A Junta de Freguesia de Campanhã assinalou os 50 anos da Revolução dos Cravos com as habituais cerimónias. Após o hastear das bandeiras na sede da Junta, seguiu-se uma romagem ao cemitério, que culminou com a realização de uma sessão solene, no Auditório da localidade, que contemplou a homenagem a individualidades e elementos do território. Na ocasião, o autarca campanhense, Paulo Ribeiro, não escondeu a sua vontade de elevar o território, ao patamar que considera justo.
A Junta de Freguesia de Campanhã voltou a celebrar o aniversário do 25 de Abril, como tem sido habitual. As comemorações foram inauguradas com o hastear das bandeiras, no edifício-sede da edilidade campanhense, seguindo-se a simbólica largada de pombos, na Praça da Corujeira. Posteriormente, os edis, representantes de entidades civis e a população rumaram ao cemitério, onde depositaram duas coroas de flores, em memória dos autarcas e democratas falecidos, assim como dos combatentes, que deram a vida na Guerra do Ultramar.
As solenidades terminaram no Auditório da localidade, com a tradicional sessão solene, que contou com as intervenções políticas dos eleitos locais, homenagens a figuras ilustres da freguesia e da cidade e um momento musical que foi protagonizado pelos professores da EBS do Cerco do Porto, tendo terminado com um porto de honra.
O momento dos discursos foi inaugurado por Susana Pereira, em representação de Rodrigo Oliveira, presidente da Assembleia de Freguesia de Campanhã, que fez questão de ressaltar que, “para mim, a principal conquista do 25 de Abril de 1974 é a liberdade. Por vezes, o equilíbrio é difícil e o desequilíbrio rapidamente se instala. Não quero ser pessimista, mas os tempos que vivemos atualmente são, no mínimo, estranhos. Temos a obrigação, por nós e por todos os que lutaram por um Portugal livre e democrático, de assim perseverá-lo sem amarras, nem censuras dissimuladas”.
Neste seguimento, também Nuno Carvalho, representante do Chega, foi convidado a intervir, lembrando, na ocasião, “este dia não pode ser apenas de celebração e comemoração, tem de ser um dia de reflexão, também”. Para o deputado, “hoje falamos de liberdade, mas parece que este país coloca cada vez mais a sua população dependente do Estado. (…) Hoje podemos estar, aqui, a celebrar, mas não podemos ficar só por aí, não podemos cair na ilusão, porque assentar a primeira pedra não pode nem deve ser considerado vitória plena, porque ainda há muito a fazer para cumprir Portugal”.
Também Rui Vidal, do PAN, frisou “o êxtase por este marco histórico que é a nossa vivência de cinco décadas de democracia, paz e liberdade”. “É por sabermos que a liberdade se fragiliza a cada ação do poder que repudiamos o exercício do poder por capricho sobre qualquer indivíduo ou ser humano ou animal. (…) Continuaremos empenhados na conquista do espírito de Abril, indo além da justa defesa das pessoas, em busca também da dignidade, mais do que devida, aos animais e à natureza”, evidenciou o representante do PAN.
Por sua vez, Elisabete Carvalho, do Bloco de Esquerda, usufruiu do momento para enaltecer que, após a Revolução dos Cravos, muitas das exigências populares ainda não foram concretizadas. “Hoje comemora-se o 50º aniversário da Revolução dos Cravos, um dos momentos mais importantes da nossa história coletiva, senão o mais importante. O 25 de Abril não é apenas importante como uma data simbólica, mas também como processo de transformação social que mudou o nosso presente. A vitória da liberdade e da democracia contra o fascismo e a opressão permitiram também iniciar a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”, asseverou a deputada.
Já Nuno Silva, da CDU, enfatizou que “o 25 de Abril é, ele mesmo, um símbolo de paz”, revelando que “hoje celebramos 50 anos de vida em democracia e é nesta nossa democracia que vemos o 25 de Abril ser atacado como nunca, por uma extrema-direita com um linguajar fraco”. Não escondendo a “vontade férrea e a convicção inabalável que a celebração dos 51, 52, 53 anos e por aí fora do nosso 25 de Abril serão tão ou mais importantes do que a celebração que nos traz aqui hoje”, o deputado afiançou que “nós estaremos cá, sempre, e o 25 de Abril será celebrado eternamente”.
Por conseguinte, o representante do PSD, Pedro Silva, sublinhou que a Revolução dos Cravos é “uma data de comemoração para todos nós, onde se celebra a coragem de mulheres e homens que combateram durante anos a soberania de um regime acabado, amorfo e hostil”. “O legado de Abril é incontestável, trouxe mudança de um tempo sombrio e bafiento que, enquanto os partidos políticos democratas que lutam e defendem a liberdade e soberania dos povos honrarem o voto que lhes foi concedido, dificilmente regressará, mas nada está garantido”, afirmou o deputado, salientando a importância de “passar às gerações mais novas, que não viveram o 25 de Abril, o amplo significado da revolução”.
Ulteriormente, António Mira de Sousa, do PS, reiterou que “celebrar os 50 anos do 25 de Abril significa não só celebrar a libertação do jugo autoritário em que se vivia antes, mas também destacar um novo modelo de sociedade baseado em valores como a liberdade, igualdade, justiça e democracia”. Durante a sua intervenção, o deputado socialista mencionou, ainda, “os ganhos que o 25 de Abril propiciou, pois não foi, apenas, a liberdade de expressão. Porém, apesar dos muitos avanços alcançados, assistimos, hoje, a uma grave ameaça à democracia, traduzida nos movimentos populistas, que se desenvolveram um pouco por toda a Europa e chegaram a Portugal. (…) A vigilância contra estas tendências e o seu combate impõem-se na defesa dos valores democráticos. Será através da unidade e da solidariedade que melhor poderemos enfrentar estes perigos e reafirmar o nosso empenhamento numa sociedade livre e cada vez mais justa”.
Presente na sessão, o cónego Fernando Milheiro também foi convidado a dirigir algumas palavras aos presentes, referindo que “o 25 de Abril caminha, não é o passado, é o presente em que todos nós estamos empenhados. São 50 anos de esforço para melhor, de convivência no respeito pela diversidade que somos e da vida melhor que queremos. São 50 anos de trabalho em prol de uma vida cada vez mais digna. São 50 anos de sonhos que nós alimentamos e que nos fazem caminhar sempre mais”.
Por fim, foi Paulo Ribeiro, presidente da Junta de Freguesia de Campanhã, quem encerrou os discursos. Sustentando que “o 25 de Abril trouxe-nos a liberdade”, o edil afiançou que “esta é uma freguesia que trabalha e sempre trabalhou para as pessoas e que sempre acolheu de braços abertos. Abril deu liberdade às pessoas para saírem à rua e fazerem o melhor pela freguesia, pela cidade e pelo país”, frisando a importância de transmitir os valores da Revolução dos Cravos às gerações mais novas.
A tradicional sessão solene culminou com a atribuição de distinções a figuras ilustres da freguesia e da cidade. Neste contexto, José Barreiro de Magalhães foi homenageado, a título póstumo, pelo serviço prestado em prol da saúde da população, nomeadamente enquanto diretor do Centro de Saúde de Azevedo de Campanhã. Manuel Barreiro de Magalhães também foi agraciado, a título póstumo, pela atividade em prol da saúde da população, mais especificamente como médico do Centro de Saúde de Azevedo de Campanhã. Por outro lado, Adelino Pinto da Costa foi distinguido, a título póstumo, pela atividade desenvolvida a favor do povo e dos trabalhadores. Já, António Manuel Silva Santos foi homenageado pelo trabalho desenvolvido na Junta de Freguesia de Campanhã e no movimento associativo. Também Fernando Pires Póvoas foi agraciado nesta cerimónia pela atividade desenvolvida em prol da saúde da população, da literacia e do desporto. Neste seguimento, Hélder Baptista António foi distinguido pela atividade desenvolvida nesta autarquia, com prontidão e profissionalismo, ao passo que João Pinto Loureiro foi reconhecido pela sua atividade cívica e associativa. Por fim, Olindo Teixeira foi distinguido pela sua intervenção cívica, enquanto Filipe Jorge Oliveira foi agraciado, a título póstumo, pela sua atividade como autarca, sempre em prol de Campanhã, nas áreas do associativismo, cultura, habitação e ação social.
Assim, as comemorações dos 50 anos do Dia da Liberdade encerraram com um momento musical, protagonizado pelos professores da EBS do Cerco do Porto, que antecedeu, o habitual cântico, em uníssono, de “Grândola Vila Morena” e do “Hino Nacional”.