UM JOVEM QUE SONHA SER PRIMEIRO-MINISTRO

Rúben Pacheco Correia tem 20 anos, está a estudar Direito, na Faculdade de Direito de Lisboa e é um empresário de Rabo de Peixe, na Ribeira Grande. O jovem publicou quatro livros e inaugurou o restaurante Botequim Açoriano, com o objetivo de aliar a cultura à gastronomia e de concretizar o sonho dos seus pais que estiveram sempre ligados à restauração.

 

Rúben, estas festas representam muito para si?

Representam, sim. Estas são as festas da minha freguesia e eu acho que qualquer pessoa tem no coração a sua terra e os seus acontecimentos. Estas festas não só representam aquilo que Rabo de Peixe é geograficamente, nos Açores, mas também aquilo que Rabo de Peixe é no mundo. É representativa do poder de Rabo de Peixe no mundo inteiro e das comunidades que nós temos espalhadas pela diáspora, sobretudo na América do Norte, que neste dia juntam-se numa comemoração que representa muito para a ilha, uma vez que é uma dos maiores acontecimentos religiosos de São Miguel.

 

Rúben, você é nascido em Rabo de Peixe, que é a maior freguesia do arquipélago dos Açores, é de uma freguesia que é alvo de estudos em toda a Europa, por ser uma freguesia sui generis, é por isso que o Rúben é sui generis?

Não vejo nesse prisma, porque Rabo de Peixe é uma freguesia grande numa ilha pequena. Portanto, tem de tudo aqui nesta freguesia. Agora, infelizmente, e acho também por culpa dos nossos políticos que veem na cultivação da pobreza uma arma de manutenção do poder, Rabo de Peixe tem sido dada a conhecer como sendo uma freguesia pobre e não é. Rabo de Peixe não é uma freguesia pobre. A pobreza pode estar na mentalidade das pessoas que se deixam vender na sua maior parte, mas não é uma freguesia pobre. Rabo de Peixe é uma freguesia muito rica e é o motor da economia dos Açores, aliás é um dos grandes motores da economia dos Açores, seja na pesca – temos um dos maiores importadores e exportadores de peixe dos Açores – seja na industria – temos aqui vários empresários agrícolas de sucesso, que têm visto nos novos mecanismos e na cultivação dos fundos comunitários uma maneira de progredirem e de aumentarem a sua produção. Podia dar muitos outros exemplos de produção em Rabo de Peixe, que demonstram o carisma e o poder económico que esta terra representa para a região e, remetendo ao Séc. XIX, a importância que já teve na economia do País, com as suas grandes e famosas produções de laranja, que através de Ponta Delgada se exportava para Inglaterra. Mas o que lhe vou dizer é que é claro que já que Rabo de Peixe é apresentado ao mundo como sendo um sítio criminoso, com uma elevada taxa de analfabetismo e de abandono escolar, se aparecer alguém que se demarque um bocadinho do panorama falacioso apresentado, e que escreve um livro aos 14 anos, que é recebido pelo Presidente da República, pelo primeiro-ministro e por outras grandes individualidades de Estado da altura, é normal que seja notícia, porque realmente é a exceção à regra. Eu nunca vi este mundo que apresentam nesta Vila. Rabo de Peixe tem sido alvo de uma comunicação sensacionalista. Já por várias vezes, quando alguns meios de comunicação precisam de noticia para favorecer alguma das suas matérias, encontram nesta freguesia o seu bote expiatório e vão filmar casas de pessoas, encenando pobreza extrema, abrindo frigoríficos que não têm nada no seu interior, não pela verdade da situação, mas pela ocultação da vida real e mendigação de alguns indivíduos que ainda alinham neste filmes e que só servem para denegrir a verdadeira imagem de Rabo de Peixe. Por outro lado, e aproveitando estes cenários apresentados e o estigma de muita desta população, os nossos políticos de cá embarcam nesta sensacionalidade, à busca do voto fácil que o cultivo da pobreza proporciona. Vivemos numa ditadura dos tempos modernos, onde a pobreza é cultivada para a manutenção do poder. Em tempos, perseguia-se para governar. Hoje mantém-se parte substancial de uma sociedade dominada por subsídios fáceis e controláveis a favor do reinado partidário.

 

Rúben, isto é um grito de revolta ou é a voz de um revolucionário?

Isto é um grito de revolta de alguém que, não se conformando, se revoluciona. Todas estas situações aqui narradas têm de acabar. O cultivo da pobreza – que leva à ascensão dos maus políticos – é o maior cancro de Portugal. Costuma-se dizer, e Maquiavel também dizia isto várias vezes no livro “O Príncipe”: “Os países têm os príncipes que os representam”, ou seja, quando uma sociedade é corrupta tem políticos corruptos, se uma sociedade é uma sociedade digna e honesta e que exige dos seus políticos, então tem políticos do mesmo calibre. Vejamos o que acontece no norte da Europa, temos políticos que são responsabilizados pelos seus atos no exercício das suas funções públicas, enquanto os dirigentes em Portugal não. Temos um ex-primeiro-ministro que nunca teve a sua operação marcada, temos políticos como o Isaltino Morais que foram condenados pela justiça e presos por roubo, por tráfico de influências e por tudo o mais e que depois são eleitos outra vez pelo povo, com grandes aclamações. Quer dizer, é a mesma coisa que se eu colocar um pedófilo como Diretor de uma escola, que foi condenado, que foi preso, mas que já cumpriu a sua justiça. Contudo, a culpa não é só dos políticos, mas também da sociedade que os elege. A nossa sociedade é que tem permitido termos políticos deste fraco calibre. Enquanto não mudarmos este pensamento e não nos responsabilizarmos diretamente pela eleição de quem nos Governa, nada mudará. Temos que ter o desprendimento na escolha dos nossos líderes. Os partidos não são clubes de futebol e os políticos não são Deuses, que uma vez adorados, para sempre seguidos. Mas como numa democracia saudável as maiores têm de ser respeitadas, o meu elogio ao presidente Alexandre Gaudêncio, há um mês atrás, nasce neste sentido. A maioria disse que Alexandre Gaudêncio é o melhor cidadão para Presidente e que, portanto, tem cumprido o seu mandato com honestidade, dentro dos seus parâmetros de dignidade. Portanto, se a minha terra em grande medida assim o acha, vou partir do principio que o fazem com uma ponderação intelectual, respeitar e ver o fim disso.

 

Está rendido à realidade?

Eu não estou rendido à realidade, porque não me rendo tão facilmente, mas pelo menos estou aqui no benefício da dúvida, porque realmente devo estar com uma visão errada das coisas, deve ser isso. Eu é que devo estar errado no meio disto tudo.

 

Está em fase de reconversão?

Não, eu não estou em fase de reconversão porque não se reconverte a uma ideologia que nunca se deixou de ter. Fui, continuei a ser e ainda sou social democrata por convicção ideológica. Agora, gostaria eu de ter um debate sobre a social-democracia dentro do PSD, porque tenho a certeza que muitos dos dirigentes do partido ainda não aprofundaram bem o sentido político, estratégico, intelectual e, sobretudo, social desta organização. Agora, o que não me reconverto é a lugares, porque me desprendo deles com grande facilidade. O meu envolvimento em causas políticas foi e será sempre incondicional. Ou seja, sem condições. Não será por estar mais a cima ou a baixo numa determinada lista ou mesmo por lá estar que irei decidir o meu apoio ou a minha linha de pensamento. Não me vendo por cargos, nem me rendo a elogios. Eu fui líder da JSD aqui neste concelho e tornei a estrutura da JSD na Ribeira Grande – com a minha equipa, fortemente apoiada pelo meu Vice-Presidente Tiago Cabral, agora líder da JSD deste concelho – na maior estrutura concelhia dos Açores, fiz militantes e criei núcleos em todas as bases de concelho. Portanto, eu fiz da JSD Ribeira Grande a maior estrutura, que ainda é, da JSD dos Açores e é preciso não nos esquecermos disso. Aos 15 anos de idade era já membro da Comissão Política nacional da JSD, diretor de gabinete na Comissão Política Regional, Vice-Presidente da estrutura de Ilha da JSD em São Miguel – então liderada por João Moniz, um jovem presidente de junta deste concelho que muito admiro e me revejo – e, de um dia para o outro, abandonei todos os cargos com desprendimento, na defesa das minhas convicções. Se aquilo que me movesse fossem cargos, garantidamente que não teria abandonado a estrutura que já começava a liderar, demitindo-me dos meus cargos, nem muito menos tornado pública a minha posição contra o atual líder do PSD-Açores, que foi e continua a ser o por líder que poderia ter o partido nesta Região. Nunca me vendi, a troco de uma vereação na Câmara do meu concelho ou um de uma cadeira no Faial. Tive sempre os meus sonhos e os meus objetivos à frente de tudo aquilo que me poderiam dar.

 

 

Nunca quis, ou nunca lhe deram aquilo que quis, porque, eu passo a indicar, eu vi-o crescer e vi-o despir a camisola laranja e a predispor-se a candidatar-se às legislativas nacionais, à Assembleia da República, por outro partido, pelo “Nós cidadãos”. Isto aconteceu porque não lhe deram aquilo que quis, porque tinha ambições ou há algo para além disso?

Eu era líder da JSD da Ribeira Grande na altura, era militante e simpatizante e continuo a ser, apesar de inscrito na minha nova morada de residência. Eu sou social-democrata e continuo a defender isso. Um dos maiores entraves e das razões da minha saída da estrutura foi a não recondução do Dr. Mota Amaral à Assembleia da República, um homem que era e é o garante da autonomia nos órgãos nacionais e não a voz dos interesses da soberania nacional dos Açores. O que aconteceu foi que Pedro Passos Coelho – pessoa que admiro bastante – deve ter feito aqui alguma ligação ao Partido Regional, de maneira que o Dr. Mota Amaral não fosse recandidato, por ter votado contra um diploma do PSD, que prejudicava os interesses da Região na AR. Portanto, o PSD/Açores veio com uma profecia de renovar os quadros políticos na Assembleia da República com a Dra. Berta Cabral, que não concordei e decidi mostrar, num movimento independente do partido, o que é a renovação. Renovar Mota Amaral por Berta Cabral não é renovar é, simplesmente, mudar, trocar. E, neste sentido, muito ofendido e muito descredibilizado com esta liderança de Duarte Freitas, tendo defendido várias vezes a recondução do Dr. Mota Amaral, abandonei o partido e candidatei-me como independente às legislativas nacionais. O meu projeto, este sim, foi um projeto de renovação e de ideias políticas. Fui sozinho com o Movimento de Cidadãos Independentes bater porta a porta, portanto, a priori , eu não seria eleito e não estava ali pelo lugar que seria quase impossível de atingir, mas sim para marcar a diferença e dar a conhecer aos açorianos um projeto novo e verdadeiramente açoriano. Foi isso o que eu fiz: um projeto para os Açores. Os outros candidatos limitaram-se, apenas, a “papagandear”, se me permite o neologismo, os interesses dos líderes nacionais. O PSD nos Açores ainda pode ser uma solução governativa e deixar de ser uma solução de oposição. Estamos a lutar com lugares dos partidos da oposição, quando deveríamos estar na ribalta do Governo. Tenho esperança que venha a mudar.

 

O motivo que você alega para ter saído do PSD e para se recandidatar pelo “Nós Cidadãos” foi a não recondução do Dr. João Bosco Mota Amaral? Posto isto, defende que não há ninguém nos Açores desde 1974, que possa substituir o Mota Amaral, é o único, é isso?

Não, não foi isso que eu lhe disse. O que eu lhe disse foi que Duarte Freitas apregoava uma renovação e renovou Mota Amaral por Berta Cabral. Renovar Berta Cabral não é uma renovação. Berta Cabral está á quase tanto tempo como Mota Amaral. O Mota Amaral pegou-lhe pelas mãos para ela ser, na altura, sua Diretora Regional. Portanto, Berta Cabral já está na política há muitos anos, eu ainda não era nascido e Berta Cabral já estava na política. Portanto, se o Dr. Duarte Freitas renovasse com outra pessoa, com um jovem ou uma pessoa que não tivesse tão ligada à política aí eu concordaria. Está bem, foi uma renovação, mas aquilo não foi. Eles não me vendem isso como uma renovação.

 

Se o tivessem convidado para a lista, tinha a mesma opinião do Mota Amaral?

Eu não aceitaria, claro que eu não aceitaria. É um assunto que não se coloca. A minha saída do PSD não tem que ver com a minha candidatura pelo “Nós Cidadãos”. Este convite para ser candidato independente aparece a posteriori, ou seja, depois da saída é que aparece a oportunidade de entrada no Movimento de Cidadãos Independentes. Eu não saí de um lugar para entrar noutro. É preciso esclarecer muito bem isto. Eu saí de um lugar porque não estava lá bem, não para ir para outro. As contratações existem nas empresas, nos clubes de futebol, etc. Sei que também acontece com algumas pessoas na política, temos o exemplo do nosso conterrâneo Carlos Silva, da Ribeira Seca, que era um guardiã dos bons costumes social-democratas e foi contratado como deputado pelo PS, cada um sabe de si. Mantenho-me fiel à minha próprio ideologia. Ou o contrário: também temos no nosso partido uma deputada que veio dos gabinetes do PS. Enfim!

 

Vivendo numa freguesia como esta, Rabo de Peixe, o que é que o motiva, o que é que procura? Procura projeção, procura mostrar que Rabo de Peixe é diferente, mostrar que Rabo de Peixe tem potencialidades ou procura mais?

Eu não procuro projeção em Rabo de Peixe, primeiro porque não tenho ambições autárquicas, nem de freguesia e nunca foi Rabo de Peixe que me deu aquilo que eu tenho ou me fez aquilo que eu sou. Mas amo a minha terra, vivo cá, tenho um restaurante cá, que apesar de romper com o paradigma social da minha freguesia, fiz questão que fosse cá. Sabe que a palavra empreendedorismo é satisfazer alguma necessidade e eu senti que, em Rabo de Peixe, havia a necessidade de ter um bom restaurante. Portanto, o Botequim Açoriano foi uma resposta a um problema que Rabo de Peixe tinha e agora já não tem que era ter um restaurante como o Botequim.

 

Quando inaugurou o Botequim Açoriano, em Rabo de Peixe, tinha como ambição criar um restaurante mais para o nível cultural?

O nome Botequim Açoriano é a recriação, digamos, do Botequim de Natália Correia, em Lisboa. O Botequim Açoriano é um lugar onde a cultura açoriana se senta à mesma mesa da gastronomia. Quando as pessoas entram no restaurante encontram uma homenagem a Antero de Quental, uma das mais ilustres figuras de Portugal, pois foi ele o grande pensador do socialismo e, até certo ponto, da República em Portugal. E, por outro lado, um tributo a Natália Correia, que é outro ícone da cultura açoriana, no mundo inteiro, mas sobretudo em Portugal. E portanto, a Natália tinha um espaço de liberdade, em Lisboa, que era o Botequim da Liberdade. E eu faço o espaço da minha liberdade, em Rabo de Peixe, porque acho que dentro destas paredes eu estou livre. Um cliente do Botequim encontra, aqui neste espaço, um lugar de liberdade gastronómica, mas também de liberdade de pensamento e de discussão.

 

Um cliente que entra no Botequim Açoriano, o que é que pode encontrar?

Pode encontrar bom peixe fresco apanhado, sobretudo, na costa de Rabo de Peixe, funcionários simpáticos e uma cozinha extraordinária, chefiada pela minha própria mãe que é uma cozinheira de excelência.

 

Para além da gastronomia, o que é que pretendeu reunir dentro destas paredes?

Já organizei aqui lançamentos de livros e tertúlias poéticas. O Botequim é um espaço que alia a gastronomia à cultura açoriana e é isso que nós tentamos fazer. Nós, durante o verão, não organizamos muitas atividades, mas durante o próximo arranque do inverno vamos organizar algumas atividades culturais, à semelhança daquilo que já fizemos anteriormente. Ainda estou em contactos, mas vão passar por tertúlias de poesia. O ano passado fizemos uma tertúlia, muito interessante, sobre Natália Correia, que reuniu na mesma mesa, pessoas de vários quadrantes políticos, porque este é, como já disse, um espaço de liberdade.

 

Este restaurante de qualidade enquadra-se naquilo que o Município pretende alcançar, que é transformar a Ribeira Grande numa referência?

Eu acho que o objetivo de qualquer município ou de qualquer autarca é ter o melhor no seu concelho. E o melhor no nosso concelho, em termos privados, não é dado pelo Governo nem pelas autarquias, é desenvolvido pelos empreendedores, bons ou maus, que nós temos no concelho. Temos aqui o exemplo do senhor Eduardo Ferreira , sentado aqui à mesa connosco. Se o Sr. Eduardo tivesse decidido fazer a sua fábrica no Nordeste, teria o mesmo sucesso, era conhecido e as pessoas iriam lá na mesma. Ou seja, não foi pela intenção da Câmara que o senhor Eduardo decidiu abrir a sua fábrica na Ribeira Grande, foi, sim, pelo amor que ele tem à sua terra, à Ribeira Grande, pelas suas raízes, pela sua família, etc. Portanto, o Botequim é igual. Eu não abri o Botequim aqui para satisfazer a necessidade de Alexandre Gaudêncio a trazer mais gente e mais riqueza para o concelho. Eu abri o Botequim aqui para satisfazer uma necessidade da minha freguesia, foi um investimento privado. Alexandre Gaudêncio não me motivou a abrir o Botequim, tanto não me motivou, nem me continua a motivar, porque nunca me visitou. Isto para dizer que o sucesso do concelho depende dos investimentos das pessoas e do gosto que as pessoas têm pela sua terra. E nós temos tido a sorte, na Ribeira Grande, também pela magnífica paisagem que nos envolve aqui na costa norte, de termos grandes investimentos privados por cá. A costa norte agora é o futuro, é o futuro da ilha e o futuro do turismo. Temos tido a sorte de ter empresários generosos a investir cá, o meu amigo Rodrigo Herédia, que investiu no magnífico Eco-Beach Resort, o novo Hotel Pedras do Mar Resort & SPA, do senhor Vítor, entre muitos outros. Temos tido vários investimentos privados no concelho da Ribeira Grande que têm dado a possibilidade ao concelho de se desenvolver. Eu entrei na onda de querer desenvolver o meu concelho.

 

Então depreendo que, ao integrar-se nesta onda, por isso, subscreveu e apelou ao voto em Alexandre Gaudêncio nestas eleições.

Sem dúvida. Acho que entre os dois candidatos, que se apresentaram, o Alexandre Gaudêncio continua acima do outro candidato. Nós, numa democracia, temos de saber interpretar e respeitar as atitudes do povo.

 

Com a sua ida para Lisboa, são os seus pais que estão a liderar o Botequim Açoriano. O seu pai está sempre ao seu lado nas suas ideias?

O meu pai, normalmente, está sempre contra aquilo que eu costumo fazer e com razão. Os pais estão sempre preocupados com os seus filhos. E os meus pais, em particular o meu pai, preocupa-se muito com aquilo que as pessoas pensam e dizem, muitas das vezes por saber que são acusações sem fundamento, invenções, enfim. Eu já lido muito bem com isso.

 

 

Então como lhe deu cobertura a este restaurante?

O meu pai era chefe de bar do São Miguel Park Hotel e a minha mãe era chefe de cozinha do Hotel Lince, em Ponta Delgada, que já foi Hotel Holiday Inn, no qual ela também era chefe de cozinha. Portanto, o meu sonho era fazer um espaço onde eu me pudesse enquadrar, na parte cultural, mas que também me permitisse trazer os meus pais para cá e pudesse colocar a minha mãe a trabalhar por sua conta, pois era o sonho da vida dela e do meu pai. O meu pai foi o último a entrar no projeto e foi o último a demitir-se e a vir trabalhar para o Botequim, porque é uma pessoa mais reticente. Portanto, não apoiou logo de início o projeto porque tinha medo, mas agora apoia, porque realmente viu que o projeto é um projeto vindouro e está cá a tempo inteiro e é uma peça fundamental deste restaurante, sendo que, neste momento, sem ele e sem a minha mãe isto não existia. Eu já não faço cá falta. Eu ajudei no arranque inicial, mas agora isso é com eles, o trabalho é deles. As pessoas vêm cá para conhecer, mas depois só regressam se gostarem e o facto de gostarem ou não é responsabilidade deles.

 

Eu vi que considerou que este espaço estava a ter uma aceitação razoável ou muito boa e isso levou-o a tentar uma experiência em Ponta Delgada, com o Azores Rock, que parece não ter resultado.

Sim, é a tal questão, nós fazemos os negócios para ganhar dinheiro e quando eles não satisfazem as nossas necessidades e aquilo que nós esperamos deles, fechamos. Quer dizer, não houve um fundo comunitário, não houve uma chamada presencial, não houve nada, portanto, foi um negócio meu, com investimento totalmente privado. Por isso, tanto abri como fechei. A verdade é que não correu bem e não correu bem porque realmente as coisas funcionavam razoavelmente, mas as pessoas não estão preparadas para o tipo de conceito que eu quis trazer para lá. Nós tínhamos regularmente música ao vivo, com artistas de fora e as pessoas vão lá e querem tomar um café a noite toda e depois não rentabiliza o espaço. Logo, foi um espaço que não funcionou numa perceptiva de lucro. Os outros espaços da noite, eu não sei como funcionam, mas no meu caso, não funcionou. Posso dizer que fiquei tão feliz quando fechei como quando abri.

 

A imprensa fez eco de que você ter-se-á metido num investimento, no Festival Ilhas de Bruma, que saiu com muito nevoeiro e com uma história final menos feliz. O que é que aconteceu?

Nós fizemos o evento sem dinheiros públicos, ou seja, foi um investimento totalmente privado. O material de som teve de vir de Lisboa, porque não tínhamos material suficiente cá e chegou no dia do Festival às 22 horas ou às 23 horas no avião, tendo a empresa falhado connosco. O primeiro dia, que foi com o Anselmo Ralph, o cabeça de cartaz, custou à volta 30 mil euros, mas já aconteceu tarde e com muitas falhas, começando já por haver contestação. Por outro lado, tínhamos um acordo com a SATA, que isentava o pagamento do transporte aéreo e das viagens, o que vieram a romper coonosco. Houve, só aí, uma derrapagem de dez mil euros para à volta de trinta mil euros que não estavamos a contar gastar com as viagens. A protagonista de todo este desentendimento foi a Dra. Ana Rodrigues, Diretora de Marketing da SATA. De um lado a reembolsar pessoas indignadas com o atraso e falhanço do primeiro dia, do outro lado a derrapagem sofrida no valor das viagens e da mercadoria, fez com que ficássemos descapitalizados de um dia para o outro e o dinheiro da empresa, fruto, sobretudo, do meu dinheiro pessoal, acabou.Agora o nevoeiro veio depois. Eu sou sócio minoritário desta empresa, o sócio maioritário é o Mário Fernandes que tinha o Lisboa, Menina e Moça, em Ponta Delgada, que de maneira a culpabilizar-me de tudo e de se vitimizar, tentou atirar as culpas para mim. Eu, que fui a única pessoa que já tinha investido muito dinheiro nesta situação, fui socialmente e unicamente responsabilizado pelo evento. Paguei, com o apoio de várias pessoas, de várias empresas e de pessoas amigas que me ajudaram. Paguei várias coisas do festival que o Mário não pagou. O Mário até agora pagou com boas intenções e eu paguei com dinheiro, é diferente. E falamos de valores que rondam os vinte mil euros. As coisas já se estão a estabilizar e ele, parece-me, que já está a cumprir com a sua parte, pelo menos já começou o reembolso dos bilhetes. A falha era dele, pois o que faltava era haver um ajuste de contas: eu investi X e ele não tinha investido nada até aqui, portanto, faltava pagar Y que era inferior ao X que eu já tinha investido, então essa parte teria de ser suportada por ele. É simples e matemático.

 

Para além de você, que já perdeu bastante, quem é que ficou a perder mais?

Quem comprou os bilhetes. E a minha maior preocupação são as pessoas. Eu tenho a preocupação de devolver o dinheiro às pessoas. Mas há uma grande diferença entre o Mário querer que o Rúben devolva e o Rúben querer que a empresa devolva. Agora eu e o Mário temos de encontrar uma solução para a empresa devolver. Porque aquilo foi um serviço que a empresa vendeu e que terá de ser ressarcido pela empresa. Portanto, a empresa é uma sociedade por quotas, uma empresa limitada. Tem de devolver o dinheiro às pessoas. Não obstante, o Mário já começou o processo de devolução.

 

Mas isso traz-lhe muitas complicações.

Claro que traz. Realmente, de tudo aquilo que apontou foi a parte mais negra da minha vida nos últimos tempos e que eu me arrependo profundamente. Eu estou seriamente solidário com as pessoas que sofreram com esta situação, porque foi uma atitude que também, no que concerne ao cancelamento, não nos diz somente a nós respeito, não foi propositado e não foi fraudulento. Mas as pessoas têm de ser ressarcidas e eu estou com as pessoas. Eu tenho acompanhado todos os manifestos e quero, mais do que elas, pelo bem do meu bom nome se manter aqui nos Açores, resolver este assunto e esta situação, que, da minha parte já foi resolvida com um determinado valor e que, agora do outro lado, terá (e penso já estar) de ser resolvida.

 

Isso pode ter reflexos na sua vida futura.

Não creio. Eu tenho 20 anos, estou a tirar o meu curso de Direito, tenho muito que fazer. A situação bem ou mal vai ser resolvida. E tenho um longo caminho pela frente para fazer outras coisas, ter muitas vitórias, derrotas, erros, enfim. A vida é uma constante aprendizagem. Quem não faz, não erra. Quem não erra não aprende. Prefiro ser acusado por fazer, do que esquecido por não fazer.

 

Não vai fugir para Lisboa por causa disto?

Não, porque eu tinha o meu curso congelado, na Faculdade de Direito de Lisboa, e já era de conhecimento que regressava este ano e o ano letivo já começou, as notas estão positivas e agora é para acabar.

 

Acha que ficava cá se o Azores Rock tivesse sido um sucesso?

Não. Se eu tivesse o Azor Rock e se o Festival Ilhas de Bruma tivesse sido um sucesso eu estaria, de igual forma, em Lisboa, mas com uma situação financeira muito mais estável do que a que tenho agora. Mas o curso mantinha-se, claro.

 

Qual é o seu projeto futuro para a Ribeira Grande, para São Miguel ou para os Açores?

Não, eu neste momento não tenho grandes projetos a concretizar. O que eu quero é ver a minha terra a continuar a crescer. Mas, nos próximos 4 anos, estarei focado em terminar Direito.

 

Está disponível para colaborar ou participar em algum projeto se o convidarem?

Não, neste momento não penso nisso. Mas se existir alguma situação que exija a minha intervenção, irei intervir, mas sempre mais no ramo empresarial, não no ramo político, porque politicamente nos Açores sonho muito pouco e acho que não estão preparados para me dar espaço. Mas sempre disse que o meu sonho é ser primeiro-ministro e o sonho comanda a vida, como dizia Fernando Pessoa.

 

Quanto ao apoio a Santana Lopes…

Fui desafiado, cá em Lisboa, por amigos a me juntar ao projeto e colaborar, da forma possível, com a candidatura. Tenho acompanhado, sempre que posso, a agenda do Dr. Santana Lopes e acredito que será realmente eleito o próximo Presidente do PSD. Neste momento, temos praticamente dois candidatos da mesma geração. Não há nenhuma candidatura à revelia disto. E, dentro dos dois, apesarem de serem praticamente da mesma idade há grandes diferenças: o Rui Rio é suportado por apoiantes que foram protagonistas do passado; o Dr Santana Lopes é apoiado por uma geração que irá marcar o futuro. Revejo-me na pessoa do Dr. Pedro Santana Lopes porque é um jovem de mentalidade e na irreverência do seu pensamento. Um homem que continua a sonhar, como eu e como qualquer jovem, e um homem que saiu da sua zona de conforte para marcar presença nesta nova viragem do partido para o futuro.