Imagine, caro leitor, que era dono de uma casa. Os anos iam passando, mas não realizava pinturas, não corrigia o problema nos esgotos das instalações sanitárias, não reparava a iluminação avariada, não substituía o frigorífico que estava avariado, não limpava os respiradouros, não envernizava as traves de madeira, não substituía as telhas partidas, e assim por diante.
Passados 30 anos, o leitor decidia que a casa já não tinha condições de habitabilidade e teria de ser demolida e reconstruída de novo.
Perante este cenário, qualquer pessoa diria que nunca se deveria ter chegado a tal ponto e que deveria ter sido realizada a devida manutenção, em tempo e horas, permitindo que o imóvel durasse mais de 50 anos, sem grandes intervenções de fundo e mantendo um bom valor de mercado.
Agora imagine que, em vez de ser uma casa particular, estivéssemos a falar de edifícios públicos, sejam eles do governo da República, do governo regional ou das autarquias. Poder-se-ia até dizer que deveríamos ser ainda mais exigentes com a manutenção destes edifícios, não só para garantir que perdurem por mais anos, mas também para assegurar que estão em boas condições para acolher trabalhadores e o público em geral.
Pois bem, o que temos vindo a assistir ao longo dos tempos é exatamente o contrário. Os orçamentos nacionais, regionais e municipais, em vez de garantirem verbas para a manutenção dos edifícios públicos, veem esse montante reduzir todos os anos, sendo transferido para a construção de novas infraestruturas. É o ciclo sem fim, pois também esses edifícios, em breve, voltarão a estar obsoletos ou, pior ainda, tornam-se elefantes brancos, sem qualquer uso efetivo.
Ano após ano, os exemplos são inúmeros: desde o Hospital do Divino Espírito Santo, que tem menos de 30 anos de utilização e já se fala na construção de um novo hospital, às escolas como a Antero de Quental, que não dispõe de verbas para substituir lâmpadas fundidas; a escola das Capelas, onde até há pouco tempo chovia no interior; a dos Arrifes, que precisou de ser totalmente reconstruída; e esquadras da polícia e tribunais que não veem um balde de tinta desde a sua inauguração e onde também chove.
Até quando iremos continuar nesta senda? A região não precisa de reconstruir infraestruturas! O que a região necessita é de realizar uma manutenção conveniente e adequada às suas necessidades!
Temos de corrigir, com urgência, as situações decrépitas a que chegámos e repensar se queremos um bom serviço público durante 50 anos ou se estamos condenados a estes ciclos repetitivos. O dinheiro não chega para tudo. Aproveitemos, então, para manter e preservar o muito que já temos!