A PANDEMIA E O REFLEXO ECONÓMICO

Quanto ao ponto de vista económico, as expectativas da maior parte dos portugueses em relação a um futuro próximo são muito pessimistas.

No entanto e no questionário do Nova SBE Health Economics and Management KC, com  7.170 observações entre 13 de Março e 22 de Abril, baixa a preocupação com a Covid-19 nos dias mais recentes se observarmos que os fins de semana com sol coincidiram com uma redução do isolamento reportado, não sendo estranha talvez uma possível ligação desta evolução com a notícia de Portugal ter ultrapassado o pico de infeções no dia 18 de Abril, contudo o isolamento permanece elevado demonstrando uma disciplina de louvar.

Relativamente à preocupação com a situação económica essa não diminuiu, pois dois em cada três portugueses já sentem efeitos negativos na sua situação financeira e até antecipam um futuro negro a curto prazo, nomeadamente os trabalhadores da restauração, comércio, turismo, cultura, construção civil e de apoio social, cuja  inquietação atingiu o ponto mais alto no início de Abril, pois uns foram despedidos ilegalmente por entidades patronais oportunistas, outros sofrem os efeitos do lay-off e muitos outros por terem trabalho precário.

Hoje, com o abrandamento das medidas preventivas, estamos no momento exacto para provarmos que somos um povo cumpridor, responsável e com elevado sentido de cidadania, pois precisamos de recuperar a atividade económica, mas isso só depende de como nos comportarmos todos no momento presente.

Num estado de calamidade e embora as autoridades possam e devam agir com mais determinação face à desobediência, é necessário o confinamento, a desinfecção das mãos com mais assiduidade, a manutenção do distanciamento social e o uso de máscara nas situações previstas e estas acções cabem à população, pois não é possível vigiar toda a gente ou colocar fiscais em todos os estabelecimentos de comércio ou em todos os transportes públicos, ainda não podemos encher os parques, as praias e as esplanadas ou regressar aos divertimentos, pelo menos enquanto não tivermos uma vacina disponível.

Se assim não for só vamos regredir até à estaca zero, dado que o perigo de uma segunda vaga é real e todos os especialistas o afirmam, de tal forma que e apenas como exemplo, na Alemanha embora já desconfinada as autoridades preparam um ressurgir do surto.

Se tal acontecer, vai custar muito mais a todos e originará impactes ainda mais dolorosos na economia e nas nossas vidas, é agora que estamos à prova e assim sendo cabe-nos cumprir as indicações de segurança sem começar a ceder às tentações e pensar que está tudo sob controle, pois não está e tudo depende  de cada um de nós.

Hoje, quando nos depauperados  hospitais os utentes se amontoam devido à falta de recursos que foram engolidos pelo capital privado, e nós portugueses ainda possuímos um SNS sempre criticado pelos mesmos que agora lhe exigem mais e melhor, quando 1/4 das pessoas de famílias que ganhavam até 650 euros perdeu todo o rendimento, quando há milhões de pessoas que perderam o seu emprego, enquanto se delapida a vitalidade, a inteligência e a criatividade daqueles que não têm recursos para as desenvolver, nestes difíceis momentos, a mudança de estilo de vida ou a transformação do mundo constitui a mais contundente afirmação de esperança no futuro, porque a infeção é causada pela coronavírus, mas a pandemia é o capitalismo explorador.