MEMÓRIAS DA DITADURA REVISITADAS NA COMUNIDADE PORTUGUESA EM PARIS

No passado dia 21 de setembro, foi apresentado, em Paris, o livro “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”. A obra, da autoria do historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político, foi apresentada na Casa de Portugal André de Gouveia, na Cidade Internacional Universitária de Paris.

A sessão de apresentação, que encheu este espaço de irradiação da cultura portuguesa na capital francesa, de emigrantes, lusodescendentes, empresários, líderes comunitários, dirigentes associativos e órgãos de informação da diáspora, esteve a cargo de Paulo Pisco, Deputado eleito da Assembleia da República pelo círculo eleitoral da Europa, que enalteceu o percurso de Daniel Bastos em prol da promoção do papel das comunidades portuguesas. Segundo o mesmo, a apresentação deste livro no ano em que se assinala meio século da Revolução de Abril, acentua o papel da memória histórica, contribuindo assim para uma sociedade mais conhecedora da sua história recente, e mais participativa, plural e democrática.

Nesta nova obra, uma edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril, Daniel Bastos revela o espólio singular de Fernando Mariano Cardeira, cuja lente humanista e militante teve o condão de captar fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura portuguesa nos anos 60 e 70.

Através das memórias visuais do antigo oposicionista, assentes num conjunto de centena e meia de imagens, são abordados, desde logo, as primeiras manifestações do Maio de 1968 em Paris, acontecimento icónico onde o fotógrafo engajado consolidou a sua consciência cívica e política. E, com particular incidência, o quotidiano de pobreza e miséria em Lisboa, a efervescência do movimento estudantil português, o embarque de tropas para o Ultramar, os caminhos da deserção, da emigração “a salto” e do exílio, uma estratégia seguida por milhares de portugueses em demanda de melhores condições de vida e para escapar à Guerra Colonial nos anos 60 e 70.

Para João Costa Ferreira, Diretor da Casa de Portugal André de Gouveia, constituiu “um reconhecimento dos laços históricos que unem Portugal e França”, bem como a “importância da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês”.

No final da sessão de apresentação do livro, os presentes puderam degustar de uma seleção de vinhos verdes, promovida pelos Vinhos Norte, um dos maiores produtores nacionais de vinho verde que procura aliar a tradição de fazer vinho com a inovação no sector.