TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO ARRANCA EM BREVE

Tem início em breve um Torneio de Iniciação, durante o qual passaremos em revista alguns dos muitos problemas policiários produzidos por A. Raposo, especialmente destinado aos “detetives” principiantes na vertente de decifração. No entanto, embora esta competição seja prioritariamente destinada a estreantes ou praticantes com menos de três anos de atividade na modalidade, poderão também participar outros policiaristas com mais experiência. Para o efeito, serão constituídos dois grupos com classificações e processos de avaliação distintos, como a seguir se explica pormenorizadamente. Recorde-se, entretanto, que A. Raposo (António Raposo) foi uma figura de referência do mundo policiário, por todos estimado, tendo sido o criador do impagável Detetive Tempicos e de icónicas personagens como “Nelinha” e sua sobrinha “Katinha”, protagonistas de inúmeras e inesquecíveis aventuras, que nos deixou o ano passado aos 84 anos.

 

TORNEIO DE INICIAÇÃO A. RAPOSO

Grupo de Iniciados

Este torneio destina-se especialmente a “detetives” principiantes na vertente de decifração. As propostas de solução dos concorrentes serão avaliadas pelo orientador da secção, que lhes atribuirá entre 5 a 10 pontos, correspondendo 5 à simples presença e 10 à solução integral do problema, sendo as pontuações intermédias definidas de acordo com o grau de resolução. Será vencedor do torneio o concorrente que no final acumule o maior número de pontos, sendo distinguido com o Troféu A. Raposo. Os concorrentes posicionados nos dois lugares subsequentes da classificação final serão distinguidos com as Taças A. Raposo & Lena e Tempicos & Tempicas.

 

TORNEIO DE INICIAÇÃO A.RAPOSO

Grupo Especial

Embora este torneio seja prioritariamente destinado a iniciados, estreantes ou praticantes com menos de três anos de atividade na modalidade, poderão também participar outros policiaristas com mais experiência. Estes últimos integração um grupo especial com uma tabela classificativa distinta, que premiará as três melhores soluções em cada prova com 10, 8 e 5 pontos, respetivamente. O vencedor será o concorrente que acumule no final um maior número de pontos, sendo distinguido com o Troféu Detetive Tempicos. Os concorrentes posicionados nos dois lugares subsequentes da classificação final serão distinguidos com as Taças Nelinha e Katinha.

 

  1. RAPOSO – UM CONTISTA DE PRIMEIRA ÁGUA

Para além de um brilhante e imaginativo produtor de enigmas policiários, A. Raposo foi igualmente um contista de inegável valor, com um recorte literário fino e envolvente, reconhecido sobretudo pela sua criatividade e por um sentido de humor muito peculiar e um espírito crítico agudo, a que acrescia uma enorme capacidade de síntese. Por essa razão, antes de revisitar a sua obra policiária e enquanto aguardarmos pelos resultados finais do nosso concurso de contos” Um Caso Policial em Gaia”, vamos publicar um dos seus contos publicados pelas “edições Fora da Lei”, que nos permite visitar “uma Lisboa icástica, hoje quase desaparecida”.

 

“O Retiro do Quebra Bilhas”, de A.Raposo

1º. Episódio – Histórias de Lisboa do Antes de 25 de Abril

O alferes Sesinando tinha acabado de desembarcar do Niassa no Cais da Rocha, em Lisboa.

O saco de roupa à civil e algumas recordações de África, mais propriamente de Angola, era toda a sua riqueza.

Lá de Freixo de Lamego de onde era natural, uma aldeia perdida nas predarias da montanha, deixara os pais e os dois ou três amigos. Trabalho por lá não havia, nem à partida nem à chegada. Isso sabia bem, pois sempre recebia um ou outro aerograma doa pais quando estivera no mato dois longos anos.

Ali estava ele, com um futuro obscuro à sua frente, mas são como um pero e sem marcas da guerra. Vinte e um anos, já a fazer vinte e dois em agosto que já vinha perto.

Notava-se pelo calor.

Aliás, a guerra era para esquecer. Nada mudara em Angola e pelos vistos nada mudara em lado nenhum.

Pensara ir para França. Diziam que se encontrava facilmente trabalho e nem pago. Em francos. O pior era a língua. Não dominava.

Tinha ainda uns escudos no bolso frutos das trocas de coisas com os pretos. O saco vinha carregado de pau de Cabinda, madeira que se vendia bem em Lisboa. Era o seu pé de meia.

Meteu-se num elétrico e veio até ao Martim Moniz, local onde ele sabia haver pensões baratas para pernoitar e onde se dizia que a noite era divertida.

Ali à esquina ficava a conhecida “Base Aérea nº. 1”, nome de guerra do Bolero, um bar de terceira categoria com música ao vivo.

Uma orquestra de três ceguinhos da Associação Luiz Braille que iam ali tocar na noite (para eles era sempre dia!) para fazer uns tostões extra. Entre as gargalhadas do mulherio já tocado e os acordes desafinados das concertinas uma nuvem de fumarada tapava das vistas muitas desgraças.

O bar era frequentado por senhoras que já tinham feito duas guerras, mas que continuavam firmes e prontas a enfrentar qualquer batalhão, por mais armado que fosse, desde que lhe oferecessem vinte paus e uma cerveja.

Sesinando estava precisado. Tinha de mudar o registo e retirar o mato da sua cabeça. Agora a guerra dele era outra. Havia música, cerveja e putedo. E viva a “peluda”!

(na próxima edição serão publicados mais dois episódios)