Em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, o presidente da Junta de Freguesia de São Félix da Marinha, Carlos Pinto, falou sobre o seu percurso de vida e as conquistas alcançadas para o território do seu coração. Após quase 12 anos de liderança, três mandatos consecutivos com maioria absoluta e uma vida dedicada ao trabalho, o autarca garantiu que sairá com um sentimento de missão cumprida, deixando, na localidade, a marca de um homem humilde, determinado e próximo da comunidade. A poucos meses do fim do seu último mandato, o edil sublinhou que a requalificação do Tanque de Brito, a construção do Parque Infantil Nossa Senhora das Necessidades e do Túnel de Boca Mar foram obras que marcaram o seu ciclo autárquico, não pelo investimento ou envergadura, mas por darem respostas aos anseios da população e transformarem a freguesia. Não escondendo que ainda há muito a fazer em prol de São Félix da Marinha, Carlos Pinto admitiu que apoia a candidatura do socialista Sérgio Morais a esta edilidade, uma vez que o considera “um homem terra a terra”.
Quem é o cidadão Carlos Pinto?
Eu sou um homem de trabalho. Eu nasci em São Paio de Oleiros, em Santa Maria da Feira, mas vivo em São Félix da Marinha desde os meus quatro anos de idade, pelo que esta é que é a minha terra. Eu comunguei, casei e batizei as minhas duas filhas em São Félix da Marinha. Portanto, esta é a minha terra natal. Eu tenho a quarta classe e comecei a trabalhar descalço com oito anos de idade. O meu pai deixou dez filhos. Na altura, ia de manhã para a escola e à tarde trabalhava e no ano a seguir fazia o inverso e, se calhar, foi o meu percurso que me fez sentir um homem realizado. A minha atividade profissional foi sempre marmorista. Em 1985 fui para África do Sul, depois de vários convites, e estive lá dois anos. Mais tarde, fui para Londres, onde estive a viver cinco anos e a trabalhar na área de marmorista. Posteriormente, emigrei para a Bélgica durante cinco meses. Depois, vim para Portugal e comecei a trabalhar por minha conta, já lá vão 34 anos. Portanto, o meu mundo sempre foi um mundo de trabalho e eu sinto-me orgulhoso por isso. Hoje tenho uma vida muito estável, porque trabalhei para isso, felizmente. Deus acompanhou-me e tem-me acompanhado bem. Eu também faço pela vida. Sou uma pessoa muito querida aqui na minha freguesia, penso que sou, porque senão não ganharia os três mandatos, mas por onde eu passo sou muito respeitado, então sinto-me orgulhoso por isso.
Foi o amor à sua terra que o fez entrar no mundo da política?
Sim, apesar de que a minha entrada no mundo da política ter sido um pouco confusa. Eu nunca andei na política nem a tive no meu horizonte. Eu fui presidente, tesoureiro e vice-presidente do Clube de Futebol de São Félix da Marinha durante 14. Mais tarde, em 2006, parei, porque achava que devia sair pela porta grande e, passados dois anos, vieram buscar-me para ser militante do PS e, depois, propuseram-me ser candidato à minha freguesia. Portanto, eu entrei na política com 55 anos de idade. Portanto comecei tarde, apesar de considerar que nunca é tarde para fazermos alguma coisa em prol da nossa comunidade. Posso dizer-lhe que nunca, na minha vida, tive a política nos meus horizontes. Eu não me considero muito político, mas ando no meio dos políticos e tento fazer o meu papel com dignidade, ser um homem exemplar, cumprir os meus objetivos e fazer o dia a dia. De facto, eu não estou arrependido, porque consegui aquilo que ninguém esperava, três maiorias absolutas em São Félix da Marinha.
Que balanço faz destes 12 anos à frente da Junta de Freguesia de São Félix da Marinha?
Eu acho que foram 12 anos extremamente positivos. Eu fiz coisas que outros não conseguiram fazer, creio eu. Claro que tenho de dar um grande apreço ao senhor presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, e ao engenheiro Patrocínio Azevedo quando estava na autarquia, que foram sempre grandes amigos meus e ajudaram-me a elevar a freguesia com algumas obras de relevo, pois, de facto, hoje, estamos num patamar bastante elevado.
Quais considera que foram os maiores sucessos do seu ciclo autárquico?
É muito difícil de descrever todos, mas uma das obras iniciais foi a rua de calçada romana no Tanque de Brito, onde não se conseguia passar. Outra foi a ponte que está feita em pedra no Lugar de Espinho, onde também não se conseguia passar e, hoje, tem outras condições. Portanto, foram muitas as ruas que sofreram intervenções, uma vez que estavam muito danificadas. Também, requalificamos a Escola de Moinhos, o Parque Infantil Praceta José Santiago, a Capela Mortuária, a Ponte da Rua Fonte da Amieira, os tanques da localidade, o Largo do Souto. Construímos parques infantis, nomeadamente o Parque Infantil Avenida da Liberdade, o Parque Infantil Nossa Senhora das Necessidades, foram obras de relevo que, apesar de não terem grande impacto financeiro, têm muito valor para as crianças e jovens da freguesia. A construção do Parque de Lazer em Moinhos, dos Ossários no Cemitério de São Félix da Marinha e do Túnel Boca Mar, suprimindo a passagem de nível, assim como dos passeios que não existiam à beira da Igreja de São Félix da Marinha também foram obras relevantes para o território e eu sinto-me muito orgulhoso. Também, assinamos um protocolo com o Agrupamento 575 de São Félix da Marinha, para que os escuteiros pudessem ter uma nova sede. Conseguimos, igualmente, mais uma Bandeira Azul, na Praia de Bocamar o que foi muito importante. Reforcei a frota toda da Junta de Freguesia com carros e camiões. Acho que foram, do meu ponto de vista, 12 anos muito positivos e de muito trabalho. Eu nunca fui homem de gabinete, pelo que não sou um presidente de gabinete, nem um presidente de gravata. Sou um presidente de trabalho, que gosta de estar no meio do povo e de labutar em prol da sua população. Acredito que estou 99,9% acima da média e estou convencidíssimo de que se fosse para eleições ganhava outra vez, isto dizem os fregueses.
Ficarão promessas eleitorais por cumprir?
Acho que não. Temos uma rua que eu gostava de concluir, que é aquela que vai entre a rotunda do Juncal até Espinho, que está péssima. Também, tivemos recentemente a apresentação do anteprojeto, que foi feito pago pela Câmara e pela Junta de Freguesia, do Pavilhão Gimnodesportivo, que será uma obra aliciante, mas que não será feita no meu mandato, mas no de quem me suceder. Também estamos a articular a construção da ciclovia entre Gaia e Espinho, que irá passar pela Avenida da Liberdade, e que é uma obra interessante para o concelho e para a freguesia.
Há alguma decisão que, olhando para trás, tomaria de forma diferente?
Eu não me arrependo de nada. Inclusive, apesar de terem dito que eu era tolo, fiz com que o pessoal da minha terra, do Lugar de Espinho, pudesse circular com destino ao Centro de Saúde, ao Pingo Doce ou à farmácia, sem dar a volta à freguesia, por um caminho que era de servidão, que para já está em terra batida, mas por onde passam muitos carros. Portanto, eu não me arrependo daquilo que eu faço, desde que não cometa erros.
A ação social também foi uma bandeira deste executivo.
Na parte da ação social, nós fomos pioneiros com a Junta de Freguesia de Grijó e Sermonde e Serzedo e Perosinho, nomeadamente com o projeto Gaia Upcycling Fashion, que tem como intuito transformar resíduos têxteis em novas roupas, duplicando o ciclo de vida das mesmas. Também promovemos a EXPOJOB – Mercado de Oportunidades, em parceria com a União de Freguesias de Serzedo e Perosinho. Assinamos, igualmente, um protocolo com a Farmácia do Juncal, que beneficia muitas famílias carenciadas, assim como com o Centro Qualifica do For-Mar e com a Passo Positivo – Associação Sem Fins Lucrativos, para poder ceder gratuitamente até ao limite de 60 fraldas ou fraldas-cueca durante o ano, por acamado.
A Junta de Freguesia aposta em eventos detentores de um grande impacto social, como é o caso de São Félix da Bicharada. De que forma proporciona momentos de divulgação do território e do concelho?
São Félix da Bicharada é um evento criado pela Junta de Freguesia que já somou a sua 10ª edição. Posso dizer-lhe que ao nível do concelho de Gaia fomos pioneiros nisto e eu sinto-me muito orgulhoso, porque é uma iniciativa que tem como principal objetivo sensibilizar os cidadãos para a importância do bem-estar e adoção animal. Através deste evento, nós procuramos dar a conhecer as diversas associações de defesa animal, que apoiam a nossa freguesia, criando condições para que estas possam angariar fundos, bens alimentares e voluntários. Aliás, em Valpaços já estão a copiar o nosso evento e quando assim é, acho que só podemos ficar orgulhosos. Também criamos uma feira, há 11 anos, que é a Feira Semanal e decorre ao sábado de manhã na freguesia, que é algo que não existia. Temos o Dia Mundial da Criança a ser celebrado fortemente na freguesia e realizamos inúmeros eventos culturais na Avenida das Árvores. Eu acredito que tudo o que sejam eventos de sucesso elevam a Freguesia de São Félix assim como o concelho de Gaia, que também se sente mais rico com tudo isto.
Sente que conseguiu manter um diálogo próximo e transparente com a população e as coletividades?
Eu acredito que sim, aliás eu sou sócio de todas as coletividades e tenho uma grande amizade com todas elas, assim como com a população e toda a gente gosta de mim, porque eu também não sei dizer não, pois a minha palavra é sempre: vou tentar resolver, vou tentar articular.
Quais diria que são as reais necessidades da população de São Félix da Marinha?
Eu tenho de mencionar algo que ambicionava, de facto, mas não consegui concretizar que era a construção de um parque de lazer, não só para os nossos jovens, mas principalmente para os nossos velhinhos, onde se pudessem juntar, conviver e conversar. A meu ver, isto seria muito importante, porque era um incentivo para que os seniores de São Félix da Marinha saíssem de casa e desfrutassem de inúmeros momentos ao ar livre com aqueles amigos que, muitas vezes, só encontram no passeio anual da terceira idade que nós organizamos.
A seu ver, quais foram os maiores obstáculos enfrentados nestes 12 anos?
Eu não queria falar muito sobre isso, mas a verdade é que tive poucos obstáculos. Um foi um verdadeiro disparate, pois alguém da oposição tentou denegrir a minha imagem e eu não merecia isso, assim como também tive dois colegas do meu anterior executivo que o tentaram fazer, mas, eu acredito que, no mundo da política, não vale tudo. Porém, como eu sou superior a isto tudo, sempre consegui ultrapassar estes desafios e continuo a ultrapassá-los. Eu sinto-me uma pessoa humilde, realizada e nada me assusta. Eu sou um homem virado para a frente, que procura a sorte. Eu sou um homem que dá o corpo ao manifesto para desenvolver a sua freguesia e para apoiar quem precisa.
Que marca espera deixar em São Félix da Marinha?
Eu acho que vou deixar a marca de um pobre trabalhador, isto é: seriedade, humildade e transparência, acima de tudo. Eu sou um homem afeto ao trabalho e quando sair da junta irei dedicar-me ao trabalho novamente. Não sou homem de ficar fechado dentro da porta. Quando passei pelo Clube de Futebol de São Félix da Marinha, a minha marca ficou lá bem patente, pois deixei sempre dinheiros positivos. Em 2001, deixei 5 mil euros positivos na conta bancária do São Félix. Depois, deixei 439,39 euros, que não é muito, mas é dinheiro, com dívidas pagas. Fui eu que pus os atletas vestidos a rigor com saquinhos e equipamentos, logo, foi na minha era que tudo isso começou. Portanto, sempre fui um homem realizado.
Depois do fim do mandato, qual será o próximo passo?
Eu estou aqui de corpo e alma para ajudar o próximo candidato, aliás, eu estou convencido de que o candidato do PS vai ganhar as eleições, porque eu sou um otimista e nunca fui um homem de perder. Quando eu sair da Junta, pretendo voltar ao trabalho e continuar com a empresa. Eu já tive oito funcionários, agora tenho dois e não vou mandar ninguém embora. Portanto, enquanto eles quiserem trabalhar, trabalham e quando quiserem ir embora, eu fecho e reformo-me. Eu não gosto de ferir ninguém e acredito que tenho de ser sensível com aqueles que trabalham, pois se me ajudaram ao longo destes anos é ao lado deles que eu tenho de estar.
Nesse seguimento, podemos depreender que vai apoiar a candidatura de Sérgio Morais à Junta de Freguesia?
Claro que sim, eu ando a apoiá-lo fortemente. O Sérgio Morais é um homem com uma popularidade fantástica e é um homem como eu, terra a terra, embora ele esteja num patamar mais elevado, pois tem uma formação académica que eu não tenho, uma vez que é Engenheiro Civil, na Câmara Municipal de Espinho e acredito que ele ainda pode fazer melhor do que eu. Se fizer igual a mim é bom, mas se fizer melhor do que ainda melhor. Temos de ser otimistas e dar as possibilidades àqueles jovens que de facto merecem e que trabalham e ele é um deles.
Sairá com o sentimento de missão cumprida?
Exatamente, isso é o que me interessa, é sair daqui de cabeça levantada, com a certeza de que não defraudei ninguém e não deixei dívidas, porque eu encontrei esta casa cheia de dívidas e ainda temos um problema para resolver de 110 mil euros que vem de há 12 anos, que não é meu, mas do anterior executivo. Isto é um percurso de vida de quem começou a trabalhar com oito anos de idade. Como lhe disse anteriormente, a minha vida está muito estável, não porque vim para a política, mas pelos meus braços e pelo esforço do meu trabalho e pela minha dedicação. O meu maior orgulho é ser pobre, sério e um homem de trabalho.
Quais são as suas perspetivas para as próximas eleições autárquicas?
Eu estou confiante. O meu colega terá de fazer a equipa dele, mas eu acredito que, quer ao nível do concelho de Gaia, quer ao nível local, nos vamos manter na linha.
A nível político, vai abrir-se alguma porta para si?
Não quero, porque também temos de ser reais. Eu só ficarei na lista de faltar gente, mas em último, pois eu faço 67 anos em agosto. Comecei, como lhe disse, a trabalhar com oito anos, já dediquei 27 anos de trabalho a esta freguesia, pelo que acho que está na hora de eu descansar, viver a vida com a minha mulher, com as minhas filhas, sossegadamente e não estar metido em nada, apesar que há uma possibilidade de ser candidato ao Rancho Folclórico de São Félix da Marinha.
Qual é a mensagem que gostaria de transmitir?
Eu gostava de dizer a todos os colegas que me conhecem e que participaram comigo em bons momentos autárquicos, que sejam felizes, tenham boa uma relação e sucesso nas suas vidas pessoais, como dizer agradecer a todos os são-félix-marinhenses, por terem confiado na minha pessoa, ao longo destes anos todos. Eu estarei sempre com as portas e o coração aberto, na totalidade, para vos ajudar em tudo o que precisem. Nunca vou virar as costas a ninguém na minha vida. Isso é fundamental.