O NÓ GÓRDIO

A União Europeia não quer, nunca quiz o Brexit, pois o peso da Grã-Bretanha no concerto das nações europeias é sobejamente conhecido, não somente no aspecto económico e financeiro, mas também como contribuinte para os cofres da União e ainda na área militar, como temos constatado nos conflitos em curso.

No referendo que determinou a saída da União Europeia em 2016, ainda no tempo do primeiro ministro David Cameron, a pergunta colocada à consideração dos britânicos “Deve o Reino Unido permanecer membro da União Europeia ou deixar a União Europeia?” foi uma pergunta simples para um povo que não é inculto e procura comunicar.

A permanência britânica no bloco económico tem sido controversa e constantemente motivo de debates desde que o País se juntou em 1973 à Comunidade Económica Europeia CEE ou Mercado Comum.

No caso presente a votação terminou com uma vitória para os que eram favoráveis à saída da Grã-Bretanha da União Europeia com 52% dos votos válidos, contra 48% daqueles que queriam que a nação permanecesse.

Elaborado pelo Partido Conservador, o manifesto que pedia um referendo foi apresentado e aprovado no Parlamento da Grã-Bretanha, sendo esta a segunda vez em que os britânicos são convidados a votar sobre a presença no bloco, pois já em 1975, 67% dos eleitores tinham votado favoravelmente a inclusão do País como um estado-membro da União Europeia.

Os defensores da saída da Grã-Bretanha da união política e econômica, comumente referida simplesmente como Brexit, siglonimização na língua inglesa, tendo como base «British» e «exit», respectivamente, «Britânico» e «saída», argumentam que a União Europeia traz um défice democrático e mina a soberania nacional de seus membros, ao passo que os que são favoráveis à permanência do País, dizem que num mundo com muitas organizações supranacionais, qualquer perda de soberania é compensada por benefícios da adesão à União Europeia.

Para o primeiro grupo, a saída do País permitiria que a nação tivesse maior controle da imigração, gerando uma diminuição pela busca de serviços públicos, habitação e emprego e daria autonomia para o País firmar seus próprios acordos comerciais, libertando-se da burocracia e das políticas reguladoras da UE, que são classificadas por eles de «desnecessárias e caras» e esta opinião tem seguidores noutros países.

O segundo grupo, que quer a permanência, considera que a saída do País do bloco geraria um risco de propriedade nos países-membros da Grã-Bretanha, pois haveria uma diminuição da influência sobre assuntos internacionais, colocaria em risco a segurança nacional, uma vez que o País não contaria com o acesso ao banco de dados comum de criminosos da Europa e acabaria em conflito com as barreiras comerciais entre a Grã-Bretanha e a União Europeia, acrescido o facto de que a decisão de saída geraria a perda de empregos, atrasos nos investimentos e traria riscos para as empresas britânicas.

Aqui chegados, começam a surgir as dificuldades e a incapacidade dos parlamentares britânicos no cumprimento da decisão do referendo, a ponto de o governo solicitar uma extensão do artigo 50º do Tratado de Lisboa que estipula um período de dois anos para negociar a saída de um estado membro da UE, ou seja, no caso britânico seria em 29 de Março, data adiada agora para 12 de Abril e até lá a Grã-Bretanha deverá encontrar uma solução para o Brexit ou aceitar que não consegue chegar a solução nenhuma, tudo isto após três votações inconclusivas com alguns conservadores a votarem contra a saída e também alguns trabalhistas a votarem a favor e a primeira ministra Theresa May ter mesmo declarado que, caso uma votação fosse no sentido da saída da UE, ela própria acordando se demitiria de funções para dar lugar a novo primeiro ministro do seu partido.

Ora, dizem os entendidos na matéria, que 12 de Abril não é tempo suficiente para concordar, legislar e ratificar um acordo e mesmo assim os parlamentares afirmaram de forma clara que não irão permitir a saída sem um acordo, factos a levar o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a convocar uma reunião deste órgão para o próximo dia 10 de Abril, até porque as eleições europeias estão à porta.

Esta situação provoca severas críticas, tanto à primeira ministra por incapacidade negocial, mas também aos parlamentares que perante o eleitorado demonstram uma completa indisciplina de actuação, a ponto de não se saber quem é quem nas respectivas bancadas e a população britânica olha perplexa e confusa para toda esta embrulhada e todos nós europeus lamentamos esta perda de idoneidade atribuída aos membros do Parlamento dum País que ao longo do tempo tem procurado colocar a democracia parlamentar em patamares elevados.