DESEMPREGO JOVEM: “NÃO HÁ UMA PREOCUPAÇÃO DE MÉDIO A LONGO PRAZO, HÁ UMA PREOCUPAÇÃO DO MOMENTO”

Flávio Soares é o presidente da Juventude Social Democrata dos Açores desde março de 2017, sendo que foi reeleito para mais dois anos de mandato no XX Congresso Regional da JSD/Açores (que aconteceu de 25 a 27 de janeiro deste ano).

Em entrevista ao AUDIÊNCIA o jovem fala sobre o passado e o futuro da JSD/Açores, sobre o líder do PSD, sobre o Governo Regional e, ainda, sobre os jovens açorianos.

Como veio parar à JSD? O que é que o interessou e o que é que o fez ser militante?
Primeiro preciso dizer que detestava política. Não gostava mesmo nada, mas sempre fui muito ligado ao PSD. Isto porque o concelho do Nordeste sempre foi governado pelo PSD, à exceção do último mandato, que foi governado pelo partido socialista. Portanto, o PSD no Nordeste era um “bastião”, era a força viva do poder local. Tínhamos a Câmara e tínhamos quase todas as Juntas de Freguesia, que era o caso da minha freguesia, Santana.
Dizer com isto que era mais chegado ao PSD neste sentido. Depois, em 2011, recebi um convite para ir à Direção Regional da Juventude em representação da Câmara Municipal do Nordeste para participar num colóquio sobre a juventude. Na altura não queria aceitar o convite, mas acabei por aceitar. Estive presente nesse colóquio. Depois, o presidente da Câmara na altura, Dr. José Carlos Carreiro, ligou-me uns dias depois a agradecer a disponibilidade por ter ido e a elogiar muito a minha prestação no colóquio. Eu, um miúdo, não gostando de política, receber um elogio daqueles foi “uau”. Resumindo e concluindo, ao fim de uns tempos sou convidado para integrar a Comissão de Política de Ilha. Na altura era o João Moniz o candidato a presidente, e sou eu um dos vice-presidentes durante dois anos. O trabalho foi surgindo e fui colaborando com a JSD local, portanto, tanto concelhia como de ilha, também colaborando nas ações da JSP regional cá em São Miguel.
Chegou ao dia em que recebo o convite para ser secretário-geral da JSP/Açores. Na altura o candidato era o Daniel Pavão, que me convidou para ser o seu secretário-geral. Na altura pensei em recusar logo à partida porque não fazia sentido. Não conhecia as pessoas, não conhecia a estrutura regional, nunca tinha estado num órgão regional, mas, ao fim de um tempo acabei por aceitar e integrei a lista do Daniel como secretário-geral. Durante os dois anos de secretário-geral sempre dei o meu máximo. Isto é um princípio que tenho: em tudo o que me meto, independentemente do que for (não só na política), como também noutros organizamos, como foi no grupo de jovens da minha paróquia, em que fui coordenador durante alguns anos. Em todas as iniciativas em que me colocava e que me coloco, sempre fui com a máxima disponibilidade e com o maior empenho possível. Assim foi durante os dois anos de secretário-geral.
Chegou ao fim. E agora quem se vai candidatar? Isto porque o Daniel, por limite de idade, não podia ser candidato… Na altura indiquei que deveria ser o Luís Pereira, que era Vice-Presidente e que atualmente continua a ser vice-presidente, mas o Luís e outras pessoas, inclusive as comissões políticas de ilha queriam que fosse eu. Fiquei um pouco surpreendido quando recebi contactos de praticamente todas as estruturas de ilha a dar-me apoio, que deveria avançar. Assim foi. Aceitei o desafio e avancei no primeiro mandato na JSD/Açores.
Penso que foi um mandato bastante interessante. Diferente dos últimos mandatos, tanto do Cláudia Almeida como do Daniel Pavão. Conseguimos criar uma credibilidade na JSD que não existia há muitos anos. O PSD e a população em geral começou a olhar para a JSD com outros olhos porque apresentámos propostas e estávamos sempre envolvidos. Colaborávamos em tudo o que eram iniciativas do PSD. Não é por acaso que o Duarte Freitas me convida para ser diretor-adjunto de campanha das eleições regionais em 2016.
Portanto, a nossa participação fez com que a JSD criasse essa credibilidade e conseguisse ter outra voz dentro do partido. Isto deu-nos ânimo, deu-nos força. Começámos a ter estruturas locais, também elas fortes, e começámos a “organizar a casa”. Saber onde é que nós não estamos tão bem para atuarmos de forma diferente. Assim foi.
Elegemos concelhias que já não existiam há muitos anos. Desde logo, as estruturas concelhias da ilha das Flores e a própria Comissão Política de Ilha das Flores, e também a Comissão Política Concelhia das Lajes do Pico, que já não existia há alguns anos. Fomos criando uma dinâmica muito diferente daquela que tínhamos vindo a ter nos últimos anos. Tudo isto trouxe força à JSD.
Ainda na Comissão Política Regional do PSD o disse, e não tenho qualquer problema em assumir isto publicamente: muitas das vezes nós sentimo-nos tristes e desanimados quando as nossas propostas não chegam a bom porto. Não são apresentadas na Assembleia Regional. Isto desanima-nos, claro, mas, por outro lado, faz com que estejamos mais próximos do PSD, alertando para esta situação. Foi isso que fiz na última reunião de Comissão Política Regional do PSD. Não é uma crítica aos nossos deputados. Sei o trabalho que é feito, acompanho-o com grande proximidade, e sei que os deputados têm muitas responsabilidades e é difícil que se concentrem só na questão da juventude e que se concentrem só nas propostas da JSD. Mas era uma lacuna e um problema do partido, principalmente do Grupo Parlamentar. Já alertámos para isso, e já temos trabalho feito nesse sentido. É preciso alertar quando acharmos que existem melhorias a fazer, não se trata de críticas negativas, bem pelo contrário, tratam-se de críticas positivas para poderem melhorar. Esperamos que o partido agora comece a aproveitar mais as nossas propostas, porque é interessante, o Governo Regional tem sabido aproveitar as nossas propostas. Já foram três propostas que fizemos e que levou a que o Partido Socialista tivesse uma outra atenção para esses problemas, e ter tentado, de certa forma, aproveitar a nossa proposta. Isso é muito bom para nós. Por um lado é mau porque o PSD não as apresenta, mas por outro é bom porque vemos que o próprio Partido Socialista as aproveita. Isso também nos traz algum ânimo.

Os mandatos são de dois anos. O Flávio acabou de concluir um mandato. Em que resume estes dois anos?
Resume-se em organizar a JSD. Eu sou muito organizado. Depende do ponto de vista mas pode ser considerado um pequeno defeito. Na minha lógica, acho que não podemos ter uma atuação tão profunda e tão próxima da população, neste caso dos jovens, se não tivéssemos uma organização na JSD. Neste momento temos métodos de trabalho e de atuação, temos formulários para tudo. Desde pedidos de apoio financeiro para as estruturas locais, desde organização de eventos… temos um servidor de e-mail próprio da JSD em que cada elemento (tanto eu como presidente, os vice-presidentes e a secretária geral) têm um correio eletrónico próprio. Renovámos o site com uma nova imagem. A própria página da JSD começou a ter uma interação que já não existia. Portanto, foram dois anos de muito trabalho, de muita organização, mas, acima de tudo, sempre com o pensamento inicial e que foi apresentado na minha primeira moção global estratégia: contribuir para melhorar a qualidade de vida dos jovens açorianos. Essa contribuição não se faz só de crítica ao Governo. Faz-se de criticar ao Governo, apresentando propostas, mas também de ter uma atuação mais ativa junto da população, neste caso junto dos jovens, em cada um dos nossos concelhos. Esse trabalho foi feito durante os dois anos e vamos continuar a fazê-lo porque há ainda estruturas que ainda não conseguimos reativar.

Vamos falar em números e militantes.
Os números são decrescentes, mas eu não olho para isso de forma negativa. Sempre disse, e continuo a dizer, que prefiro ter menos militantes, mas que cada um deles seja mais ativo, do que ter muitos militantes, e não terem a atuação que desejamos que tenham na JSD. Portanto, temos vindo a perder militantes, é verdade, mas, por outro lado, temos conseguido ter militantes com enormes capacidades, militantes muito ativos. Não em termos de iniciativa, mas ativos politicamente. Exemplo disso são as nossas cinco edições da Universidade de Verão e o próprio Congresso. Penso que este último Congresso da JSD foi dos mais ricos que a JSD teve. Tivemos intervenções de todas as ilhas, com problemas de cada uma das ilhas e com problemas de cada um dos concelhos. Tivemos, por exemplo, um jovem de 15 anos a intervir com uma proposta sobre agricultura. Uma miúda, da Ponta Garça, fez uma intervenção sobre a agricultura que chamou-me a atenção. Temos vindo a ter, e este congresso foi prova disso, jovens cada vez mais preparados para defender a sua terra, para defender as suas ideias e para apresentar propostas. No congresso viu-se isso. Ao longo das várias iniciativas que temos vindo a ter, temos visto isso.
Lembro-me de que quando entrei para a JSD, a preocupação era ter muitos militantes nas nossas iniciativas mais lúdicas. Numa aula de zumba, por exemplo, lembro-me que tivemos 150 pessoas, muitas delas militantes, tal como num intercâmbio de futebol que tivemos em Rabo de Peixe, com muitos militantes. Mas a produtividade desses militantes em termos políticos, não era tão grande como aquela que temos agora. Isto não é uma crítica ao antigamente, até porque acho que deve haver momentos para tudo. Momentos de termos mais iniciativas lúdicas, mas também devemos ter momentos de mais iniciativas políticas. E é esse o momento que temos vindo a ter nos últimos tempos. Isto é graças a um grande evento nosso: a Universidade de Verão.
Temos conseguido formar quadros da JSD brilhantes e dos mais diversos quadrantes partidários. Já tivemos simpatizantes do Partido Socialista e de outros partidos, mas que participaram ativamente na Universidade de Verão, e que hoje em dia, muitos desses jovens que participaram na Universidade de Verão e que não são da JSD, contactam-nos a dar a opinião sobre uma ou outra iniciativa que fazemos. Portanto, a Universidade de Verão é um grande evento. Vamos mantê-lo, foi a promessa do atual presidente do PSD/Açores, Alexandre Gaudêncio. Este ano, posso adiantar, será na ilha do Faial, de 29 de agosto a 1 de setembro. Ainda bem que é para manter, porque formamos quadros políticos, e esses quadros políticos poderão ser apresentados pelo próprio PSD. Exemplo disso foi o caso da Calheta de São Jorge, em que nós tivemos uma jovem que participou na nossa segunda Universidade de Verão, em São Jorge, e que foi candidata à Câmara Municipal da Calheta de São Jorge.

O que é que está bem e o que é que falta ainda mudar?
Eu acho que está bem a nossa atuação em termos políticos. Temos vindo a alertar para aquilo que achamos que não está bem em termos de governação regional. Temos vindo a apresentar propostas muito boas para os jovens açorianos, temos sabido atuar quando é necessário (e há esta diferença, atuamos quando é verdadeiramente preciso). Não estamos a lançar notas todos os dias só para dizer que fazemos. Lançamos notas quando, realmente, percebemos que temos uma oportunidade de contribuir para melhorar a qualidade de vida dos jovens açorianos.
Claro que numa estrutura de uma juventude partidária, nem tudo está bem. Nós não estamos ainda tão bem em relação às estruturas locais (e disse isto no último congresso da JSD e está na minha moção global estratégica). Para uma Comissão Política Regional, para uma JSD regional ser tão boa, precisamos que cada uma das nossas estruturas locais sejam também boas. Fazendo e tendo iniciativas, contribuindo localmente com propostas… isto está a perder-se. Sinceramente, no congresso tivemos algumas discussões sobre isso. Não sei qual a solução mas vamos agora experimentar ter uma outra atuação para ver se conseguimos captar a atenção destas estruturas locais que é dando objetivos. Por exemplo, no dia 25 de Abril vamos lançar uma iniciativa regional, mas que deve ser feita por cada uma das estruturas locais para vermos se cada uma delas consegue pegar na nossa ideia e, ela própria, pô-la em prática da forma que quiser. Aqui é que vamos perceber onde é que estão os atuais problemas e quais são as estruturas locais que, efetivamente, desenvolvem a atividade, e quais são aquelas que não desenvolvem a atividade e têm mais dificuldade. Vamos concentrar-nos nas que têm mais dificuldades e ajudá-las financeira e logisticamente ou, até mesmo, só com uma simples presença de um órgão regional ou de um elemento de um dos órgãos regionais nessas iniciativas.

Falou agora de apoios financeiros. Chegam-vos muitos pedidos?
Já chegaram muitos mais, para ser sincero. Mas como as estruturas locais não têm desenvolvido tantas iniciativas, temos vindo a ter menos pedidos nesse sentido. As estruturas locais pedem à regional, a regional contacta o partido para saber se tem cabimento orçamental para realizar aquela iniciativa. Há iniciativas que nos chegam e que não achamos que sejam as mais adequadas. Ou porque os custos são elevados ou porque não chegamos a pedir autorização ao partido. Há uma regra fundamental para mim, mesmo enquanto secretário-geral tinha isso em mente e continuo a ter: se queremos fazer uma iniciativa, estamos disponíveis para colaborar. Mas tem de ser uma iniciativa com cabeça, tronco e membros para ter o financiamento desejado. Não vamos gastar milhares de euros por uma iniciativa que não vai surtir grande efeito. Temos de ser contidos e objetivos nos pedidos em que nós próprios, estrutura regional, fazemos ao partido. Temos tido muito cuidado com isso.

Quais os objetivos destes últimos dois anos de mandato? Um plano de orçamento está nos objetivos da JSD?
Infelizmente são os últimos, por limite de idade.
Nós não temos um orçamento JSD, mas temos uma quota-parte do orçamento do partido. Na última reunião do Conselho Regional foi aprovado esse mesmo orçamento. Nós temos um orçamento, este ano há um orçamento diferente porque é um ano em que tivemos congresso.

O que é que se avizinha nos próximos dois anos para a JSD, tendo em conta que há três eleições à porta?
Este é um mandato não muito comum, em que temos três atos eleitorais importantes para o PSD. Convém que a JSD, e eu sei que vai estar, tem de estar preparada para ajudar o partido naquilo que é extremamente necessário.
No caso das eleições legislativas regionais, queremos contribuir com propostas para o programa do Governo que será apresentado pelo PSD, queremos contribuir com nomes para as listas para as eleições porque também faz parte, e queremos acompanhar e ajudar o PSD a ganhar as eleições. Serão dois anos de muito trabalho nesse sentido. É preciso ajudar o PSD a ter essas vitórias.
Para além de toda esta dinâmica que há sempre que há eleições, queremos ter também a atuação política que temos vindo a ter. No primeiro mandato estivemos mais focados na questão da saúde, educação e emprego, neste segundo mandato vamos estar mais concentrados na agricultura, no emprego e na educação. Vamos repetir as questões do emprego e da educação porque continua tudo na mesma ou bem pior. Temos a mais alta taxa de desemprego jovem do nosso país e não há uma proposta credível do Governo Regional para a diminuir. Aliás, recentemente saiu uma nota nossa a denunciar o alargamento das pessoas abrangentes pelo programa PROSA. Nós não somos contra os programas, mas não são uma solução. O que vai acontecer é que as pessoas vão estar a trabalhar durante um ano e meio, acaba o ano e meio e vão para casa, ou seja, não há oportunidade para os jovens e para os menos jovens, para quando finalizarem o programa. Temos propostas neste sentido e serão divulgadas a seu tempo, mas queremos estar em cima do acontecimento, queremos acompanhar ainda mais de perto a atuação do Governo Regional. Temos assistido a um total afastamento das políticas do Governo Regional para com a juventude. A criação dos programas demonstram isso. Não há uma preocupação de médio a longo prazo, há uma preocupação do momento. Por isso mesmo queremos estar próximos para poder denunciar quando acharmos que as coisas não estão bem. Foi o caso do Estagiar U. Se a JSD não tivesse alertado para aquela situação, ninguém sabia que tinha havido alterações no Estagiar U, a não ser quando o estagiário recebesse a compensação e reparasse que recebeu só metade, apesar da informação estar no portal do Governo. Porque é que o Gabinete de Apoio à Comunicação do Governo não divulgou essa informação numa nota? Colocou no site e não divulgou de forma alguma na comunicação social.

E quanto aos restantes programas? Ainda que a juventude se tente formar, acabam todos a licenciatura e fazem programa atrás de programa. O que é que a JSD pode fazer para tentar abrir os olhos ao Governo Regional?
Na nossa Moção Global de Estratégia temos duas ou três propostas que vão ao encontro dessa problemática. Já a denunciámos durante os últimos dois anos, mas vamos continuar a denunciar: enquanto o Governo Regional só se preocupar com programas de curto prazo para diminuir a taxa de desemprego jovem, não vamos conseguir resolver esta problemática. Temos jovens que estão há quatro ou cinco anos a trabalhar através de programas ocupacionais, temos jovens que estão a trabalhar um ano e meio através de um programa ocupacional e que depois terminam e vão para casa sem qualquer outra oportunidade. É aqui que está o problema. O problema não é o programa. Nós concordamos com o programa, ainda que não concorde com todos eles. O principal objetivo destes programas é a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Mas que inserção no mercado de trabalho chega a haver? Não existe porque não existem incentivos para que os privados, depois de terminar o programa ocupacional, possam efetivamente contratar os jovens. O que existe são programas, e isto não é uma crítica aos privados nem à função pública, mas o que acontece é que usam dos trabalhadores que estão nessa situação. Termina, vem outro… vão colmatando a ausência de um funcionário a tempo inteiro com essa situação do programa ocupacional. Mas que futuro terá um jovem que está num programa ocupacional e sabe que vai terminar? É o que se está a ver… cerca de 8.000 pessoas a abandonar os Açores nos últimos anos. E muito mais vai acontecer nos próximos anos.

É essa a previsão?
Não há alternativa. Se não tivesse trabalho, provavelmente faria o mesmo. Se não temos meio de financiamento, como é que nos vamos manter? Vamos morar em casa dos nossos pais, tudo bem. Morar não tem problema algum… mas e o dia-a-dia? E a nossa independência? E o desenvolvimento enquanto pessoas?
Neste momento estamos a ter uma sociedade em que os jovens não se preocupam com o trabalho que vão ter daqui a 20 anos… preocupam-se é “onde é que vou fazer o programa e que programa vou fazer?”.
Estou convencido de que em 2020, o PSD irá ganhar as eleições e vamos, finalmente, reverter esta situação. O PSD tem apresentado propostas muito concretas e objetivas neste sentido. Infelizmente, o que o Partido Socialista quer é disfarçar a taxa de desemprego jovem. Não tem tido muito sucesso porque nem com os programas ocupacionais, nem com os estágios conseguiram baixar essa taxa que voltou a aumentar e que continua a ser a mais alta do país.

Voltando à JSD, qual o número de militantes nos Açores?
Não vou responder a essa questão numericamente. Não porque tenha algum receio quanto a isso. Muitos apontam os números das suas juventudes partidárias. Recentemente até houve uma discussão sobre esse assunto em termos nacionais sobre a JP, a JS e a JSD. Acho que não faz sentido algum. Não vale a pena termos muitos militantes e a atuação ser nula. Disse isto na sessão de encerramento do Congresso. Temos uma juventude partidária nos Açores que já teve congresso há quase dois anos e que o presidente que está no site é o anterior. Isso só demonstra a real preocupação dessa juventude partidária: ter os lugares disponíveis para quando terminarem ao estudos ingressarem.
A nossa preocupação não tem que ver com números nem com lugares. Nunca fui ambicioso nem com números nem com lugares. Se o fosse, certamente teria sido deputado em 2016, quando Daniel Pavão recusou ser candidato a deputado e eu fui em 11.° lugar. A JSD mostrou a sua posição, indignada, mas aceitou e esteve ao lado do partido. Tenho a certeza que se fosse em outras juventudes partidárias, teriam virado costas e continuado da maneira que estão que é a não fazer nada. Não apresentar propostas… Aliás, só sabemos que existem juventudes partidárias para responder aos nossos comunicados, e é quando respondem.

O que é que a JSD pode fazer para fomentar a ingressão de novos militantes, e fazer, também, com que os jovens colaborem nas próprias zonas onde vivem?
É aí que está o nosso atual problema e digo-o sem receios. Temos de ter a humildade de saber reconhecer os nossos problemas. Isso só se resolve com uma maior atuação em cada um dos concelhos. A JSD/Açores não pode fazer iniciativas, enquanto estrutura regional, em Santa Cruz das Flores, em Santa Cruz da Graciosa ou na Praia da Vitória… tem se ser a estrutura local a demonstrar que está ativa. Só com essa integração, atividade e dinâmica é que vamos conseguir aumentar o número de militantes e fazer com que os jovens daquele concelho se sintam motivados para ingressar numa juventude partidária ou em listas candidatas pelo PSD nos Açores.
Devo dizer, para completar, que a JSD tem estado sempre presente quando o PSD precisa. Muitas das vezes assumindo responsabilidades que os próprios militantes do PSD não assumiram.

E sobre a JSD da Ribeira Grande? Tendo em conta que o presidente do PSD/Açores é o mesmo da Câmara Municipal, Alexandre Gaudêncio, a JSD na Ribeira Grande não está na melhor forma, e este é um concelho importante para as próximas eleições.
Muito importante. Devo dizer até que a nossa maior estrutura está na Ribeira Grande. A realidade é que a JSD na Ribeira Grande está enfraquecida. Há 1001 razões por trás disso. O nosso principal objetivo é reativar aquela estrutura. Não que ela esteja completamente desligada, ela está lá quando é efetivamente preciso. Mas queremos mais, queremos que seja ativa e dinâmica no concelho da Ribeira Grande.
Recentemente estive reunido com a presidente da Comissão Política da Ilha de São Miguel da JSD e estamos a agendar uma série de eleições locais da JSD. Vamos aproveitar e fazê-las na maior parte dos nossos concelhos e a Ribeira Grande é um desses concelhos. Não sei se vamos conseguir. Vou ser sincero: não temos necessidade de ter uma estrutura só por ter. Queremos ter uma estrutura com as pessoas certas e capazes de desenvolver um trabalho mais ativo.
Digo muitas vezes que a pressa é inimiga da perfeição. Portanto, não vamos ter pressa em eleger uma estrutura concelhia na Ribeira Grande. Vamos ter calma, pensar e ajudar a que os próprios militantes se sintam aptos para se candidatar e concorrer às eleições. Tem havido uma série de contactos com vários militantes, desde logo os mais ativos. Mas qualquer militante pode ser candidato, desde que formalize a sua candidatura e consiga apresentar a lista para todos os órgãos. Portanto, está a ser feito todo o trabalho de proximidade para que se consiga “reabrir” aquela estrutura. Estou certo que antes das eleições para a Assembleia da República, teremos uma nova estrutura, ativa e dinâmica na Ribeira Grande. Aliás, não é por acaso que a Comissão Política Regional da JSD tem um dos elementos mais jovens da estrutura, o Luís Raposo, que foi secretário do núcleo da Ribeira Seca, um dos núcleos mais ativos da região.

Excetuando a Universidade de Verão, que atividades é que a JSD/Açores tem programado?
Nós fomos eleitos recentemente, reeleito no meu caso. Ainda não temos um plano e um programa detalhado de iniciativas para os próximos dois anos, mas essencialmente para este ano. No entanto, há duas ou três ideias que vão avançar. Temos a nossa Universidade de Verão, que é a nossa “menina de olhos azuis”, mas tenho a ideia de lançar outras iniciativas as eleições da Assembleia da República, iremos desenvolver (e inclusivamente já falei sobre isto com o presidente do partido e com a secretária-geral) uma espécie de “roteiro” por todos os concelhos. Não para apresentar os candidatos aos militantes do PSD, mas sim para que os candidatos tenham uma conversa com a estrutura local da JSD, e com outros jovens que queiram participar.
É uma iniciativa que está ainda em aberto. Como é óbvio, eu, enquanto presidente, não poderei estar em todas porque tenho atividade profissional que não me permite deslocar, por exemplo, durante a semana para fora de São Miguel, mas queremos fazer este roteiro com aqueles que serão os cabeças de lista às eleições da Assembleia da República, de forma a que eles se apresentem à juventude: quais as suas ideias e propostas na área da juventude. Isto tudo, depois, será articulado com os candidatos e com a agenda do partido.
Em relação às Eleições Europeias, a JSD/Açores tinha uma série de iniciativas para realizar, mas devido à falta de respeito e à desconsideração que Rui Rio teve para com os Açores, decidimos não realizar nenhum tipo de campanha e estar ao lado do Partido na defesa dos Açores contra os centralistas desta direção nacional do Partido. Acima de tudo estão os Açores e os seus interesses, jamais devemos curvar-nos ao Partido nacional, seja por qualquer razão. É uma vergonha aquilo que Rui Rio fez a todos os Açorianos.

Alexandre Gaudêncio está na presidência há cerca de seis meses. Em que é que resume este meio ano de mandato?
Resume-se numa imagem nova. Imagem nova do partido. Temos novos protagonistas. Pessoas que não estavam na ribalta do partido, que sempre trabalharam para o partido, mas que não davam a cara pelo partido. Isso é bom. O Alexandre soube ir buscar pessoas que efetivamente trabalham pelo e para o PSD, mas que também trabalham em cada um dos seus concelhos. Temos vários exemplos disso: temos um vice-presidente do Faial, outro do Pico, dois da Terceira e dois de São Miguel… portanto, Alexandre Gaudêncio soube muito bem ir buscar as pessoas certas para formar uma boa equipa, e uma equipa de gente nova, se formos a ver a média de idades.
É um novo PSD. Por acaso, o próprio Partido Socialista e o próprio Governo Regional assim o afirma. É um PSD com mais dinâmica e que não esquece do seu passado. Não podemos esquecer que Alexandre Gaudêncio foi vice-presidente de Duarte Freitas, e não podemos esquecer também que continua a ser o PSD com os ideais social-democratas. É um novo PSD em termos de protagonistas e em termos de ação. Temos visto isso, a própria ação do partido, estando a acompanhar cada uma das áreas, não se restringindo apenas a uma. Mesmo o acompanhamento para com a JSD é diferente. Apesar de Duarte Freitas ter tido uma proximidade muito grande à JSD e ele, mais que todos, adorava o espírito da JSD. Inclusivamente, foi ele quem lançou a Universidade de Verão, portanto, isso só demonstra o interesse que ele tinha pela JSD e pelas questões da juventude.
Alexandre Gaudêncio tem tido um papel diferente: mais cooperativo com a JSD. Somos uma estrutura autónoma do PSD, mas somos PSD. Talvez por ser mais jovem, por ter uma equipa maia jovem… ele próprio foi da JSD, o Cláudio Almeida foi líder da JSD e portanto, demonstra que há aqui uma forma de lidar com esta estrutura que antes não existia.

É essa a grande diferença entre um líder e o outro?
Sim. É a forma como se lida com as situações. Duarte Freitas é uma pessoa mais formal e isto cria barreiras, o que é natural devido aos cargos que já teve. Portanto, criava alguma barreira para com os militantes da JSD e não só. Não para comigo porque é um grande amigo meu e é uma pessoa por quem tenho uma enorme admiração. O Alexandre é completamente diferente. É mais jovem, tem uma postura mais informal, um discurso mais informal e a juventude gosta disso. É a lei da vida, a juventude gosta da informalidade. Isso faz com que os jovens ou os militantes da JSD se sintam mais próximos do líder do partido.

Para terminarmos, e tendo em conta que no início da entrevista disse “detestar” política, o que sente agora, passados oito anos?
Para quem detestava política, passou a adorar, mas a adorar da forma mais bonita o que a política tem. Eu não digo isto da boca para fora, quem me conhece bem sabe que digo isto de coração. Passei a gostar da política porque é uma oportunidade de poder contribuir com as minhas ideias. Podia não ser presidente, podia ser apenas militante base.
Eu antes tinha um enorme receio em falar em público e muitas vezes não intervinha nas reuniões porque tinha receio de dizer algum disparate mas a política fez-me ver as coisas completamente diferentes. Poder contribuir, independentemente da ideia ser a mais absurda, mas há uma ideia e pode ser exposta. Isto é a política: expor as nossas ideias e poder contribuir para a vida das pessoas. Estamos a contribuir para a governação.
Não estou aqui por “tachos”. Graças a Deus tenho o meu trabalho há oito anos no Instituto de Vulcanologia da Universidade dos Açores. Mas não estou, nem eu nem quem me acompanha, está à procura de qualquer lugar. Exemplo disso é a minha secretária-geral que esteve muito tempo desempregada. Recentemente começou a trabalhar, mas isto porque concorreu, foi a uma entrevista e ficou, tal como aconteceu comigo. Nós não pedimos favores a ninguém e é este lado da política que gosto de transmitir às pessoas.
Nós temos na JSD pessoas que às vezes me vêm pedir ajuda. Ajudo apenas quando são casos urgentes e que eu possa efetivamente ajudar. Isto faz toda a diferença. Quem vai para uma juventude partidária ou para um partido pensando no lugar A, B, ou C, nunca vai ter sucesso… das duas uma: ou vai ter sucesso porque tem amigos lá dentro que lhe arranja “tachos” aqui ou acolá, ou não tem sucesso nenhum porque não tem capacidade de argumentar por si próprio.
Antes eu via e pensava como a maior parte das pessoas: é por “lugares” e por interesses pessoais. E é precisamente nisso que eu vejo a diferença. Confirmei que não é isto, é muito mais. É essa outra parte que eu me sinto orgulhoso do percurso que tive até aqui, e que às vezes olho para pessoas, como é o caso do Luís Raposo. Começou um miúdo, comigo, e agora já é um jovem crescido.
Podemos contribuir, podemos criar amizades… É esta a parte bonita da política que, infelizmente, não passa para a opinião pública, também porque os políticos têm responsabilidades e cometem muitos erros e são eles os únicos responsáveis pelo afastamento das pessoas da política.