“QUEREMOS HONRAR A MEMÓRIA E O LEGADO DE GUILHERME PINTO”

Prometendo “dedicação total”, Luísa Salgueiro é a candidata do PS à autarquia de Matosinhos nas próximas eleições autárquicas de outubro.

Com uma forte convicção de que a vitória será sua, a deputada socialista admite que as suas prioridades estão focadas nas áreas sociais, da terceira idade, numa inovadora política na área da saúde, bem como num incremento dos negócios ligados ao turismo, um setor que, segundo a candidata “tem ainda um enorme potencial de crescimento”.

Tendo tido o privilégio de ter Guilherme Pinto, antigo autarca matosinhense que faleceu recentemente, na sua Comissão de Honra, Luísa Salgueiro garante que irá “honrar a memória e o legado” de Guilherme Pinto, lembrando um dos conselhos deixados: “Confia”.

 

 

 

A sua candidatura esteve envolta em bastante polémica, dentro do próprio partido. Porque acha que isso aconteceu?
As discussões internas fazem parte da vitalidade partidária. Encaro-os sempre como processos de crescimento e amadurecimento político e democrático. Acontece também que o processo de definição dos candidatos autárquicos é, por muitas vezes, demorado, devido às diversas sensibilidades locais. Isso acontece em todos os partidos e o PS não é exceção, até por se tratar de um partido particularmente plural, onde coabitam tendências. No caso, aconteceu uma dissonância entre a vontade da concelhia e as diretrizes emanadas das estruturas nacionais que trabalharam com calendários diferentes, com a primeira a antecipar-se à segunda. Idealmente todos deveriam ter trabalhado com o mesmo calendário, mas por uma razão ou por outra isso não foi possível. Agora estamos todos juntos a trabalhar numa só direção e com uma estratégia centrada numa vitória inequívoca do Partido Socialista à Câmara Municipal de Matosinhos.

 

Após ter sido eleita pela Comissão Política, afirmou que a sua candidatura tinha também o propósito de “unir a família socialista”. Sente que há muitas divergências no PS atualmente?
A pluralidade do Partido Socialista é uma mais-valia. O PS é um partido plural, que acolhe várias sensibilidades políticas. Considero que essa multiplicidade é, de facto, uma das forças do PS, não uma fraqueza. Cabe-me respeitar essa diversidade, numa postura de respeito por todos e, sobretudo, valorizar o muito que nos une em vez daquilo que pontualmente nos pode separar neste ou naquele assunto. Por isso, sim, pretendo que a minha candidatura una o partido socialista, mas no absoluto respeito político da diferença de opinião, que sempre existirá em qualquer partido político. Por isso tenho a forte convicção de que o PS vai ganhar estas eleições, até porque apresenta uma equipa recheada de pessoas competentes, dedicadas a Matosinhos e à causa pública, muito empenhadas em acelerar o desenvolvimento do concelho e melhorar a qualidade de vida das pessoas.

 

E em relação às suas intenções, o que pode prometer, neste momento, aos matosinhenses?
O que prometo é dedicação total, minha e de toda a minha equipa. A nossa competência estará totalmente direcionada para resolver os problemas do concelho. Esse é o nosso comprometimento. Da nossa parte ninguém vai ouvir promessas populistas ou irrealizáveis. É preciso ser sério na política e na vida. Temos um programa eleitoral para assegurar que o concelho mantém uma trajetória de desenvolvimento que fez com que se tornasse um dos mais importantes da região, do ponto de vista económico, social e humano. Esse programa resulta, em parte, da participação da população que participou ativamente nas sessões públicas que decorreram (e a ainda decorrem) desde o início do ano por todo o concelho, a que chamámos Ouvir Matosinhos. O programa assenta em vários eixos que se interligam e que abrangem áreas como a educação, a criação de emprego, a captação de investimentos públicos e privados que permitam a fixação dos jovens no concelho dando-lhes alternativas à emigração. Estou particularmente preocupada com a política que temos de implementar de combate à Diabetes, à Hipertensão e às demências, doenças que têm grande prevalência no concelho; com as respostas urgentes para as necessidades dos nossos idosos; com o desenvolvimento e melhoria da rede de transportes públicos, sobretudo no norte do concelho; com a recuperação urbana; com o desporto nas suas vertentes amadora e informal; com os direitos dos animais… Tudo isto são áreas em que pretendemos intervir e às quais daremos prioridade.

 

A seu ver, quais os principais problemas de Matosinhos atualmente?
Matosinhos, como a grande maioria dos concelhos do país, tem uma população envelhecida. Por um lado, é necessário encontrar respostas para as pessoas de terceira idade, com políticas de envelhecimento ativo e de acompanhamento que as retirem de situações de isolamento. Pode parecer uma expressão gasta, mas é fundamental dar qualidade de vida a esta faixa da população. Já não estamos a falar de instalações, independentemente de poder haver esta ou aquela lacuna, estamos a falar de viver condignamente, com qualidade não só no quadro do que são as necessidades relacionadas com a saúde, mas com a qualidade de vida como um todo. Por outro lado, é necessário implementar uma política que permita a fixação dos jovens nascidos no concelho e atrair outros para contrariar esse envelhecimento. Essas são as preocupações principais e a candidatura socialista tem propostas concretas nestas áreas. Não escondo que as questões sociais são as minhas prioridades mais imediatas, muito devido ao facto de me ter dedicado enquanto deputada a esta área e nos diversos projetos em Matosinhos nos quais estive envolvida. Considero que o Turismo, apesar de já se ter dado passos muito importantes, tem ainda um enorme potencial de crescimento e teremos de o considerar em linha com as questões relacionadas com a criação de emprego e captação de novas empresas nomeadamente ligadas a este sector económico tão determinante para toda a região. Teremos de ter uma estratégia transversal do Mar: turismo, economia, desporto.

 

O que considera que deve ser mudado ou mantido no concelho?
Devemos manter o investimento na educação, que levou Matosinhos a integrar a rede europeia de cidades educadoras. Sem educação e formação não existe futuro e, desse ponto de vista, Matosinhos tem de continuar a fazer da educação uma das suas frentes de batalha. Deve também dar-se continuidade ao investimento feito na área cultural, ao nível da Arquitetura e do Design. Simultaneamente, devemos olhar para o turismo como uma área estratégica. Um concelho com a extensão de costa que nós temos, com praias a que correspondem doze bandeiras azuis, com monumentos como o mosteiro de Leça do Balio, por exemplo, a riqueza da nossa gastronomia, tem de fazer do turismo uma área estratégica. E, dentro do turismo, olhar com especial carinho para o turismo religioso que tem um enorme potencial. Temos também de melhorar os programas de Saúde. Já referi a questão do combate à Diabetes, à Hipertensão e à Alzheimer, mas queremos também dotar o concelho de uma política pioneira ao nível da saúde oral e da saúde visual.

 

Como vê Matosinhos atualmente?
Matosinhos é um concelho que se desenvolveu muitíssimo e ganhou peso político, económico e social em termos regionais. A proximidade do aeroporto Sá Carneiro, o Porto de Leixões, o Terminal de Cruzeiros, a abertura do túnel do Marão, que nos aproxima de outra fronteira com Espanha, além da fronteira Valença – Tuy, fazem de Matosinhos uma enorme placa giratória de pessoas e bens com impacto na economia local, um impacto que pode ser ainda mais importante e decisivo se dotarmos o concelho de uma oferta mais abrangente e que permita a fixação de turistas em Matosinhos, em vez de sermos pouco mais do que ponto de passagem. A localização de empresas ligadas às novas tecnologias e à indústria digital também catapultou o concelho para a dianteira neste setor de atividade, uma posição que é necessário reforçar.

 

 

“Lamento que Narciso Miranda e António Parada, ambos com uma ligação no passado ao partido, não se revejam na lista do PS”

Infelizmente, Guilherme Pinto, que liderou a autarquia nos últimos 11 anos, faleceu sem completar o mandato. Foi difícil superar essa situação adversa com que ninguém contava?
Guilherme Pinto foi um autarca muito dedicado ao seu concelho e quem o conhecia e teve o privilégio de trabalhar com ele, como foi o meu caso, pode olhar para Guilherme Pinto como um modelo e uma inspiração. Das manifestações mais bonitas que vi, foram os milhares de matosinhenses, anónimos, que foram ao seu funeral para se despedir do seu presidente. Nunca me hei de esquecer. Queremos honrar a memória e o legado de Guilherme Pinto dando continuidade à sua obra, continuando a desenvolver o concelho e a construir o futuro.

 

Após a apresentação da sua candidatura, Guilherme Pinto ainda chegou a encabeçar a sua Comissão de Honra. É um privilégio ou sente uma responsabilidade ainda maior agora?
É simultaneamente um privilégio e uma responsabilidade enormes. O compromisso que assumi comigo própria é de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que Guilherme Pinto se sentisse orgulhoso da equipa que lhe vai suceder. O facto de Eduardo Pinheiro, que foi seu vice-presidente e lhe sucedeu interinamente por força das circunstâncias, ser o número dois da nossa lista assegura a passagem do testemunho garantindo que continuam intocáveis os valores que nortearam Guilherme Pinto durante os seus mandatos.

 

Como vê o facto de antigos membros do PS, Narciso Miranda e António Parada (que poderá até ser apoiado pelo CDS), se candidatarem? Considera isso como uma afronta ou não a incomoda?
De maneira nenhuma. Reconheço o direito de qualquer cidadão se candidatar, já lá vai o tempo em que isso não podia fazer-se! Aquilo que lamento é que Narciso Miranda e António Parada, ambos com uma ligação no passado ao Partido Socialista, não se revejam na lista do PS, que é uma lista inclusiva, agregadora e com pessoas competentes para continuar a desenvolver Matosinhos e melhorar as condições de vida das pessoas. Vou fazer uma campanha pela positiva. Matosinhos teve, no passado, algumas situações que fizeram com que se falasse de nós sem ser pelas melhores razões. Mas eu quero, e todas a pessoas que estão nesta candidatura querem também, fazer uma campanha positiva, virada para o futuro, a pensar nas pessoas e a encontrar soluções para os novos desafios que se avizinham. Não vou contribuir para degradar a visão que as pessoas têm da política e de alguns políticos. A política, vista como uma forma de melhorar a vida das pessoas é uma coisa nobre. Os meus adversários são a pobreza, a exclusão, a injustiça e a falta de oportunidades iguais para todos. Isso é que é importante combater.

 

Apesar de Matosinhos ser, desde há alguns anos, uma autarquia socialista, acredita que o facto de o PS estar dividido internamente pode prejudicar a sua vitória?
A vida interna do PS está a pacificar-se. Há uma coisa que nos une: a vontade de termos um concelho mais inclusivo, onde caibam todas e todos os cidadãos com oportunidades iguais. Os verdadeiros socialistas que veem nas políticas sociais a resposta para melhorar a vida das pessoas estão com o PS e vão contribuir para que o PS ganhe as eleições. Estou completamente convencida disso.

 

O facto de saber que tinha o apoio de alguém muito querido pelos matosinhenses, Guilherme Pinto, dá-lhe mais confiança para estas eleições?
Guilherme Pinto gozava de um capital de confiança enorme junto da população. Por três vezes apresentou-se a votos e por três vezes ganhou claramente as eleições, sempre em circunstâncias muito distintas. Saber que a candidatura do PS é apoiada por muitos dos integrantes do grupo de cidadãos que se formou em roda de Guilherme Pinto reforça a minha confiança num bom resultado eleitoral, sem dúvida. Quando se trata de desenvolver o concelho, conto com todos e com todas. O Guilherme Pinto foi um grande socialista, e conseguia estabelecer pontes com todo o tipo de eleitores, de outras ideologias partidárias. Esse diálogo com todos, quero continuar a respeitar e a manter. Recordo o Guilherme Pinto com muito carinho e recordo muitas vezes os seus conselhos, particularmente o último.

 

Qual foi?
Confia, Luísa, confia.

 

A que acha que ele se referia?
Aos matosinhenses, claro.

 

Recentemente, foi também alvo de críticas por parte do eurodeputado do PS, Manuel dos Santos, que, inclusivamente, a apelidou “de cigana e não só pelo aspeto” mas por “pagar os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas”. Quer comentar?
Não, não comentei na altura e não o farei agora. Como disse, vou fazer uma campanha pela positiva. Registo apenas que houve reações que quase unanimemente foram de condenação pelas palavras que foram escritas.

 

Que mensagem gostaria de deixar aos matosinhenses?
Precisamente, uma mensagem de confiança. Vivemos uma época de desafios que só serão vencidos com competência. Nem todos os problemas que temos em Matosinhos são de resolução rápida nem fácil. Os próximos quatro anos não chegarão para resolver tudo, mas temos de continuar a construir o futuro. Com amor pela nossa terra, com dedicação e empenho e, sobretudo, com competência. Essas são as grandes mais-valias da nossa candidatura e eu tenho a firme convicção de que as matosinhenses e os matosinhenses vão reconhecer isso mesmo. Temos um concelho fantástico e não podemos correr de risco de estagnar ou voltar ao passado. Temos de continuar a estar na linha da frente para que todos os matosinhenses tenham orgulho da sua terra. Eu tenho.