“DAQUI PARA A FRENTE QUERO VIR MAIS VEZES AOS AÇORES FAZER CONCERTOS”

Joe Carlos Terceira, mais conhecido simplesmente por JCT, nasceu em Toronto, no Canadá, mas é nos Açores, mais propriamente em Rabo de Peixe, terra dos pais, que se sente bem. Admitindo que, se pudesse, ficava por cá, o cantor que esteve prestes a desistir da música promete continuar a cantar em português para que “todos os portugueses tenham orgulho”.

 

Nasceu em Toronto, filho de pais de Rabo de Peixe, conte-nos um pouco a sua história.

Comecei na música com 9 anos de idade, o meu avô fazia as despensas aqui na vila de Rabo de Peixe, há muitos anos, e quando tinha 8 anos, quando foi ver os meus pais a Toronto pelo Natal, ele levou uma cassetes das despensas que ele fez naquele ano, e vi uns jovens a tocar acordeão, e fiquei apaixonado. Os meus pais sempre cantaram também nas despensas que o meu avô fazia e vi que tinha gosto para o acordeão e fui com o meu pai a uma loja de instrumentos musicais e escolhemos um acordeão para mim. Trouxe para casa, comecei a tocar, o meu avô viu que eu tinha jeito e ouvido para a música e disse ao meu pai que me devia meter na escola. E então o meu pai leva-me para lá todas as semanas à sexta-feira depois de vir do trabalho, que ele trabalha em construção, pegava em mim e levava-me para a escola e todas as semanas tinha 1 ou 2 horas de lições de música. E mantive-me lá durante 3 anos só com o acordeão, e ao fim desse tempo comecei a tocar de ouvido. Desisti da escola e, aos 15 anos de idade, comecei a trabalhar numa fábrica e eles fazia instrumentais no computador e eu aprendi também. Fui devagarinho fazendo instrumentais, não era nada de mais, mas já tinha algumas ideias. E também fazia algumas despensas com o meu pai nas Igrejas, nos salões, fizemos muitos concertos. Mas com 19 anos de idade fiquei um pouco farto, já tinha perdido a vontade, e desisti de tudo. Tocava de vez em quando, mas já não era a mesma coisa. E depois, em 2017, tinha um amigo que tinha um estúdio e convidou-me para ir lá e mal entrei no estúdio, veio-me aquela vontade de voltar à música. Fiz um CD naquele tempo, com os meus primos quando me foram visitar ao Canadá, e tinha 4 canções, tudo desgarradas. E mandei para cá umas 50 copias do CD e ainda devem andar por aí algumas, foi uma brincadeira que fizemos. Mas em 2017, com esse amigo, fiz o meu primeiro single e tenho colocado desde então mais de 25 singles, 10 videoclipes e irei continuar.

 

As músicas e letras são sempre originais?

Sim.

 

Como é que alguém que nasce em Toronto lança quatro canções de desgarradas, que são um produto típico dos Açores?

Hoje em dia é mais fácil, porque tenho mais experiência, no início era difícil, fiz da maneira que sabia, a minha mãe ajudava porque cantava, e muitas das que cantava eram as que já tinha ouvido de outras pessoas. Mas para mim foi uma experiência, deu-me vontade e tive confiança de que sabia fazia. Deu-me ideias para o futuro.

 

E atualmente, que tipo de música gosta mais de compor? Compõe em português e inglês?

Faço nas duas línguas e também em espanhol. Os meus primeiros singles foram todos em inglês, mas depois o meu pai incentivou-me a fazer música em português para a nossa comunidade e fazia, mas não tinha bem as ideias porque tinha a cabeça só na música inglesa mesmo. Mas depois em 2020, ou 2021, fiz a primeira música em português e agora a minha vontade é fazer música portuguesa com instrumentais espanhóis porque passo muito tempo na Bahamas e no México. E então comecei a usar o sistema de música deles com a letra em português.

 

Qual a música que mais gostou de fazer e aquela que mais lhe diz?

Para mim, a que me diz mais, é o tipo de música que faço agora, letra portuguesa combinada com instrumentais espanhóis. Gosto de como me faz sentir e de como faz sentir quem ouve, e penso que é um tipo de música que vou continuar a fazer, e quero ver quais as portas que vai abrir para novas ideias.

 

Um filho de rabopeixenses, nascido em Toronto, a nostalgia criada pelos familiares da terra de origem os seus pais, alguma vez recebeu algum convite para vir atuar aos Açores?

Já vim cá atuar nas despensas três vezes. Este ano é a primeira vez que cá venho e até vou falar com algumas pessoas para fazer concertos. Daqui para a frente quero vir mais vezes aos Açores fazer concertos. Já fiz em Toronto e nos EUA, agora quero vir cá.

 

E em Portugal continental, tem ambição de atuar?

Quero claro. Tenho ideias para mais músicas. O ano passado cheguei a fazer duas músicas com cantores do continente e que vão sair ou ainda este ano ou no início do próximo.

 

O que sente um filho de portugueses no Canadá? Que imagem tem do país dos seus pais?

A imagem que tenho é bastante interessante porque sou de Toronto, venho para cá e gosto dos Açores, e vivia aqui. É interessante ver que muitas pessoas saíram daqui para ir para o Canadá pela oportunidade de trabalhar e ganhar mais dinheiro, montar uma família, porque lá há mais oportunidades. O meu pai saiu de cá com 11 anos de idade e ficou sempre lá, vem de férias apenas, e gostam muito de vir cá. Temos muita família aqui. Mas quando eles estão lá sentem-se um pouco estranhos da distância das suas vidas aqui.

 

Quando chega a Rabo de Peixe e se coloca a olhar para o mar, em que pensa?

A primeira coisa em que penso é no meu avô que morreu no mar, aqui. Da casa onde estou, vemos o sítio onde ele morreu há 30 anos, há algumas pessoas que ainda se lembram disso. Penso muito nisso, e penso também que o que estou a fazer na música, tenho mesmo de o fazer, porque tive o meu avô e o meu pai que apostaram em mim. Então, estou a fazer mais por eles, como uma homenagem. Quando parei 10 anos pensei que não ia fazer mais música, mas de alguma maneira, estou aqui outra vez. Se calhar, isto foi o meu avô do outro lado que estava sempre a puxar por mim.

 

Quais são as suas ambições no campo musical?

É continuar a pôr música boa cá para fora. Não gosto de pensar muito para a frente, gosto de pensar no presente e no que tenho no momento, e o meu pensamento neste momento é continuar a fazer bons singles, bons videoclipes, vim cá para gravar umas imagens na ilha, para as canções que vão sair mais para a frente. É pensar no que estou a fazer agora e continuar. Como estive 10 anos fora disto, tenho dias em que me arrependo, de que perdi aqueles anos, de tudo o que fiz desde 2018 até agora, se não tivesse perdido esses 10 anos, já tinha feito 10 vezes mais. Mas tive de parar, e até penso que se isso não tivesse acontecido se calhar não tinha este amor pela música.

 

Quem quiser conhecer as suas músicas como o pode fazer?

Pode ir a qualquer plataforma, Spotify, ITunes, YouTube…. Tenho um dos maiores canais de YouTube de portugueses no Canadá e nos EUA. Para contatos sobre concertos, podem entrar em contato comigo pelo meu site: www.jctofficial.com ou pelo e-mail: info@jctofficial.com ou pelo instagram @jctofficial7.

 

Qual a mensagem que gostaria de deixar aos açorianos e aos portugueses?

Eu sou canadiano, nasci no Canadá, mas sinto muito orgulho de ser português. Tenho muita confiança agora para fazer músicas boas para a nossa comunidade e quero deixar a mensagem de que vou continuar a puxar sempre mais de mim para fazer um trabalho bom e quero que se orgulhem de mim, de ser uma pessoa de fora a puxar por eles. Isso é importante para mim, quero que gostam de mim e da minha música, quero que sintam isso de mim da mesma maneira que sinto dos portugueses. Já vim cá quatro vezes e sempre que vou embora não gosto. Se eu pudesse ficar aqui, ficava. Quero dar concertos aqui, no continente, no Algarve, gostava também de ir a Cabo Verde e à Madeira. Os meus sonhos é fazer concertos nas ilhas todas e em Portugal. No Canadá e nos EUA é sempre mais fácil do que cá.

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