A cultura com o decorrer da pandemia, foi empurrada para um papel descartável, ingrato e perigoso na medida em que os que dela dependem foram empurrados para uma situação económica e social altamente vulnerável.
No entanto se pensarmos a fundo enquanto a linha da frente combatia e combate a covid-19 os serviços de streaming de séries, filmes e música somam à velocidade da luz a venda de novas subscrições tendo atingido este ano valores históricos o que revela a dependência do ser humano pela tão maltratada cultura.
A verdade é que os nossos artistas são os melhores embaixadores da nossa identidade em todo o mundo.
São em si mesmos, a boca do nosso povo através dos movimentos da dança, as nossas palavras através do teatro, as cores dos nossos rios e das nossas vidas através do cinema e nossa alma através da música.
São no fundo o retrato mais fiel do ADN do nosso povo, o nosso património imaterial e este motivo prendeu a minha atenção na edição deste ano do The Voice Portugal após ouvir e ver um jovem chamado Luís Trigacheiro transportar a alma alentejana para o ecrã da televisão.
Gala após gala este programa de talentos da RTP tem mostrado o imenso potencial que existe em Portugal em distintas faixas etárias, começando a panóplia de participantes nos 15 anos de idade.
Quem acompanha o programa diz que a edição do ano pandémico foi a que reuniu mais qualidade nos últimos anos, sobretudo pela excelência dos participantes em registos musicais tão distintos.
Mas o mais curioso tem sido o impacto de alguns concorrentes do programa nas redes sociais sobretudo junto das novas gerações.
A geração Z demonstra vibrar com o hip-hop na mesma batida com que vibra com o cante alentejano, com o fado, com o canto lírico e com a música popular portuguesa factor que é seguramente importante para a sobrevivência das nossas tradições.
Jovens como o Luís e toda essa gente pelo nosso Portugal fora que vestem as nossas tradições como se a própria respiração dependesse disso mesmo demonstram-nos que nem sempre aquilo que mais nos toca no coração é o lugar comum.
Falo do lugar comum que conhecemos tão bem através da música estrangeira, com a qual vibramos mas da qual tantas vezes não retiramos mensagem alguma.
Ficamos perdidos por entre as batidas, os ritmos e os sons, vibrando e escapando do momento presente para no fim regressarmos ao ponto de partida de bolso vazio mas entretido.
A música portuguesa veste-se de poesia e de mensagens sublimes sobre quem somos e é natural que nos seja mais fácil absorver estas mensagens no idioma que conhecemos e que é nosso o que me faz compreender o encanto que jorra nas redes sociais com a edição deste ano do The Voice Portugal, a qual aplaudo.
Se existe ano em que a televisão devia dar palco ao talento emergente e ao já consagrado em Portugal esse ano era 2020 e será seguramente 2021.
É uma verdadeira pena que nos distraiamos do essencial, e não abusemos dos recursos que temos na palma da mão para promover quem e aquilo que é verdadeiramente importante perdendo-nos em Reality Shows, quando no reality show da vida real são muitos os sectores que necessitam apoio.