O Jornal AUDIÊNCIA foi conhecer a realidade de Cooperativa Agrícola da Feira, São João da Madeira, Gaia e Espinho. A cooperativa que serve os três concelhos tem oito pavilhões e 650 associados, mas o seu presidente, António Pinheiro, garante que não conseguiam sobreviver só com as compras dos associados. À cooperativa recorre toda a gente, desde os grandes agricultores que compram, por exemplo, grandes quantidades de ração, às pessoas comuns que vão lá apenas comprar pequenas hortícolas para plantar na horta de casa, ou que procuram apenas uma solução para o piolho que apareceu numa árvore de casa. A pandemia afetou pouco o trabalho da cooperativa, foi no posto de gasolina que tem dentro de um dos pavilhões de Gaia que sentiram mais diferença, com uma diminuição abismal na venda de gasóleo.
A Cooperativa Agrícola da Feira, São João da Madeira, Gaia e Espinho cobre quatro concelhos. António Pinheiro começou como presidente da Cooperativa da Feita, já lá vão quase três décadas, e depois juntaram-se as outras cooperativas. “Fez 28 ano em março. É uma vida”.
O presidente da cooperativa contou as adversidades pela qual passou desde o início desta aventura “O presidente da Câmara da altura chamou-me e disse que eu devia sair de lá para fora porque os carros atrapalhavam, estávamos no centro da cidade. Na altura ainda tinha a amabilidade da polícia que me vinha dar uma mão para eu vir com o empilhador à estrada. Outras vezes ia às 6h para descarregar”, isto relativamente à cooperativa da Feira, onde começou. Depois, em Gaia “estava uma miséria, só tinha ratos secos. Diziam que isto devia uns 600 mil euros a credores, eu tomei conta, quando fomos a ver, a dívida ficou em um milhão e 350 mil euros. Chamei os fornecedores todos, já estavam muitos processos em tribunal, pedi para pararem e fui pagando. Esperamos acabar de pagar tudo em 2024”. António Pinheiro contou que gastou algum dinheiro para levantar a Cooperativa de Gaia, mas depois com o posto de combustível começaram a trabalhar e a coisa foi correndo bem, apesar de ainda estarem a pagar dívidas antigas.
As cooperativas que servem os quatro concelhos e estão divididas em oito pavilhões diferentes têm uma enorme variedade de produtos e servem, não só agricultores, como o público em geral. “Estamos abertos a qualquer dificuldade que eles têm, basta virem aqui e nós resolvemos, e quando não somos nós a resolver, dirigimo-nos a outras entidades responsáveis pela área em questão”, explicou António Pinheiro que também contou como seria impossível sobreviver só com os sócios: “Temos 650 associados. Nós se vendêssemos só a associados, não ganhávamos para pagar aos empregados. Vem cá todo o tipo de pessoas, desde pessoas que só têm uns vasinhos em casa, ou alguém que tem uma árvore e ganha piolho, vêm cá saber como tratar, por exemplo”. Os bónus dos associados também são cada vez menores, o próprio presidente da cooperativa admitiu, o valor aumentou nos últimos tempos, o que levou a uma redução drástica dos associados que já foram cerca de 2000. “Os associados não têm muitas vantagens, a principal vantagem é que quando há viagens de estudo, oferecemos aos associados, e eles têm acesso às assembleias. Antes dávamos um bónus aos sócios consoante o que compravam, mas depois as margens começaram a ser pequenas e deixamos de dar esse bónus”, explicou o responsável pela cooperativa agrícola.
Quanto aos tempos de pandemia, António Pinheiro admitiu que a cooperativa não sentiu muito, foi o posto de gasóleo o que mais sentiu a diminuição brusca, uma vez que com o confinamento e o teletrabalho, a venda de gasóleo desceu abruptamente. “Perdemos bastante foi no combustível. Como não se podia andar à vontade, menos carros na rua, não se gastou tanto gasóleo, então nessa área nós fomos penalizados. Em relação ao que vemos noutras áreas, como restaurantes, prontos a vestir e tal, felizmente podemos dar-nos como felizes”, explicou o presidente.
António Pinheiro esteve sempre ligado à agricultura. Os filhos seguiram-lhe as pisadas. De quatro, apenas uma filha não está ligada área da agricultura, sendo que um tem uma vacaria e dois trabalham na Cooperativa da Feira, mas o presidente da cooperativa também não esconde que é uma área difícil e ingrata, além disso, os mais jovens têm vergonha de trabalhar na área, “acham que trabalhar na agricultura é uma baixeza”, contou António que também referiu a falta de apoio do governo. Segundo o agricultor, os mais novos estão a deixar os terrenos a monte e o governo devia obrigar quem recebe apoios públicos a trabalhar nesses terrenos. “O governo não obriga ninguém a trabalhar, dá dinheiro sem que eles trabalhem e quem trabalha tem de vender barato para ajudar”, explicou e continuou: “Pessoas que ficam em casa sentadas e ganham tanto como quem sai para trabalhar. Com que animo as pessoas vão trabalhar? As pessoas desanimam. Fico zangado com os funcionários, parece que andam a trabalhar contrariados. Os descontos são cada vez maiores para dar a quem não faz nada”. António foi mais longe e contou uma situação pessoal. Na quinta que gere com o filho, empregaram um sem abrigo que colocava como exigência poder levar consigo, para a casa fornecida por eles, o seu cão. O presidente da cooperativa disse que não se opuseram e o sem abrigo mudou-se então para a casa fornecida por eles com o seu animal de estimação e começou a trabalhar. Ao fim do mês, no dia seguinte a ter recebido o seu primeiro salário, desapareceu e deixou o cão na quinta. Situações que entristecem o agricultor que diz não ver melhorias para o futuro.
A falta de pessoas a criar animais têm trazido outros problemas, como explicou o agricultor: “As pessoas cada vez mais deixam as coisas a monte. Quem deixa de ter animais, não limpa o mato. Cada vez mais os campos ficam a velho. Quando arde, na sua grande maioria, são campos agrícolas a velho”.
António Pereira não sabe como será o futuro da cooperativa, quer fazer melhorias e obras em todas elas, até porque com oito pavilhões, o investimento é constante, mas o seu sonho enquanto agricultor, ou melhor, empreendedor, é ter uma queijaria., uma vez que a vacaria tem margens de lucro cada vez menores.