Baptizado de «coletes amarelos» por causa dos coletes de sinalização usados pelos manifestantes, este movimento popular começou em meados de novembro na França em protesto contra a alta do preço dos combustíveis.
Porém, a mobilização ganhou força e conteúdo transformando-se num protesto generalizado contra a baixa do poder de compra e as medidas económicas impopulares do presidente da França, Emmanuel Macron, eleito na base de promessas que seguramente sabia que não iria cumprir ou não fosse ele mais um mandatário do grande capital, convencido de que seria o salvador da França e o exemplo para o mundo contra as reivindicações sociais.
Cedo se tornou no mais impopular presidente dos franceses nos últimos 60 anos e, face às repercussões dos protestos, viu-se obrigado a anunciar uma série de medidas para tentar conter as manifestações, nalguns casos violentas e assim sendo foram aprovados o aumento de 100 euros no salário mínimo, várias isenções fiscais, a manutenção do preço do combustível, restabelecimento do imposto sobre as fortunas e a defesa dos serviços públicos, mas nem assim uma boa parte dos líderes dos «coletes amarelos» deixou de insistir na continuação dos protestos e o mal estar social em França parece ter-se instalado um pouco por todo o lado.
Apesar de a capital do País ter funcionado como o ponto de maior convergência dos protestos, existem cerca de 230 outras localidades com movimentações populares e também bloqueios de estradas que as transformaram num autêntico parque de estacionamento e criaram um caos nos transportes e nas vias de acesso às principais cidades do País.
Apesar de algumas agências de informação terem noticiado que o protesto, já com cinco fins de semana consecutivos, ter abrandado no sábado passado, o certo é que vários partidos, organizações de esquerda e sindicatos se juntaram aos manifestantes que asseguram não desistir da luta, apesar da fadiga ser enorme, as temperaturas se situarem próximas dos zero graus centígrados, de existir influência do atentado de Estrasburgo e os contingentes policiais terem sido reforçados.
Nas lições a tirar desta situação destaca-se essencialmente a de que os governantes não podem e não devem exercer os respectivos mandatos contra os direitos e interesses dos trabalhadores e dos povos, nem tão pouco ser permissíveis às políticas ditas reformistas que trazem consigo a tentativa de restauro do fascismo que vai paulatinamente fluindo, mas sim promover a justiça social e o desenvolvimento económico dos países.
«Macron anunciou migalhas são sempre os mesmos que comem o bolo», afirmou uma sindicalista ferroviária de 25 anos filiada na CGT, concluindo que para obter resultados é preciso «estarem todos juntos nas ruas».
O rastilho parece ter sido acendido e pelos nossos lados a PSP vai estar de prevenção em 21 de Dezembro, dia previsto para manifestações em Portugal do movimento «coletes amarelos», antecedendo manifestações de grande dimensão em todo o País.
«Vamos ter manifestações de grande dimensão em todo o país e mandam as regras do bom senso ter pessoal operacional», disse à Lusa o porta-voz da Direcção Nacional da PSP, intendente Alexandre Coimbra, adiantando que a preocupação neste momento se prende com a dimensão do evento e não com qualquer informação de possíveis confrontos.
O porta-voz adiantou que a PSP irá reunir-se com os promotores das concentrações «para assegurar que tudo possa decorrer dentro da normalidade, não estando ainda definido o contingente nem os meios a ser utilizados.
Por outro lado e em declarações à TSF, o dirigente da ASPP-Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues, calculou que serão mobilizados cerca de 20 mil polícias. «Olhando para o despacho feito pela direção nacional da polícia, leva-me a crer que mais de 90% dos polícias estarão ao serviço. Só estão excepcionados casos especiais ou que estejam de férias. Todos os outros cerca de 20 mil polícias vão estar de serviço. O despacho é claro nesse sentido: não há direito a folgas nem a créditos horários», acrescentando ainda que «há uma grande preocupação» relativamente aos protestos agendados.
«Estamos a falar de protestos que podem, eventualmente, esperamos que não, ser semelhantes aos de França. São protestos bastante complicados em termos de gestão e controlo de ordem pública. Nunca existiram em Portugal, pelo menos nesse modelo, e por isso há uma grande preocupação. Apela-se a todos os polícias que estejam ao mais alto nível naquele dia», acrescentou Paulo Rodrigues.