ATÉ NA MORTE AS DESIGUALDADES SE MANIFESTAM

O jornal britânico The Daily Mail acaba de nos surpreender com a revelação de um conjunto de telegramas, actualmente nas mãos do historiador Charles Haas, trocados entre o navio CS Mackay-Bennett e a empresa White Star Line, proprietária do Titanic.

Com efeito, o navio que prestou socorro ao naufragado Titanic em 1912, não estava preparado para recolher uma tão grande quantidade de vítimas e os responsáveis da embarcação decidiram deitar borda fora alguns deles, escolhendo para esse efeito os passageiros mais pobres alojados na terceira classe para salvaguardar o lugar aos mais ricos da primeira e segunda classes.

O capitão do barco de socorro, mediante ordens recebidas, teve que fazer uma selecção dos cadáveres a preservar e dos que seriam atirados ao mar, conforme constata o jornal, uma vez que não tinha condições para acolher tantos corpos.

Um dos telegramas comprova que foi feito «um registo cuidadoso de todos os documentos, dinheiro e valores encontrados nos corpos», deixando, porém, uma pertinente pergunta «se não seria melhor enterrar todos os corpos no mar, salvaguardando preservar somente os que as famílias assim o solicitassem».

Continuando com esta mórbida e chocante revelação é referido pelo jornal que «no total foram rejeitados 116 dos 334 corpos recuperados» enfatizando que «decidiu-se priorizar os passageiros de primeira e segunda classes», cujos cadáveres «foram recuperados, embalsamados e devolvidos aos seus entes queridos».

Quanto aos corpos dos passageiros de terceira classe que morreram no naufrágio «foram lançados para as geladas profundezas do Atlântico Norte», onde foram também sepultados os elementos da tripulação do Titanic, como manda a tradição, destaca o jornal britânico.

Os telegramas dão também mostras da grande operação logística que o acidente causou, bem como da desorientação e do caos que se gerou perante a necessidade de lidar com tantos corpos.

O Titanic afundou-se no Atlântico a 15 de Abril de 1912, depois de uma colisão com um icebergue, provocando a morte de mais de 1500 pessoas das 2.224 transportadas, incluindo passageiros e tripulação.

A famosa história do Titanic conta que o navio se afundou após colidir com um iceberg, durante a viagem inaugural de Southampton, em Inglaterra, para Nova Iorque, nos EUA, no entanto, um especialista que estuda o acontecimento há 30 anos, garante que o fogo que deflagrou quando o navio ainda estava no estaleiro de Belfast, na Irlanda, foi o grande responsável pelo desastre.

No documentário «Titanic: The New Evidence», o jornalista Senan Molony afirma que as chamas e o calor causado pelo incêndio terão fragilizado o casco do navio que, ao embater no icebergue, não resistiu ao choque.
O jornalista analisou fotografias pouco conhecidas tiradas pelo principal engenheiro electrotécnico do navio, onde são visíveis marcas pretas ao longo do lado direito dianteiro do casco, ou seja, o fogo deteriorou gravemente a respectiva estrutura.

Por outro lado, o jornalista afirma que os oficiais do navio terão recebido instruções do presidente da empresa construtora, Joseph Bruce Ismay, para não mencionarem esta situação aos passageiros que embarcaram três semanas depois e, inclusive, o navio terá sido posicionado do lado contrário no porto de Southampton, no momento do embarque, para que os passageiros não vissem o lado lesado, ou seja, negligência criminal a deitar por terra a tese de naufrágio devido exclusivamente a choque com um iceberg.

Especulações ou conjecturas, fica-nos a dúvida se o Titanic devia ou não ter zarpado para uma viagem fatídica, mas retemos essencialmente o facto, corroborado pelos telegramas, do critério observado quanto à escolha dos corpos a sepultar nas gélidas águas do Atlântico Norte, baseado na capacidade económica dos passageiros, situação a causar indignação em muitos, mas seguramente em alguns a ser considerada normal como, aliás, podemos constatar nos dias de hoje, quando confrontados com decisões na área da Justiça.