“A TROFA, COMO CONCELHO, TEM GRANDES OPORTUNIDADES”

Em conversa com o AUDIÊNCIA, José Manuel Fernandes, presidente da Associação Empresarial do Baixo Ave, uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, criada em abril de 2000 e reconhecida como entidade de Utilidade Pública em 2012, afirma que a Trofa tem grandes oportunidades em termos de investimento privado.

Contudo, para José Manuel Fernandes, existem várias condicionantes, como as infraestruturas viárias que condicionam os que se tentam fixar no concelho. O presidente vai mais longe e afirma mesmo que “neste momento os Trofenses e os empresários Trofenses acreditam estar a ser vítimas de um jogo político, o que é inadmissível”.

 

 

Como define a atual situação do tecido Empresarial na Trofa?
Defino como pujante. O tecido empresarial tem uma matriz bastante heterogénea, desde a microempresa até à grande empresa, e, também tem uma heterogeneidade em relação aos sectores que abrange, estando inclusivamente integrado numa linha do maior investimento direto estrangeiro, concretamente alemão, no nosso país. A par com o concelho de Famalicão, também aqui no concelho da Trofa temos grandes empresas alojadas e, ao mesmo tempo, empresas satélite que trabalham por subcontratação, criando assim uma importante cadeia de valor. A Trofa, como concelho em si, tem grandes oportunidades, tem uma logística e uma localização geográfica extraordinária, o que permite ao tecido empresarial e às empresas que estão cá instaladas, terem uma posição privilegiada em relação ao escoamento dos produtos de exportação, pelo facto de estar perto de grandes urbes da logística, tais como o Aeroporto Sá Carneiro e o Porto de Leixões e, a proximidade de vias de grande comunicação para o exterior, sobretudo para Espanha.

 

Mas também existem algumas condicionantes…
A Trofa tem um grande obstáculo, é a sua parte intraestacial, ou seja, o interior da Trofa está manietado, está bloqueado. Temos uma qualidade de vida e de atividade com bastante dificuldade, tendo em conta as vias internas de comunicação. O concelho, na continuidade daquilo que vem da Maia e se prolonga para Famalicão, tem como principal via de comunicação uma única estrada municipal, que é onde desagua toda a atividade económica e toda a atividade de interligação e vida das populações. Isto torna-se num obstáculo tremendo que os diferentes Governos ainda não se aperceberam que esta dificuldade tem que ser resolvida numa ótica de investimento público e não de despesa pública. E eles como convertem isto sempre numa sensibilidade de ‘pró-despesa’, então vão empurrando com a “barriga prá frente” sem nunca resolverem nada. Não chega termos uma A3 a cerca de seis quilómetros do centro da Trofa, ou uma A28 a cerca de treze quilómetros do centro da Trofa, porque vivemos aqui numa densidade populacional e uma densidade de polos industriais fortes, de maneira que isto para nós é viver em terror. Queremos passar da Trofa para o sul de Famalicão, onde temos empresas que comunicam connosco e que são nossas subsidiárias, e, se houver um acidente ou outro qualquer problema ali próximo da ponte do rio Ave, então estamos automaticamente bloqueados e chegamos inclusive a desistir e voltar para trás, terminando aí o dia de trabalho dos nossos transportes. Ainda há dias, aquando da nossa intervenção no discurso de tomada de posse da direção da AEBA, assumimos que o Governo veja esta situação numa ótica de investimento e não numa ótica de despesa, mas infelizmente isto tem-se transformado num jogo de cariz político. Neste momento os Trofenses e os empresários Trofenses acreditam estar a ser vítimas de um jogo político, o que é inadmissível! O país está a perder, a atividade económica da região está a perder, os nossos valores, pelos quais lutamos dentro das nossas empresas, estão a ser afetados por estas condições. Em contrapartida, já estão a resolver o problema de Beja. A Autoestrada do ‘deserto’ está a ser construída, em low profile, para que ninguém fale nisso, mas os milhares estão a ser colocados na estrada do ‘lá vai um’. Como português, desejo que o Aeroporto seja rentabilizado, e nessa altura a estrada, os nossos impostos, nós trabalhamos para pagar essa estrada aqui no Norte, e, esperamos tudo isso seja rentabilizado.

 

Perante esta dificuldade viária, o facto do empresário se instalar na Trofa é ou não uma vantagem?
Em termos de localização geográfica é uma vantagem e com um potencial extraordinário. Agora vamos ‘polir’ a pedra preciosa que é o concelho da Trofa e vamos dar condições de valorização à região. Da maneira que estamos, temos empresários que já se começam a arrepender de terem optado por colocar cá as suas empresas, concretamente associados da AEBA que vieram da Galiza e investiram aqui, e que se vêm aflitos com situações que se registam no dia-a-dia, como por exemplo o simples facto dos seus vendedores saírem para a rua e, passado meia hora, o empresário descobrir que o seu colaborador ainda se encontra parado dentro do concelho da Trofa, em virtude de problemas de trânsito. Há aqui aspetos que são desvantagem, como por exemplo os terrenos que dispomos para a instalação em áreas empresariais, os quais estão extremamente caros. Isto é uma preocupação para a AEBA, pois os empresários que são detentores de terrenos infraestruturantes para a atividade económica, têm que repensar e ajustar os valores, numa ótica de aqui podermos receber mais empresas, e, com isso, assistirmos a um maior desenvolvimento de outras áreas de negócio. Por outro lado, será vantagem no dia em que a Câmara da Trofa concluir o grande esforço que vem desenvolvendo para a criação e homologação de duas novas áreas empresariais, precisamente para, de alguma forma, contrabalançar com esta oferta cara, e que se irão localizar junto ao nó da A3 e ao nó da Carriça. Ambas estão contempladas numa obra infraestruturada na variante, a qual lhes dá apoio de comunicação, tudo isto está incorporado numa cadeia de valor que tem que ser vista numa ótica de investimento.

 

Considera então que o trabalho que vem sendo realizado pela Câmara, em prol do desenvolvimento da economia do concelho está bem direcionado?
Indiscutivelmente! Enquanto num passado recente se deixou cair um projeto importante na área empresarial, hoje a Câmara está a tentar recuperar esse projeto, estando a ser desenvolvido um esforço, inclusive com a colaboração da AEBA, no sentido de criarmos espaços e infraestruturas que sejam competitivas para atrair novas empresas. Neste momento, a importância logística e o posicionamento da Trofa é de tal maneira grande, que a Maia já não quer certo tipo de indústrias, pois não tem espaços, o Porto nem se fala, pelo que, é na Trofa que temos condições excecionais para receber certas indústrias, inclusive aquelas que têm permissão para emitir um certo coeficiente de poluição, dentro do plano de gestão do Carbono (Co2).

 

Acredita que num futuro mais ou menos próximo esses empresários possam vir a instalar-se aqui no concelho da Trofa?
O trabalho de cooperação que a AEBA tem desenvolvido com a Câmara da Trofa e com o COPRE (Concelho Consultivo Pró-Economia da Trofa), pretende gerar condições à boa instalação de novas empresas cá no Concelho, por isso, acredito que esse futuro esteja cada vez mais próximo.