Criado pela União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, com o intuito de promover a ocupação dos tempos livres e combater o isolamento social, o projeto Vivências Seniores é destinado a cidadãos com mais de 65 anos e inclui aulas diárias que decorrem nos edifícios da Junta de Freguesia. Biodanza, canto coral, teatro, musicoterapia, yoga, oficinas de pintura, de expressão plástica e de modelagem, assim como tai-chi-chuan são algumas das disciplinas que mobilizam, diariamente, 250 seniores oriundos não só deste concelho, como de outros do distrito. Ressaltando, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, a importância da continuidade deste programa, Paulo Ramos de Carvalho, presidente desta União de Freguesias, enalteceu que “este é um projeto único a nível nacional”.
O projeto Vivências Seniores da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira foi fundado pelo anterior executivo desta edilidade, contudo a chegada de Paulo Ramos de Carvalho à liderança destes territórios trouxe mudanças significativas, que se repercutiram no número de inscritos que quase quadruplicou em quatro anos, passando de cerca de 50, para 250 participantes. “É realmente a menina dos meus olhos e é, para mim, o grande projeto desta União de Freguesias, principalmente porque está muito virado para as pessoas. Ele foi construído e pensado para as pessoas e é trabalhado todos os dias para as pessoas e, depois, o resultado vê-se no final, através da felicidade que sentem”, afirmou o edil, em entrevista exclusiva ao AUDIÊNCIA, salientando que “é verdade que é um projeto que já existia, mas em moldes totalmente diferentes, um bocadinho à imagem daquilo que se passa em muitas Juntas de Freguesia, que vão tendo algumas atividades isoladas para a população de mais idade. Porém, nós decidimos parar e perceber como é que isto podia ser colocado em prol das pessoas de uma forma diferente, pensando na qualidade, no bem-estar físico, mas também na saúde mental destas mesmas pessoas”.
Com o principal objetivo de combater o isolamento social e prevenir a doença mental, promover o bem-estar psicológico e a capacidade de resiliência para enfrentar as problemáticas associadas a esta fase da vida, projetando assim, um envelhecimento saudável e bem-sucedido, este programa inclui aulas diárias, que decorrem nos edifícios da Junta de Freguesia, em Matosinhos e em Leça da Palmeira. “Nós contratamos uma psicóloga clínica para o projeto Vivências Seniores, que faz a avaliação de cada sénior no início de cada ano letivo e cria um plano individual de aulas, porque as pessoas não são todas iguais, têm necessidades diferentes e é isso que nós trabalhamos, para além do acompanhamento durante o ano e do treino cognitivo”.
O público-alvo deste projeto são pessoas com idade igual ou superior 65 anos e/ou reformadas, que são autónomas, sendo residentes, preferencialmente, na União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira e que não estão inseridas em nenhuma resposta social. “Este projeto é algo que está a crescer todos os dias e o mais engraçado é que já não é só um programa de Matosinhos e Leça da Palmeira, uma vez que já temos pessoas de todo o concelho e de fora do concelho, também, nomeadamente da Maia, do Porto e de Gondomar, que vêm para cá todos os dias, porque não têm resposta noutros locais”, ressaltou o autarca.
Para além das 12 aulas semanais, nomeadamente, de dança, diodanza, yoga, canto coral, teatro, pintura, modelação, guitarra, musicoterapia e tai-chi-chuana, a autarquia também disponibiliza à população sessões de estimulação cognitiva, aulas de informática sénior, em parceria com a Escola Profissional Ruiz Costa, visitas culturais, no âmbito do Clube do Património, e sessões de sensibilização e esclarecimento sobre temáticas ligadas à população sénior, no âmbito das Jornadas para o Envelhecimento Ativo. “Isto faz com que eles se redescubram de uma forma muito interessante, que ganhem novos hábitos, novas formas de encarar a vida e novas amizades também. Basicamente o que eu digo muitas vezes é que nós o que procuramos é que eles sejam felizes e a verdade é que essa felicidade sente-se, todos os dias, nesta Junta de Freguesia”, frisou Paulo Ramos de Carvalho.
Assegurando que “este é um projeto único a nível nacional”, o presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira revelou, ainda, que “nós hoje somos reconhecidos pela Unidade Local de Saúde e somos recomendados pelos médicos de saúde familiar, como um projeto interessante para os seniores poderem participar e trabalhar diversos fatores”, destacando que “tudo isto faz com que seja um projeto pensado de raiz, que é constantemente avaliado e que não é uma coisa fechada. As atividades que nós temos hoje não quer dizer que sejam atividades que vamos ter para o próximo ano, pois tem de haver aqui alguma dinâmica e a ligação entre a parte cultural, a parte social, a parte física e a parte mental, é pensada”.
De acordo com Sofia Barroso, psicóloga e coordenadora do projeto Vivências Seniores há quase quatro anos, “aqui o que nós encontramos são pessoas que chegam até nós deprimidas, devido às situações recorrentes do envelhecimento e que depois de terem coragem de dar o passo e de começarem a frequentar as nossas atividades, são pessoas que nos dizem, e nós percebemos, que mudam completamente a vida delas, ou seja frequentam o nosso espaço e as nossas atividades, diariamente. Portanto, isto é uma forma de saírem de casa, de combater o isolamento social e dessa forma estamos também a combater tudo aquilo que são perturbações emocionais, porque convivem e praticam exercício físico, o que ajuda não só a saúde mental, como a saúde física. Nós aqui também fazemos o acompanhamento ao nível da estimulação cognitiva, que é muito importante na questão da memória e faz toda a diferença no quotidiano dos seniores”.
Fruto do sucesso, a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira foi distinguida na 5ª edição dos Prémios Autarquia do Ano 2024, com uma Menção Honrosa, atribuída ao projeto “Vivências Seniores”, que foi destacado na categoria de Apoio Social – Qualidade de Vida na Terceira Idade. Segundo Paulo Ramos de Carvalho, “este prémio não é meu, nem é da autarquia, este prémio é deles, porque se não tivéssemos as pessoas certas nunca iríamos conseguir chegar lá. Eu acho que é um premiar do trabalho efetuado, dos resultados que nós temos e é mostrar que estamos no caminho certo, de que realmente pensamos isto em conformidade com aquilo que as pessoas necessitam. Portanto, foi com muito gosto que nós recebemos esta Menção Honrosa, porque é uma forma também de mostrarmos a outras Juntas de Freguesia e a outras Câmaras Municipais aquilo que nós fazemos, para que possam replicar depois no seu território. É um projeto que não é barato, mas é extremamente útil e importante. O envelhecimento ativo mudou e nós temos de ter essa consciência e temos de trabalhar para que estas pessoas nos possam continuar a dar aquilo que muito ainda têm para nos dar. O grupo é muito bom e é muito interessante ver na nossa comunidade sénior a entreajuda e amizade que têm uns com os outros. Eles sabem que precisam disto e, portanto, ajudam-se mutuamente para que o abandono deste projeto não aconteça”.
Asseverando que “as Juntas de Freguesia existem para defender os interesses de uma comunidade”, o edil afiançou que “eu acho que nós estamos a criar algo que é benéfico para esta população, a criar algo que é útil para esta população e, portanto, faz todo sentido nós estarmos extremamente contentes com este prémio, porque é em prol das pessoas”.
Na ocasião, o AUDIÊNCIA falou com José Calisto, um aluno que vive em Leça da Palmeira e frequenta as Vivências Seniores, contou que “eu ando aqui há quase nove anos, praticamente desde o início e sou uma pessoa muito ativa e por isso frequento muitas aulas. Eu gosto muito daquilo que eu faço, desde teatro, coro, yoga, cerâmica, pintura ou piscina. Portanto, estamos ativos tanto mentalmente como fisicamente e isto é muito interessante também pelo convívio. O nosso grupo é como se fosse uma família, porque já nos conhecemos há muitos anos e efetivamente é um compromisso e faz bem ao ego também”.
Também Júlia Ferreira, que reside em Matosinhos e participa neste projeto, falou com este órgão de comunicação, revelando que “eu entrei nas Vivências Seniores em setembro. Antes, eu andava sempre doente e no hospital e uma psicóloga da CUF aconselhou-me a vir para aqui e desde que entrei nunca mais estive doente. Eu estava no fundo, o meu marido tinha falecido e eu sentia-me sozinha, mas eu agora não tenho tempo para nada, ando sempre ocupada, frequento as aulas todas e sinto-me feliz. Este projeto, o grupo e a doutora Sofia fizeram de mim uma mulher diferente. Estou muito feliz”.
Para Paulo Ramos de Carvalho, a continuidade das Vivências Seniores “é fundamental. A nossa população continua a envelhecer e, portanto, se nós a queremos defender faz todo sentido que este projeto continue, que aumente, que traga mais parceiros, que traga aqui mais formas de olhar para os interesses da população, portanto é algo que é para continuar e para aumentar. Como representantes de uma freguesia, o nosso intuito é exatamente fazer o bem para estas pessoas, promover a saúde e fazer com que tenham uma vida longa, uma vida feliz e uma vida saudável”.
Radiante e a pensar no futuro, o autarca não escondeu a sua vontade de se candidatar à Junta de Freguesia de Matosinhos, enaltecendo a importância de “nós mantermos esta ponte que nos une. Matosinhos e Leça da Palmeira vão desagregar-se, mas não nos podemos esquecer do trabalho que foi efetuado ao longo de 12 anos, com muitas dificuldades, fruto da grandiosidade deste território e dos mais de 50 mil habitantes que nós temos. Mas, a verdade é que nós também aprendemos com isto tudo e fizemos coisas muito interessantes e o projeto das Vivências Seniores é uma delas. Portanto, temos de saber trabalhar não em união, mas em parceria. Eu acho que já chega de nós olharmos cada um para o seu quintal e fazermos isto de uma forma isolada, como se tivéssemos muros a delimitar o nosso território. Nós não temos muros. As pessoas querem é viver bem e aquilo que nos exigem é que nós nos entendamos e consigamos trabalhar todos juntos, em prol da população. Portanto, esse é o grande desafio”.