“O CAMINHO DA MÚSICA, EM PORTUGAL, É SEMPRE MUITO TORTUOSO”

Na passagem pela Ribeira Grande, no concerto do Dia dos Namorados, no Botequim Açoriano, Tozé Santos falou com o AUDIÊNCIA sobre os 10 anos de carreira dos Per7ume, projetos próximos, os Açores, a música e a comunidade portuguesa.

 

O perfume acompanha-o sempre…

É verdade. Agora mais do que nunca. Nós estamos a comemorar 10 anos de carreira com um disco novo e acabamos de lançar, paralelamente ao 5º disco, um perfume físico pela primeira vez. Já tínhamos feito algumas incursões por esse espectro.Tivemos uma amostra de perfume na lombada do CD, em 2008, e tivemos uma box especial de Natal, em 2012, se não me falta a memória, com uma amostra de perfume um bocadinho maior. Mas, só agora, é que temos um perfume físico à venda nas variantes homem e mulher.

 

Antes de fazermos uma incursão à sua estadia aqui nos Açores, mais propriamente, em Rabo de Peixe, na Ribeira Grande, vamos falar sobre os Perfume. Os Perfumes têm já uma longa história…

10 anos de carreira, alguns discos editados, muitas tournées, algumas incursões aqui pelo Arquipélago dos Açores. Em S. Miguel, creio que é a 10ª vez que venho cá, umas vezes a solo, outras vezes em banda. É muito importante referir a amizade que tenho pela a pessoa do Rúben e da sua família que faz com, de vez em quando, surjam projetos que me trazem aqui.

 

Desses 10 anos nem tudo foi fácil…

Não é tudo fácil. O caminho da música, em Portugal, é sempre muito tortuoso. Sem querer ferir suscetibilidades, nós praticamente não temos um mercado, em Portugal. Há aqui uma indefinição muito grande sobre os suportes. Estima-se que entre 2 a 5 anos deixe de existir edição em CD, em suportes físicos. Já nem sequer se compra música em download, agora, estamos na era do streaming em que as pessoas subscrevem um serviço e têm acesso a todo universo de música que traz, quanto a mim, um grande problema para o futuro que é o não colecionismo. Eu, no futuro, posso querer e não conseguir recorrer àquilo que realmente gosto, contrariamente, àquilo que acontecia no nosso tempo em que guardávamos tudo em vinil ou em CD ou em cassete. Considerando que o mercado já era muito reduzido,em Portugal, se deixarmos de vender CDs vivemos apenas e só dos espetáculos ao vivo. Deixo aqui o meu repto a esta indústria de procurar uma solução de fixação em suporte. Atravessamos também toda esta crise económica que faz com que as pessoas não queiram pagar um bilhete para ir a um espetáculo. Vamos combatendo isso. Não foi de todo fácil mas também não foi difícil. Tivemos algumas facilidades por termos tido um grande sucesso logo ao lançamento por causa do single que tivemos com o Rui Veloso, o Intervalo, que para além de ter sido um tema do ano e nº 1 absoluto, em Portugal, nas rádios nacionais, trouxe-nos nomeações para prémios, para os GLobos de Ouros, para a MTV, o que fez com que nos posicionássemos também num território bastante confortável, que nos tivesse permitido dar muitos espetáculos. É preciso, creio eu, saber gerir esse gráfico, ora de espectro alto ora de adversidades.

 

Quem são os Perfume?
Desde sempre, eu, Tozé Santos, José Meireles, na guitarra, e Nélson Reis, no baixo. Hoje em dia, já são dois substitutos, o Jorge Sousa, na bateria, e o Rui fernandes, conhecido por projetos nos anos 80, toca saxofone e piano no grupo.

 

Ao longo dos 10 anos, os álbuns que foram editados foram…

Em 2008, o autointitulado “O Perfume”, depois saiu o “Mudo”, em 2010.Em 2012, tivemos um disco ao vivo no Rivoli, que deu origem a uma caixa pelo Natal com um single com a Mafalda Arnauth.Já em 2014, lançamos o nosso 4º disco chamado “Eixo X” e, agora, o “Eixo Y” que compõe uma obra tripartida, três discos, três eixos. O último eixo, “Eixo Y” há-de sair em 2020, se tudo correr bem.

 

Mas, dá para viverem só da música?

Ora bem, no meu caso em particular sim. Eu já fui designer gráfico de profissão, já fui diretor de marketing e agora vivo só da música. Não tenho só os Perfume nem só o meu projeto a solo, componho para muita gente trabalho com muitas editoras, faço arranjos, produção em estúdio, gravo para discos,e dou aulas de música. Vou fazendo muita coisa dentro da música.Não é só dos espetáculos e dos discos que se vive.

 

No último ano, muito se falou da música portuguesa porque, finalmente, subiu ao topo do Festival da Eurovisão. Isso teve algum impacto na vida do Tozé e dos Perfume, ou não?

Eu creio que sim. Eu comecei com um projeto a solo, em 2012, e comecei a trabalhar muito nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, Macau, New York, Londres, Paris até algumas situações atípicas como concertos privados no Egito e no Japão. O facto de termos sido vitoriosos no Eurovision Contest fez com que muita gente voltasse a chamar-me e se lembrasse de mim outra vez. A música portuguesa está muito bem vista valorizada e posicionada aos olhares críticos em todo o mundo. Creio que há outro fator que se pode adicionar: a ebulição da música portuguesa na diáspora que é o facto de termos visto ser elevado o fado a Património Mundial da Humanidade. Isso fez com que o fado passasse ou deixasse de ter o lugar de elite e passasse a ser bastante mais abrangente. As novas gerações consome fado. O fado começou a tocar na Rádio Comercial, na Antena 1, na RFM. Artistas que não eram passíveis de passar em playlist do mainstream de repente começaram a ocupar também esse espaço, o que é ótimo.

 

 

Agora vamos falar um pouco do futuro dos perfume… Os Perfume vão continuar a ser exalado pelos 4 cantos do mundo.

Há essa pretensão. Há aqui agoiros maiores, mais elevados, como o projeto de cinema que eu estou a agarrar que vai ver a luz do dia no próximo ano. é uma espécie de tributo à música portuguesa. Não posso levantar muito o véu mas já começou o trabalho de produção. Portanto, há muita coisa para fazer. Eeu tenho imenso discos em carteira para produzir não só com os Perfume, não só com o meu projeto a solo, mas também com os bLUNDER, um projeto que já tem 20 anos que também toca por todo o mundo, mais no universo rock. Muita coisa está prevista e está projetada para os próximos 10 anos.

 

Continua haver dinheiro para contratar artistas portugueses? Estou a falar dos artistas dos extremos, ou seja ,que não é aquilo autodenominado pimba,digamos assim, nem aquela música um bocadinho maissofiticada, aqueles que ficam no meio que é o caso dos Perfume…

Sim e bastante valorizado. Posso considerar que estamos numa camada que é relativamente bem paga. Há se calhar menos espetáculos do que esse gênero, que é um bocadinho mais típico e mais popular, mas se calhar realizamos menos espetáculos e gamanhos o mesmo que esses artistas e que, de certa forma, permite-nos ter espaço para produzir outros tipos de projetos.

 

O que é que os fãs do Perfume podem esperar, em 2018?

Antes de mais uma grande tournée. O acordo que temos, neste momento, com a editora Vidisco, é que com este novo disco todos os singles terão um videoclip, , e foi esse propósito que assinamos o contrato de novo com a editora. Já rodamos 4 dos videoclips temos mais 2 em carteira para rodar. No próximo ano, vamos estrear um novo vídeo para o Eixo Z que será o eixo final deste compêndio de três eixos. Prometemos que, em 2018, vamos arrancar com uma tournée forte que já tem bastante datas e festivais inclusivé. Convido toda a gente a ir ao nosso website para ver as datas dos concertos e no website vamos apresentar em primeira mão todos os videoclips que vamos lançando.

 

Agora vamos ao Tozé que pousou aqui nos Açores…

Mais uma vez (risos). O ano passado por esta altura tinha ido comemorar o Dia dos Namorados a New York, desta vez ,calhou vir fazer este grande espetáculo que aconteceu no Botequim Açoriano, no Dia dos Namorados. É sempre um prazer voltar a esta casa.

 

Em termos pessoais, vai manter a carreira paralela aos Perfume, vai continuar a compor,mas, e ambições individuais…

Neste momento, estou a agarrar a produção de artistas internacionais. A minha última incursão a Londres fez-me firmar um contrato com um artista para produzir o novo disco dele ou compor e gravar-lhe o disco para ele depois cantar, obviamente, em inglês. Passa um bocadinho por aí, não servir apenas e só aquilo que é a comunidade portuguesa e os portugueses que estão na diáspora, mas ser reconhecido também no mercado internacional. Eu creio que é sempre a grande batalha de qualquer músico português, ser reconhecido fora do âmbito da música portuguesa como world musician.

 

Ribeira Grande tem vários contactos bilaterais com a comunidade no Canadá, EUA, Bermudas e Brasil, nomeadamente, Portalegre, não lhe passa voar até essas localidades para projetos próximos?

Claro que sim. Tinha todo o interesse em ir, em fazer parcerias com produtores, estúdios, artistas dessas zonas e, obviamente, que atuar lá seria ótimo.

 

No espetáculo do Botequim Açoriano, teve uma plateia quase todos eles, se não, todos eles têm familiares no Canadá. Será que depois do sucesso da sua atuação esta noite, o lamiré vai chegar ao Canadá e os convites vão chover?

Eu espero que sim. Hoje é tudo muito simples com a existência da internet e das redes sociais de alguém que eventualmente tenha gravado ou fotografado e envie para esse familiar. Se calhar vou ser surpreendido.

 

A banda não projeta vir brevemente à RIbeira Grande?

Ainda no ano passado, estivemos aqui num festival, e, há 3 anos, também. Não em Ribeira Grande mas em São Miguel. É sempre um espetáculo diferente por todas a características que este território nos oferece em termos paisagísticos, gastronómicos, culturais. É sempre uma experiência excelente.