CAVALHADAS DE SÃO PEDRO HONRARAM LEGADO COM 460 ANOS DE HISTÓRIA

As ímpares Cavalhadas de São Pedro mobilizaram milhares de pessoas que, no passado dia 29 de junho, saíram à rua para admirarem o desfile, que partiu do Solar da Mafoma, na Ribeira Seca, até à igreja com orago daquele santo, rumando, posteriormente, com destino à cidade da Ribeira Grande. Este ano, foram 140 os cavaleiros, entre lanceiros, mordomos, peões, corneteiros e o rei, que envergaram os seus melhores trajes, para honrarem um legado que tem 460 anos de história.

 

A história das Cavalhadas de São Pedro remonta a 1563, ano em que o vulcão do Pico do Sapateiro entrou em atividade, deixando a Ribeira Seca quase totalmente subterrada e a ribeira seca. No entanto, a lava rodeou a Ermida de São Pedro, deixando a imagem intacta, o que, na altura, foi considerado por muitos como sendo um milagre.

Anos mais tarde, outro vulcão entrou em erupção e o Governador da Ilha, que vivia em Vila Franca do Campo, lembrou-se do fenómeno ocorrido na Ribeira Seca e prometeu que se o seu palácio e a sua esposa, que estava grávida, sobrevivessem, visitaria São Pedro todos os anos, enquanto tivesse vida, no seu dia, 29 de junho. Apesar da grande destruição causada pela crise vulcânica, a família e o palácio do Governador foram poupados, pelo que nesta data, dirigiu-se em longa procissão com os seus vassalos, mordomos do Divino Espírito Santo e peões, envergando os seus melhores trajes. Chegados à ermida, o fidalgo declamou em quadras evidenciando a vida do santo, deu sete voltas ao adro, em representação dos sete dons do Espírito Santo, e dirigiu-se para a Ribeira Grande, onde deu três voltas à Igreja do Espírito Santo e três à Ermida de Santo André, irmão de São Pedro. Com o passar dos anos, cada vez mais o povo se juntou a este cortejo e, após a morte do Governador, como a devoção já era grande, o desfile continuou a ser celebrado.

Atualmente, as Cavalhadas concentram-se às 13 horas do dia 29 de junho, Dia de São Pedro e Feriado Municipal, junto ao Solar da Mafoma, saindo em desfile até à Igreja Paroquial da Ribeira Seca. O percurso continua com destino à cidade da Ribeira Grande, realizando-se, ainda, as três voltas à Igreja do Espírito Santo e à Ermida de Santo André.

Englobadas na tradição, estão também as Cavalhadas Infantis, que se iniciam a partir das 9h30 e reuniram mais de 60 crianças, trajadas a rigor e montadas em cavalos de madeira. Assegurando que se sabe pouco sobre este desfile, José Manuel Aguiar, presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, explicou, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, que “conta com a participação de várias instituições. Os professores tentam que as crianças imitem as embaixadas, tendo em vista preservar esta tradição. Porém, continua a ser uma manifestação de fé, enraizada no povo da Ribeira Seca, porque é aqui que estão as Cavalhadas”.

Assim, esta edição de um legado com 460 anos contou com a participação de 140 cavaleiros, devidamente trajados, que desfilaram ao longo de cerca de cinco horas, como manda a tradição. “Foi muito comovente. Depois das celebrações do Divino Espírito Santo, são as Cavalhadas de São Pedro que marcam a Freguesia da Ribeira Seca e o concelho da Ribeira Grande”, salientou o edil.

Integrando o roteiro cultural da Ilha de São Miguel, esta tradição secular atraiu milhares de pessoas, superando, segundo o autarca, todas as expectativas. “As Cavalhadas de São Pedro são uma tradição única no país e talvez no mundo, o que fez com que muitos turistas e emigrantes estivessem de visita a este território, para assistirem ao desfile, que é peculiar e representa a nossa identidade”, asseverou José Manuel Aguiar.