O HUB AÇORIANO QUE NÃO SE FALA

Se os Açores conseguissem ter uma visão de futuro podiam-se tornar no primeiro Hub Atlântico de cabos submarinos de telecomunicações, os benefícios e oportunidades variam mas podiam criar um fluxo de receita adicional para a economia Açoriana.

Atualmente existe três hubs no Oceano Pacífico, no Havaí, Guam e Fiji, mas não existe nenhum no Atlântico.

Projetado para 2021 está o cabo Equiano do Google que vai ligar Portugal à Africa do Sul, estabelecendo na remota ilha de Santa Helena no Atlântico Sul, uma inundação de dados. A pequena ilha (5 mil habitantes) precisará se transformar em um hub de dados para usar a largura de banda projetada.
Um exemplo que devia ser seguido pelos Açores, que podia muito bem liberalizar e apostar no desenvolvimento de um mercado concorrencial aberto de telecomunicações, apostar no direito de acesso por parte dos operadores económicos, garantindo a inexistência de barreiras à entrada.

O problema atual é que o modelo de cabos submarinos que serve os Açores está obsoleto e a necessitar de renovação. Os recentes e anunciados investimentos, Terceira Tech Island, Air Center, ESA, Centro para a Defesa do Atlântico (CeDA), Base espacial de Santa Maria, Rede de Incubadoras de Empresas ou mesmo possíveis valências para a Base das Lajes, entre outros projetos. Assentam em uma necessidade comum, uma rede de transmissão de dados de alta velocidade que conecta os Açores ao mundo. Parece que não, mas a falta de um cabo alternativo é um grande entrave a futuros projectos.

Mais de 99% das comunicações globais do mundo são realizadas em redes de cabos submarinos, e essas redes aumentaram devido ao “crescimento exponencial de dados”. É uma infraestrutura essencial para o progresso económico e manutenção do investimento já captado para os Açores. Os cabos são as nossas autoestradas eletrónicas sobre o mar, a nossa abertura ao mundo, o acesso a mercados abertos e concorrenciais.
O mundo dos dias de hoje em que “tempo é dinheiro” da informação imediata, quer seja aqui ou em qualquer parte do mundo! Nos negócios e nos mercados financeiros, milissegundos de informação valem biliões!

Importa referir que a cidade da Horta, na ilha do Faial, pela sua situação geográfica – em pleno Atlântico, a meio caminho entre a América do Norte e a Europa – chegou a ter 15 cabos internacionais amarrados. As mais importantes companhias de cabos telegráficos, tiveram instalações próprias no território português. Estas companhias telegráficas estrangeiras deslocaram técnicos e respetivas famílias para aquela ilha, tornando o Faial em um polo de cosmopolitismo e de desenvolvimento social, cultural e até desportivo, destacaram-se do resto do país.

Mas infelizmente a estratégia planeada pelo socialismo centralista errou e continua a errar. A Anacom já anunciou que a IP Telecom vai substituir e gerir os cabos submarinos que fazem ligação continente e os arquipélagos dos Açores e da Madeira, ou seja, passam para a gestão de uma empresa pública. Ao mesmo tempo que muitos países desenvolvidos e a própria União Europeia reforçam a necessidade de maiores progressos a nível da liberalização dos mercados das telecomunicações, Portugal faz o contrário.

A nossa liberdade em termos tecnológicos vai ficar sempre sujeita ao poder do estado, ao seu investimento e autoridade. Estamos subjugados às políticas centralistas dos ministérios do Planeamento e das Infraestruturas e das Finanças.
Afetando toda a atividade económica dos Açores e sua capacidade de abertura ao mundo moderno.

A estratégia mais adequada deve passar por desregular o mercado, apostar em consórcios internacionais para assegurem a passagem pelos Açores, por operadores com interesse na exploração de cabos submarinos. Recentemente existiu uma oportunidade perdida de um cabo (MAREA) suportado pela Microsoft, Facebook e também pela Telxius, que passou a pouca distância dos Açores ligando os dois lados do Atlântico, Estados Unidos à Europa. Existindo interesse da região, o consórcio responsável estava a comercializar a sua utilização aos potenciais interessados. Podia-se muito bem ter realizado uma ligação aos Açores. Especialmente quando se fala tanto na economia do mar, como um dos enfoques de Portugal devido à sua posição estratégica. Mas não, deixamos escapar a oportunidade. Incompetência nossa ou algo mais do que isso?

Vejamos o caso na rota Península–Canárias, que pela existência de um cabo submarino alternativo ao da espanhola Telefónica, o mercado foi desregulado, trazendo vantagens que depois resultaram na livre concorrência.

A possibilidade de desembarcar cabos submarinos adicionais podia fornecer novas rotas redundantes para os operadores, e principalmente, permitir a interconexão de cabos submarinos no meio do Atlântico para formar novas rotas mais curtas e diversas, permitir a restauração de tráfego entre cabos e adicionar resiliência à rede global de cabos submarinos.

Atualmente existe pelo menos 26 cabos submarinos que cruzam o Atlântico das Américas para a Europa e África. Os Açores podem oferecer diversidade de rede e desviar parte do tráfego de telecomunicações de certas jurisdições, se necessário – isso poderia ser por privacidade ou soberania de dados. Com algum esforço ou oferta de condições favoráveis seria possível atraí-los para os Açores e promover um corredor de cabos de tecnologia. Os Açores estão em posição ideal para serem uma plataforma tecnológica.

Custa aproximadamente €250 milhões para construir um cabo submarino entre os EUA e a Europa, enquanto um cabo que atravessa vários países pode custar € 1 bilhão ou mais.
Uma ligação de cabos mais curtas, interligando os Açores e os EUA, Europa, América Latina e África do Sul, resulta em custos menores. O investimento projetado para manter as ligações de telecomunicações entre Portugal Continente e as regiões autónomas da Madeira e dos Açores tem um custo de 119 milhões de euros em novos cabos submarinos, metade do que custa atravessar o atlântico.

Gerir a capacidade de tráfego nos Açores, em uma plataforma internacional, onde esse tráfego podia ser convenientemente dividido para diferentes destinos, como EUA, Europa, América Latina e África, promove a conectividade internacional do País, podendo assegurar independência para encaminhamento dos tráfegos terminados e originados em Portugal, com acessos diversificados e competitivos, e a preços baixos e de boa qualidade.

A aposta de certos países na desburocratização, no licenciamento simplificado de cabos com prazos mais curtos e mais certos para o processo de permissão, está a ser uma mais-valia e a tornar-se muito atraente para os operadores. Atualmente, são necessários mais de dois anos para ligar um cabo nos EUA. E nós aqui tão perto e com uma fronteira marítima para facilitar.

Os cabos submarinos são um ativo que dura pelo menos 25 anos. A possibilidade de existir uma plataforma internacional com capacidade de redirecionar algumas telecomunicações e tráfego da Internet das jurisdições escolhidas, era sem dúvida uma oportunidade única para a Região Autónoma dos Açores. É triste que nunca se tenha considerado a inserção dos Açores nesta estratégia, que o centralismo tenha levado da Horta para Carcavelos aquilo que podia ser uma oportunidade única.

 

Almerindo Ázera, Administrador IT, candidato a deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores pela Iniciativa Liberal.