Num mandato atípico, com uma pandemia mundial e a mudança recente do presidente de Junta, André Mendonça, atual secretário da Junta de Freguesia da Ribeira Grande – Matriz assume nesta entrevista ao AUDIÊNCIA que será candidato nas próximas eleições autárquicas e que a colaboração com o executivo camarário é uma mais valia. Contudo, André Mendonça esclarece que, apesar da sede da autarquia se situar na freguesia da Matriz, não sente que esta seja beneficiada em detrimento de outras freguesias e que tem de lutar pelos projetos que querem ver implementados.
A freguesia da Ribeira Grande – Matriz teve, há uns meses atrás, uma mudança de presidente da Junta. Isso fez abanar a estrutura da Junta ou já estavam preparados?
De facto, houve a mudança do presidente e nós já tínhamos preparado de antemão essa situação, foi um trabalho que foi sendo feito para dar continuidade ao bom trabalho desenvolvido que tem sido feito aqui na freguesia.
Ao longo destes três anos e meio, quais as obras relevantes que esta autarquia conseguiu implementar?
São várias, um exemplo é a Casa do Espírito Santo que as pessoas daquele bairro já pretendiam isso há muito tempo e nós conseguimos construir e que teve também a renovação da infraestrutura desportiva, o polo desportivo de Santa Luzia também foi todo requalificado e ficou com melhores condições. A nível de obras conseguimos identificar várias obras, e devido ao valor dessas mesmas obras tivemos de indicar à Câmara Municipal da Ribeira Grande para conseguir parte dos financiamentos que são fundamentais, assim como os parques que são grátis, e também estivemos ligados a obras ligadas ao ambiente, estamos a trabalhar nisso há algum tempo que é o trilho que estamos a fazer.
Neste mandato também aconteceu a inauguração da tão desejada Frente Atlântico.
Exatamente. Aqui na parte da Matriz foi construída a ponte que era tão desejada há muitos anos pelas pessoas da Ribeira Grande, nomeadamente pelas da Matriz. Também foi uma obra da Câmara Municipal e é importante para continuar a fazer a ligação da frente mar.
Qual a interação entre a autarquia e as associações culturais, recreativas e desportivas da freguesia?
Na minha opinião são excelentes, estão sempre a celebrar contratos com qualquer instituição da freguesia, seja cultural, seja desportiva, estamos sempre de portas abertas para os receber e sempre prontos para ajudar. Sabemos que o apoio que damos financeiramente é pouco para as instituições, mas é o que podemos dar. Porque eu também já estive ligado a uma instituição e, por isso, sei o que está do outro lado.
Apesar das Juntas de Freguesia ainda serem, na maioria dos casos, o parente pobre do poder autárquico e, portanto, não ter as verbas necessárias para acudir a tantos “fogos” que ocorrem nas freguesias, têm um poder muito importante que é persuadir os outros poderes a virem resolver essas situações. Isso tem acontecido?
Sim, nós temos um apoio muito forte quer da Câmara Municipal da Ribeira Grande, que fica na freguesia da Matriz, e trabalhamos sempre como uma equipa. O bem comum são as pessoas, trabalhamos para as pessoas e tem sido, de facto, um forte aliado. Através do antigo Governo Regional, tínhamos um protocolo assinado para ajudar na habitação degradada, e mais apoios do Governo Regional anterior não tivemos nada.
Este mandato também fica marcado pela pandemia da Covid-19. Deixou muitas marcas na freguesia?
Infelizmente, a Covid-19 veio atrapalhar a vida a todos. Tivemos muitos pedidos de ajuda, muitas pessoas carenciadas, tivemos muitos casos de Covid na freguesia também, e a intenção da Junta foi ajudar a acudir o mais possível as pessoas a nível de bens alimentares e a nível de medicamentos e também, infelizmente, travou-nos a dinâmica que estava implementada pela freguesia a nível de eventos, de ligações com associações, isso teve de parar tudo.
Qual o relacionamento, neste campo, com instituições que tenham um papel importante, duas delas, uma com sede e outra com um posto na freguesia da Matriz, nomeadamente a Casa do Povo da Ribeira Grande e a Segurança Social, e outra instituição que, segundo a última abordagem estava a fornecer cabazes alimentares e outros, a 500 famílias do concelho? Qual tem sido a parceria, a troca de informações entre estas instituições e a Junta de Freguesia?
Temos a preocupação de estar sempre em sintonia com essas instituições, com a Casa do Povo, com a Segurança Social, entre outras, para não acontecer ajudar a mesma família por parte de várias instituições. Esse é um erro muito grande, e a nossa preocupação é esta coordenação entre as instituições, que é para chegar o mais longe possível e ajudar um maior número de pessoas com necessidade.
Felizmente, esta é uma freguesia rica em instituições de cariz social, mas temos, por exemplo, um lar da terceira idade, o Lar César Augusto Cabide, onde se sabe que a Covid passou ao lado, mas a freguesia em si, no global, passou ao lado da pandemia?
Podemos dizer que passou ao lado, tivemos alguns casos, como todas, mas os habitantes da Matriz souberam respeitar as regras e foram muito cuidadosos. Daí eu acho que, de uma forma geral, a Matriz conseguiu passar ao lado. Temos, como citou, a instituição do lar de idosos que é uma grande instituição, que faz um belíssimo trabalho, e estamos sempre em parceria com eles, tivemos várias reuniões com o presidente dessa instituição, de maneira que penso que a Matriz, e as pessoas da Matriz, souberam lidar com esta situação, embora não seja fácil.
O facto de a Câmara Municipal estar sediada na freguesia da Matriz é uma mais valia para uma Junta de Freguesia, porque, aparentemente, basta bater à porta e normalmente as Câmaras Municipais gostam de ter um jardim à sua volta. A Junta de Freguesia tem sido beneficiada por isso?
Não, penso que não. Beneficiada em detrimento das outras freguesias penso que não. De facto, é uma honra ter a Câmara Municipal aqui sediada na Matriz mas é de referir que nos últimos anos os investimentos foram muito poucos aqui na Matriz, a nível de saneamento básico, a nível de pavimentação e esta Junta, com muita insistência e muito trabalho, fez propostas à Câmara Municipal, na pessoa do seu presidente, e disse que era as artérias principais que necessitava para os investimentos. Portanto, como somos vizinhos, temos de ir à luta, temos de apresentar propostas, ainda recentemente sobre a rotunda do Espírito Santo, o largo das freiras, que são obras necessárias.
O facto de a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia vestirem a mesma cor partidária também foi uma vantagem?
Sim, isso sem dúvida nenhuma. Como eu costumo dizer, trabalhamos em equipa e quando se trabalha em equipa o resultado está à vista de todos. O resultado é outro quando se trabalha em sintonia. Claro que temos as nossas próprias ideias, mas conseguimos sempre chegar a um consenso e quem beneficia disso são sempre os cidadãos que moram na Matriz. De maneira que penso que trabalhar com a Câmara do PSD e a Junta do PSD é sempre uma mais valia para todos.
O facto de o presidente da Junta de Freguesia, António Anacleto, ter delegado em si esta entrevista sobre o passado, este mandato e projetar o futuro da freguesia, é sinónimo de que a sua entrada não foi de um “corpo estranho”, mas sim de mais um para ajudar a que a qualidade de vida dos ribeiragrandenses da Matriz pudesse ser consolidada?
Sem dúvida, o António Anacleto era o presidente da Assembleia de Freguesia, está connosco e estava por dentro dos assuntos, de maneira que não foi um corpo estranho vir para este executivo. Só que eu já estava aqui há mais tempo, apanhei o Hernâni Costa, por isso posso ter um pouco mais de conhecimento de causa mas é sempre uma mais valia trabalhar com o António Anacleto.
Hernâni Costa que não saiu da freguesia, apesar de ter mudado de porta manteve-se na freguesia, numa instituição regional…
Sim. Continua na freguesia e continua connosco, continua a trabalhar connosco também.
Continua a viver Matriz?
Sem dúvida. Sempre presente e sempre disponível. Sou amigo dele há longa data, e falamos muitas vezes.
Com esta pandemia, se algo de bom se pode tirar, foi uma maior consciência cívica das populações e também, no caso dos órgãos autárquicos, tempo para preparar o futuro. O que é que os cidadãos que habitam nesta freguesia podem esperar de futuro?
Bem, o futuro a Deus pertence, como eu costumo dizer, mas estou com esperança que a Covid fique mais controlada, que toda a gente possa ser vacinada, e só a partir daí então começamos a trabalhar no futuro. Bem sabemos que nunca vai ser como era no passado, vai continuar a haver restrições e isso vai dificultar muito a vida da Junta, da Câmara ou de qualquer associação. Mas temos de continuar a trabalhar, vamos arranjar alternativas.
E quais são os grandes projetos que a autarquia tem preparados para os tempos vindouros?
Temos em mãos já a conclusão do nosso trilho, que é valorizar a nossa ribeira, que fica no centro da freguesia, também estamos a trabalhar no Orçamento Participativo com o miradouro do Atlântico, e temos mais projetos para o futuro, como é lógico.
Um dos grandes projetos do município para 20/30, além de consolidar o virar da cidade para o mar é também virar a cidade para a ribeira. Isso vai proporcionar um engrandecimento da freguesia da Matriz?
Sem dúvida. Como eu disse há pouco, a valorização da nossa ribeira, porque não são muitas as cidades que têm no centro um caudal de uma ribeira como aqui, e isso temos de valorizar. Já passou os anos em que a ribeira servia como esgoto, hoje em dia não. Hoje em dia temos ali uma beleza natural que a natureza nos ofereceu e temos de cuidar dela e a preocupação da Junta de Freguesia da Matriz é mesmo essa. Continuamos a limpar a ribeira a nível de vegetação, continuamos com máquinas dentro da ribeira e estamos a trabalhar no trilho que é essa valorização da nossa ribeira.
Fala sempre em “nós”. Isso significa que a equipa está disponível para continuar pós eleições, se assim os ribeiragrandenses da Matriz o solicitarem?
Sim. Já foi anunciada a minha candidatura, portanto, vou-me candidatar à Junta de Freguesia da Matriz nas próximas eleições e já estamos a preparar novos projetos e novas ideias, novas obras, para manter a Matriz sempre com este desenvolvimento.
Novas obras para além daquelas que referiu há pouco?
Sim. Estamos a trabalhar nisso, ainda não temos nada em concreto, mas já estamos a trabalhar com engenheiros e arquitetos nesse sentido.
As restrições estão a ser levantadas, por isso, temos o dia da freguesia no princípio de setembro, será que vai marcar o regresso dos médios eventos? Até porque é uma freguesia em que a emigração é uma fatia importante e é normalmente nesta altura que estão por cá?
Vamos fazer o dia institucional, que é o dia da freguesia, que é dia 3 de setembro, que havia de ser no sábado na festa do Coração de Jesus, vai-se realizar o dia institucional com homenagens a entidades e pessoas, nomeadamente, vamos homenagear, devido ao Covid, a parte da restauração que teve um forte impacto pela negativa e será o senhor Rui Cordeiro, do Alabote, também a peixaria Almeida, que se situa fora mas os proprietários residem cá, e iremos homenagear o proprietário José de Almeida, e a personalidade será o Alfredo Vieira, que esteve sempre e ainda está ligado ao grupo coral infantil da nossa Igreja, também dá catequese e incentiva muito as crianças a aprender música. Ou seja, é uma referência na freguesia. E a nível desportivo, o escalão de juniores do Sport Clube Ideal pela conquista do Campeonato de São Miguel, que são bicampeões.