“TENHO PENA QUE O GOVERNO NÃO TENHA INVESTIDO MAIS NA FREGUESIA”

Quatro anos após ter assumido os destinos da Junta de Freguesia da Ribeira Seca, João Paulo Moniz admite sentir-se realizado com os feitos conquistados durante o seu mandato. Apesar das dificuldades inerentes, o autarca destaca que com “boa vontade e parcerias” consegue-se gerir uma Junta como esta, embora não esconda o seu lamento pelo facto de o Governo Regional dos Açores não investir mais na freguesia. “A Ribeira Seca é uma terra com futuro”, afirma João Paulo Moniz.

 

 

 

Quase 4 anos depois de ter assumido a presidência da Junta de Freguesia da Ribeira Seca considera que foram alcançados os objetivos a que se propôs?
Analisando o manifesto que apresentamos a sufrágio, podemos afirmar que todos os nossos objetivos foram alcançados. Admito que não foi fácil. Tínhamos objetivos muito ambiciosos. No entanto, com a dedicação e esforço conseguiu-se alcançar estes objetivos. Falo da casa mortuária, da ampliação do cemitério, da repavimentação das artérias da freguesia, do saneamento básico, entre tantos outros objetivos.

 

Uma freguesia sem um quadro de pessoal efetivo e um minúsculo orçamento, como se gere?
Gere-se com “boa vontade” e com parcerias. Infelizmente as Juntas de Freguesia continuam a possuir escassos recursos materiais, financeiros e humanos. Não é fácil, admito. Os programas de emprego do Governo Regional dos Açores têm sido uma ajuda imprescindível no trabalho que vamos desenvolvendo diariamente. Se hoje as artérias da freguesia estão mais limpas, se hoje conseguimos efetuar mais intervenções em habitações degradadas, se hoje conseguimos melhorar a qualidades dos serviços administrativos na nossa sede, tudo isto deve-se às pessoas que connosco colaboram ao abrigo dos programas de emprego. À parte dos programas existem ainda os protocolos de colaboração que têm permitido solucionar algumas intervenções de caráter premente.

 

A dependência quase total do poder regional e municipal leva a andar com o chapéu na mão todos os dias?
Infelizmente é uma realidade. Não acredito que haja algum presidente de Junta de Freguesia que se sinta realizado fazendo apenas intervenções com as quais possui dotação orçamental própria. Os recursos são escassos! Faz parte da rotina do dia a dia solicitar apoios “aqui e ali” para conseguir concretizar os anseios da população.

 

Vestir uma camisola rosa ou laranja faz toda a diferença?
Penso que não faz diferença alguma. Acredito que a ideologia partidária não é um pilar fulcral nas Juntas de Freguesia. O presidente da Junta de Freguesia veste a sua camisola, ou seja, a camisola da sua freguesia. No caso da Ribeira Seca é a camisola amarela! Agora se me fala da relação entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal ou a relação entre a Junta de Freguesia e o Governo Regional, acredito piamente que a cor da camisola interessa. Aliás, basta olhar e ver o que se passa à nossa volta. Em 2015, o Governo Regional dos Açores, através da Secretaria Regional do Turismo e Transportes atribuiu apoios financeiros a todas as sete Juntas de Freguesia da responsabilidade governativa do partido Socialista do concelho da Ribeira Grande, deixando de parte todas as outras. Tratou-se de um intolerável favorecimento que o Governo Regional dos Açores deu apenas a alguns, penalizando assim milhares de ribeiragrandenses que escolheram livremente outros responsáveis autárquicos que não os indicados pelo Partido Socialista.

 

É fácil a um jovem, como o atual presidente, levar a bom porto as suas ideias num terreno, muitas vezes, minado por interesses, unicamente, partidários?
Admito que muitas vezes não é fácil, no entanto sabia perfeitamente ao que ia. Estou ligado à Junta de Freguesia da Ribeira Seca desde os meus 18 anos. Primeiramente como vogal da Assembleia de Freguesia e, posteriormente, como tesoureiro da autarquia. Estas experiências anteriores permitiram-me navegar com mais tranquilidade em água muitas vezes conturbadas.

 

 

Quais os projetos que tinha e viu concretizados?
Como já referi anteriormente, felizmente, conseguimos alcançar todos os objetivos a que nos propusemos em 2013. Refiro-me ao saneamento básico da freguesia, aos melhoramentos na limpeza urbana das artérias, ao apoio à habitação degradada, ao apoio das forças vivas, à ocupação dos tempos livres dos mais idosos, ao melhoramento do património da Freguesia, ao apoio das iniciativas religiosas e às comissões de festas. Existem ainda projetos que iniciamos, no entanto não se encontram concluídos como é o caso da casa mortuária da Ribeira Seca e da ampliação do cemitério. No entanto, tenho perfeita consciência que não eram projetos de fácil resolução. Saliento que o processo da casa mortuária nem localização tinha. Tivemos de efetuar todo o processo do início ao fim: escolher a localização, adquirir o terreno, proceder ao licenciamento e passar à construção. A ampliação do cemitério, por sua vez, teve de passar por uma expropriação.

 

Qual a desilusão ou desespero maior que leva deste mandato?
Tenho pena que o Governo Regional dos Açores não tenha investido mais na nossa freguesia. A Ribeira Seca é uma terra com futuro. É essencial que se crie condições para empregar os mais novos e atrair investimento para a freguesia. Os terrenos do Morro de Baixo são um manancial de oportunidades. É importante criar passeios para permitir a passagem, em condições de segurança, dos peões na zona. É também importante resolver, de uma vez, os problemas de grave situação habitacional das sete famílias que residem na rua do Bandejo (junto à praia do Monta Verde). A nossa ribeira carece de uma intervenção anual ou bianual, consoante as condicionalismos do inverno. São essencialmente estas as preocupações que temos levado às diversas reuniões que o executivo da Junta de Freguesia tem tido com os diretores regionais.

 

Sente-se um vencedor?
Não me sinto um vencedor, nem um vencido. Tenho a consciência tranquila. Se poderíamos ter sido feito mais? Com certeza que sim. Mas até acho normal que tenhamos este sentimento. É sempre possível fazer-se mais. No entanto, tenho a perfeita noção do trabalho que foi desenvolvido em prol da freguesia e isto dá-nos a tranquilidade para olhar de frente para os munícipes desta terra e falar-lhes acerca de todo e qualquer assunto.

 

As instituições e associações culturais, desportivas e recreativas conseguem ter a motivação suficiente para haver uma freguesia viva? Que parcerias ou ajudas a Junta de Freguesia consegue manter ou estabelecer?
A freguesia da Ribeira Seca possui atualmente duas associações devidamente constituídas, bem como um grupo de escoteiros – Grupo 111 . As duas associações são a Associação Cultural e Recreativa Alvorada de São Pedro e ao Clube ADSP Atlético Desportivo de São Pedro, esta última criada por este executivo, numa tentativa de ressurgimento de um clube que, outrora, trouxe grande vitória a esta freguesia. Considero que estas associações e o grupo de escoteiros são essenciais para manter vivas as tradições desta terra. O executivo da Ribeira Seca têm celebrado anualmente protocolos com estas forças vivas, o que tem permitido a apoiar as atividades desenvolvidas pelas mesmas.

 

As Cavalhadas de São Pedro são talvez o evento maior da freguesia. Não sendo a autarquia a organizadora é o cimento da dinamização. Como vai ser este ano?
As cavalhadas de São Pedro, à semelhança do que já acontece há muitos anos, conta com organização própria. As marchas de São Pedro, o ano passado, também passaram para a alçada da Câmara Municipal. Acredito que só assim iremos conseguir aumentar a notoriedade destas tradições. Espera-se que as Cavalhadas decorram dentro da normalidade, com o desfile muito participado e devidamente organizado. Espero, ainda, que São Pedro “feche as torneiras” e tenhamos umas festas com bom tempo.

 

Termina o seu mandato com a inauguração de uma casa mortuária. Neste caso significa uma nova vida para a Ribeira Seca?
Não é nosso intuito inaugurar a casa mortuária antes das próximas eleições. Não iremos, com certeza, efetuar aquilo que tanto criticamos nos outros. A casa mortuária é uma realidade e ficará pronta no seu devido tempo. Saliento que esta obra resulta de um velho anseio desta freguesia. Não há ninguém, nesta freguesia, que pretenda mais ter esta obra concluída do que o executivo da Junta de Freguesia. Tudo faremos para que este dia seja o mais próximo possível. Iremos inaugurar a casa mortuária quando esta tiver todas as condições para acolher as famílias com o máximo conforto, naqueles que são momentos difíceis de perda e dor.

 

 

Os habitantes da Ribeira Seca são pessoas felizes? É bom viver aqui?
Considero que a nossa freguesia possui condições para se afirmar, que possuímos qualidade de vida. Obviamente que existem sempre situações a melhorar, no entanto, isto não invalida que a classifiquemos desta forma. As artérias encontram-se em bom estado, as ruas devidamente limpas e ornamentadas, o trânsito flui com regularidade, existe facilidade de estacionamento, existe segurança e qualidade ambiental. A proximidade ao centro acaba também por ser uma mais valia para as pessoas que aqui vivem. Posso afirmar que é bom viver aqui.

 

O anterior presidente da Junta de Freguesia é, atualmente, vereador da Câmara Municipal. Tem sido positivo para a freguesia?
O profundo conhecimento que o atual vereador Carlos Anselmo possui da Ribeira Seca, fruto de vários anos ligado à mesma, é muito positivo para a freguesia. Este background permite-lhe conhecer em detalhe muitas das situações que carecem de resolução. Isto, obviamente, facilita a comunicação entre o executivo da Junta de Freguesia e a Câmara Municipal.

 

O facto dos presidentes da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal serem da mesma família política tem ajudado à satisfação das necessidades de todos os habitantes da freguesia?
Antes de pertencemos à mesma família política, existia (e continua a existir) uma amizade de vários anos. Conheço o Alexandre Gaudêncio desde a minha infância. Para além do mais o atual presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande é filho desta freguesia e conhece as reais necessidades da terra que o viu nascer. Este profundo conhecimento da sua freguesia facilita a tomada de decisão, o que tem permitido a satisfação das necessidades da população.

 

Aposta na continuação desta conjugação de esforços?
Com certeza que sim. Como já referi as Juntas de Freguesia sozinhas conseguem muito pouco. As sinergias entre os diferentes player são essenciais na promoção da qualidade de vida das populações.