NO RUMO CERTO

O Partido Comunista Português realizou a sua Conferência Nacional, mais uma, na linha ideológica habitual de procurar identificar os problemas dos trabalhadores, do povo e do País, para daí extrair as necessárias conclusões, efectuar as propostas de medidas para ultrapassar os problemas e ao mesmo tempo reforçar o Partido e  afirmar o seu projecto, assim suscitando também um amplo envolvimento do colectivo partidário e promovendo uma confiante perspectiva de futuro.

Contrariando algumas vozes que andam há anos a vaticinar o desaparecimento do Partido, com as habituais declarações de intenções dos autores, o colectivo comunista elegeu os respectivos delegados a esta Conferência, depois do debate interno previamente realizado nas várias organizações partidárias, assim demonstrando uma vez mais a democraticidade internamente existente.

Reconhecido como único Partido que lutou organizadamente contra o fascismo, que vitimou muitos militantes que foram presos, torturados e assassinados, o PCP foi fundador da democracia portuguesa, teve intervenção destacada na elaboração da nossa Constituição, contribuiu activamente para o período mais criativo da Revolução do 25 de Abril e possui hoje representatividade honesta e competente em Juntas de Freguesia, Câmaras, Assembleia da República e Parlamento Europeu.

Um Partido diferente, com mais de 100 anos de existência, com identidade, ideologia e programa para o nosso País, olhado como incómodo pelo capital e pelos adversários políticos, interessados na manutenção duma sociedade exploradora, injusta, nepotista, corrupta e reformista, com abutres peritos em mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma.

Afirmam alguns comentadores que, «O PCP precisa de se renovar, de se abrir a novos temas e públicos», mas eles sabem que, em verdade, no PCP estão organizados operários e outros trabalhadores, pequenos e médios agricultores, intelectuais e quadros técnicos, pequenos e médios comerciantes e industriais, que assiduamemte exercem o dever de cidadania nos vários sectores da vida nacional, tornando, pois, inúteis tais gratuitas recomendações.

É um Partido diferente, sim, também porque utiliza como sua base teórica, a concepção materialista e dialética do mundo como instrumento de análise e guia para  a sua transformação revolucionária, eliminando a injustiça social e a exploração do homem pelo homem.

Porém, sendo diferente, também muda de Secretário Geral, quando surge o momento adequado e seguindo as regras internas adoptadas, as quais e de novo causaram algumas perplexidades nos comentadores habituais, com honrosas excepções, que gostariam dum processo diferente ditado de fora.

Porém, a vida continua e o PCP tem novo Secretário Geral, cujo mandato possui o simbolismo dos princípios daqueles que nos Sindicatos arriscam pelos semelhantes que ganham mal e perdem direitos, daqueles que pertencendo às Comissões de Utentes se movem pelo povo que vive precariamente em habitações deficientes, que viaja em comboios e autocarros apinhados com horários desregulados, que se desloca de madrugada por um lugar na fila do Centro de Saúde, daqueles jovens estudantes intervindo pela preservação ambiental e cedo aprendendo a exigir Escolas com meios humanos e materiais para um Ensino inclusivo, ou seja, todos quantos lutam para que todos possamos usufruir de uma vida melhor.

É este o pecado original do Partido Comunista Português que opta por ser pecador, em vez de santo com sapatos que não lhe servem à medida, que continua a demonstrar que há outras soluções para os graves problemas da população e do País, que há alternativa às desigualdades e injustiças, que há alternativa à guerra que hoje nos toca a todos de perto, guerra cujas origens estão bem identificadas na expansão da NATO para leste e na tentativa dos Estados Unidos de domínio geoestratégico global, situação que carece de esforço contínuo a favor da Paz, acção que infelizmente ainda não entrou na esfera racional de muita gente, que prefere emocionalmente seguir o pensament único veiculado por aqueles, sempre os mesmos, que, apoiados pela «media» dominante, sempre lucraram e lucram  com as aventuras belicistas dos nossos tempos.

O Partido Comunista Português tem novo Secretário Geral e novo líder parlamentar mas, conforme declarou Jerónimo de Sousa na entrega de testemunho, «o vento está duro e muito forte, fustiga-nos o rosto, mas nunca hão de ver o vento a apanhar-nos de costas, porque estaremos sempre virados para a frente, em torno do nosso projeto, do nosso ideal, do nosso partido», afirmação esta corroborada por Paulo Raimundo que irá dar continuidade ao cargo de Secretário Geral com todo o empenho, honestidade, determinação e confiança, mantendo os valores de Abril no futuro de Portugal.