O SONHO DE UM RAPAZ

Esta é a história de um rapaz, que como tantos outros, nasceu e cresceu aqui… na Ribeira Grande.

Fisicamente não era nem muito alto, nem muito baixo, mas como era muito guloso tinha uma barriga que orgulhava os seus pais.

Vinha de uma família média, como tantas outras, e em casa nada lhe faltava, embora não vivesse com luxos.

Desde novo aprendeu a dar valor ao esforço e ao trabalho. Na escola tentava esforçar-se o máximo possível. Dizia muitas vezes que era para agradar aos pais, mas no fundo sabia que mais do que uma questão de orgulho pessoal, ou familiar, as boas notas seriam uma forma de ter sucesso quando crescesse.

Em casa, procurava ter sempre uma atitude de respeito para com os seus pais e raras foram as vezes que foi repreendido por comportamentos menos próprios.

Tinha dois irmãos, um mais velho e outra mais nova. Apesar da diferença de idades considerável entre eles, teve sempre uma atitude de respeito e amizade para com ambos.

Tal como qualquer criança, gostava de brincar com os amigos da escola, principalmente durante as férias escolares, e passava grande parte do dia na rua.

Tinha como grande paixão o futebol e os carros.

Os anos foram passando e com a idade começaram a surgir as primeiras contrariedades na sua vida. Primeiro alguns problemas de saúde relacionados com asma e bronquite que o impediram de desfrutar da sua grande paixão que era o futebol. Depois, a partida de pessoas queridas como alguns tios e avós. Mais tarde alguns desgostos amorosos que o deixavam triste.

No entanto, procurava ultrapassar todas as dificuldades e em cada contrariedade tentava retirar ilações para o seu futuro. Com a idade, começou também a cultivar o interesse pela comunidade e o gosto em fazer parte de associações. Foi a partir daí que desenvolveu o carinho e o gosto que tem pela sua terra. Depressa aprendeu que o bem-comum é fundamental para a harmonia em sociedade e a respeitar sempre os outros.

Parecia que vivia num mundo perfeito.

Contudo, ao avançar na idade e nos seus estudos, teve que deixar a sua terra. Como qualquer jovem que se aventura num mundo novo, levava consigo uma mala cheia de sonhos e ambições, e sem nunca esquecer as origens.

Nos vários locais que visitava dizia sempre donde vinha, com muito orgulho. Por várias vezes faziam troça do rapaz por vir de um local que pouco ou nada tinha para oferecer.

No início, o rapaz não levava muito a sério as críticas, mas passado algum tempo e após se ter apercebido que por diversas vezes era discriminado por não pertencer a locais mais desenvolvidos, prometeu para consigo mesmo que tudo faria para mudar a mentalidade àqueles que pensavam daquela forma.

Sem nunca expressar publicamente a sua tristeza, guardou para consigo essa angústia e traçou uma série de objetivos, entre os quais concluir os seus estudos rapidamente e voltar à sua terra para ajudar a mudar a perceção que tinham daquela localidade.

E foi isso que fez. Poucos anos depois estava de regresso a casa e continuou a pertencer às associações e a dar o seu contributo para o desenvolvimento da sua terra.

Porém, notou uma apatia nas suas gentes. Talvez por ter estado algum tempo fora, até porque as pessoas eram as mesmas. E isso inquietou-o. Sempre que proponha uma ideia nova ou um rumo diferente nas coletividades que pertencia, era criticado, ou simplesmente encontrava entraves que não deixavam avançar com aquelas ideias.

Por várias vezes isso aconteceu, mas isso o afetou. A sua ânsia e vontade de mudar a sua terra para melhor, não o faziam perder nem a sua força nem a sua vontade. Aos poucos, conseguiu ir convencendo aqueles que o rodeavam de algumas novas ideias. A resistência inicial era enorme, mas quando viam que o resultado final era positivo, conseguia ir captando a atenção dos outros.

Como pertencia a algumas associações, as suas ideias foram ganhando força e foi conquistando a confiança daqueles que o conheciam. Até que um dia conseguiu ter um cargo importante que podia ajudar definitivamente a mudar a mentalidade daqueles que viam na sua terra um local menor. Nesse novo cargo, à sua maneira, tentou impor as suas ideias, mas tal como quando regressou a casa, as resistências foram muitas. Mas aos poucos conseguiu fazer valer os seus ideais.

Nem sempre todas as suas ideias foram brilhantes, ou produziram os efeitos que desejaria, mas o mais importante é que tinha a capacidade de fazer as pessoas acreditar que podiam mudar a sua terra.

Hoje o rapaz já é pai e tem dois filhos pequenos. O sonho de mudar a sua terra não acabou e todos os dias luta para mudar a mentalidade daqueles que ainda olham para aquela localidade com desprezo.

Felizmente que já são poucos, mas aquele rapaz não descansará enquanto houver alguém que não olhe para a sua terra com a sua alma e paixão.

Esta história poderia ser a de cada um de nós. O amor pela terra e em fazer os outros felizes deve ser um desígnio dos responsáveis das causas públicas, sejam elas a nível local, autárquico ou regional.

E essa motivação não deve ser imposta. Deve sim fazer parte da nossa maneira de ser, sem artificialismos. Só assim é que os outros se poderão orgulhar do nosso trabalho.