“O MISTÉRIO DA TERCEIRA CHAVE” É HOJE DESVENDADO

É tempo de acalmar um pouco a ansiedade que tem dominado os dias dos “detetives” em luta pelos lugares cimeiros da tabela classificativa do torneio “Solução à Vista!”, com a publicação da solução do penúltimo enigma. Já quanto às pontuações… Bom, isso fica para a próxima edição!

 

TORNEIO “SOLUÇÃO À VISTA!”

Solução da Prova nº. 11

“O Mistério da Terceira Chave”, de Búfalos Associados

A Dona Rosa, antes de ter ido trabalhar na Leitaria Estrela d’Alva, tinha sido empregada em casa da Tia Laurinda, onde presenciou inúmeras conversas entre a dona da casa e o inspetor Garrett, o que lhe criou um verdadeiro interesse por tudo o que diga respeito a problemas policiais e às deduções lógicas que estes proporcionam. E como, na verdade, não era nada parva, pelo contrário, ganhou cada vez mais o gosto por esses assuntos, o que lhe veio a ser muito útil quando se viu envolvida no caso do roubo do cofre da Leitaria Estrela d’Alva. Tanto assim que não teve dúvidas em desenvolver um raciocínio e uma suspeita, que viriam a ser confirmadas mais tarde pela investigação. E qual foi esse raciocínio?

Sabendo que todas as pessoas que possuíam uma chave da porta da rua eram à partida suspeitas, descartou logo o vizinho da janela em frente por não se encontrar nessas condições. Não se descortinava nada contra ele, nem sequer havia qualquer indício de que pudesse estar conluiado com alguém do café. A seguir, não havendo motivo para não aceitar como bom o testemunho do vizinho, e atendendo ao seu próprio físico franzino, a Rosa, apesar de ser possuidora de uma chave da porta, ficava fora da suspeita de ser confundida com o tal “vulto de homem”, certamente mais encorpado.

Portanto, o culpado do roubo estaria por força entre os restantes quatro homens, tanto podendo ser empregado como patrão. E tendo ela presenciado as declarações que todos prestaram, tornou-se claro que um deles deveria ter mentido ou escondido a verdade, e esse seria certamente o gatuno.

Chamou-lhe logo a atenção o facto de o patrão Vasco ter mandado o Silva fazer uma limpeza total ao frigorífico depois das 20 horas, e saber-se depois que uma das terceiras chaves do cofre podia estar lá dentro escondida. O Silva declara ter saído pelas 22 horas, portanto teve tempo para fazer a limpeza pedida e, assim, podia ter encontrado a chave na gaveta das hortaliças, o que o torna desde logo suspeito de ter sido ele quem o vizinho viu, mais tarde, embuçado e já na posse dessa terceira chave, a entrar para assaltar o cofre, depois de arrombar a porta do escritório uma vez que não possuía essa chave. Estaria encontrado o culpado? Mas então, se isto for verdade, porque não fez logo o roubo e guardou para a noite o que podia ter logo despachado? E como é que sabia que aquela chave era a do cofre, se só os patrões deviam saber da existência de uma terceira chave? Estava identificada? Não é credível, pois seria uma péssima segurança. Concluindo, a hipótese de acusar o Silva deixa muitas dúvidas. Mas o raciocínio prosseguiu.

A Rosa não tardou a destacar o facto de que tanto o Silva, como o Ribeiro, como o Barroso, apresentaram alibis que podiam vir a ser confirmados. Mas a verdade é que o Vasco foi o único que não indicou nenhum local onde pudesse ter estado à uma hora da noite. Sintomático. Será que é ele o culpado e achou isso desnecessário, uma vez que as suspeitas sobre o Silva deveriam vir a ser tão fortes que tudo o resto esqueceria? Junta-se a isto a ideia invulgar de ter feito um empregado ficar a trabalhar sozinho, fora de horas, e logo a limpar o frigorífico onde ele próprio teria escondida a terceira chave do cofre. Quase um convite a encontrá-la. Tudo agora parece claramente tornar suspeita a atuação do Vasco. E mais, salta à vista a preocupação que ele teve em salientar a certeza de o ladrão ter sido um empregado, já que um patrão não precisaria de ter arrombado a porta do escritório. E mesmo que o Silva porventura tivesse encontrado uma chave nas “hortaliças”, como é que podia adivinhar que chave era essa?

Em face de tudo isto a Dona Rosa tinha já uma forte suspeita de que o patrão Vasco, apertado por dívidas cada vez mais preocupantes, teria arquitetado uma encenação para atirar as culpas sobre o pobre do Silva, para afinal ser ele próprio o ladrão do avultado recheio do cofre.

O mais certo é que na gaveta das hortaliças nunca esteve nenhuma chave escondida. Pura mentira. O plano só funcionaria se o Silva fizesse a limpeza sem nada encontrar de anormal. O Vasco tinha em seu poder a “sua terceira chave”, além claro da sua própria. Pela calada da noite, perto da uma hora, bem embuçado para não ser reconhecido, devia então fazer a prevista operação. Entrar, arrombar de propósito a porta do escritório, abrir o cofre, sacar todo o dinheiro, metê-lo num saco, deixar a porta do cofre aberta com a chave na fechadura para acusar o Silva de a ter encontrado no frigorífico, e sair tranquilo. O plano era dar a ideia de que o roubo tinha sido feito pelo Silva logo no fim da limpeza. Mas não podia prever que, à uma hora da manhã, havia um vizinho a fumar à janela e que viu um “vulto de homem” a entrar no café. Esse testemunho foi-lhe fatal. Os alibis depois averiguados acabaram por ilibar os três outros suspeitos. Apenas o Vasco não conseguiu provar que não podia ter estado ali àquela hora, pois nem sequer tinha pensado em inventar um alibi. Em face de toda esta análise, a “inspetora” Rosa não tinha dúvidas: não havendo mais nenhum forte suspeito, o patrão Vasco não podia deixar de ser o gatuno do cofre.

Quanto ao nome que os dois sócios, Vasco e Ribeiro, escolheram para o café, teve a ver com os nomes de dois dos mais populares atores portugueses, Vasco Santana e Francisco Ribeiro (Ribeirinho), a que se vieram juntar os empregados Silva e Barroso, que lembravam os não menos populares António Silva e Barroso Lopes, todos participantes do elenco do filme de 1942, “O PÁTIO DAS CANTIGAS”. Não esquecendo, claro, a Dona Rosa, que é uma das personagens principais. Quem não se lembra da “Leitaria Estrela d’Alva, leites, queijos e manteigas das melhores proveniências”? Quem não se lembra de: “Ó Evaristo, tens cá disto?” Ou de: “Ó seu camelo, seu grandecíssimo e alternadíssimo camelo!” Ou de: “Dona Rosa, a sua filha chegou do Brasil!”

A verdade é que “O Pátio das Cantigas” é o único filme português em que se encontraram os três maiores comediantes da época: Vasco Santana, Ribeirinho e António Silva. Em mais nenhum estiveram os três juntos. Esta pista não falhava.

Outra curiosidade é que, num filme tipicamente lisboeta, as cenas que não foram rodadas em estúdio, foram filmadas em Coimbra. O cinema faz milagres.

 

PONTUAÇÕES E CLASSIFICAÇÕES

As pontuações alcançadas pelos nossos detetives na decifração da prova nº 11, e consequente classificação atualizada do torneio “Solução à Vista!”, serão publicadas na próxima edição, o mesmo sucedendo com a classificação (até à prova nº 10) do concurso “Mãos à Escrita!”.