“O NOSSO OBJETIVO É TRANSFORMAR GAIA NA CIDADE DAS ARTES”

Começa no próximo dia 8 de julho a II Bienal Internacional de Arte de Gaia, um evento organizado pela Cooperativa Artistas de Gaia em colaboração com a Câmara de Gaia que decorrerá até 30 de setembro.

O AUDIÊNCIA esteve à conversa com Agostinho Santos, diretor da associação e o grande mentor deste projeto que, em 2015, provou ser um sucesso. Este ano, a 2ª edição do evento terá como destaque as causas sociais, considerando Agostinho Santos que esta será, de facto, “uma Bienal de Causas”.

Além de Gaia, outros oito municípios receberão polos desta Bienal embora Agostinho Santos confesse que o seu maior desejo era “transformar Gaia na cidade das artes”.

 

 

Desde que nasceu a ideia da Bienal até hoje, tem sido um projeto de sucesso.
Não sei se é de sucesso, é um sonho que está a ser realizado e estamos a conseguir, de facto, levar à concretização dos nossos objetivos. Começamos em 2015 com a I Bienal que foi uma bienal local e da Área Metropolitana do Porto, em que tivemos 433 artistas e 18 exposições, e agora, a II Bienal Internacional de Arte de Gaia terá como grande vertente a internacionalização. A nossa grande aposta foi abrir um concurso a nível internacional a que concorreram artistas de todo o mundo e este ano vamos ter a participação de artistas de 11 países. Vamos contar com obras de mais de 500 artistas, ao todo serão mais de 1500 obras, e vamos ter 32 exposições.

 

Ao contrário da primeira edição, este ano as exposições estarão concentradas no mesmo espaço.
Sim, vamos concentrar a nossa Bienal em Gaia no Centro Empresarial Fercopor, num dos pavilhões com cerca de 6 mil metros quadrados, mas vamos ter ainda em Gaia uma exposição na Biblioteca e outra no Convento Corpus Christi. Mas optamos por centrar para dar uma visão mais completa do que se tem feito e uma visão da arte contemporânea. E, por isso, vamos ter duas exposições de artistas contemporâneos e de artistas homenageados que é ao Guilherme Camarinha e a pintora Graça Morais, cada um vai ter direito a uma antologia e assim o público vai perceber melhor o percurso desses dois grandes artistas. Além disso, vamos ter 32 exposições espalhadas por Vila Nova de Gaia e por oito municípios como Porto, Gondomar, Barcelos, Vila Nova de Cerveira, Monção, Figueira da Foz, Seia e Viana do Castelo.

 

Qual o principal objetivo desta II Bienal Internacional de Arte de Gaia?
O nosso grande objetivo é mostrar, fazer um grande evento, uma grande bienal que mostre a contemporaneidade dos artistas. Gaia é uma terra de artistas, é uma terra tradicionalmente artística, desde o tempo de Teixeira Lopes e Soares dos Reis até aos dias de hoje. Ou seja, levar o público à nossa Bienal. Estamos a criar aqui, conjuntamente com a Câmara, porque isto é organizado pelos Artistas de Gaia com a colaboração da Câmara Municipal e com o empenho pessoal do presidente da Câmara, que tem dado um apoio incondicional, e estamos a fazer uma grande campanha de publicidade à Bienal porque queremos criar hábitos no público para a Bienal de Gaia. Achamos que a arte não deve ter muros nem fronteiras, e é por isso que além de levar a arte ao público de Gaia vamos levar também a oito municípios. Esse é o grande objetivo, queremos mostrar a arte que se faz em Gaia mas também queremos que os artistas de todo o país e do mundo venham cá. E esta participação de artistas de 11 países já é o primeiro passo nesse sentido. O nosso objetivo, como não me canso de dizer, é transformar Vila Nova de Gaia na cidade das artes. E temos todas as condições para isso. Vila Nova de Gaia tem todas as condições para a médio prazo sermos a cidade das artes. E esta bienal é um grande contributo acho eu. Este ano, também porque estamos num município solidário, que se preocupa com os outros, já que esta Câmara tem como uma das principais prioridades apoiar os mais desprotegidos, vamos chamar à Bienal uma Bienal de Causas.

 

O que é uma Bienal de Causas?
É uma bienal que vai integrar várias exposições temáticas sobre assuntos que nos incomodam e nos preocupam. Não podemos de maneira nenhuma fazer como a avestruz e enterrar a cabeça na areia ou sacudir a água do capote se vê, todos os dias, situações de injustiças, cenários de guerra, invasões de território, atos bombistas, inocentes a morrer. Por isso, lançamos esse desafio aos artistas, porque os criadores, seja da área das artes, da literatura, da dança, da música ou do teatro, não podem, de forma alguma, ficar alheios a isso. Por isso é que vamos ter exposições específicas, por exemplo, sobre o tema dos sem-abrigo, que é uma realidade de hoje, há centenas ou milhares de pessoas no país, e no mundo milhões, a viver na rua. E desafiamos alguns artistas a abordar esse tema. No fundo, queremos dar uma perspetiva sobre temas que, normalmente, não são muito abordados pelos artistas. Não é que não nos interesse o belo, a paisagem, a beleza, mas o que nos preocupa também é abordar o lado de lá da arte, a arte com sentimento, com emoção, a arte que inquieta, e esta bienal pretende exatamente agitar as consciências e por as pessoas a refletir sobre o que se passa. Também por isso é que também vamos ter uma exposição sobre a paz. Desafiamos os artistas a trabalhar a paz e a guerra, naturalmente. E também temos uma exposição só de artistas homossexuais, e outra de animais, a importância dos animais na sociedade, a relação que devemos ter e como devemos tratar os animais. No fundo, são exposições didáticas.

 

Há mais novidades para esta edição?
Sim, também vamos ter uma que acho muito interessante que, pela primeira vez, vamos ter na Bienal. Abrimos um concurso pelas escolas secundárias de arte de Gaia e, tanto no ano passado, como em 2017, as melhores obras vão integrar a Bienal. Isto porque queremos sensibilizar os jovens artistas e a comunidade estudantil, assim como os professores, para a importância da arte nas escolas. E, por isso, abrimos um concurso e vamos envolve-los. É um risco que se corre, temos consciência, porque vamos expor com os maiores nomes da arte contemporânea, porque a Bienal vai ter uma exposição de artistas convidados como a Graça Morais, o Nadir Afonso, Júlio Resende, e ao lado terá essa exposição de artistas jovens, das escolas, precisamente para os sensibilizar para a arte. Queremos captar o público escolar.

 

Isto quer dizer que a Bienal se transformou numa onda imensa…
Esse é outro grande objetivo. E ainda bem que fala em Onda Bienal porque nós dentro dessa ideia de querermos transformar Vila Nova de Gaia na cidade das artes, e como entendemos que o município pretende ter esse título de “cidade das artes”, não se pode reduzir ao trabalho de fazer uma Bienal de dois em dois anos. E, por isso, criamos, conjuntamente com a Câmara Municipal, o chamado projeto Onda Bienal, que é exatamente para os anos em que não há bienal. Já em 2016 levamos as exposições dos Artistas de Gaia a várias cidades, foi até uma fase experimental. As cidades onde este ano vamos ter polos da bienal já foram em 2016 palco de pequenas exposições dos nossos artistas. Portanto, a Onda Bienal é exatamente um pretexto para se divulgar a Bienal dos próximos anos. A Onda é contribuirmos para que as pessoas, para que os artistas, se sintam motivados e que continuem a criar e, por outro lado, criar novos públicos para que adira não só ao polo da bienal em Gaia mas a todos os polos.

 

Já equacionaram a hipótese de abrir um polo fora do continente, por exemplo, nos Açores?
Temos os pés bem assentes na terra e queremos construir uma grande bienal a nível nacional e internacional. Mas temos consciência que partimos do zero e, portanto, só se pode fazer isso subindo degrau a degrau. E já vai haver uma grande diferença entre a Bienal de 2015 para a de 2017. Por exemplo, em 2015, além de Gaia, só fomos ao Porto, agora já vamos a oito municípios. E por aí fora, vamos tentando subir os degraus porque acreditamos que existe espaço para uma Bienal como esta, uma “Bienal de Causas” que se preocupa com os outros. Mas é um desafio interessante, e estamos totalmente disponíveis para ou o incluir no projeto Onda Bienal 2018 ou na Bienal de 2019. Podemos perfeitamente ter um polo de artistas da Bienal nos Açores, porque quando fazemos os polos nos municípios, fazemos isso assente numa estratégia. Levamos os nossos artistas lá, mas, ao mesmo tempo, convidamos os artistas locais a juntarem-se a nós.

 

Sendo uma exposição de causas, Rabo de Peixe é a maior freguesia dos Açores e é uma freguesia alvo de estudo, inclusivamente, por parte do presidente da Câmara de Gaia. Daí que a proximidade entre a Ribeira Grande, nos Açores, e Gaia não é assim tão grande…
É um desafio e estamos totalmente disponíveis, queremos divulgar o nosso município.

 

Quando idealizou realizar um evento destes em Gaia, alguma vez sonhou que viesse a atingir dimensão que veio a atingir?
Sonhar sonhei, porque ainda não se paga imposto para sonhar. E sou daqueles que ao fazer, faz-se as coisas bem-feitas. É melhor fazer as coisas bem-feitas do que não fazer. E quando começamos a esboçar alguns projetos, soubemos bem estruturá-los e saber para onde queríamos ir. Claro, tivemos a consciência que não se podia fazer as coisas de um momento para o outro. Portanto, disse sempre desde a primeira intervenção que fiz, a propósito da primeira Bienal, que o que nos esperava era uma grande escadaria e que teríamos de subir degrau a degrau. E o nosso grande objetivo está a ser cumprido, todos os dias.

 

E a uma grande velocidade…
Sim, porque tenho tido a sorte de ter uma boa equipa nos Artistas de Gaia e temos tido a colaboração da grande maioria dos artistas, a nível nacional. Hoje a Cooperativa Artistas de Gaia é a maior instituição do país formada só por artistas. Há várias cooperativas que têm sócios que não são artistas mas esta tem cerca de 600 sócios só artistas. E também tenho a sorte de estar rodeado de pessoas que se esforçam e de ter o atual executivo dirigido pelo Eduardo Vítor Rodrigues que é sensível a este tipo de coisas. Sem a Câmara não seria possível.

 

2ª Bienal Internacional de Arte Gaia 2017
8 de julho a 30 de setembro

Desenho, pintura, escultura, fotografia, cerâmica, instalação, vídeo
Exposições / seminários / debates / edição de livros / catálogo / cartazes
32 exposições / 500 artistas / 1500 obras / 11 países

 

1 – Exposição/Concurso Internacional aberto a artistas de todo o Mundo, com a atribuição do Grande Prémio da Bienal / Câmara Municipal de Gaia, Prémio de Escultura Zulmiro de Carvalho / Câmara Municipal de Gondomar e Prémio Águas de Gaia

— Exposições antológicas dos artistas convidados:
2 – Graça Morais – Curador Jorge Costa
3 – Guilherme Camarinha – Curador Armando Coelho (na Fundação José Rodrigues)

4 – Exposição de Artistas Convidados com a participação dos maiores nomes da arte contemporânea – Curador Agostinho Santos

5 – Exposição Anual dos Sócios de Artistas de Gaia – Curadoras Helena Leão e Luísa Prior

6 – Exposição Gaia todo um mundo / Artes plásticas – Curadores Helena Fortunato e Júlio Costa

7 – Exposição sobre a Paz – Curadores Mirene e Ilda Figueiredo

8 – Exposição Sem-abrigo, e se fosses tu? – Curador José Silva

9 – Exposição de Jovens Artistas – Curador Filipe Rodrigues

10 – Exposição de Escultura Centrífuga – Curador Norberto Jorge e Rui Ferro

11 – Exposição de Cerâmica – Curador João Carqueijeiro

12 – Exposição Viagens / Arte Postal – Curadores Avelino Rocha e Raúl Valverde

13 – Exposição A arte nas escolas – Curadora Nazaré Alvares

14 – Exposição Animal que sou – Curadores José Cândido Lopes e Margarida Ibañez

15 – Exposição Nem só de pão… – Curadora Nazaré Álvares

16 – Exposição documental sobre A Escola de Gaia – Curador António Conde

17 – Exposição de Cadernos de Desenho do Padre Nuno

18 – Exposição Ser ou não ser… eis a questão! – Curador José Rosinhas

19 – Exposição de pequeno formato de Artistas Brasileiros PAND’ARTECOBRAS – Curador Fernando Durão

20 – Exposição de Vídeo/Instalação O consumo na contemporaneidade – Curador Paulo Moreira e Teixeira Barbosa

21 – Exposição Mater Dei Mater Ecclesiae, Mãe de Deus Mãe da Igreja – Curadores Bruno Marques e Padre António Coelho

22 – Exposição na Casa de Gramido Como viver junto – Curador Humberto Nelson

23 – Exposição Cerveira em Gaia – Cabral Pinto

24 – Exposição de José João Brito Pronúncia do Norte

25 – Exposição integrada na Bienal de Cerveira – Polo de Vila Nova de Cerveira – Curadores Filipe Rodrigues e Humberto Nelson

26 – Exposição Polo de Gondomar

27 – Exposição Polo da Figueira da Foz

28 – Exposição Polo de Monção – Curador Ricardo de Campos

29 – Exposição Polo de Seia

30 – Exposição Polo de Barcelos

31 – Exposição Polo do Porto

32 – Exposição Polo de Viana do Castelo

Organização: Artistas de Gaia- Cooperativa Cultural; Apoio: Câmara Municipal de Gaia.

Parceria com várias autarquias e instituições culturais.