RODRIGO PACHECO QUER MAIS INVESTIMENTO E EMPREGO

A cerca de um ano e meio de término de mandato, Rodrigo Pacheco quer continuar a cumprir o que prometeu aos fenagenses. Ainda que uns dias sejam melhores que outros para o jovem que reivindica pelos direitos da freguesia, a paixão pelos Fenais da Ajuda e por ajudar quem precisa estão-lhe no sangue.

Para melhor perceber o presente e futuro dos Fenais da Ajuda, o AUDIÊNCIA Ribeira Grande conversou com Rodrigo Pacheco, o mais jovem presidente de junta de freguesia do concelho da Ribeira Grande.

 

 

 

O Rodrigo iniciou o seu percurso como presidente de junta aos 26 anos. O que é que o levou a aceitar este desafio?

O que me levou aceitar o desafio foi, em primeiro, o gosto que tenho pela minha terra e também pelo desafio em si de ser o presidente, de ser o responsável máximo pela freguesia e de poder contribuir para o seu desenvolvimento.

Nesta minha decisão, houve um conjunto de fatores que também influenciaram o gosto por esta função, nomeadamente o facto de o meu avô ter sido presidente de junta durante muitos anos. Partilhámos muitos momentos e convívios em família, como é normal, e ele para mim sempre foi um exemplo a seguir. Sempre me orgulhei e orgulho-me em ver placas com o seu nome.

Em 2013, com 22 anos, surgiu o desafio de fazer parte da lista do Davide Camboia para o lugar de tesoureiro. Estive um ano no cargo, depois pedi renúncia ao mandato para ir estudar para o Continente. Portanto, aceitei o desafio de ser o candidato à Junta de Freguesia já com consciência do que vinha pela frente, com consciência de que nem tudo seria um mar de rosas.

 

 O amor à freguesia e às pessoas também o ajudaram a tomar esta decisão?

O amor à freguesia, obviamente. Os Fenais da Ajuda são uma terra linda. Gosto da sua história, gosto das casas, gosto da disposição das ruas… gosto de tudo! Falo e dou-me bem com toda a gente, o que é muito importante.

 

Quando pegou na Junta de Freguesia, que já vinha com 12 anos de PSD, o que é que encontrou que achasse que teria de ter um trabalho de continuidade?

A nível de obras, logo no início tive que dar seguimento à construção de passeios, numa rua onde não existiam sequer, sendo estes numa das entradas da freguesia, na Rua da Soca. Estão feitos, mas ainda não da forma como queremos que estejam. Não termino o mandato sem deixá-los dignamente concluídos.

A minha primeira obra de maior valor, foi a zona de lazer da Ribeira Funda, com casas de banho públicas, zona verde, parque infantil e churrasqueiras. Ainda não está totalmente concluída. É preciso dinheiro, e a verdade é que a situação causada pela COVID-19 atrapalhou-nos e atrasou o restante desenvolvimento das obras.

Também já conseguimos os balneários do Pavilhão Polidesportivo, que muito têm sido utilizados e servido o Clube Desportivo de Vera Cruz.

A obra mais recente é a Rua de Vera Cruz, que é uma das entradas principais da freguesia. Nesta entrada, nós, Junta de Freguesia, estamos a modernizar o pequeno jardim existente nesta, como também estamos a construir uma pequena zona verde à entrada da freguesia, onde existia um posto de recolha de leite que se encontrava em estado de ruína avançada.

 

Tudo coisas que estão a decorrer.

Tudo coisas que estão a decorrer e que ficarão concluídas neste mandato.

 

É uma promessa de presidente de Junta de Freguesia?

Sim, as obras que estão a decorrer ficarão concluídas neste mandato. Em princípio, penso que irei cumprir 90% do meu manifesto de candidatura.

 

O que tinha mais no manifesto que ainda não falámos?

A requalificação da Rua de Nossa Senhora da Ajuda que está em falta, mas que já foi falado e está mais ou menos acordado com a Câmara Municipal; a requalificação da zona envolvente ao pavilhão, onde queremos um jardim com zona de estacionamento; temos o lugar da antiga fábrica da chicória que, supostamente, deverá ser uma zona verde e de estacionamento e ainda uma casa para o Espírito Santo de São Pedro. O que fica em falta é o Caminho da Calheta e um passeio à entrada da Criação Velha.

Também faz parte do nosso manifesto reforçar a rede móvel na freguesia. Já temos uma operadora interessada nesse reforço e o processo de licenciamento já está a decorrer na Câmara Municipal. Inicialmente, o processo está a ser tratado apenas com uma operadora, mas o espaço ficará preparado para as demais que possam surgir.

 

O que é que falta na Junta de Freguesia para poder concluir tudo isso?

Faltam verbas. Tem de haver lugar para tudo o que estamos a reivindicar para a freguesia, nomeadamente lugar no orçamento camarário.

 

Já tentaram ter alguns apoios através do Governo Regional?

Sim, tentámos para a pavimentação do caminho da Calheta e para a construção de uma zona balnear nesta mesma zona. Solicitámos à Secretária Regional do Mar, Ciência e Tecnologia, para que esta pudesse intervir na arriba do calhau da Calheta, o qual foi nos dito que as verbas do quadro comunitário ainda em vigor estavam quase esgotadas e que as únicas ainda disponíveis seriam destinadas às arribas em que haja pessoas e bens em risco.

Relativamente a este caminho, soubemos há pouco tempo que este seria da responsabilidade da Câmara Municipal, pelo que, só não o reivindicámos neste mandato porque realmente temos prioridades na freguesia e as prioridades têm de ser resolvidas, tal como as que já referi.

Este caminho e calhau da Calheta merecem investimento por parte do Governo Regional. Esta zona tem uma vista fantástica para a zona poente da costa norte da ilha de São Miguel. Conseguimos avistar as freguesias da zona da Bretanha, Capelas, Santo António… ou seja, é o inverso da vista que existe no miradouro de Santa Iria. Lá avistamos a zona nascente até aos Fenais da Ajuda. Aqui nós temos a vista para os dois lados devido à Ponta da Ajuda ser mais “fora da ilha”.

Podia-se constituir também um miradouro lá em baixo e uma zona balnear diferente das restantes da ilha de São Miguel. Aquilo é um calhau com potencial. Deveríamos investir lá à semelhança dos investimentos do mesmo género em outras ilhas tal como Terceira e Pico. Para além de oferecermos uma zona balnear diferente, também ofereceríamos condições para jovens (e não só) ocuparem os seus tempos livres durante a época alta.

O Governo Regional está a investir num projeto de combate à pobreza e exclusão social que consiste na ocupação de tempos livres de crianças e jovens. Acho muito bem. Mas também acho necessário investir em infraestruturas para que essas crianças e jovens estarem ocupados. A zona da Calheta é uma, durante a época alta, que poderá servir de ocupação para muita gente.

A Câmara e a Junta de Freguesia já investiram no pavilhão, o que tem ocupado muitos jovens na prática do desporto. Acho que é importante intervir não só em programas ocupacionais, mas também investir na freguesia e oferecer condições para que se possa manter essa gente ocupada.

 

Já falámos várias vezes no Clube Desportivo Vera Cruz. Tem sido uma força-viva na freguesia.

Sim. Uma força-viva na freguesia que tem movimentado os Fenais da Ajuda. Temos recebido muitos jogadores e clubes de fora, o que dá movimento à freguesia. Isto também faz com que a freguesia se junte e une-se para ver os jogos e conviver, o que é muito bom. A Junta de Freguesia, naturalmente, orgulha-se disso porque fomos a primeira entidade a apoiar o Clube Desportivo.

 

Quando muitos pensavam que não iam para a frente, foram, e ganham bastantes jogos.

Exatamente. Atualmente é a maior força-viva da freguesia. Tem a maior abrangência de jovens e crianças a nível de ocupação.

 

Os Fenais da Ajuda são uma freguesia com muita história, com muita área. Inclusive a Lomba de São Pedro já pertenceu aos Fenais. Tendo em conta aquilo que ouvia e a sua experiência, acha que houve uma regressão na freguesia?

Acho que antigamente as pessoas eram mais unidas, mais empenhadas nas atividades da freguesia, mais interessadas na vida das instituições. Houve uma pequena regressão mais neste sentido. Antigamente havia mais trabalho, ao contrário de hoje, hoje há muito desemprego na freguesia. Compreende-se que o haja devido ao facto de vivermos nesta zona da ilha. Nem toda a gente tem transporte próprio e nem sempre há transporte público compatível com os diversos horários.

Dever-se-ia investir nestas zonas que estão a ficar sem gente e onde há uma taxa de desemprego elevada. Talvez investir numa indústria qualquer… o Governo Regional podia beneficiar um privado que quisesse investir nesta zona de modo afastar a indústria do centro urbano. Sei que isso não é fácil, mas isso deve ser estudado e analisado pelas entidades competentes, terá de haver uma forma de ajudar e combater o desemprego.

 

Falou dos transportes públicos. Essa é uma falha na zona nascente da Ribeira Grande.

Nós temos transportes públicos. Mas, por exemplo, para trabalhar em limpezas de um hotel… houve muitos desempregados a tirar essa formação na Escola Profissional da Ribeira Grande. Mas, depois, não têm carta de condução. Como é que se vão deslocar para fazer limpezas em turnos? Não dá…

 

Isso também leva a que as pessoas saiam de cá por causa de trabalho.

Sim. Há jovens que, ao terminar as suas formações profissionais ou universitárias, já não pretendem regressar à freguesia para viver ou constituir família. O que se compreende perfeitamente porque é muito mais económico e cómodo viver perto dos locais de trabalho.

 

Que tipo de pedidos de ajuda chegam à Junta de Freguesia?

Chegam-nos pedidos de ajuda para o preenchimento de formulários para a ação social, para a segurança social… também chegam pedidos de bens materiais, nomeadamente tintas, cimento e blocos, mas o executivo tomou a decisão de não dar este tipo de bens às pessoas porque ao darmos iríamos dar sempre às mesmas: as que precisam hoje são as que precisam daqui a dois ou três anos. Para beneficiar uns e não beneficiar outros, achámos por bem não dar este tipo de material a ninguém.

O que nós temos feito é reencaminhar as pessoas para as entidades competentes, nomeadamente a Direção Regional da Habitação, ou o departamento de Ação Social da Câmara Municipal. Obviamente que se houver alguma urgência ou necessidade nós ajudamos com mão-de-obra ou aquisição de algum material, mas isto não se verifica com intensidade.

 

 A questão da COVID também teve algum impacto nos Fenais da Ajuda com o atraso de algumas obras. Esta freguesia também parou como todo o mundo. Que impacto teve e está a ter a pandemia?

Eu penso que o impacto que a freguesia viveu é generalizado à restante ilha e arquipélago. Enquanto presidente de junta, ouvi algumas declarações de empresários e comerciantes que assustaram. Nomeadamente a parte do bar-café. As pessoas ficaram bastante assustadas em parar o negócio e a sua vida. Por outro lado, também tivemos agricultores que tiveram dificuldade em escoar os seus produtos agrícolas. Alguns porque forneciam restaurantes e estes deixaram de consumir.

Viveu-se alguma dificuldade nesse sentido e acredito que algumas pessoas que viviam da terra e que ficaram obrigadas a ficar em casa fechadas – por exemplo, ganhavam ao dia e deixaram de ganhar aquelas semanas -, obviamente que houve consequências.

 

Já teve notícias desde que o desconfinamento começou?

As coisas estão a tomar a normalidade e até agora não tem surgido problemas. Parece que tudo está a correr pelo melhor.

 

Quantos funcionários é que tem aqui na Junta de Freguesia dos Fenais da Ajuda?

Temos 12 funcionários, tudo em programas ocupacionais exceto um que é da Câmara Municipal e é responsável pelos cemitérios.

 

Como é que uma junta de freguesia consegue ter alguma estabilidade com funcionários em programas ocupacionais?

Não se consegue. A Junta de Freguesia tem grandes despesas com a Segurança Social, com seguros, com aquisição de material para os trabalhadores (botas, colete, luvas…), entre outras. É difícil ter uma obrigação mensal com a Segurança Social. Obviamente que é preciso ter grande cuidado na gestão que se faz para não ficarmos sem dinheiro e deixarmos de pagar as nossas obrigações.

Sentimo-nos na obrigação de dar emprego às pessoas e de lhes dar uma oportunidade porque, realmente, é desesperante haver muita gente desempregada. Para nós é benéfico porque conseguimos mão-de-obra para as nossas pequenas obras. Temos 12 pessoas mas achamos que para as obras que estão a decorrer na freguesia, são sempre poucos. Mais houvesse… e se pudéssemos dar mais emprego, daríamos. As coisas nem sempre são fáceis e há pessoas que não compreendem isso.

Nós temos uma pessoa responsável pelos trabalhadores de rua, pela parte dos homens. Temos feito alguns contratos consecutivos, nomeadamente através de programas ocupacionais. Algumas pessoas compreendem o porquê, outras não. Mas a verdade é que é necessário alguém para coordenar e orientar o serviço. Por acaso temos uma pessoa que nos tem ajudado muito nesse sentido e que tem estado disponível nos programas ocupacionais. É um recurso humano que faz falta a uma junta de freguesia, tal como ter uma administrativa a tempo inteiro. O que nós temos é através de programas ocupacionais e de dois em dois anos ou de ano e meio em ano e meio temos que renovar e ensinar tudo de novo…

 

 Isto é comum em todas as juntas de freguesia: falta de mão-de-obra e não conseguir contratar mais pessoas ora porque se atingiu algum limite ou porque não há verbas.

Tudo depende das nossas necessidades internas. Temos recrutado as pessoas nesse sentido, de olhar para a necessidade interna da Junta de Freguesia a nível de mão-de-obra, mas também olhamos para algum caso que esteja em extrema necessidade, tentando conciliar as duas coisas.

 

Qual é a relação entre a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal? Como tem corrido no mandato do Rodrigo?

De um modo geral tem corrido bem.

 

 Normalmente os presidentes de junta de freguesia não querem estagnar e querem sempre mais para a sua freguesia.

Exatamente, nós queremos sempre mais! Mas nós compreendemos que nem sempre é possível. Prezo muito a palavra dada. Quando a Câmara assume um compromisso com a Junta de Freguesia, gosto que o mesmo seja cumprido.

 

E tem sido até agora?

No geral, sim. Se estivesse outra cor partidária na Câmara Municipal, tenho as minhas dúvidas de que o desenvolvimento da freguesia fosse tão visível como tem sido nos últimos anos.

 

 A pergunta a que nenhum presidente de junta quer responder. Vai haver outro mandato?

Estou a adiar a minha decisão para o final do ano… não está nada decidido, mas para ser sincero, acho que em quatro anos o sentido de missão não fica completo. Acho que oito anos é o ideal. Contudo, a minha decisão não está formada porque tudo depende da vida profissional, familiar e pessoal.

 

Ser presidente de junta é um cargo exigente?

É muito exigente. Requer muito do nosso tempo. Eu sou presidente de junta em regime de não-permanência, como grande parte dos meus colegas presidentes de junta, mas mesmo assim estou sempre atento e disponível para trabalhar para a Freguesia, mesmo estando em horário laboral. Há sempre emails que precisam ser respondidos, telefonemas… portanto, existe um trabalho que ninguém vê e que as pessoas às vezes esquecem que existe, que tem que ser feito e que não é valorizado.

 

Como gostaria de ver a sua freguesia daqui a 15-20 anos?

Em primeiro lugar, vê-la toda arranjada, sem vias degradadas, com jardins embelezados… A nível da população, gostaria que houvesse menos desemprego e mais gente dedicada e disponível para as instituições da freguesia. Não só à Junta de Freguesia, mas também a outras.

 

 Como fenagense de gema, o que é que pode dizer para atrair a população micaelense e turistas para passarem pela freguesia? Quais são os maiores pontos de atração que vê com mais potencial?

A nível de pontos turísticos e de interesse, temos as vistas que já tinha falado, assim como a zona do adro da ermida de Nossa Senhora da Ajuda, que conseguimos avistar a zona poente e nascente da costa norte; no Caminho da Ponte, temos uma vista fantástica para a zona nascente, no qual se poderia investir num miradouro.

O que faz falta à freguesia, mas isso tem que partir de um investimento privado, é um restaurante. Acho que ajudaria neste sentido turístico, visto haver já dois alojamentos locais. Também temos a festa de Nossa Senhora da Ajuda que se realiza a 15 de Agosto e dias antecedentes. Vêm os emigrantes da freguesia propositadamente, assim como vários residentes da ilha. É a festa que atrai mais gente, mas também temos, no lugar da Ribeira Funda, a festa de Nossa Senhora da Aflição no início do mês de setembro. As festas do Espírito Santo e Trindade também atraem muita gente.

 

Para terminarmos, uma pergunta que poucos podem responder. Como é ser presidente desta Junta de Freguesia? Que complicações encontra, mas também que vantagens ou coisas positivas existem?

A complicação maior é o conciliar assuntos da freguesia durante o horário laboral, há problemas que surgem e que consomem algum tempo. Há reuniões que são a meio da tarde, por exemplo, porque são com entidades públicas e estas não têm reuniões no horário pós-laboral, e um presidente de junta que trabalhe no privado tem que sair da sua vida para ir a uma reunião.

Há assuntos e assuntos… há casos e casos. Obviamente que há assuntos que nos desmotivam, preocupam, stressam e influenciam a nossa vida pessoal e profissional, mas também há assuntos que nos dão imenso gosto, que nos enchem o ego e que nos dão vontade para continuar a trabalhar em prol da freguesia.