CRISTIANA PEREIRA REVELA QUE O GRUPO FOLCLÓRICO DA MADALENA AMBICIONA LEVAR A CULTURA E AS TRADIÇÕES GAIENSES ALÉM-FRONTEIRAS

Preservar, enriquecer e reviver as tradições dos antepassados é o lema do Grupo Folclórico da Madalena, que foi fundado em 2001 e que é, desde 2018, liderado por Cristiana Pereira. A presidente da direção desta coletividade falou, em entrevista ao AUDIÊNCIA, sobre o sonho que o Grupo tem de ter uma sede própria, sobre a sua estratégia para cativar os jovens e sobre as suas perspetivas para o futuro em tempo de pandemia.

 

 

 

Qual é a história da existência do Grupo Folclórico da Madalena?

O Grupo Folclórico da Madalena começou com uma pequena brincadeira, na verdade. Eu, na altura, ainda era criança, mas já estava muito ativa nesta área do associativismo e, portanto, começou com uma brincadeira, nomeadamente, com as Marchas de São João. A equipa, na altura, achou que era possível criar o Grupo Folclórico, pois não existia nenhum Grupo Folclórico na Madalena e quando surgiu a ideia nós começamos com pequenos ensaios, até que a 29 de outubro de 2001 fundamos o grupo e tivemos, efetivamente, o primeiro ensaio oficial e começamos a participar ativamente em festivais, começamos a percorrer Portugal de norte a sul e começamos a tratar das roupas, o que, na minha opinião, foi um marco muito importante, porque eu acredito que para um Grupo Folclórico a imagem conta muito e eu sei que, na altura, foi muito difícil, mas o facto é que a direção da altura conseguiu, e muito bem, e hoje ainda temos esses trajes. Nós temos, por exemplo, o traje da mulher da Madalena, que é um traje que estava em Soares dos Reis e que nós quisemos representar, uma vez que fazia parte da história da Madalena e temos a mulher rica da Madalena. Estes são dois trajes que nós tentamos sempre mostrar nas nossas atuações, porque, realmente, são dois trajes de destaque, que representam muito bem a história e o passado da nossa vila. Depois, temos também o traje da cantoneira, temos o traje da galinheira, que tem mesmo todo o acessório que a caracteriza, e temos o traje do pedreiro, mas, neste momento, não temos ninguém que o possa representar. Portanto, no fundo, esse marco foi muito importante, porque permitiu dar uma imagem ao Grupo Folclórico e, a partir daí as coisas começaram a ficar um bocadinho mais sérias. Com o tempo foram surgindo muitas oportunidades, já fomos aos Açores e também continuamos a representar as Marchas de São João, nas quais sempre participamos e nas quais já conseguimos o primeiro lugar, aliás sempre estivemos ali no pódio e sempre ficamos muito bem representados. Claro que isto se deve a uma equipa que nós temos e que se tem mantido ao longo dos anos, porque, efetivamente, sem estas pessoas, nada seria possível, porque estas pessoas fazem tudo por gosto, pelo voluntariado, não estamos a falar aqui de pagamentos, porque eles não existem, é tudo por vontade e por gosto próprio e eu acho que isso é muito importante, porque também sem estas pessoas as coisas não aconteciam e eu acho que o verdadeiro sentido do Grupo Folclórico é quando nós temos pessoas que nos possam ajudar, porque sem isso não é possível andarmos para a frente. A Câmara de Gaia e a Junta de Freguesia da Madalena são sempre dois apoios fundamentais para nós, porque nós não temos grandes verbas e quando falamos, como eu referi anteriormente, de nós construirmos a imagem, de criarmos os trajes, isso envolve muito dinheiro, porque os tecidos são muito caros, os acessórios são muito caros e para nós conseguirmos mudar um guarda-fatos inteiro foi precisa uma verba muito grande e isso aconteceu com o apoio destas entidades, que são muito importantes para nós.

 

A Cristiana é presidente do Grupo Folclórico da Madalena desde 2018. O que a levou a tomar conta dos destinos desta coletividade?

O meu pai fez parte da direção desde o início do projeto e eu sempre fui muito ativa e sempre tive muito interesse nesta área, nesta vertente, também porque cresci nela, no associativismo e, entretanto, surgiu a oportunidade, porque há muito trabalho, há muita responsabilidade e apesar de eu, na altura, não fazer parte da direção, já estava diretamente envolvida na organização das coisas. Hoje tudo resulta e devo muito ao meu pai, sem dúvida, porque ele conhece isto melhor do que ninguém, ele conhece as pessoas, ele tem o dom de lidar com as pessoas e, no fundo, ele chega às pessoas e eu depois, no fundo, cativo-as e eu acho que nós trabalhamos muito bem em equipa neste sentido, porque manter isto é muito difícil e cada vez vai ser mais, porque a oferta para os jovens é muito superior, há um leque gigante de ofertas e manter um Grupo Folclórico, manter uma tradição, que nem sempre consegue ser assim tão interessante para os jovens, faz com que tenha de existir toda uma motivação e um trabalho psicológico e não só, porque nós lidamos com pessoas e lidar com pessoas é, no fundo, estar a par dos problemas delas e ajudá-las a solucionar os problemas, porque nós estamos ali todos, somos 60 membros, mais ou menos, e lidar com 60 formas de estar e com 60 personalidades, não é assim tão fácil.

 

Como é que o Grupo Folclórico da Madalena está a vivenciar esta situação pandémica, que está relacionada com a proliferação da covid-19 em Portugal e no mundo?

Portanto, fala-se muito de resiliência e agora que estamos a atravessar esta fase pandémica provocada pela covid-19, resiliência eu acho que tem, sem dúvida, de fazer parte do nosso dia-a-dia, porque temos mesmo de ser resilientes, para aguentarmos com as coisas, o que nem sempre é fácil, uma vez que nem sempre conseguimos ter a mesma estabilidade, mas o facto é que na hora do trabalho tudo acontece e as coisas realizam-se muito bem, sempre melhor do que aquilo que eu espero e eu acho que isso é que faz a diferença num Grupo Folclórico, apesar de termos momentos menos bons como toda a gente e como todas as instituições e como o associativismo e eu acho que na hora de realizar, o resultado final é sempre muito positivo e isso é o mais importante e é o que me faz, também, manter tanto interesse. Todavia, nem sempre é fácil, porque eu tenho uma vida profissional um bocadinho ativa e às vezes queremos estar em todo o lado e nem sempre é possível, mas com a minha direção, consigo também distribuir trabalho e distribuir responsabilidades por cada elemento, porque sozinha era impossível e as coisas, felizmente, têm acontecido muito bem. Este ano iremos festejar o nosso 19º aniversário, o ano passado atingimos a maioridade e foi um evento muito interessante e correu muito bem, mas este ano ainda não sei o que vou fazer, possivelmente não vamos fazer nada, mas existe aqui a hipótese que nós, direção, fazermos um vídeo, que publicaremos depois no Facebook, para as pessoas saberem que nós estamos aqui, apesar desta realidade, que é a nossa nova realidade, pelo que, mais cedo ou mais tarde, vamos ter de encará-la, não sei de que forma, porque nós ensaiamos numa escola e colocar 60 pessoas numa escola à sexta-feira à noite significaria ter depois de existir um processo de higienização, o que implicaria custos, mas claro que, aqui, iriamos contar com o apoio da Junta de Freguesia da Madalena, eu tenho a certeza que sim, contudo isso ainda não foi discutido, não houve ainda essa hipótese e também a Câmara Municipal de Gaia ainda não aprovou, uma vez que as novas regras da Direção-Geral da Saúde não permitem ajuntamentos, nem o início da atividade para o associativismo. Portanto, vamos manter-nos parados, todavia parados, mas atentos. Nós, agora, também íamos realizar a nossa Noite de Fados, a 10ª Noite de Fados e íamos, também, dar início às desfolhadas e aos magustos que, este ano, não irão acontecer. Para além disto, tivemos de cancelar o nosso 15º Festival do Grupo Folclórico e tivemos de cancelar a nossa viagem aos Açores, que esteve a ser preparada durante um ano e foi, sem dúvida, uma das coisas que mais nos custou, porque, no fundo, o nosso grupo é muito unido e eu acho que nós acabamos por nos habituarmos a estarmos juntos todos os sábados ou às sextas-feiras e a podermos sair ali da nossa zona de conforto, daquele que é o nosso quotidiano e acabamos por não só ter a parte responsável do compromisso de ensaiarmos, mas, também, acabamos por nos divertirmos e, lá está, os ensaios acabam por ser uma terapia para muita gente e uma das maiores queixas que eu tenho tido nestes tempos de mudança é a falta e a parte psicológica, que já está a começar a falhar e eu acredito o Grupo Folclórico faz diferença na vida de muita gente e depois o mais incrível é que não é só nos membros, mas é, efetivamente, também nas pessoas que estão habituadas a acompanhar-nos, pois elas sentem falta da nossa animação e dos nossos eventos, pois nós tínhamos sempre casa cheia e, felizmente, esse nunca foi um problema, todavia as pessoas sentem falta, da mesma forma que nós sentimos e é bom sentir esse carinho, porque no momento que nós estamos a atravessar, com tanto pessimismo e com tanta desmotivação, este carinho que nós vamos sentindo por parte das pessoas fazem-nos acreditar que valeu a pena, não só porque gostamos, mas porque conseguimos retratar a nossa positividade e a nossa vontade de mantermos a cultura e de mantermos as nossas tradições nas outras pessoas, porque se sentimos falta, significa que o trabalho foi bem feito. Este ano também foi cancelado o Madalena Fest, que é um dos eventos nos quais a Freguesia da Madalena está agora a apostar e que, efetivamente, tem sido um sucesso para a Junta de Freguesia e para o Município, mas também para o Grupo Folclórico. Eu digo isto, porque era, sem dúvida, uma fonte de receitas muito substancial, como a Noite de Fados, como, por exemplo, eventos que nós organizávamos em parceria com outras instituições, onde acabávamos por ter alguma facilidade, porque vendíamos comida e acabávamos por ter uma fonte de receita e, este ano, não houve nada disso. É notório que, os próximos tempos vão ser difíceis, porque não temos uma verba, não temos um saldo positivo a entrar e, este ano, sentimos essa quebra, mas nós estamos aqui e eu tenho a certeza de que, com a equipa e a direção e com os membros que fazem parte do Grupo Folclórico da Madalena, vamos conseguir restruturar as coisas.

 

Quais são os seus objetivos enquanto presidente? Que atividades pretende desenvolver?

Nós, no início de cada ano, fazemos um mapa de atividades e, posso dizer-lhe que nós temos um período saturado, porque, na verdade, depois temos de ter um equilíbrio entre o que podemos ganhar e o que podemos gastar e até onde podemos ir. Nós tínhamos a ambição de irmos não só para os Açores, mas também para o estrangeiro e isso vai acontecer, garantidamente, nem que a solução passe por criarmos novos eventos, onde possamos ganhar alguma verba, para que os nossos membros não tenham de gastar tanto dinheiro. Este ano, a viagem aos Açores era o que estava planeado, e tínhamos planeada a organização de vários eventos entre fevereiro e julho, para a angariação de fundos para a viagem e tínhamos pensado num dia para os jogos tradicionais, tínhamos pensado em fazer mais uma ou outra Noite de Fados e íamos fazer também uma Noite de Comédia, entre muitos outros eventos, que para o ano irão acontecer. Eu acho que tendo um bom grupo, com vontade e que goste, efetivamente, daquilo que faz, basta surgir a ideia e como eu tenho muitas ideias, as coisas estão sempre a acontecer, às vezes de um dia para o outro. É tudo tão natural. No verão nós temos tudo cheio, nunca estamos em casa, depois temos algumas instituições que querem colaborar connosco e com as quais fazemos parcerias e acabamos por tirar uma pequena vantagem e o folclore e, neste caso, o associativismo vivem, na minha opinião, muito disso. Há um trabalho de voluntariado por parte das pessoas, há uma atividade que é proposta e se a atividade for bem fundamentada e tiver todos os requisitos para ser mantida, com a ajuda dos membros e com a ajuda da Câmara e com a ajuda da Junta de Freguesia nós realizamos e depois vamos conseguindo aos bocadinhos amealhar alguma receita, que no final nos permite, neste caso, ir aos Açores e que nos permitirá, daqui a dois anos, irmos para o estrangeiro. Há uma oferta muito grande de viagens para o estrangeiro. Eu quase todos os dia recebo e-mails de grupos folclóricos do estrangeiro, mas isso implica uma verba muito significativa e um grupo folclórico, por mais que tenha muita vontade, não tem poder económico para conseguir ir a todo o lado e para fazer este tipo de viagens, porque são muito dispendiosas.

 

A Cristiana referiu que o ano passado o Grupo Folclórico da Madalena atingiu a maioridade. De que forma é que esta instituição tem recriado tradições antigas ou dadas como perdidas?

Eu admito que, desde que faço parte da direção e antes também, porque eu já era ensaiadora do Grupo Folclórico da Madalena, tenho tentado manter aqui uma tendência de respeitar os nossos antepassados e as nossas tradições, mas mantendo sempre uma parte mais moderna e dando aquele toque feminista em todos os nossos eventos. Nós tentamos respeitar todas as regras, mas não sendo federados não temos assim tanta rigidez, porque eu sei que há um compromisso muito grande pela parte da Federação do Folclore Português e nós, não sendo federados, estamos um bocadinho mais à vontade e eu arrisco sempre um bocadinho em todos os nossos eventos, contudo mantendo sempre as tradições. Os meus membros, tantos os jovens como os mais velhos, sabem, efetivamente, o que é que nós temos de fazer para cumprir aquilo que é a tradição e dando logo esse limite, todos os eventos correm na perfeição, porque esse limite foi estruturado, ou seja, nós respeitamos sempre aquilo que faz parte, por exemplo, de uma desfolhada e quem diz desfolhada diz nas Rusgas ao Senhor da Pedra, que também este ano foram canceladas, mas respeitamos sempre esses moldes e temos dois trajes que se adequam a cada momento que pretendemos representar. Nós temos membros com deficiência e temos também membros com espectro de autismo e essa eu acho que é uma das diferenças do nosso Grupo, porque tudo bem que eu trabalho com pessoas com deficiência e isso também acaba por ser uma imagem minha, porque acredito que todos nós temos direito à inclusão e todos nós temos direito à oportunidade, havendo a oportunidade, porque não arriscar? Posso dizer-lhe que as coisas têm acontecido muito bem mesmo. No nosso grupo eles cantam, eles dançam, eles ajudam-nos a preparar os eventos, eles fazem exatamente tudo o que nós fazemos. Portanto, eu acho que este é um dos marcos que diferencia a nossa instituição e que eu quero, efetivamente, que se mantenha mesmo que eu saia, mesmo que isso venha de facto a acontecer. Eu quero que mantenham esta imagem, porque eu acho que isso nos dá destaque. Nós já fomos criticados, já fomos apoiados, mas é sempre discutível, mas vale o que vale, porque é a nossa imagem e é aquilo que nós defendemos. Posso confidenciar que às vezes recebemos uma ou outra crítica, das pessoas mais velhas, até porque eu deixo-os muito à vontade, no sentido, por exemplo, das unhas de gel. Eu acredito que esse é um tema discutível e o que acontece é que no verão toda a gente coloca uma cor nude, para não se notar, no entanto, também já seguimos algumas regras que contemplavam a colocação de adesivos, da mesma forma que eles são colocados nos piercings e nas tatuagens e isso foi discutido. Contudo, a dado momento, eu, como presidente, assumi que podem ter unhas de gel, eu própria uso unhas de gel, mas têm de manter um cor discreta e uma cor nude, para não se notar e isso é alvo de discussão em algumas atuações. Na minha opinião, eu acho que isso é discutível e se formos falar com pessoas mais velhas eu acredito que isso vá ser controverso, mas eu sendo presidente, eu acho que ainda tenho autoridade para tomar essa decisão e não sendo federados, nós não temos regras para cumprir e podemos assumir essa decisão e eu própria assumi essa decisão, porque, efetivamente, andam com as unhas arranjadas e eu acho que isso é engraçado de se falar, pois tem sido alvo de discussões nas nossas atuações. Pronto, mas, tirando isso, as tradições vão-se mantendo, nós respeitamos todos os eventos, porque também são uma questão de estação, de momento, dado que a cada altura do ano há uma tradição a manter-se e nós estamos sempre lá e mantemos essa tradição, usando todos os acessórios e todos os adereços, cumprimos aquilo que tem de ser cumprido e eu acho que isso é o mais importante, que é dar a conhecer às nossas crianças e aos nossos jovens que há uma tradição para se respeitar e para se cumprir e, certamente, dizer às pessoas mais velhas que nós estamos a manter vivas as tradições. O folclore é isto, é respeitar os nossos antepassados e eu acho, por exemplo, que no caso das unhas de gel, maquilhagem não, essas coisas eu respeito que não, mas no caso das unhas de gel eu acho que isso não deveria ser um preconceito assim tão grande como tem vindo a ser.

 

Qual é a sua estratégia para continuar a atrair os jovens?

Não há necessariamente uma estratégia, há uma naturalidade de manter os interesses. Eu consigo mantê-los com gosto e com vontade, porque quando vamos para fora, por exemplo, e isso acontece muitas vezes quando vamos para o Algarve, em que ficamos lá dois ou três dias, eu estou presente, mas deixo os jovens à vontade e vamos sair à noite, passamos a tarde numa uma piscina que tenha no local e depois vamos para a atuação, vamos para a praia, vamos fazer esse tipo de atividades, que são extra ao folclore, mas que fazem com que eu consiga manter os jovens presentes. Nós, todos os anos, fazemos um passeio surpresa e esse tipo de eventos, esse tipo de iniciativas cativam-nos. Eu às vezes ligo-lhes e convido-os para sairmos à noite e junto um grupinho e vamos, por exemplo, no São João vamos todos sair, vamos todos divertir-nos. Eles sabem que há um compromisso, que há uma responsabilidade, mas também sabem que há aqui a parte da diversão e eu acho que o segredo do folclore é esse e não é por eu ser jovem e estar à frente de uma direção, porque eu também sou mulher e isso nem sempre é fácil, ou melhor, ainda não é fácil nos dias de hoje, não que seja uma barreira para mim, nunca foi, nem nunca será, porque eu continuo a fazer as coisas, mas ainda vai sendo uma barreira e às vezes estas ideias que nós temos de nos divertirmos nem sempre são vistas da melhor forma, porque o folclore tem de ser respeitado e é, é levado por nós muito a sério, mas eu acredito que também é possível haver a parte da diversão, porque se não houver isto, eu não consigo manter os jovens ativos no Grupo Folclórico da Madalena, aliás é impossível manter os jovens ativos no Grupo Folclórico, porque não há aqui um interesse particular que os chame. Portanto, havendo este destaque, para a parte também lúdica, cultural e de lazer, eu consigo mantê-los e isso tem sido a minha, chamemos, estratégia.

 

O Grupo Folclórico da Madalena vai estar presente no Festival Internacional de Folclore de Porto Formoso, na Ilha de São Miguel, em 2021. O que espera desta participação? Quais são os seus anseios e objetivos?

Sim, nós vamos estar presentes e isso iria acontecer durante este ano, mas devido à covid-19 foi adiado para o próximo ano. Posso dizer-lhe que, irmos aos Açores ou realizarmos uma viagem em que tenhamos de andar de avião não é assim tão fácil, porque há toda uma burocracia para tratar, há a parte do voo, há a parte de onde vamos ficar a dormir, há a parte das crianças, da autorização ou não dos pais para viajarem e também há aqui uma parte financeira que está em causa. Mas, as coisas estão todas programadas e vão acontecer. No fundo, como já fomos lá um ano e foi tão bom, posso dizer-lhe que eu, na altura, ainda não fazia parte da direção, mas era filha do presidente e toda a minha família acaba por estar envolvida no Grupo Folclórico da Madalena, pois tenho lá primos, tenho lá mãe, tenho lá pai, tenho lá o meu namorado, tenho lá a minha irmã, tenho lá o namorado da minha irmã, portanto andamos todos lá e posso dizer-lhe que foi tão bom que eu nem dormia, nós nem dormíamos, porque queríamos aproveitar aquela viagem ao máximo. Os jovens gostam de ir, porque nós vamos para a atuação, mas eu sempre que posso, faço uma paragem num sítio histórico e irmos às atuações é um bocadinho isso, porque vamos a uma atuação e depois temos tempo para irmos conhecer a região. Portanto, estamos a falar não só da parte do compromisso e da responsabilidade de irmos a uma atuação, mas também estamos a falar da parte recreativa, da parte em que saímos da nossa zona de conforto e vamos poder fazer uma viagem onde vamos ter a possibilidade de conhecermos a Ilha de São Miguel, que já conhecemos anteriormente, mas iríamos voltar lá e posso dizer-lhe que nós estamos sempre muito ansiosos em voltar lá, porque já conhecemos as pessoas, já conhecemos o ambiente, já conhecemos restaurantes, já conhecemos sítios que são espetaculares nos Açores e eu já delineei um roteiro para cumprirmos. Portanto, estamos muito ansiosos não só pelo folclore, não só pela tradição, até porque é diferente ver um grupo folclórico do Douro e um grupo folclórico dos Açores, porque estamos a falar de roupas diferentes, de danças diferentes, de músicas diferentes, de acessórios diferentes. Logo, isso acaba por ser interessante, porque nós sempre que vamos a uma atuação comparamo-nos com os outros. Como sabe, toda a gente é fascinada pela roupa do Minho, aquela roupa incrível e todos nós queremos dar um apontamento que seja parecido com a roupa do Minho porque, realmente, no continente, é uma das roupas mais incríveis. Nós vamos aproveitar a viagem a São Miguel, porque sentimos que é uma viagem que vai dar para aproveitarmos o folclore, vai dar para sairmos da nossa zona de conforto, vai dar para nos divertirmos e vai dar para estarmos todos juntos num ambiente incrível, porque durante aqueles dias não existem problemas, só existe diversão e a responsabilidade de representarmos a Freguesia da Madalena, o município de Vila Nova de Gaia e nós temos, também, muito compromisso nesse sentido, porque sabemos que por trás de todo aquele ambiente, nós estamos a representar o município e a Junta de Freguesia e não podemos falhar nunca com eles, porque temos esse dever de os representar da melhor forma possível e nós tentamos sempre, acima de tudo, respeitar e ter em conta que isso está a ser avaliado também.

 

Como vê o apoio ao associativismo em Vila Nova de Gaia?

Nós estamos muito gratos por todo o apoio que o município e a Junta de Freguesia da Madalena nos dão, até porque neste momento de dificuldade, o senhor presidente da Câmara Municipal acabou por se reunir connosco e apoiou-nos, motivou-nos e afirmou-nos, prontamente, que não era preciso desistirmos, porque as coisas iriam resolver-se, o que, no fundo, nos deu alguma segurança para continuarmos. Em todos os eventos que vamos fazendo temos presente alguém da Junta de Freguesia e alguém do município e isso para nós é muito importante, porque realmente sentimos que há aqui um resguardo muito grande por parte deles, não só financeiramente, mas efetivamente a presença é muito importante para nós e temos sentido muito esse carinho por parte da autarquia e por parte da Junta de Freguesia. Portanto, estamos eternamente gratos e eu acho que isto sem estas entidades seria impossível de se resolver, porque realmente elas estão presentes e fazem-nos acreditar que nunca estamos sozinhos e isso é mesmo verdade. Eu digo isto do fundo do coração, porque sentimos uma proximidade muito grande com a Câmara Municipal de Gaia e com a Junta de Freguesia da Madalena e isso é meio caminho andado, porque fazem-nos sentir que vale a pena estarmos aqui no projeto e que nos valorizam, porque sabem que isto é tudo por vontade própria, que é tudo por voluntariado, pelo gosto pela tradição, pelo gosto pelo ambiente que vamos mantendo uns com os outros e estas entidades respeitam muito essa nossa atividade e, no fundo, elas também sabem que nós estamos a representá-las constantemente e também tenho a certeza de que tanto o município como a Junta de Freguesia estão-nos eternamente gratos por isso, porque da mesma forma que nós estamos gratos por eles, eles também sabem que nós nunca os deixaremos ficar mal e que representaremos o município e a Junta de Freguesia da melhor forma possível. Eu acho que há aqui um mútuo agradecimento e nós estamos muito felizes com a Junta e com a Câmara e com o apoio que nos dão sempre.

 

Quais são as principais carências desta coletividade?

Nós, neste momento, tínhamos a ambição, e este ano eu acho que está a ser a prova disso, de efetivamente arranjarmos um sítio para ensaiarmos, arranjarmos uma sede. Nós temos uma pequena sede, que nos foi facultada pela Junta de Freguesia da Madalena, onde temos os nossos pertences e onde guardamos algumas coisas, mas, na verdade, não dá para realizarmos lá o nosso ensaio. Não há ali movimento e é um sítio onde basicamente nós vamos buscar ou deixar alguma coisa. Posso dizer-lhe que mesmo que nós quiséssemos mostrar a nossa sede aos grupos que vêm de fora é impossível, porque não dá mesmo. Nós gostávamos de ter um espaço para podermos ensaiar, essa é uma das nossas maiores carências e depois é sempre a parte financeira, porque temos de gerir o orçamento, que é reduzido, para conseguirmos fazer algumas coisinhas. Nós não fazemos mais, porque, realmente, estamos a falar de valores muito residuais e não há assim muito espaço, mas vamo-nos mantendo assim. Eu não gosto muito de me queixar, porque acredito que se nós estamos aqui, ainda temos de valorizar aquilo que temos, mas precisávamos de um sítio para podermos ensaiar, que pudéssemos fechar e trancar sempre que quiséssemos e essa seria uma ajuda grande para o Grupo Folclórico da Madalena. Já não falo em termos um bar, uma concessão, para podermos angariar fundos, porque aí também teria de existir muita disponibilidade por parte de alguém e isso também implica mais despesas. Mas, gostávamos de ter um espacinho para podermos ensaiar à vontade, para não estarmos a depender de ninguém, apesar de nós sermos muito gratos à Escola EB 2/3 da Madalena por nos fornecer esse espaço, mas admitimos que não precisávamos de depender de ninguém. Nós também sabemos que tão cedo isso não irá acontecer e já acabamos por nos habituar e por nos deixarmos estar, porque temos um sítio para ensaiarmos, mas se queremos fazer eventos não temos onde. Nós organizamos o Carnaval o ano passado e não foi assim muito fácil, porque com chuva ou sem chuva, não tínhamos um espaço, depois também há regras da Escola que nós temos de cumprir, e muito bem, e sabemos que existe essa responsabilidade por parte deles e portanto era realmente importante termos um espacinho, onde pudéssemos fazer as nossas brincadeiras.

 

Quais são as suas perspetivas para o futuro do Grupo Folclórico da Madalena?

Este ano foi muito complicado para toda a gente e, claro, para o associativismo. O que o Grupo Folclórico da Madalena programou para este ano, não se realizou, mas passou automaticamente para o próximo ano. Portanto, todas as atuações que tínhamos de norte a sul do país e ilhas para o ano já estão garantidas. Agora, a questão, e aqui surge uma dúvida minha, é se os membros vão dar continuidade, se o espaço vai ser possível, porque agora com a covid-19 e como estamos a falar de uma Escola, não sabemos quais serão as condições, mas tenho a certeza de que isso será fácil de resolver e depois, no fundo, é dar continuidade aos projetos que este ano tiveram de ser cancelados e que estão programados para o próximo ano. Como nós temos a ambição de irmos para fora, de irmos para o estrangeiro, também precisamos de organizar ainda mais eventos, para que as coisas possam acontecer e, no fundo, temos de acreditar que as pessoas vão estar connosco, que vão dar continuidade ao projeto que nós construímos e ao termos o apoio da Junta de Freguesia e do município, eu acho que as coisas vão acontecer. Eu não quero desanimar, não quero desmotivação, nem quero, com este contratempo, achar que alguma coisa ficou para trás, porque eu acho que estamos todos preparados para enfrentarmos a nossa nova realidade, porque mais cedo ou mais tarde, vamos ter de tomar uma decisão e vamos ter de voltar ao ativo, não sei de que forma, mas eu acho que isso vai ter de acontecer.