COVID19 FEZ GRUPO DESPORTIVO BOLACESTO QUERER UM PAVILHÃO

Joaquim Correia é, hoje, presidente do Grupo Desportivo Bolacesto, mas o seu percurso começou à largos anos quando decidiu inscrever os seus três filhos pequenos no basquetebol e aprender mais sobre esta modalidade pela qual se apaixonou. Foi apenas pai de atletas, depois começou como seccionista, ajudou a direção com algumas questões e só depois ocupou o cargo de dirigente, por isso, classifica o seu percurso como natural.

Com cerca de 180 atletas a treinar, e com a situação da Covid19 a atrapalhar a ocupação dos pavilhões municipais a que o Bolacesto sempre recorreu, o sonho de ter um pavilhão próprio cresceu e tornou-se mais real, apesar de ainda se encontrar numa fase precoce. O ideal, segundo o presidente do Grupo Desportivo Bolacesto, era gerir um pavilhão fornecido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, mas a quantidade de clubes e pedidos de ajuda a que a câmara está sujeita torna tudo difícil, situação que é compreendida pela direção do Bolacesto, ainda que o desejo fosse de mais apoio por parte da autarquia para o seu clube .

Já a nível desportivo, o Bolacesto pretende continuar a melhorar, mas com uma equipa sénior masculina ainda muito recente, Joaquim Correia coloca os objetivos principais em melhorar técnicas e mostrar em campo a sua qualidade à frente de vitórias e subidas de divisão.

 

 

 

Falemos um pouco sobre o princípio da sua ligação ao Bolacesto. Como surgiu e à quanto tempo?

Acabamos de falar o Zé Carlos, não está na gravação, mas em off falamos dele. O Zé Carlos fazia parte da associação de pais onde eu também estava e falou-me do Bolacesto. Eu tinha três miúdos, todos em idade da primária, o mais velho tinha nove anos e os mais pequenitos tinham seis anos e decidi aí ligar-me ao basket. O meu filho mais velho teve uma experiência um bocadinho, quer dizer, muito negativa no futebol, não por causa do clube, porque no clube onde ele esteve as pessoas foram muito simpáticas, mas os pais do futebol podem ser pais muito mesquinhos e podem influenciar mais os miúdos, em todos os sentidos, e então decidi mudar de desporto. Pensei no basquetebol, até porque o meu miúdo era baixo e a pediatra dele aconselhou-me a usar o basquetebol como forma de potenciar o crescimento dele e resolveu de alguma forma, ou resolveu aliás, porque ele cresceu bastante depois disso. Depois liguei-me ao desporto e, principalmente, ao basquetebol, que era uma modalidade à qual eu não ligava muito antes, e agora sou um aficcionado, aliás, posso até lhe dizer que agora sou daquelas pessoas que fica até às duas da manhã para assistir a jogos da NBA (National Basketball Association).

 

A sua ligação começou como pai de atletas…

Começou e continua como pai de atletas. Neste momento sou pai de dois atletas, tenho dois gémeos ainda a jogar no Bolacesto, são seniores, têm 18 anos. Nós criamos esta equipa de seniores para dar uma perspetiva de futuro aos nossos miúdos. Eles, muitas vezes, chegavam à idade de sub16, sub18 e percebiam que no Bolacesto tinham, quanto muito, mais um ou dois anos, e depois não tinham hipótese de continuar. Muitos atetas desistiam ou mudavam de clube. Criamos a equipa de seniores e tem tido algum sucesso, porque neste momento temos muitos miúdos nos sub16 e nos sub18, números que nunca tivemos, por isso acho que está a funcionar.

 

Mas como aconteceu esta transição de “só pai de atletas” até presidente do Grupo Desportivo Bolacesto?

Foi gradual. Já quando eles estavam no escalão Mini10, treinávamos num pavilhão de hóquei em patins, no final tínhamos de arrumar as tabelas, as bolas e eu ajudava sempre o seccionista da altura. Passei de ajudante a seccionista quando esse senhor saiu. Fui acompanhando sempre como seccionista até que, mais tarde, foi-me pedido para ajudar a direção noutras tarefas, como a desenvolver um site para o clube, desenvolver uma aplicação para fazer o registo dos sócios e eu ajudei naquilo que conseguia. Depois, o anterior vice-presidente, que a presidente era uma mulher na altura e não conseguia estar presente, o vice-presidente era a pessoa que estava mais ligada ao clube, os filhos pela idade também acabaram por sair e ele também teve de sair. Aliás, não teve de sair, mas tornava-se pouco prático para ele continuar e então pediram-me para assumir a tarefa de presidente. A minha primeira reação foi esconder-me, não tinha experiência para isso, apesar de gerir uma equipa na minha empresa, não tinha experiência em coisas como falar com entidades oficiais como câmaras, outros clubes, federação…essa experiência foi surgindo e fui-me sentido cada vez mais natural na pele de presidente, mas foi mesmo muito gradual, até porque comecei quase lá de baixo, se pudermos considerar ser seccionista estar lá em baixo, porque eles ajudam muito, até a este papel.

 

E como tem sido esta experiência enquanto presidente?

Há partes difíceis, como conseguir conciliar aquilo que nós necessitamos com aquilo que a câmara nos consegue fornecer, e digo câmara porque ela é o nosso principal apoiante em termos de pavilhões. Também temos aqui o apoio da Escola Secundária Almeida Garrett, aliás, muito apoio mesmo, ajudam-nos em tudo que podem, às vezes mais até, como nos aturarem quase até à meia noite, mas a câmara municipal é a nossa maior fornecedora de pavilhões. Nós estamos a utilizar quatro pavilhões municipais e é difícil conseguir conciliar, como eu estava a dizer, aquilo que nós precisamos, porque temos 13 escalões divididos entre feminino e masculino, e arranjar pavilhão para fazer três ou quatro treinos por semana para esta gente toda é muito complicado, até porque a câmara tem outros clubes, poucos são os que têm pavilhão, por isso, a maior parte dos clubes de Gaia usam o nosso método: falam com a câmara, pedem um espaço e umas horas, e a câmara tem de ir distribuindo, é difícil. E agora, no último ano, ainda foi mais difícil, porque para além da questão dos espaços que temos de dividir com os outros clubes, ainda há a questão da Covid19, que obrigou a que tudo isto parasse e que faz com que a câmara tenha alguma relutância em abrir pavilhões e quando os abre, tem sempre que garantir que todas as regras de segurança são cumpridas. Os horários de treino vão ter de diminuir, para que seja possível higienizar o balneário e o campo na mudança de turno, vamos chamar-lhe assim, gasta-se cerca de meia hora, o que quer dizer que se perde cerca de meia hora em treino, em cada treino. Ainda não conseguimos fazer nenhum treino em nenhum espaço municipal, neste momento os nosso treinos são todos aqui (Escola Secundária Almeida Garrett). Tem sido muito difícil, começamos às 18h, que é quando os miúdos conseguem vir para cá, e terminamos às 23h30, quase meia-noite, com os seniores, portanto, todos os dias ocupamos este espaço de forma contínua. Esta é quase a nossa casa, como nunca tivemos um espaço da câmara a que pudéssemos chamar de “nossa casa”. A freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso arranjou-nos uma sede, mas a sede é um espaço administrativo, um espaço onde colocamos as nossas fichas de sócios, as nossas taças, os pais já a conhecem mas só lá vamos quando temos assembleias ou reuniões da direção. A casa é onde os sócios se juntam, e onde é que os sócios se juntam? É no pavilhão. Vêm trazer os miúdos, depois vêm buscá-los, muitos até ficam aqui fora a falar enquanto esperam que o treino termine, portanto, a casa é este espaço, não é mais nenhum.

 

A falta de uma casa só vossa, faz com que esse seja um sonho para o clube?

É um sonho recente. De vez em quando os sócios perguntam-nos “quando é que vamos ter um pavilhão?” e nós devido àquilo que calculamos que sejam os encargos com a manutenção de um pavilhão, fomos sempre adiando a conversa. De repente, esta situação fez-nos ver que o facto de não ter um pavilhão pode ser a morte de um clube. Felizmente não foi o caso, porque tínhamos esta relação de muitos anos com a  Escola Secundária Almeida Garrett e a câmara vai ceder-nos um pavilhão, só para os seniores neste momento, esperemos que rapidamente evolua para os restantes escalões de formação, mas o que é certo é que andamos quase até ao limite sem saber se íamos ter treinos, se íamos começar a treinar ou não e os clubes que têm pavilhão próprio ou pavilhão contratado com a câmara, como por exemplo o Coimbrões, não têm esta dificuldade, conseguem fazer aquilo que precisam de fazer e nós andamos sempre aflitos. Só enviamos os horários aos pais, ao domingo à tarde para começar a treinar na segunda-feira, porque só nessa altura conseguimos ter a confirmação do pavilhão e a que horas podemos usar o pavilhão. Dá algum trabalho administrativo fazer o escalonamento dos grupos de trabalho, mesmo a nível de enquadrar os horários e os escalões. É uma gestão que a mim me ultrapassa, não sei como é feito porque é feito pelo coordenador técnico que é o Zé Manel, pelo José Carlos e pela Cristina que são vice-presidentes mas também são treinadores do clube e são eles que tomam esse tipo de decisões de quem treina onde e a que horas, eu só dou praticamente o meu acordo.

 

É um bocadinho como andar com a casa às costas?

Não é um bocadinho, é mesmo andar sempre com a casa às costas. Como disse à pouco, nós tivemos quatro pavilhões municipais, mais este da Escola Secundária Almeida Garrett, por vezes treinamos no outro pavilhão da escola, mais abaixo, portanto, podemos dizer que temos seis pavilhões. Ainda por cima, jogamos num sétimo pavilhão, porque não podemos jogar nos pavilhões em que treinamos, exceptuando os seniores masculinos que, por felicidade, no ano passado, a câmara arranjou-nos o Pavilhão de Avintes, conseguimos treinar lá dois dias da semana e conseguimos fazer os nossos jogos também lá. Tipicamente, treinamos no Pavilhão Municipal da Lavandeira, no Pavilhão de Vila D’Este, no Pavilhão de Avintes, mas, habitualmente, jogamos do Pavilhão das Pedras, local onde nunca treinamos. Vila D’Este e Avintes são pavilhões um bocadinho mais deslocados aqui do centro da cidade mas temos atletas de toda a cidade de Gaia, não é difícil os pais deslocarem-se, mas diria que cerca de 50%, e estou aqui a dar um número quase de cor, mas presumo que o equivalente a esse número, sejam miúdos daqui da zona, da freguesia de Mafamude, Santa Marinha, de Oliveira do Douro, de Canelas sei que há alguns também…

 

Mas então em que fase está este sonho recente do pavilhão?

Esta ideia e este sonho é muito recente e teve a ver muito com a pandemia. Ali a meio de agosto pensamos “fogo, ninguém nos arranja pavilhão”. A escola está com dificuldades, vão ter o início das aulas, vão ter de estender as aulas dos miúdos até mais tarde, muito provavelmente, nós só vamos poder começar os nossos treinos às 20h ou 21h, o que só nos deixa treinar, praticamente, os sub16, sub18 e seniores, mais nada, os minis e sub14, os pais já não os trazem, eles têm aulas, têm de se deitar mais cedo, é complicado. A câmara também estava, e está, muito relutante em abrir os pavilhões, pensamos “o que é que vamos fazer? O que vamos ter de fazer para não morrer este ano?”. Não havendo pavilhões, não conseguimos pôr os nossos miúdos a treinar, os nossos miúdos não treinam, vão-se embora, ou desistem do desporto, ou mudam para aqueles clubes que têm alguma vantagem sobre nós por terem pavilhão próprio. A nossa solução é ter um pavilhão próprio também. Decidimos arrancar, para já ainda está pouco mais do que na fase do sonho, a procurar um pavilhão para alugar. Para já, é essa a nossa ideia, nem que seja um pavilhão em mau estado, e depois logo vemos o que vamos fazer, se pedimos dinheiro emprestado ao banco, que vamos ter de suportar com as quotas dos sócios, não sabemos bem ainda como vamos fazer isso, mas vamos ter de fazer alguma coisa, até porque o que está a acontecer este ano, pode repetir-se no futuro. E mesmo a experiência e o passado diz-nos que esta partilha de pavilhões da câmara com outros clubes impede-nos de fazer aquilo que queremos fazer, que é melhorar os miúdos. Muitas vezes, para melhorar os miúdos, precisamos de mais horas de treino, mas é muito complicado ter mais horas de treino quando temos clubes com quem partilhamos pavilhões. Daí este sonho, que até este ano pensávamos que não estava ao nosso alcance. Se calhar, era uma coisa que não nos interessava muito, lá está, devido àquilo que nós imaginamos que são os custos, mas andamos a investigar, a fazer algumas perguntas…os custos são elevados, mas também temos outras formas de rentabilizar, podemos alugar o pavilhão durante o dia quando não está a ser utilizado ou podemos usar o dia para cobrar aulas especiais a miúdos com interesse em melhorar o nível. Vamos ver se durante este ano começamos a tratar disso e vemos depois como avançamos.

 

A época 2019/2020 acabou mais cedo, os atletas estiveram parados mais tempo. Este início da nova época vai ser diferente e mais difícil por consequência?

Vai ser mais difícil de certeza, aliás, está a ser mais difícil porque nós já estamos a treinar. Enquanto uma equipa sai, a outra tem de aguardar lá fora, geralmente, até agora, os miúdos entravam, iam buscar as bolas, ficavam pelos corredores a brincar uns com os outros, agora não, agora ficam lá fora à espera com os pais. Depois, o facto de todos terem de trazer máscara, de termos de arranjar o álcool gel, tivemos de adquirir termómetro, por acaso tivemos a ajuda de uma mãe que é farmacêutica e, mais uma vez ajudou-nos, aliás, tenho muitas dúvidas que nós conseguíssemos fazer o que estamos a fazer neste momento em relação à segurança dos miúdos se não fosse essa mãe, que nos arranjou o termómetro  e que nos vai arranjar um segundo. Por isso a época já tem sido difícil, os treinadores têm de estar permanentemente com máscara, para eles é mais complicado ainda. Depois, a desinfeção das mãos, a desinfeção das bolas, os miúdos estão sempre a queixar-se que não querem desinfetar as bolas porque ficam escorregadias, mas tem de ser..

 

E a nível competitivo? Depois desta pausa que foi mais longa do que é normalmente…

A nível competitivo é zero, porque não vai haver competição para os nossos escalões de formação. Os seniores sim, vão ter competição, mas a nossa equipa sénior já não é muito competitiva porque são miúdos novos, o ano passado a média de idades era de 18 anos. São miúdos que alguns deles estavam a jogar ainda com idade de sub18 nos seniores, aliás, isso vai continuar este ano, metade da equipa, se não mais de metade é sub20 e os mais velhos têm 21 e 22 anos, portanto, é uma equipa muito jovem. Não andei a vasculhar as fichas de jogo, mas, garantidamente, jogamos o ano passado com equipas que tinham média de idades de 28 ou 29 anos e com médias de peso, que não consigo contabilizar, contra miúdos com média de peso de 60/65kgs e com média de idade de 18 anos. Apesar de tudo, no primeiro ano conseguimos ganhar dois jogos, na época passada, até meio da época tínhamos ganhado dois jogos, logo presumo que até ao final ganhássemos cerca de quatro, e este ano esperamos melhorar isso, quem sabe até dobrar esse número de vitórias. Isto, se a época começar, vamos ver…em princípio sim, tudo aponta para que comece, mas mesmo que aconteça outra vaga, eu não acredito que se faça um lock out como se fez em março, acredito que se suspendam temporariamente os campeonatos, o que poderá estender a época até junho, julho, ou até mesmo agosto.

 

O basquetebol não é, à partida, o desporto que as crianças mais escolhem. Deve-se ao facto de ser um desporto em altura, que poderá ser assustador para os mais novos?

Não é só isso, é uma modalidade mais técnica. Eu estou a ser muito ligeiro na apreciação mas os miúdos para jogar futebol, qualquer um consegue dar um pontapé na bola e chutar à baliza. O basquetebol é mais difícil porque as regras são algo complexas, é um desporto que traz alguma vantagem começar mais cedo, logo por volta dos seis ou sete anos, mas os miúdos rapidamente se habituam e nós temos miúdos que começaram num ano, e no ano seguinte já estão a jogar bem e integrados na equipa. Temos até casos de miúdos que começaram em escalões mais altos, como por exemplo sub18, estou mesmo a lembrar-me de um exemplo de um miúdo que entrou em sub18 e neste momento está na equipa de seniores a jogar. Não é pela altura, é sempre pela vontade de melhorar e aprender. Nós nem temos muitos miúdos altos. Não há aqui nenhum miúdo extremamente alto, a altura deles é toda regular, nem fazemos esse tipo de separação de maneira nenhuma, aliás, a nós interessa-nos ter o maior número de miúdos até para promover a nossa modalidade e todos eles conseguem. O nosso objetivo é melhorá-los tecnicamente e tê-los a jogar basquetebol, daí a nossa intenção de ter cada vez mais horas de treino, não temos como objetivo só as vitórias, como na maior parte dos clubes em que o objetivo é ganhar. Claro, nós também gostamos de ganhar mas para nós já é satisfatório ver muitos miúdos no clube, todos a jogar e temos os clubes do distrito que lutam para ser campeões distritais e até nacionais, cheios de miúdos que começaram a jogar basquetebol no Bolacesto. Isto não é uma expressão, isto acontece mesmo.

 

Isso poderá ser consequência de terem criado a equipa sénior já tardiamente?

Mas eu estou a falar mesmo em escalões mais novos, como os sub16 e sub18 de outras equipas, há muitos miúdos que começaram a jogar no Bolacesto. Posso-lhe dizer que o MVP (Most Valuable Player), não do último ano, porque no último ano já era sénior, mas de 2016 a 2019, o MVP das finais foi um atleta que começou no Bolacesto e que neste momento está a jogar nos Estados Unidos e tem expectativas, e penso que fundadas, de jogar na NBA rapidamente.

 

A nível desportivo e de resultados, por exemplo, qual é o sonho?

O sonho é mais abrangente do que o meu clube, o sonho é para o basquetebol nacional. Eu esperava que a modalidade fosse mais competitiva, porque nós somos muito pouco competitivos lá fora. Depois, no nosso clube, se nós conseguíssemos que os nossos escalões de formação mantivessem os miúdos tempo suficiente para podermos jogar ao nível da primeira divisão, e ser campeões distritais, como já fomos algumas vezes, mas voltar a ser, era fantástico. Os nossos miúdos que tinham mais preponderância nas equipas acabaram por sair, muitas vezes chamados por outras equipas. Acontece em todas as modalidades, mas penso que mais na nossa, é mais fácil acontecer isso, as regras têm vindo, cada vez mais, a dissipar-se em vantagem dos clubes mais fortes. Para um clube mais forte é fácil. Eu se pedir a um miúdo de outro clube, com mais pergaminhos que o nosso, para vir para o Bolacesto, ele provavelmente pensa duas vezes; se algum desses clubes quiser que um dos nossos miúdos vá para lá, é muito fácil e não havendo compensação para os clubes, o que vai acontecer é que os clubes perdem a vontade de fazer o trabalho com a qualidade que deve ter. Não quero ser injusto, mas penso que esta facilidade de transferências não acontece noutros desportos, e penso que um dos fatores que tem contribuído, e muito, para a degradação do nosso basquetebol é esse, é a facilidade de transferência que traz dois aspetos negativos: um para o clube que recebe os miúdos porque não tem a vontade de formar, não precisa de formar porque os miúdos vão lá ter, e para os clubes formadores, que como não há competição, vão acabando por desaparecer e os que não desaparecem acabam por perder a vontade de formar, ou de formar com qualidade. A criação da equipa sénior no Bolacesto veio para os atletas terem um lugar para continuar e é 100% constituída por miúdos da nossa formação, apenas dois deles começaram no Bolacesto, saíram e agora regressaram, mas todos os outros começaram a vida no Bolacesto e continuam.

 

As diferenças na modalidade a nível de feminino e masculino existem?

O basquetebol feminino em Portugal é um bocadinho mais forte que o basquetebol masculino. É claro que em competição direta, os miúdos são mais fortes fisicamente e acabam por ganhar, vê-se isso nos seniores que temos, mas o facto de haver equipas femininas mais vezes nos campeonatos europeus da primeira divisão, enquanto os masculinos estão na segunda divisão, torna-o mais evidente. Para nós é igual. Temos mais rapazes do que raparigas, é normal, as raparigas acabam por se ligar um pouco menos ao desporto e também acabam por abandonar um pouco mais cedo mas as equipas que temos são iguais, têm o mesmo treino, as mesmas regalias, jogam e treinam nos mesmos pavilhões. As raparigas, e não só em Portugal mas em todo o mundo, há até uma espécie de aviso que vai passando nos jogos da NBA a dizer isso mesmo, que as raparigas desistem mais cedo e que é difícil as meninas mais novinhas terem modelos a seguir. O abandono é logo pelos 15 ou 16 anos. Nós, por exemplo, temos 40 miúdos no escalão de sub18 e não temos nem de perto um número parecido com isso no feminino…talvez seja algo relacionado ainda com o passado, das meninas estarem habituadas a ficar em casa e ajudar a mãe, mas eu não sei bem, não tenho filhas raparigas.

 

Quantos atletas tem, ao todo, o Bolacesto? Pensa que esta pausa prolongada, devido à Covid19, pode afetar o número de atletas para esta nova época?

Em março de 2020, quando começou o lock out, tínhamos 180 miúdos. Estamos a começar e só mais para a frente é que vamos ter ideia exata. Esta pausa prolongada causou moça, de certeza. Nos seniores, o ano passado, tínhamos 18 miúdos, regressaram 15, não foram muitos os que desistiram, mas alguns desistiram. Dos sub18 que passaram para seniores também houve algumas desistências, mas é um processo natural, também acontece nos outros anos. Nestes escalões mais velhinhos voltaram cerca de 80% dos jogadores, ou até mais. Nos escalões mais novos, é difícil ainda perceber o que aconteceu, como não há competição, podem não estar a regressar por isso. Mas também é provável que alguns ainda estejam de férias, as aulas ainda não começaram, não dá para ter ainda uma ideia exata. Mas diria que sim, vamos perder alguns miúdos para a doença, digo para a doença no sentido dos pais terem receio que eles regressem.

Alguns dos mais velhos também saem porque acabam por entrar em faculdades longe e assim. E daí a importância de ser criada uma equipa sub19 ou sub20, os escalões de formação para os rapazes terminam em sub18, que é exatamente aquela idade em que os miúdos não sabem o que vão fazer e torna difícil depois mantê-los no desporto, se houvesse uma equipa de sub19 ou sub20, como há nas raparigas, fazia com que mais rapazes fossem ficando. Os que vão embora para faculdades longe, paciência, não há nada a fazer, mas muitos regressam. Temos o exemplo de um miúdo que esteve três anos no Algarve a estudar, acabou os estudos e voltou ao Bolacesto.

 

Voltam pelo sentimento de família, pelo facto de terem crescido aqui?

Sim, e no fundo sabem que o nosso clube não os vai deixar mal. Ao contrário de muitos clubes que só têm em vista o resultado, e é claro que isto nos seniores é um bocadinho diferente, mas no nosso clube interessa o resultado, claro, e ficamos danados se eles não mostram atitude em campo ou aquilo que sabem fazer, mas sabemos que ainda estão numa luta desigual. Queremos é que eles joguem e mostrem o que sabem fazer, e se conseguirem fazer isso, mesmo perdendo, está tudo bem…e quando ganham, é mesmo uma vitória, como se tivessem ganho o campeonato nacional.

 

A sua posição de liderança no clube, está para continuar ou pensa em passar a pasta?

Não penso em passar a pasta, mas também não sei se estou para continuar. Pelo menos enquanto os meus miúdos cá estiverem, eu fico de certeza e mesmo depois de os meus miúdos saírem, se tiverem de sair, uma vez que eles vão agora para a faculdade, apesar que em princípio ficam pelo Porto, mas mesmo um dia que eles saiam, eu imagino-me, se não como presidente do Bolacesto, pelo menos a ajudar o clube, porque eu gosto disto, gosto das pessoas e gosto do ambiente dos jogos, e é uma coisa que não se vê no futebol. Nos últimos anos as coisas têm-se vindo a degradar, não sei bem porquê…a competição por vezes é maior na bancada do que no campo, os miúdos portam-se lindamente, também pelas regras do basket, não há agressões e não há maldade, pelo menos no meu ver, também já me disseram que sou demasiado otimista, mas eu não vejo maldade, e consigo ver isso noutros desportos. Na bancada vê-se, não maldade, mas competição a mais, e acho que não devia acontecer. Isto é desporto, eu gosto de ganhar, e às vezes quando acaba um jogo tenho de ficar sentado um bocadinho nos bancos, porque às vezes acho que nós não fizemos tudo o que podíamos ter feito, que a equipa rapidamente desistiu, às vezes acho que há alguma atitude incorreta dos árbitros…não é que os árbitros façam por maldade, mas às vezes parece-lhes mais fácil, não prejudicar, porque eles não nos querem prejudicar, mas às vezes é fácil beneficiar um clube mais forte, até porque a situação não ia alterar o resultado, e pronto, às vezes tenho de esperar uns minutos e só depois vou cumprimentar a mesa e o árbitro. Os miúdos gostam que os pais gritem nas bancadas, mas é por eles, não para insultar os outros.

 

Vila Nova de Gaia apoia os seus clubes, e as modalidades em específico?

Quanto ao nosso clube…nós gostávamos de ter mais apoio. A junta de freguesia, devo dizer que sempre nos deu o máximo apoio, sempre que falámos com eles e lhes foi possível, ajudaram-nos. Da câmara, temos tido mais alguma resistência, mas a câmara também tem tido outra pressão que a junta não tem. Sim, gostaria de ter mais apoio, mas percebo porque não há mais apoio. Às vezes gostamos de nos ver como um braço das entidades oficiais, nós e os outros clubes, somos aqueles que apoiam a câmara e a junta naquilo que elas não conseguem fazer, que é ter os miúdos, à noite, ocupados, a praticar desporto…essas entidades não conseguem isso, não podem ter escola a funcionar à noite, por isso achámos que devíamos ter mais apoio, mas quem diz nós, diz as outras entidades, as que fazem teatro, por exemplo, e todas as entidades de índole cultural, recreativo e desportivo. Calculo, apesar de estar longe dos centros de decisão, que seja difícil ter dinheiro para esta gente toda, mas do lado de cá, gostaria de ter um pouquinho mais, quanto mais não fosse, ter a possibilidade, se a câmara nos pudesse dar, de gerir um pavilhão, um pavilhão que pudéssemos chamar nosso, mesmo que não a 100%, mas onde pudéssemos ter as nossas coisas todas e pudéssemos centralizar lá os nossos escalões de formação, sim, isso gostava de ter, mas é difícil.