poucos meses várias edificações “monumentais” que chamavam a atenção pelo ar de mistério que transmitiam. O terreno comportava ao centro uma torre e três torreões de betão, lembrando um deles a entrada magnânima de um castelo, virada para a linha de comboio. Na verdade, tratava-se do que sobreviveu de uma propriedade hoje conhecida como Quinta dos Castelos, originalmente Quinta dos Três Castelos, que tinha por habitação principal uma casa de gosto romântico revivalista há muito demolida (no local onde agora existe a Escola Básica da Quinta dos Castelos), pertença de um senhor muito influente da cidade do Porto.
As singulares e curiosas construções, datadas de 1907, desta invulgar propriedade, que albergava um jardim luxuriante, do qual persistiam diversos elementos, como uma pequena gruta artificial, que continha um lago, e que podia ser vista através de um elegante portão com gradeamento há muito oxidado pela voragem dos tempos, eram causa de algum medo, inspirando todo o género de mitos urbanos bem conhecidos entre a população local mais sensível, que encarava este conjunto de “monumentos” sombrios com um certo desagrado. Estranhava-se, por isso, a situação de abandono a que o terreno foi sendo votado, tanto mais que a Câmara Municipal acabaria por se transformar no seu proprietário, não se encontrando, assim, uma explicação para a sua não requalificação como espaço público.
A explicação para esta ausência de projetos municipais desenhados para o espaço veio subitamente, fez há pouco 17 anos, quando se soube através da comunicação social que, em reunião realizada no dia 20 de dezembro de 2007, o conselho diretivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deliberou autorizar a constituição do famigerado Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado “Gaia Douro”, gerido pelo Fundimo (atual Fundger), do Grupo Caixa Geral de Depósitos, que integrava então 22 imóveis e terrenos de património municipal que poderiam ser alienados a qualquer momento, e com os quais a Câmara procurava “tapar” uma pequena parte do imenso buraco financeiro cavado ao longo dos anos de gestão de Filipe Menezes. Entre esses bens figuravam dois edifícios e três terrenos sitos na freguesia de Santa Marinha, sendo um deles a… Quinta dos Castelos.
Estranho também é que, mesmo depois de conhecida aquela deliberação da CMVM, os sucessivos presidentes da Junta de Freguesia (agora União de Freguesias), continuaram a inscrever nos seus respetivos Planos de Atividades, com “chancela” de prioridade, a requalificação da Quinta dos Castelos, defendendo nomeadamente a sua “transformação num centro de lazer para a população sénior e de divertimento para a juventude”, em “colaboração com a Câmara Municipal”. O que é revelador de que os Planos de Atividades são por eles entendidos como uma espécie de listagem de coisas arroladas a esmo, que podem ser concretizadas ou não, pouco importa. Ou seja, aquilo que devia ser um documento de objetivos estratégicos ancorados num elenco de ações prioritárias que visem a sua efetiva concretização, com metas temporais de monitorização precisas, em patamares anuais e plurianuais, com uma clara definição das grandes opções, sustentadas num orçamento e planeamento rigorosos, não passa afinal de um somatório de… intenções inconsequentes.
A esta falta de rigor e de sintonia entre a freguesia e o município sobre o que se perspetivava para a Quinta dos Castelos, o que apenas contribui para aumentar ainda mais a desconfiança dos cidadãos nos seus representantes políticos, acresce o abandono a que o terreno foi sendo votado ao longo dos anos. Isto apesar das constantes reclamações dos moradores e dos encarregados de educação dos alunos da Escola Básica vizinha contra o estado deplorável do espaço, devido à falta de limpeza e ao seu uso por parte de alguns cidadãos, e seus animais domésticos, que ali defecavam e urinavam, criando as condições propícias ao aparecimento da mais variada bicharada que invadia o terreno a coberto de um denso matagal que crescia sem que fosse objeto qualquer de desbaste ou tratamento regular.
Restava-nos a esperança de que os sinos tocassem a rebate na Casa da Presidência, e o seu “inquilino” decidisse finalmente devolver a Quinta dos Castelos à cidade como um “pulmão verde” em forma de espaço multifuncional e intergeracional, que funcionasse como um verdadeiro ponto de encontro e de convívio, de cruzamento e interação de públicos heterogéneos, dotado de equipamentos e de mobiliário urbano que permitissem diferentes utilizações por crianças, jovens e adultos, como o estudo, o entretenimento, a cultura, o desporto e o exercício físico. Até porque o Presidente da Câmara afirmara publicamente, de forma convicta e inflamada, que aquele terreno seria devolvido à cidade para fruição pública.
Mas eis que, por fim, chegou a notícia de que aquele extraordinário património seria afinal destinado a mais um empreendimento… imobiliário! Seria bom, por isso, que os candidatos das várias formações políticas à liderança da autarquia dissessem ao que vêm no que diz respeito ao desenvolvimento de políticas que privilegiem a defesa dos interesses dos seus habitantes, no que concerne à melhoria da sua qualidade de vida e do meio ambiente…